quinta-feira, 2 de maio de 2024

Letra e música magistrais

 


Cesar Vanucci *

 “Tu pisavas nos astros  distraída...” 

(Orestes Barbosa, no clássico “Chão de estrelas”, composto em parceria com Silvio Caldas)

 

A crônica literária registra uma manifestação de Manuel Bandeira, que causou na época em que foi feita, anos atrás, grande surpresa e chegou a provocar, até mesmo, um certo clima polêmico. Indagado sobre quais seriam os mais belos versos da poesia brasileira, o grande vate, sem titubeios, respondeu: “Tu pisavas nos astros distraída.” A resposta colocou no foco das atenções um clássico da MPB, “Chão de estrelas”, de onde os versos apontados por Bandeira foram retirados. Conferiu, também, justo realce a um excelente poeta popular que não frequentava os salões acadêmicos mais refinados. Orestes Barbosa, coautor da melodia, ao lado do portentoso intérprete Sílvio Caldas.

 

Arrostando rançosos preconceitos com o veredito proferido, o autor de “Evocação do Recife” convidou-nos, de certa maneira, com a autoridade de inconteste conhecedor do fascinante oficio da versejação, a aprender extrair das canções populares brasileiras outros achados poéticos.

 

Partilhando dessa certeza de que a incomparável música popular feita no Brasil é um repositório de poesia da melhor qualidade resolvi, quando de minha passagem pela direção da Rede Minas de Televisão, abrir espaço especial num dos programas que criei (“Um livro aberto”, dedicado à temática literária) para interpretações musicais do cancioneiro nacional. O canto era acompanhado de comentários sobre os versos das composições.

 

Dentro dessa linha de raciocínio, resolvi também, em certo período, ampliar a tal coleção de frases com letras de melodias conservadas no carinho e enlevo pela memória das ruas.

 

Algumas delas. “A felicidade é como a pluma que o vento vai levando pelo ar; tão leve, mas tem a vida breve, precisa que haja vento sem parar.” (“A felicidade”, tema do filme “Orfeu negro”, Vinicius de Moraes e Tom Jobim).

 

“Mas que bobagem, as rosas não falam. Simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti...” (samba-canção “As rosas não falam”, de Cartola).

 

“Atire a primeira pedra, ai, ai, ai. Aquele que não sofreu por amor.” (“Atire a primeira pedra”, Mário Lago e Ataulfo Alves).

 

“Vê, estão voltando as flores. Vê, nessa manhã tão linda. Vê, como é bonita a vida. Vê, há esperança, ainda” (marcha-rancho, “Estão voltando as flores”, Paulo Soledade).

 

“Quem nasce lá na vila, nem sequer vacila em abraçar o samba, que faz dançar os galhos do arvoredo e faz a lua nascer mais cedo.” (“Feitiço da vila”, Vadico e Noel Rosa).

 

“Batuque é um privilégio, ninguém aprende samba no colégio.” (“Feitio de oração”, Noel Rosa e Vadico)

 

“Se a lua nasce por detrás da verde mata mais parece um sol de prata, prateando a solidão.” (“Luar do sertão”, toada, Catullo da Paixão Cearense).

 

“Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe, faz a hora, não espera acontecer.” (“Pra não dizer que não falei de flores”, Geraldo Vandré)

 

“O mundo é uma escola, onde a gente precisa aprender a ciência de viver, pra não sofrer.” (“Pra machucar meu coração”, Ary Barroso)

 

“Fazer samba não é contar piada, quem faz samba assim não é de nada; um bom samba é uma forma de oração, porque o samba é a tristeza que balança e a tristeza tem sempre uma esperança de um dia não ser mais triste não”. (“Samba da bênção”, Vinicius e Baden Pawell).

 

“Ai! Que amar é se ir morrendo pela vida afora. É refletir na lágrima, um momento breve de uma estrela pura cuja luz morreu.” (Serenata do Adeus”, Vinicius de Moraes).

 

“Nesta viola eu canto e gemo de verdade; cada toada representa uma sodade.” (“Tristeza do Jeca”, toada, Angelino de Oliveira).

 

“Tu és, de Deus a soberana flor. Tu és de Deus a criação, que em todo o coração sepultas o amor, o riso, a fé e a dor em sândalos dolentes.” (“Rosa”, valsa, Alfredo Vianna, o Pixinguinha).

 

“O mar, quando quebra na praia, é bonito, é bonito...” (“O mar”, Dorival Caymmi).

 

 

*  Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

terça-feira, 30 de abril de 2024

Nada de PEC bang-bang

 



                                          *Cesar Vanucci


“Sem uma regulamentação eficiente, as armas liberadas podem vir a ser disparadas contra o cidadão comum” (Antonio Luiz da Costa, educador)

 

 

Alcunhada de PEC “bang-bang”, subiu para analise do plenário do Congresso uma proposta, aprovada por curta margem de votos na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, instituindo  nova regulamentação para o uso e porte de armas. O que se pretende é retirar da União o controle da comercialização de armas de uso pessoal, transferindo essa prerrogativa constitucional para as unidades da Federação, a exemplo do que ocorre, com efeitos desastrosos, nos Estados Unidos. Seja anotado, a propósito, fato relevante. A Casa Branca vem buscando, empenhadamente, alterar as normas hoje predominantes, que dão causa a enorme confusão. As normas em questão concedem poderes às províncias regionais, tal qual se pretende fazer aqui, de elaborarem sua própria legislação a respeito da explosiva questão. A menção desse posicionamento do Governo Biden sugere a este desajeito escriba inverter o sentido de um dito famoso do passado: “O que (não) é bom para os Estados Unidos, (não) é bom para o Brasil”. E não é mesmo!

Já pensaram na encrenca que iríamos arranjar caso esse história de cada estado brasileiro criar sua própria regra no tocante ao controvertido tema? Imaginem só os riscos que correríamos com uma medida desse calibre que favorecesse a distribuição de armas, em quantidades e tipos diferenciados de uma região para outra, a gosto de fregueses mais ou menos exigentes. Não espantaria ninguém o surgimento no cenário de que fazem parte os “caubóis do asfalto” de indivíduos com grau de empoderamento igual ao daquele político fanático, detentor de arsenal privado, que, na véspera da eleição andou recebendo agentes da polícia com disparos de fuzil e arremesso de granadas!

Pesquisadores da criminalidade urbana classificam a proposição como um retrocesso brutal. Registram que o controle de armas num país com a vastidão territorial do nosso tem que atender a uma voz de comando única, no caso o Governo Federal que conta com suporte eficiente da Policia Federal e do Exercito, se voltado a ser chamado para ações de fiscalização, como já ocorreu no passado. A existência de critérios homogêneos na regulamentação da matéria concorre para que o esquema de concessões de armas não seja aviltado. Com razoáveis resultados, o governo atual conseguiu reduzir, por meio de ordenamento jurídico mais rigoroso, a fuzarca instalada no passado recente com as facilidades incríveis proporcionadas  para aquisição de armas de fogo. Sabe-se, com certeza que a “desregulação” havida beneficiou grandemente as facções criminosas.

A PEC, do imenso agrado da “bancada da bala”, de notória tendência radical, está sendo criticada com veemência por vozes as mais representativas do pensamento republicano e democrático. O que a sociedade agora espera é que a maioria parlamentar, ajuizadamente, rejeite-a na votação em plenário. Até porque a modificação desejada é inconstitucional.

 

2) Estado Democrático de Direito – a defesa do Estado Democrático de Direito foi a alegação apresentada pelo ex-presidente Jair Messias Bolsonaro ao promover, no Rio de Janeiro, na praia de Copacabana uma manifestação política reunindo contingente numericamente significativo de partidários e simpatizantes. A alegação causou espanto, na imprensa e em muitas áreas da opinião pública. Afinal de contas o antigo mandatário do Planalto, com alguns de seus colaboradores mais próximos, vem sendo processado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), justamente pela circunstância de haver atentado contra o Estado Democrático de Direito. Escusado lembrar que as provas acumuladas, incriminando-o são muito robustas, envolvendo depoimentos arrasadores.

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

 

Agora é com a Austrália

 


                                                                               *Cesar Vanucci

                                                           “O arrogante empresário coloca-se acima da lei”

                                                           (Anthony Albanese, Primeiro Ministro da Austrália)

 

 

Delirantemente festejado pelo extremismo fundamentalista, o miliardário Elon Musk continua “aprontando” mundo afora. Como a gente costuma dizer em papo de rua, sente-se uma espécie de “rei da cocada preta”.  Aliás, melhor dizendo, “rei da cocada branca”, a se levar em conta a admiração que suscita nas falanges “supremascistas”. Obcecado pelo propósito de ditar regras que se sobreponham ao ordenamento jurídico-constitucional dos países democráticos, colocou agora em sua alça de mira a democracia australiana. Agrediu intempestivamente o governo e a suprema corte daquele país, utilizando a mesma retórica insolente empregada no caso do Brasil. Como aconteceu por aqui, levou uma senhora descompostura. E - outra vez mais- na saraivada de criticas que recebeu foi relembrada a postura acovardada que costuma assumir diante de países regidos pelo autoritarismo, onde prosperem seus negócios. A plataforma digital “X”, de que é dono, foi proibida na China, mas Elon permaneceu mudo e quedo que nem penedo. Não invocou a “condição” de impoluto defensor da liberdade de expressão. Como diz o jornalista Guga Chacra, esse cara não passa de um “tremendo babaca e hipócrita”. A razão do “mutismo” é a rendosa associação de interesses comerciais que mantém naquele país.

 2)PEC - A inoportunidade da assim chamada “PEC do Quinquênio” entra pelos olhos. O bom senso recomenda enfaticamente seja retirada logo da pauta das discussões parlamentares. Não faz o menor sentido propor-se melhoria salarial, isoladamente, para uma única categoria de agentes públicos, sobrecarregando de forma pesada o orçamento. Categorial que, por sinal, desfruta da primazia de ser a mais bem contemplada na política de remuneração do Estado. A impropriedade da medida ainda mais se avulta quando se tem em mira a circunstância de outros respeitáveis grupos de servidores aguardarem, de há muito, recomposições salariais até aqui não garantidas em exaustivas negociações. Não é de mais lembrar que entre os eventuais beneficiários da PEC figura muita gente aquinhoada com super salários, alguns deles acima do teto constitucional.

 3) Indiciamento - O aluvião de malfeitorias praticadas no período governamental passado traz à baila outro desconcertante registro. A Procuradoria Geral da República indiciou uma Parlamentar e seu comparsa, sob a acusação de haverem cometido atentado de violação do sistema do Conselho Nacional de Justiça. Pela denuncia, a Deputada Carla Zambelli (autora intelectual) e o hacker de Araraquara, Walter Delgatti invadiram arquivos do Órgão Federal, emitindo documentos falsos com o fito declarado de semear confusão e desacreditar o Poder Judiciário. Entre os documentos “produzidos” figurara uma ordem de prisão alvejando o Ministro Alexandre de Moraes, atual presidente do TSE. A “ordem” tinha o próprio Ministro o “signatário”. Noutros documentos lançados foram expedidas ordens de soltura para numerosos delinquentes, de alta periculosidade, alguns com pena de 200 anos, ligados a facção do CV. A parlamentar foi coordenadora de uma reunião resevada de Delgatti, no Palácio do Governo, com o então presidente Jair Messias Bolsonaro.  Foi ainda protagonista de uma cena chocante flagrada numa das vias mais movimentadas da capital paulista, pouco antes das eleições presidenciais. De arma em punho, acompanhada de guarda costa, também armado, perseguiu um jornalista negro, com quem se desentendeu por palavras, rendendo-o no interior de um estabelecimento comercial. Do libelo acusatório constam 10 diferentes delitos. A imprensa noticiou que elementos ligados à corrente política de Zambelli insistem pra que ela renuncie a seu mandato, de modo a que possa ser julgada em 1ª instância.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

O instinto belicoso do bicho-homem

 


 

                                                                                                *Cesar Vanucci

Faço um premente apelo para que cesse qualquer ação que possa alimentar uma espiral de violência, com o risco de levar o Oriente Médio a um conflito bélico ainda maior”.                                                             (Papa Francisco)

 

Dolorosa constatação. Não há como frear o instinto belicoso do bicho-homem. Pessoas de boa vontade, amantes da paz, lideranças espirituais acatadas, como a de Francisco, reconhecem-se impotentes para conter os radicalismos que acionam desavenças tribais, litígios étnicos, conflitos religiosos inglórios. Apelos reiterados em favor da concórdia, do entendimento civilizado, do diálogo na busca de soluções para as candentes questões que atormentam o cotidiano esbarram, desconsoladoramente, em granítica indiferença e até mesmo desdém.

Os implacáveis “senhores da guerra” e os empedernidos armamentistas, exultantes com os rumos cruéis trilhados por alguns dirigentes políticos e de grupos incendiários não dão a menor importância a essas manifestações de repúdio ao que andam aprontando mundo a fora. Seus malignos propósitos estão focados na ambição descomedida por poder e nos avantajados recursos financeiros propiciados por seus escusos negócios.

 Em dias recentes a Organização das Nações Unidas (ONU) contabilizou, em diferentes regiões deste nosso belo e maltratado planeta azul, 174 focos de beligerância, muitos deles já com anos de duração. É gente demais da conta – convenhamos - empenhada em fazer do mundo um gigantesco faroeste, onde os supostos “mocinhos” e “bandidos” não se valem de “colt 45” e espingardas “winchester”, mas sim de mísseis arrasadores.

 Pouco depois da divulgação da lista dos conflitos em andamento, eclodiu mais uma insana contenda armada. Envolvendo diretamente Israel e Irã. Anotemos contristados o que acontece em paragens onde, mais do que quaisquer outras deveriam ser preservadas a todo custo da macula das discórdias sanguinolentas, da barbárie que o espírito repudia, mas a índole perversa de indivíduos desfalcados de humanismo acolhe com imperdoável naturalidade. A referência geográfica é a Terra Santa, onde se acham fincadas, as raízes da civilização.  Exatamente naqueles lugares percorridos pelo mais sublime Ser, portador de mensagem de infinita beleza, vinda do Alto e do fundo dos tempos, lá, na Terra Santa o ódio, a intolerância e a falta de diálogo geraram uma guerra sem quartel. Uma guerra que vem oferecendo desdobramentos dramáticos na direção de patamares imprevisíveis. O entrechoque insano engloba atentados terroristas, reféns indefesos, contraofensiva desproporcional, mortes em demasia, destruição de cidades, violência inaudita contra civis, réplicas e tréplicas com mísseis, drones e bombas. A ONU, alarmada com a crise humanitária instaurada, clama pela paz. A Comunidade das Nações faz o mesmo. A Assembleia e Conselho de Segurança da ONU e outros organismos internacionais aprovam sucessivas resoluções em prol da pacificação. A diplomacia movimenta-se no mesmo diapasão. Das grandes lideranças religiosas ouve-se um brado pelo bom senso e racionalidade. As mentes lúcidas e os corações fervorosos encarecem a urgência da cessação das hostilidades e abertura de negociações, sem esquecer o socorro imediato em alimentos, medicamentos, fornecimento de água, assistência médica às multidões acuadas de Gaza.  Preces ardentes são feitas no sentido de que um clarão de consciência humanística e espiritual ilumine os contendores, conduzindo-os a buscar um palmo de chão que seja como espaço capaz de proporcionar começo de conversa que desfaça a espiral de violência com suas funestas consequências.

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

Fim de linha


 


*Cesar Vanucci

   “O PCC já se equipara a Máfia” (Lincoln         Gakiya, Promotor de Justiça de SP).


As investigações levadas a cabo pela Justiça e Ministério Público de São Paulo com a colaboração da Receita Federal, tendo como alvo o sistema de transporte coletivo urbano da capital bandeirante, revela de forma exuberante a avantajada infiltração do crime organizado nos escalões administrativos do Estado. Pelo que já veio à tona, trazido pelos promotores, o PCC, grupo mafioso de alta periculosidade, apoderou-se de parte substancial das linhas de ônibus que circulam na maior cidade do país, controlando duas ou mais empresas responsáveis pelo deslocamento diário de calculadamente 600 mil passageiros. O esquema que está sendo agora desmontado pelas autoridades vem beneficiando, há anos a lavagem de dinheiro ligada ao trafico de drogas, de armas e outras atividades ilícitas. Ficou apurado que a “gestão empresarial” era exercida por elementos indicados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Contra eles expediram-se ordens de prisão. Algumas já foram cumpridas, estando a polícia no encalço de elementos foragidos. A justiça ordenou o sequestro de bens, o que levou à constatação de que os “fora da lei” são detentores de mansões e veículos luxuosos, além de outros ativos de custo elevado. Os promotores estão convencidos de que as investigações em curso, dessa operação emblematicamente denominada “Fim de linha”, desembocarão fatalmente na descoberta de outras frentes de atuação do banditismo em esferas governamentais. No foco das atenções da força tarefa incumbida das desconcertantes apurações figuram, também, alguns setores que provavelmente estariam sendo alcançados pelos tentáculos da facção. Já teria sido identificada a participação de “empresários do crime” em negócios de revenda de veículos de luxo, hotelaria, serviços hospitalares e de limpeza. A prefeitura de São Paulo promoveu, com base em decisão judicial, a reestatização das linhas operadas pelas concessionárias assumidas pelo pessoal do PCC. A eventual implicação de agentes políticos e de funcionários públicos na maracutaia vem sendo objeto de averiguação. Tem-se por certo que das diligências aflorarão novidades ainda mais chocantes.  Esta bem sucedida empreitada Judicial e policial significa, sem dúvida, outro “round” vencido pelo Poder Público no combate à criminalidade. Oxalá seja o “Fim da linha” para uma parcela significativa dos inimigos da lei.

A história do “crime organizado” tem sua origem em articulações deflagradas no recesso sistema penitenciário dos anos 70. A busca de melhoria de alojamento em presídios superlotados conduziu detentos a formarem grupos na defesa de interesses comuns. Com o correr do tempo esses agrupamentos passaram a atuar além dos muros dos presídios, utilizando estratégias nos moldes da máfia universal. Criaram nas relações entre seus membros uma sensação de “pertencimento” voltada para a acolhida do delinquente e seus familiares, disseminando um aparente sentimento de confiança. A estrutura dessas facções abrange hierarquia, planejamento “empresarial”, uso de meios tecnológicos, formação de quadros e definição de atribuições. A demarcação de território é parte da logística. A “lei do silencio” (ou seja, a “omertá” do implacável código da máfia matricial) imposta aos integrantes é seguida à risca. O narcotráfico, o contrabando de armas, o roubo de cargas e carros, os sequestros, os assassinatos de encomenda são, entre outras ilicitudes as ações desenvolvidas com fitos rendosos. A bandidagem vale-se da intimidação e corrupção para cooptar políticos e servidores inescrupulosos. Segundo estimativas de estudiosos das questões da criminalidade, acham-se em atividade no território nacional entre grandes, médias e pequenas 88 facções. Algumas delas com ramificações internacionais.

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

quinta-feira, 11 de abril de 2024

O “X” da questão.

 



*Cesar Vanucci

“Babaca e hipócrita”. (Jornalista Guga Chacra, sobre Elon Musk)

 


A insolência do gringo endinheirado, agredindo irracionalmente a soberania brasileira, não envolve nenhum propósito altruísta, ao contrário do que uma interpretação capciosa, provinda de segmentos obscurantistas, tenta insinuar.  Busquemos o “X” da questão. O magnata Elon Musk dono da rede social “X” (antigo Twitter), não defende liberdade de expressão coisíssima nenhuma com seus desabridos ataques à Justiça de nosso país. Sua malfadada atitude tem a ver com ambição de ganhos financeiros, mesclada com a disposição sibilina de desviar a atenção da opinião pública das investigações, em estado terminal, a respeito da intentona golpista que alvejou fundo nossas instituições democráticas. Já não fosse ele partidário entusiasta, pelo menos ocasionalmente, da internacional ultraconservadora empenhada em estabelecer uma nova ordem política e econômica mundial!

 Liberdade de opinião é coisa sagrada. Não admite definitivamente qualquer tipo de censura. Criminalização no uso das plataformas digitais, semeando ódio, estimulando homicídios, suicídios, pedofilia, automutilações, violência contra gêneros, etnias e crenças é coisa bem diferente. A dignidade humana impõe uma distinção cristalina a respeito na preservação dos direitos fundamentais.  Os que procuram, no caso em tela, misturar alhos com bugalhos, confundir Zé Germano com gênero humano, desservem a causa civilizatória, comportam-se como vilões de um enredo nefasto.

Utilizando o “X” como ferramenta política, atraindo pessoas que comungam de ideias extremadas, Musk mira, na realidade, a desestabilização do esquema jurídico e parlamentar voltado para a urgente e impostergável implementação do processo regulatório da internet. Tal regulação faz-se imprescindível em escala universal. Como acontece no Brasil, todas as democracias acompanham com interesse e esperança os debates e estudos concernentes à palpitante matéria. A internet, como enfatizado pelo Ministro Alexandre de Moraes, alvo das infames assacadilhas do desatinado e arrogante miliardário, não é terra de ninguém. Às lideranças conscientes incumbe o dever primordial de instituir regras para internet. Este fabuloso engenho foi criado com o objetivo de favorecer a comunicação social, o intercambio de ideias, o incremento da economia e o bem-estar da gente do povo. Não com a finalidade de alvejar reputações, atassalhar a honra alheia, propalar mentiras como se verdades fossem. E não, também, para erodir os alicerces democráticos e fazer a propagação despudorada das “excelências” de regimes tirânicos.

O Supremo Tribunal Federal, em manifestação incisiva, deixou claro que nenhuma organização, nacional, muito menos estrangeira, desfruta da condição de desrespeitar a Constituição brasileira. Da posição assumida pela Alta Corte compartilham os demais Poderes da Republica e setores mais lúcidos do pensamento humanístico, jurídico e político da nacionalidade.

A respeito do autor das aleivosias assacadas contra o STF e, por extensão contra a soberania nacional, cabe adicionar algumas informações significativas, divulgadas por órgãos da imprensa. Elon Musk é um empreendedor de sucesso em diversos ramos de atividade, consome drogas ilícitas e volta e meia se envolve em polemicas em diversas partes do mundo. O jornalista Guga Chacra, correspondente do “Globo News” nos Estados Unidos, classifica-o de “babaca e hipócrita”. Explica por que: “seu decantado apreço” pela liberdade de expressão varia de acordo com as circunstâncias e conveniências. Os rendosos negócios ditam seu “procedimento ético”. Por exemplo, Elon não tuge nem mugi diante das severas restrições impostas às operações do “X” na China, Arábia Saudita, Turquia e Índia países dirigidos por governos autocráticos de onde provêm investimentos de elevada monta que abarrotam seus cofres, garantindo sua presença no topo da lista dos ricaços da “Forbes”.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

Vitória do Estado

                                                                                                                           *Cesar Vanucci

 




"Vitória do Estado brasileiro, das forças de segurança do Brasil”.

(Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowiski)

 


A recaptura dos fugitivos de Mossoró, depois de 50 dias de buscas intensas, quando eles já estavam prestes deixar o país constituiu – não há negar – um feito policial digno de louvores. Junto com o deslindamento do “caso Marielle”, merece ser olhado como conquista significativa no combate ao crime organizado. Os primeiros “rounds” em ambas as situações, foram vencidos pela bandidagem. Toda via, o acintoso desafio da criminalidade terminou, ao fim e ao cabo, com nocaute desferido pelo aparato de segurança Federal, no âmbito do Ministério da Justiça. A recaptura não encerra as diligências investigatórias. O mesmo dispositivo de Inteligência competentemente utilizado na descoberta do paradeiro dos detentos da penitenciária de Mossoró saberá identificar por certo, em breve, as circunstâncias que permitiram se entendesse os quase 2 mil quilômetros o trajeto por eles percorridos a partir do Rio Grande Norte até os confins Pará.   As primeiras informações dão conta de que a ajuda veio de uma facção com núcleo central, onde mesmo? Acertou: no Rio de Janeiro das milícias. Na bem sucedida operação policial ganhou destaque, também, o fato de a prisão ter ocorrido sem que os policiais precisassem díspar um só tiro ao interceptar a escolta armada, composta dos 2 procurados e quatro comparsas.  Aguardemos os próximos capítulos dessa história.

Domingos Brasão, conselheiro do Tribunal de Contas do RJ, indiciado como um dos mandantes dos assassinatos de Marielle Franco e Andersom Gomes emprega em seu gabinete 45 assessores, segundo a imprensa, vários deles são elementos ligados às milícias cariocas. Outra revelação que veio a furo com a detenção dos mandantes: o outro Brasão, Francisco, Deputado Federal, foi acusado de assassinato muitos anos atrás, mas nunca foi levado a julgamento por Tribunal de Júri.

 

2) America efervescente -  o Governo brasileiro demorou, mas afinal de contas, resolveu aplicar um bom “puxão de orelha” no caudilho de Caracas. Duas manifestações do Presidente Lula e uma nota do Itamaraty expressaram indignação com relação aos atos praticados por Maduro afastando adversários da pugna eleitoral na marra sob argumentos os mais descabidos. A reação do venezuelano foi grosseria e insolente. Maduro resolveu, ao mesmo tempo, romper o acordo firmado recentemente com a Guiana, do qual o Brasil é mediador, promulgando ato que cria nova província da Venezuela em área pertencente àquele país. Aprontou mais: cortou a energia do prédio da embaixada da Argentina devido ao fato de patrícios seus, perseguidos por motivos políticos, terem nela buscado asilo. Noutra frente de tensão, o Presidente Milei, da Argentina, atacou os presidentes da Colômbia e México, o que levou Bogotá a chamar de volta seus embaixadores em Buenos Aires.  Enquanto isso, México e Equador cortaram relações por conta da condenável invasão policial da embaixada  asteca em Quito, onde se achava asilado o ex-vice equatoriano.

3) Mais um - A procuradoria do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro ofereceu denuncia, por abuso econômico eleitoral, contra o Governador do Estado do Rio de Janeiro, Claudio Castro, pedindo a cassação de seu mandato. Do libelo acusatório consta uma revelação estarrecedora, conforme divulgação da imprensa. Se efetivamente comprovada, colocará o chefe do executivo Carioca, com toda certeza em situação jurídica análoga à de seus mais recentes antecessores. Pasmo dos pasmos: no órgão estadual dedicado a levantamentos estatísticos, onde não existe sequer um único estatístico lotado, a titulo de executarem projetos sociais variados, foram nomeados com fitos eleitoreiros 18 mil funcionários (isso mesmo que o leitor está lendo: 18 mil) desses, quase 50 foram candidatos a Deputado pelo partido do Governador. Ora, veja, pois!

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Nunca mais.


       

                                                                                                      *Cesar Vanucci

 

“A Democracia pode não ser de todo perfeita, mas a ditadura é imperfeita no todo.”

(Domingos Justino Pinto, educador).

 

Em 1964, o Brasil desviou-se da trilha democrática e embrenhou-se num trevoso período autocrático, que perdurou por alongados 21 anos. O regime instaurado, de predominância militar, trouxe sobressaltos, desventuras e o clima de horror que toda ditadura descarrega nos lares e ruas dos territórios sob seu férreo controle. A negação dos direitos fundamentais que conferem dignidade a aventura humana produziu prisões, torturas, mortes, desaparecimentos, exílios, cassações de mandatos, censuras e arbitrariedades de toda ordem gerando o medo e introduzindo no enredo cotidiano a asquerosa figura do “dedo duro”.

 Parcela bem minoritária da sociedade não hesita em proclamar, ainda hoje, vantagens de um regime de exceção no confronto com o regime democrático. Sustenta que a “ordem” dominante nas tiranias “contrasta” com a “desordem” imperante nos países regidos pelo Estado de direito. Analise justa e correta dos fatos projeta uma realidade que reduz a estilhaços a equivocada comparação. A “ordem” mantida a ferro e fogo, violentando valores humanísticos e espirituais, impondo asfixiante silêncio não passa de falácia retórica, que só beneficia os “amigos do rei”. Toda ditadura, não importa seu matiz ideológico, se de direita ou de esquerda, amordaça a mente, amargura o coração e vilipendia o espírito. Ambas são farinha do mesmo saco. Verso e reverso de uma só moeda. Costuma-se dizer que a diferença entre o regime de força de direita e o regime de força de esquerda é a mesma diferença existente no sabor de duas apreciadas marcas de refrigerante, a coca e a pepsi.  Está visto, pois, que o sentimento popular repele as lateralidades ideológicas, sempre incendiárias. Absorve inteiramente o conceito esposado pelo grande Alceu de Amoroso Lima, o Tristão de Athayde, de que a solução dos magnos problemas que afligem a humanidade não virá jamais nem da esquerda, nem tampouco da direita. Só poderá vir mesmo do Alto.

Ditadura, nunca mais! No final do ano de 2022 e começo de 2023, quando da intentona golpista arquitetada nos bastidores do governo que passou, as instituições democráticas funcionaram de forma admirável, rechaçando com firmeza e altivez a impatriótica investida. O espírito legalista das Forças Armadas ajudou, como é de seu dever, a conjurar os perigos que rondaram a pujante Democracia construída de 1985 para cá. A sólida união dos setores democráticos espantou espectros saídos das sombras nostálgicas de um passado autocrático que esperamos nunca mais seja revivido no cenário político da nação. Ditadura, nunca mais!                 


 2) Decisão do STF - O Supremo Tribunal Federal acaba de proferir decisão que ratifica o óbvio. Óbvio ululante, diria Nelson Rodrigues. Interpretando corretamente o artigo 142 da Carta Magna, explicou que as Forças Armadas estão subordinadas diretamente ao Poder Executivo como sobejamente reconhecido pelos ilustres Chefes Militares que as comandam na atualidade. Apegados a conveniências que contradizem os preceitos democráticos e republicanos do Estado de Direito, alguns elementos de presença minoritária no contesto político vinham, erroneamente, insistindo em propagar que o artigo em questão permitiria aos militares, segmento altamente representativo da consciência cívica da Nação, atuarem como poder moderador em momentos de crise institucional.  

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

Insegurança pública


*Cesar Vanucci

 



“A segurança pública virou caso de segurança pública”

(Josemar Bosi, escritor)

 


1) As pessoas de boa memória hão de se lembrar do fogo de metralhadora disparado contra a memória de Marielle Franco quando de seu brutal assassinato. A rede de intrigas que alimenta as inomináveis fake news despejou toda a sorte de infâmias imagináveis e inimagináveis sobre sua atuação como ser humano e parlamentar. Um Deputado da “trincheira do ódio” chegou ao cúmulo de arrancar, em ato público, placa afixada em sua homenagem. Em Whatsapps iracundos foram espalhados “cobras e lagartos” a respeito da brava combatente dos direitos sociais. Tudo está visto agora, com propósito de confundir e comprometer as investigações.

 

2) O Rio de Janeiro das temidas milícias continua sendo palco de ocorrências policiais extravagantes. Mais do que isso: surreais. Vejam só mais essa aqui. Recentemente, agentes da Segurança Pública fecharam uma fábrica clandestina de cigarros. Trancafiaram os responsáveis, apreendendo todo o maquinário utilizado na fabricação do produto. O equipamento, pesando 5 toneladas foi levado para o deposito da “Cidade da Polícia”, um complexo de edificações amplas, onde se acham lotados 3 mil funcionários que operam ações desenvolvidas por dezenas de delegacias. A máquina de fazer cigarros foi levada a hasta pública. O arrematante cuidou de busca-la. Espanto geral! Quando abriram a porta do deposito, a peça não estava mais lá. A “rigorosa sindicância” feita a respeito do inusitado incidente “apurou” que ninguém da “Cidade” sabia dizer por que cargas d’água o aparato mecânico de 5 toneladas havia sumido. O B.O referente ao caso assinala que a volumosa carga, não passou por nenhuma das numerosas guaritas armadas que circundam o complexo policial, nem tampouco seu deslocamento foi monitorado pela rede de câmeras existente.  Até outro dia não havia surgido ainda quem “soubesse dizer” o que ocorreu. Tão denso “mistério” levou gaiato a apontar David Copperfield como autor da façanha. Como é sabido por todo telespectador, o mágico de Las Vegas costuma fazer desaparecer gigantescos objetos, debaixo de aplausos de plateias extasiadas. Êta Rio de Janeiro!...

 3) Outro lance escalafobético. Numa bem sucedida operação policial, integrantes da maior milícia do Rio de Janeiro foram capturados portando armas de grosso calibre, de uso privativo das forças de segurança. Na troca de tiros um dos lideres da facção foi atingido e encaminhado a hospital. Algemado, ficou sobguarda de dois agentes, um sargento e um cabo da Policia Militar carioca. Um vídeo que circulou intensamente na internet, postado pelos próprios agentes, mostrou, dias depois, festiva comemoração de aniversário do miliciano preso, com bolo, velinhas, balões coloridos, refrigerantes e “parabéns para você” cantado por todos num clima de muita animação. Os dois militares foram dispensados da vigilância e respondem a Procedimento Administrativo Disciplinar. Tá danado!...

 4) A Policia Militar de São Paulo desencadeou , em curto espaço de tempo, duas mortíferas operações contra o crime organizado na baixada santista, depois do assassinato por bandidos de dois policiais. Quase 100 pessoas já foram mortas no confronto com os agentes. A Secretaria de Segurança SP sustenta que as forças policiais têm agido na repressão em rigorosa sintonia com a lei. Mas, esse não é o entendimento da Defensoria Pública e familiares de algumas das vítimas. As versões discordantes deram causa a relatório levado à OEA. Indagado sobre o que pensa da representação encaminhada àquela instituição internacional, o Governador do Estado, Tarcísio Freitas, declarou “não estar nem aí pra isso”. Tá bem!...

 5) O Ministro da Justiça Ricardo Lewandowski andou colocando “o carro adiante dos bois” ao dizer ainda outro dia que a operação de captura dos fugitivos em Mossoró foi amplamente exitosa.            Ora, veja, pois!...

                              Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

quarta-feira, 27 de março de 2024

Pacto sinistro

 


                                                                                            *Cesar Vanucci

 

“O caso Marielle abriu nova janela para o combate ao crime organizado.”

(Ministro Gilmar Mendes, do STF)

 

A esperança dos democratas e dos amantes da paz é de que o deslindamento do chamado “Caso Marielle” represente prólogo e não epílogo de uma questão relevante para o bem estar coletivo. Explicando melhor: as investigações da eficiente Polícia Federal, que tomou a si a incumbência de desvendar o mistério que rodeava o infame atentado, desnudaram pacto sinistro existente na mui’ leal e heroica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro e adjacências.  Para uma opinião pública aturdida e indignada ficou sobejamente documentada a escabrosa aliança entre políticos poderosos e inescrupulosos, milicianos virulentos e a banda podre da polícia.

A desagregadora e desembaraçada movimentação dessas forças espúrias nas engrenagens administrativas e da segurança pública produziu um cortejo interminável de desatinos. Tais desatinos fizeram os habitantes do Rio de Janeiro se sentirem constrangidos em poder alardear sua invejável condição de “Cidade Maravilhosa”.

Recapitulando os fatos: Seis anos atrás, Marielle Franco e seu motorista, Andersom Gomes voltando de um evento comunitário, onde se discutiam temas ligados a inclusão social, foram fuzilados com tiros disparados de um carro que se emparelhou com o veiculo da vereadora. Uma assessora que a acompanhava nada sofreu, além do trauma de ver seus companheiros assassinados. Como se comprovou mais tarde, as câmeras do local onde ocorreu a execução estavam estranhavelmente desligadas. A comoção provocada pelo crime somada à marcha morosa das apurações deu origem a uma pergunta que ecoou longe, volta e meia ocupando noticiário: “Quem matou Marielle?” Algum tempo passado chegou-se ao bandido que disparou os tiros e ao seu comparsa. Houve um espanto muito grande quando se soube que o atirador ex-policial, miliciano, vivendo aparentemente de soldo como inativo da PM residia numa mansão suntuosa em condomínio de alto luxo na Barra da Tijuca, possuindo numa de suas propriedades um arsenal de fuzis e metralhadoras de modelo avançado, armamento esse obviamente confiscado. A principio ele se recusou a revelar nomes dos mandantes e os “motivos” da execução. Nessa ocasião surgiu outra pergunta que não quis calar: “Quem mandou matar Marielle?” A resposta a essa indagação custou muito a ser dada e a demora deu margem a muitas especulações. Quando da mudança de Governo houve a promessa formal do então Ministro da Justiça, Flávio Dino, de encarregar a Policia Federal da investigação e apontar os culpados. A partir das diligências efetivadas no âmbito Federal o processo ganhou ritmo mais célere.

Agora, finalmente após a disposição do matador miliciano, Ronnie Lessa de contar tudo que sabe, a essa circunstancia se agregando outras esmagadoras provas, inclusive “queima de arquivos”, a reposta sobre quem mandou matar Marielle acaba de ser formalmente dada. Os mandantes apontados e já detidos são o Deputado Federal Francisco Brasão, seu irmão Domingos Brasão, Conselheiro do Tribunal de Contas do RJ e – esticando o pasmo ao máximo limite - o até outro dia chefe da Policia Civil do Estado do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa. Segundo a acusação, os três articularam os detalhes do esquema do bárbaro assassinato. A “motivação” teria sido a ferrenha oposição oferecida pela combativa parlamentar às investidas vorazes da milícia em valiosas áreas urbanas. A promíscua relação de políticos, milicianos e policiais, pelo que já foi revelado – e com muitas coisas chocantes a virem ainda à tona -, deu causa a homicídios que permanecem insolúveis e a muitos outros delitos graves que deixam moradores de regiões densamente povoadas à mercê dos assédios violentos do crime organizado.

Como já se disse, a elucidação do assassinato é prólogo de história tenebrosa a ser ainda contada.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

 

quinta-feira, 21 de março de 2024

Últimos capítulos

                        *Cesar Vanucci

                           “Essa novela golpista não vale a pena ver de novo”.(Antônio Luiz da Costa, educador).

 

Pra falar verdade, ninguém foi totalmente pego de surpresa com a identificação dos autores da intentona golpista. Afinal de contas, as digitais dos implicados no atentado antidemocrático estavam profusamente espalhadas por tudo quanto é canto investigado. As provas arrasadoras, meticulosamente colhidas e sistematicamente liberadas pela Polícia Federal e divulgadas pela mídia sinalizavam, desde o começo, o que estava por vir na hora fatal da designação dos nomes, sobrenomes, endereços e CPFs da patota sediciosa.

A delação premiada do Tenente Coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente, Jair Messias Bolsonaro, abriu as comportas das revelações incriminatórias. A ela juntaram-se adiante, entre muitos outros indícios, os impressionantes depoimentos de dois militares de alta graduação,  reputação e credibilidade irretorquíveis, ambos integrantes do ministério de um governante que se  empenhava, obsedantemente,em golpear de morte as instituições democráticas. O ex-ministro do Exército, Marco Antonio Freire Gomes e o ex-ministro da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Jr., ouvidos como testemunhas pela PF, relataram com riqueza de detalhes, o que ocorreu nos bastidores do Palácio do Planalto na urdidura da conspiração. Foi um desfile de informações estarrecedoras. Deixou muita gente de queixo caído.  Como é possível, a essa altura de nossa evolução democrática, algo assim, ser engendrado, em desafio tão insolente à consciência cívica da nação? Durante as oitivas o General e o Brigadeiro mencionaram as pressões e constrangimentos vividos nos contatos com a antiga cúpula governamental. Registraram sua enfática recusa em participar da conjura.  Condenaram a atitude de Bolsonaro, chegando a dizer-lhe, em certo momento, ser ele passível de prisão em razão das ilicitudes praticadas. Confirmaram que todas as avaliações feitas por organismos altamente qualificados, inclusive as Forças Armadas, atestaram, peremptoriamente, a lisura das eleições e a fidedignidade dos dados extraídos das urnas eletrônicas, ao contrário do que foi propalado pelos interessados na quebra dos dispositivos democráticos.

A ruptura institucional com a implantação de um regime de exceção objetivada na trama colocada em andamento pelo ex-presidente com o conluio de outros personagens destacados na vida pública, não se concretizou em plenitude por diversos alvissareiros fatores. O primeiro deles foi a amadurecida consciência da sociedade brasileira. Mantendo  presentes  na memória lances trevosos do passado, a opinião pública repele toda e qualquer tentativa extremista de violação dos preceitos democráticos. Outro fator digno de nota foi a incontinenti reação dos Poderes Constituídos às manobras golpistas. Pesou também e muito na resistência à ação desagregadora dos plantonistas da ditadura o posicionamento legalista das Forças Armadas, como exemplificado na conduta dos dois chefes militares citados.

Esta impactante e nefasta investida antidemocrática, abortada, nos efeitos mais danosos almejados pelos conspiradores, caminha na direção dos indiciamentos e julgamentos de seus autores.  Paralelamente aos fatos relacionados ao golpe propriamente dito, aproximam-se também do desfecho investigações sobre outras cabulosas façanhas envolvendo os mesmos manjados personagens.

A novela golpista chega a seus últimos capítulos. A esperança de todos é de que as cenas vividas jamais voltem a ser exibidas.

A SAGA LANDELL MOURA

Letra e música magistrais

  Cesar Vanucci *   “Tu pisavas nos astros  distraída...”  (Orestes Barbosa, no clássico “Chão de estrelas”,  composto em parceria com Sil...