terça-feira, 29 de outubro de 2024

Privatização que não deu certo

 


 

*Cesar Vanucci

“Inadmissível! O apagão deixou SP às escuras por uma semana inteira” (Domingos Justino Pinto, educador)

 


Os habitantes da maior metrópole brasileira não estão conseguindo ver a luz no final dos apagões. Têm plena convicção de que a empresa (ir) responsável pela distribuição de energia elétrica, para milhões de moradias e instalações de serviços essenciais nos lugares onde vivem e trabalham, não dispõe da mais leve condição técnica e administrativa para executar a contento sua função.

Desaparelhada para simples e rotineiras anomalias que ocorram no dia a dia da cidade de São Paulo, a concessionária deparou-se com desafios que não está conseguindo, definitivamente, contornar após o advento das mudanças climáticas. Noutras palavras, a empresa não se mostra apta a enfrentar sequer um toró das tradicionais temporadas chuvosas, quanto mais chuvas e trovoadas estrondosas destes novos tempos metrológicos.  

A ENEL, sucessora da Eletropaulo em razão de privatização com características muitíssimo singulares, não vem aportando os recursos definidos contratualmente, para a manutenção e constante ampliação das redes de distribuição de energia. E olhe que estamos falando de uma cidade colossal que cresce em ritmo vertiginoso. Para pasmo de todos, encontra dificuldade até mesmo para remover galhos de arvores tombadas sobre as fiações nas vias públicas.

A atuação da ENEL configura, de forma enfática, mais um caso de privatização que não deu certo e que envolveu ativos valiosíssimos e setores estratégicos vitais para o desenvolvimento nacional. O enorme patrimônio da antiga estatal que operava em São Paulo foi adquirido por uma bagatela. A concessionária conseguiu em curto espaço de tempo, a façanha, de piorar consideravelmente o serviço prestado a população além de elevar escorchantemente as taxas para consumidores.

Anotamos acima o caráter singular da privatização. Cuidemos, agora, de explicar do que se trata. A ENEL é uma multinacional com participação acionária do governo Italiano. Encurtando razões: para a “privatização” acontecida aqui foi trazida uma estatal de fora daqui. Há que se reconhecer  que a operação em questão revestiu-se de características bastante surreais, pra dizer o mínimo.  

Os clamores dos traumatizados paulistanos diante da calamidade dos apagões provocaram, como não poderia deixar de ser, reações vigorosas das autoridades competentes. Não faltaram ainda críticas ao comportamento de alguns segmentos administrativos comprometidos com a missão de fiscalizar os atos da empresa. A Aneel, órgão regulador do sistema energético foi chamada a se explicar. O mesmo aconteceu com relação à prefeitura de SP.  Instituições representativas dos governos Federal, Estadual e Municipal abriram procedimentos e autuaram a eletricitária faltosa. Dessas diligencias oficiais resultarão, por certo, amplo leque de medidas de resguardo do interesse coletivo, como, por exemplo, intervenção na empresa, cancelamento de contrato, indenizações pelos vultosos prejuízos.

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

Eleições, BRÍCS, Transplantes, Religião

 


 

*Cesar Vanucci

“A religião não é de Bolsonaro, nem de Lula, é de Deus.”(Dep. Otoni de Paula.)

 

1) No segundo tempo das eleições municipais  o olhar das pessoas está fixado no placar das apurações procedidas com invejável celeridade e eficiência pela Justiça Eleitoral. Dentro de breves horas os milhões de eleitores chamados às urnas em 51 municípios brasileiros, várias capitais entre eles, ficarão conhecendo os nomes dos encarregados, pela soberana voz popular, de conduzir seus destinos político-administrativos pelo próximo quatriênio. A corrida eleitoral revela-se eletrizante. Em alguns lugares, o páreo promete ser decidido no “olho eletrônico”. A aspiração dos lares e das ruas é de que tudo transcorra dentro da mais completa normalidade, com as discórdias e desavenças que estrugiram na campanha, inerentes a disputas políticas, sejam arremessadas pra fora do campo democrático. Dos vitoriosos e dos derrotados espera-se que se comportem, na alegria do triunfo ou na experiência frustrada, à altura da grandeza cívica que o momento eleitoral representa na historia democrática.

2) A cúpula do BRÍCS, reunida na Rússia, aprovou uma nova categoria de países membros, enquadrados como parceiros. O Governo Brasileiro se opôs, sensatamente, à inclusão da Venezuela e Nicarágua. O posicionamento, ditado por Lula, que não pode comparecer ao encontro, foi acatado pelos demais integrantes do grupo, China, Índia, Rússia e África do Sul.

3) Transplante de órgãos infectados com HIV; imperícia em procedimentos oftalmológicos levando pacientes à cegueira, tudo isso junto trouxe, compreensivelmente, sobressalto e comoção no seio da sociedade. Os dramáticos acontecimentos do Rio de Janeiro, Pará e Rio Grande do Norte são reveladores de descaso e imprudência profissional, incompetência técnica, negligencia gerencial e, como ficou também evidenciado, malversação do dinheiro público em função de promiscuidade na relação de políticos com as políticas de saúde. Não podem deixar de ser punidos, doa a quem doer, de forma exemplar. E há que se cogitar também – como não? - em indenizações ás indefesas vítimas desses processos vexaminosos que alvejaram em cheio a dignidade humana.

4) O deputado Otoni de Paula, do MDB do Rio de Janeiro, pastor evangélico, foi vice-líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Participando recentemente de evento ao qual esteve presente o presidente Lula, referiu-se com simpatia aos programas sociais do atual governo. Recebeu palavras de critica de alguns e de louvor de muitos ao afirmar, auto e bom som, o seguinte: “a religião não é de Bolsonaro, nem de Lula; a religião é de Deus.” Observadores traquejados da vida pública consideram bastante oportuna a declaração, já que a confusão da prática política com a prática religiosa, duas atividades nobres e edificantes, costuma provocar transtornos irreparáveis na convivência social.

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

 

O caudilho, o Magnata e os Milicianos

                                                         


                               *Cesar Vanucci

                                                              

      Se Maduro antecipou o Natal,

                                                                                        também poderei antecipar o meu  regresso".  

                                                                                              (González, candidato da oposição Venezuelana)

              

 

1) Nicolas Maduro conseguiu firmar, a essa altura, a imagem de déspota impiedoso e detestado, tantos os malfeitos acumulados. Não fosse a incontornável imagem de verdugo afivelada ao seu semblante, ele bem que poderia, por conta de seu lado histriônico, tornar-se personagem de estórias surreais em publicações ou programas de televisão de teor satírico. Se ainda entre nós, Gabriel Garcia Marquez e Dias Gomes, mestres consagrados na arte de compor tipos políticos singulares e caricaturais, encontrariam por certo nas proezas ininterruptas do “caudilho de Caracas” material abundante para sua obra ficcional. Vejamos a cenas: “El Bigodão”, envergando vestes de “Sumo Sacerdote” ou de Papai Noel  sentado no trenó puxado por renas, anunciando a antecipação do natal, com duração de outubro a janeiro; Comunicando, com toda empáfia, que nenhum país do mundo consegue realizar eleições com a lisura democrática observada na Venezuela; Com panca de Sherlock Holmes, boina, capote e cachimbo, sentenciando solenemente: - Elementar, meu caro Watson, Lula e o presidente Boric, do Chile, não passam de agentes da CIA. E já que estamos falando das coisas nebulosas da Venezuela, é bom registrar o pasmo e indignação da opinião pública brasileira ao tomar conhecimento da reiterada e descabida manifestação de apoio da alta direção do PT (Partido dos Trabalhadores) ao tirano chavista.

 2) Um lampejo de bom senso, ou conveniências financeiras, ou imposição dos sócios da monarquia saudita, ou ainda uma junção de todos estes fatores?  Qualquer que tenha sido o motivo, fato é que a plataforma digital X voltou, finalmente, a operar. O insolente magnata Elon Musk chiou, ameaçou céus e terras, ensaiou manobra de despistamento para “enganar trouxa”, mas não teve como: acabou rendendo-se incondicionalmente à firme e resoluta postura do Judiciário. Espera-se que tenha aprendido a lição. A soberania de um país como o Brasil, cioso de sua pujante democracia não pode ser objeto de zombaria de ninguém. Fique explicito igualmente, que a consciência nacional repudiará, com toda força, qualquer demonstração, qualquer sinal que possam vir a ser eventualmente detectados, na rede social mencionada, de interferência ilegítima na política interna do país.

  

3) O Rio de Janeiro continua lindo e concomitantemente surreal. Outra vez mais, a PM carioca articulou, na surdina, uma operação contra milicianos no Itanhangá. Quando a tropa chegou, havia no local uma barricada de 9 ônibus sequestrados pela bandidagem, que foi avisada a tempo, com toda certeza, por prestimoso X9. Reportando-se ao caso, o Governador Cláudio Castro concentrou-se no argumento de que a imprensa exagerou ao falar de sequestro, já que os ônibus não foram levados por ninguém. Haja paciência para aguentar tudo isso!

                 

 Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

Hiroshima e Nagasaki



 

Cesar Vanucci*

“As guerras detestadas pelas mães"(Horácio)

 


O Nobel da Paz deste ano foi atribuído a uma instituição japonesa, constituída por sobreviventes das tragédias nucleares, em razão de seu trabalho infatigável visando a proscrição das guerras. O tema desencadeia infindáveis reflexões.

O estoque das armas de destruição em massa é cada dia mais volumoso. O acordo de não proliferação de armas nucleares só vale de verdade para os países que ainda não as possuem. Os integrantes do fechadíssimo “clube atômico” monitoram com rigor as ações dos demais países, procurando dificultar até mesmo a aquisição de conhecimento relacionado ao emprego pacífico da energia nuclear. Atribuem, por antecipação, a responsabilidade por suposta tragédia futura a terceiros, não detentores da mortífera tecnologia, “esquecidos” de que na única vez na historia humana, em que bombas atômicas caíram, destruindo cidades e matando centenas de milhares de pessoas, a iniciativa de lança-las foi tomada justamente por um dos membros do “clube”, que continuou, a exemplo dos parceiros, a armazenar novos e mais arrasadores artefatos.

Por outro lado, analistas em estratégias militares garantem que existem em poder das grandes potências, artefatos químicos tão eficazes quanto as armas atômicas, para “garantir”, se for da vontade dos “senhores das guerras”, o extermínio de qualquer forma de vida sobre a superfície planetária. Uma ligeira amostra dos danos de que essa parafernália bélica é capaz de provocar foi dada, anos atrás, nos conflitos do Vietnã e Golfo Pérsico e na guerra Irã-Iraque. Aquela mesmo em que o extinto ditador Saddan Hussein pôde contar com copioso fornecimento de armas e sólido apoio logístico de seus antigos aliados e futuros arqui-inimigos estadunidenses. Não se sabe dizer, com exatidão se artefatos similares não veem sendo empregados na Ucrânia, no Sudão, em Gaza, no Líbano e noutras contendas.

A bomba de hidrogênio, mais poderosa do que a atômica, ainda não foi utilizada. Existe em quantidade suficiente para acabar com o mundo várias vezes. São coisas assim que fazem com que os guerreiros vocacionados se imaginem sempre, em sua paranoia destrutiva, próximos do Armagedon. Farejar o Armagedon é postura natural para os espíritos deformados que fazem das guerra bom negócio. Hiroshima e Nagasaki, alvos atingidos pela insanidade bélica, legaram-nos uma mensagem. Mensagem contra todas as guerras. Não só contra a guerra atômica. Um clamor pela paz, originário dos recantos mais generosos da alma humana. Bem apreendido, pode levar o ser humano a refletir melhor sobre suas origens e destino. Permite-lhe até sonhar com aquele instante ideal na aventura terrena em que toda a dinheirama gasta para produzir morte seja aplicada na celebração da vida. Em favor de ações que elevem os padrões do bem-estar, promovam cura de doenças e erradicação da miséria. São essas, aliás, as guerras que precisam, na verdade, ser combatidas por todos.  Palavra de Hiroshima e Nagasaki!

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

Tanta coisa acontecendo mundo afora


 

*Cesar Vanucci

“vida que segue, com seus lances momentosos” (Lica Costa, poeta)

 

“Tudo acontecendo junto, conjuntamente, ao mesmo tempo “modique” desviar o olhar da gente doutras coisas”, como costumava dizer o Rozendão, com seu vozeirão de leiloeiro de quermesse, dono de afreguesada banca de hortaliças no mercado da distante meninice.

Tanta coisa acontecendo mundo afora ao tempo em que as atenções se acham fixadas nas eleições municipais. A respeito das eleições há muitas considerações a serem ainda feitas. Embates renhidos certeiramente ocorrerão em vários estados da Federação.  A corrida pela conquista das prefeituras de Belo Horizonte e de São Paulo, por exemplo, ganha especial realce na conjuntura. Os apoios de Lula e Bolsonaro aos candidatos adversários nesta fase, muito bem delineados, provocam acesos debates e prognósticos. O confronto, nos casos apontados, é visto por muita gente como uma espécie de competição extra das duas lideranças.

O noticiário nosso de cada dia tem reservado espaço menor para as acontessências da Venezuela de Maduro. O caudilho de Caracas, alegando contar com aprovação para as tropelias cometidas de poderosas forças religiosas, resolveu magnanimamente, visando a prosperidade e o bem estar da população, antecipar a celebração do Natal.  O decreto a respeito do assunto estipulou que a “comemoração natalina” se estenda de 1° de outubro a 15 de janeiro do próximo ano. Alguns correligionários de Nicolás creem que ele combinou com Papai Noel, com quem certamente mantém ligação direta, o aumento das renas para a distribuição de brinquedos. Enquanto o ditador posa de sumo sacerdote, as prisões no país acham-se abarrotadas de adversários políticos, numa perseguição cruel a quem não comungue de suas rezas. Entidades de direitos humanos estimam em 3 mil o numero de desafetos do histriônico verdugo impedidos  de desfrutarem das alegrias e emoções do “Natal Venezuelano”, por estarem no xadrez...

Como antecipado pelos cientistas, as mudanças climáticas extremas estrugem por tudo quanto é canto de nossa aldeia global. Dias atrás, no causticante Saara caiu chuva pra valer em regiões marcadas por secas milenares. Nalguns trechos dos territórios atingidos pelas tempestades surgiram lagoas em meio às dunas, numa alteração inverossímil da paisagem. Já nos Estados Unidos, às voltas com avassaladora temporada de furacões, milhões de pessoas foram forçadas a buscar abrigo contra as intempéries. Uma delas foi apontada como o fenômeno metrológico com o potencial mais letal da historia. As estatísticas acusaram centenas de mortes e feridos, além de enormes danos matérias. A questão climática rendeu inesperado confronto retórico na campanha política presidencial. Desabridamente, seguindo costumeira linha de argumentos fantasiosos, próceres republicanos propagaram a informação de que o governo, em mãos dos democratas, dispõe de meios para provocar ou desfazer tempestades. A risível provocação foi naturalmente refutada pelo o presidente Biden e pela candidata democrata Kamala Harris. Vida que segue, com seus lances perturbadores!

                                 Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

 

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Eleições, primeiro turno.



*Cesar Vanucci

“A eficiência da Justiça Eleitoral permitiu que o brasileiro fosse dormir no domingo já sabedor dos nomes dos eleitos.” (Domingos J. Pinto, educador)

 


O Brasil viveu outro momento eleitoral memorável. Nas linhas gerais, a festa cívica de 6 de outubro reafirmou o inarredável compromisso da Nação com os sagrados postulados democráticos e republicanos. À Justiça Eleitoral tocou, uma vez mais, a impostergável missão de garantir a eficácia do processo de captação e apuração, em tempo recorde, dos votos depositados nas urnas por mais de 120 milhões de cidadãos. O eleitor pode expressar com plena liberdade sua vontade política. A manifestação refletiu salutarmente tendências ideológicas variadas, respeito a diversidades numa atmosfera de maior serenidade, sobretudo se tomarmos como referência as tensões criadas pelo desvario extremista em 2022.

Na disputa regional mais comentada, que atraiu todas as  atenções, ocorreram incidentes perturbadores. Os fatos registrados na corrida pela prefeitura de SP deixaram à mostra o despreparo e a mediocridade de um “carreirista político” que se apresentou como implacável “crítico” do sistema vigente. A ação inescrupulosa do “coach messiânico” Pablo Marçal, com o indisfarçável propósito de bagunçar o coreto na 25ª h. da campanha, representou o ponto fulminante de uma série impactante de sandices. Afortunadamente, as urnas afastaram o personagem do 2° turno. A expectativa agora é de que o grave ato delituoso seja devidamente enquadrado nos conformes legais de maneira a desencorajar novas tentativas que possam medrar dos domínios pantanosos do fanatismo e negativismo.  

Os resultados das eleições forneceram material abundante para especulações por parte dos analistas políticos. A quantidade de prefeituras conquistadas pelas diferentes legendas partidárias está no foco do interesse dos debates sobre quem mais vezes “subiu ao pódio” na competição. O PSD, liderado por Gilberto Kassab, obteve quase 900 prefeituras. Com o feito desbancou o MDB da primeira posição na classificação partidária ostentada desde a redemocratização. Firmou-se como agremiação de Centro de presença destacada no cenário político. O MDB, o PP, a União Brasil, o PR e o PL tiveram também participação expressiva na pugna eleitoral. A participação do PT, apesar de haver ampliado o numero de prefeituras, foi bastante discreta na disputa. O PSDB e o PDT não marcaram presença na contenda, ao contrário do que sucedia num passado não tão distante.

O 6 de outubro assinalou  a chegada ao cenário político nacional de novas lideranças que, bem provavelmente estarão frequentando o noticiário  como candidatos a cargos de relevância em eleições vindouras. Sejam citados, num contingente mais amplo de nomes, 3 deles: Eduardo Paes, RJ; João Campos, Recife; Bruno Reis, Salvador. Outra constatação, sem dúvida alvissareira: cresceu o numero de prefeitas. Interessante anotar que em 3 dos municípios mineiros de maior concentração de eleitores, ocorreu a recondução de mulheres ao cargo de gestora pública.  Uberaba, Juiz de Fora e Contagem.  

Jornalista (cantoius1@yahoo.com.br)

Vitalidade democrática

 

 

*Cesar Vanucci


“Democracia sai sempre revigorada de uma eleição” (Antonio Luiz da Costa, Educador)

 



O óbvio ululante: eleição livre é prova de vitalidade democrática. Cada pleito programado constitui uma clareira de esperança nos trepidantes caminhos dos avanços civilizatórios. Representa momento de efervescência criativa para a exposição do ideário político, em suas múltiplas tendências, uma “ensancha” “oportunosa” para debates e diálogos capazes de fornecerem subsídios para a decisão dos eleitores no isolamento da cabine indevassável de votação. Os democratas autênticos celebram a eleição como uma festa cívica memorável. Confiam fervorosamente no processo. Sabedores das imperfeições que nele se alojam, subproduto da falibilidade humana, veem no escrutínio eleitoral um sopro de esperança renovado de tempos em tempos.

Mas, desafortunadamente para os nossos foros de cidadania, há um bocado de gente que, sub-reptícia ou escancaradamente, hostilize os postulados  democráticos. Não concordam com as regras constitucionais e jurídicas que freiam ambições de mando autoritário. Na campanha eleitoral de 2022 deparamo-nos, constrangidos e indignados, com demonstrações desse estado de espírito subversivo que domina grupelhos com medíocre compreensão da vida e da ciência política.  As sede dos 3 Poderes foram atacadas. Rodovias foram bloqueadas. Grupos de pessoas na frente de unidades militares pediam a instauração de ditadura. Inverdades clamorosas sobre a legitimidade do pleito foram impatrioticamente propagadas, até para uma plateia atônita de Embaixadores. Só por um triz não explodiu uma bomba no aeroporto de Brasília. A ação antidemocrática estendeu-se por muitos outros lances chocantes sabidos e notórios. A reação das forças vivas da Nação, envolvendo Governo, Judiciário, Congresso, lideranças civis e militares e de outros segmentos representativos da vida nacional, estabeleceu um magnífico “chega prá lá” nos semeadores do ódio e da discórdia, transmitindo alto e bom som o quanto a Democracia está enraizada no sentimento das ruas. O Brasil disse o que quer de uma eleição.

A corrida eleitoral de agora está sendo acompanhada com zelo e atenção pelos verdadeiros democratas, que se sentem, falar verdade, injuriados diante do clima de tensão propiciado em disputas que ocorrem em alguns ambientes turbulentos. O melhor (ou seja, pior) exemplo vem da mais importante cidade do país, maior metrópole da America Latina, com população superior a de vários países. Entre tapas, golpes abaixo da cintura, cadeiradas e uma pororoca de infâmias, os debates acontecidos se primaram pela total ausência de ideias e propostas. Deixando a opinião publica estarrecida. No meio da barafunda despontou um candidato, um vulgar “cover” - todo mundo sabe de quem – com pretensões a escalar postos mais elevados na cena política a qualquer custo. Que nossa Senhora  Aparecida ilumine os paulistanos na hora do voto.  

  Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

A fala do Presidente na ONU II





*Cesar vanucci

“o planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos”

 





Em sua momentosa fala na ONU, já aqui comentada em alguns aspectos significativos, o Presidente Lula sustentou, de maneira enfática que os Estados não podem se curvar “ante indivíduos, corporações ou plataformas digitais que se julgam acima da lei.” Proclamando a urgência da regulamentação das redes sociais, salientou que “a liberdade é a primeira vítima de um mundo sem regras.” Acrescentou que a essência da soberania abrange o direito de legislar, julgar e fazer cumprir as regras dentro dos territórios nacionais, incluindo obviamente o ambiente digital.

 Criticou veementemente o que chamou de “oligopólio do saber”, configurado na consolidação das assimetrias na área de Inteligência Artificial. Justificou acertadamente a implementação de governança intergovernamental da inteligência artificial, explicando que o mundo observa, assustado que os poderes inerentes a IA estão se concentrando nas mãos de pequeno número de pessoas e empresas, em alguns poucos países. Aduziu sensatamente: “Interessa-nos uma Inteligência Artificial emancipadora, que também tenha a cara do Sul Global e que fortaleça a diversidade cultural. Que respeite os direitos humanos, proteja dados pessoais e promova a integridade da informação. E, sobretudo, que seja ferramenta para a paz, não para a guerra.”

 Noutra vertente da manifestação, Lula declarou estarmos condenados à interdependência da mudança climática. Registrou que o planeta já não espera para cobrar da próxima geração. Disse: “o planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos. Está cansado de metas de redução de emissão de carbono negligenciadas e do auxílio financeiro aos países pobres que não chegam nunca.”

O Presidente ressaltou que a Democracia não aceita a fome, a desigualdade, o desemprego e a violência. Anotou, a propósito: “No Brasil, a defesa da democracia implica ação permanente ante investidas extremistas, messiânicas e totalitárias, que espalham o ódio, a intolerância e o ressentimento”.

. Em trecho do discurso voltado para a questão das clamorosas desigualdades sociais e as dificuldades enfrentadas na conquista de patamares de crescimento econômico satisfatórios, Lula criticou a exorbitância dos juros cobrados, por órgãos financiadores internacionais das nações em desenvolvimento. Assegurou: “Sem maior participação dos países em desenvolvimento na direção do FMI e do Banco Mundial não haverá mudança efetiva.”

Chamou a atenção para um contraste assustador na esfera econômica. Enquanto 155 milhões de pessoas ao redor do mundo passam fome, as 150 maiores corporações obtiveram lucro de 1,8 trilhões de dólares e a fortuna dos 5 principais trilhonários mais que dobrou. Arrematou: “a fome não é resultado apenas de fatores externos. Ela decorre, sobretudo, de escolhas políticas. Hoje o mundo produz alimentos mais do que suficientes para erradicá-la.” Uma fala, sem dúvida, lúcida e oportuna.

A fala do Presidente na ONU



 

*Cesar Vanucci

“Ação terrorista de fanáticos contra civis israelenses inocentes, tornou-se punição coletiva de todo o povo palestino” (Presidente Lula da Silva)

 

Pronunciamento condizente com a grandeza do ato e respeitabilidade da tribuna. Mesmo entre cidadãos que nutram fortes restrições à atuação do Presidente não deixarão de ser ouvidas, por certo, muitas vozes de concordâncias alusivas aos palpitantes temas por ele enfocados na fala proferida na abertura dos trabalhos da Assembleia Geral da ONU.

A defesa dos postulados democráticos, a relevância da questão climática, os lastimáveis conflitos bélicos da atualidade e a política armamentista, a tragédia das desigualdades sociais e a fome, os riscos da Inteligência Artificial e a reformulação estrutural da ONU ganharam especial realce no aplaudido discurso. Reportando-se ao “Pacto para Futuro”, acertado pouco antes da cerimônia, Lula sublinhou: “Sua difícil aprovação demonstra o enfraquecimento de nossa capacidade coletiva de negociação e diálogo”. Reconheceu que “o paradoxo do nosso tempo: é andarmos em círculos entre compromissos possíveis que levam a resultados insuficientes.” Explicou que “Nem mesmo com a tragédia da COVID-19, fomos capazes de nos unir em torno de um Tratado sobre Pandemias na OMS.” Conclamou: “Precisamos ir muito além e dotar a ONU dos meios necessários para enfrentar as mudanças vertiginosas do panorama internacional.” Defendeu a reformulação do processo operacional da ONU, postulando, como já feito em outras ocasiões, a presença de representantes da America Latina e da África, em caráter permanente, no Conselho de Segurança. Lamentou ainda o fato de que, tantos anos transcorridos desde os começos da instituição, jamais uma mulher teve o nome lembrado para ocupar o cargo de Secretário Geral.

Acerca das disputas geopolíticas, o Presidente afirmou: “2023 ostenta o triste recorde do maior número de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial.” Aduziu: “Os gastos militares globais cresceram pelo nono ano consecutivo e atingiram 2,4 trilhões de dólares”. Expressou indignação diante da alarmante constatação de que 90 bilhões de dólares foram aplicados em arsenais nucleares. Tal importância – conforme asseverou - poderia ter sido utilizada para o combate a fome e enfrentamento das mudanças climáticas.

Lula pregou o diálogo como a única forma possível de resolver pendências entre Nações. Lembrando, o cenário de horror que se descortina em Gaza, criticou a circunstancia de que um conflito iniciado como “ação terrorista de fanáticos contra civis israelenses inocentes, tornou-se punição coletiva de todo o povo palestino”. Condenou as guerras da Ucrânia, Sudão, Iêmen e demais contendas que enchem a humanidade de sobressalto. Acentuou que em numerosos casos, o direito de defesa transformou-se no “direito” de vingança, que impede um o cessar-fogo almejado pela sociedade humana.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

Pandemia das queimadas.

 

 

                                                         *Cesar Vanucci

“Pegando vários biomas ao mesmo tempo, é a primeira vez que acontece” (Ane Alencar, diretora do IPAM)

 

Anos a fio, cientistas e ambientalistas advertiram o mundo para o que estava prestes a acontecer em matéria de mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global. Foram chamados pejorativamente de “profetas do apocalipse” por aguerrida e desinformada militância fundamentalista. Os negacionistas valeram-se de versões da “teoria da conspiração” para toscas argumentações sobre a questão.

 Entre os numerosos setores que deram ouvidos aos avisos houve, no entanto, quem de reta intenção, não soubesse precaver-se contra as enrascadas climáticas que se avizinhavam. Caso sem tirar nem por, do Brasil. Nosso país, pego desprevenido pela pandemia de incêndios florestais ilustra bem a situação.

  A grande arregimentação de recursos humanos, técnicos e financeiros para o enfrentamento das galopantes queimadas em curso bem que poderia ter sido processada algum bom tempo atrás.

A formidanda encrenca climática é um desafio a ser enfrentado com vigor pelas forças vivas da Nação. Mais de 70% de nosso território continental está sendo afetado por forte estiagem que seca rios e chamas que destroem biomas riquíssimos, propriedades valiosas, empestam sagrados ambientes ecológicos, poluem cidades.  E o que não dizer dos danos severos que a fumaça toxica causa aos organismos vivos, molestando a saúde humana e fazendo crescer filas nas emergências médicas? Todo esse somatório de eventos perturbadores, ocasionados por mais de 6 mil focos de incêndio, traduz  brutal pressão sobre os gastos públicos e privados.

 Cuidemos de ouvir explicações, pertinentes às queimadas, trazidas ao por renomada especialista em fogo, diretora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, Ane Alencar: “O fogo foi potencializado por uma confluência de fatores que vão desde fenômenos como o segundo ano de El Niño, seguido de La Niña, passando pelo aquecimento global e a ação humana. Já tivemos secas muito fortes na Amazônia, em parte do Cerrado, na região central, mas pegando vários biomas ao mesmo tempo, é a primeira vez. É quase uma tempestade perfeita, onde o clima é motor para propagar o fogo que ocorre a partir das queimadas. Para que haja fogo, tem que ter faísca, é essa primeira fonte de ignição, e ela é iniciada pelo ser humano.”

Não é só o Brasil que arde em chamas. Outras partes da aldeia global vivem drama assemelhado. Espera-se, no caso brasileiro, que as autoridades competentes divulguem logo os resultados dos inquéritos referentes a ações incendiárias de cunho doloso ou não. Por derradeiro, registro indispensável. O Poder Judiciário pediu urgência no enfrentamento do problema; o governo, com algum atraso anunciou plano emergência; o congresso, enquanto isso, debate questões bizantinas. É fogo!

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

A causa é a nossa casa

 



 

*Cesar Vanucci

“.O meio ambiente é a herança de nossos filhos, não uma propriedade de nossos pais.”

( Provérbio africano)

 

As mudanças climáticas extremas chegaram mais cedo do que se supunha. Fizeram-se amarga realidade. As tormentas e inundações no Rio Grande do Sul, somadas agora às secas causticantes e à pandemia de incêndios florestais irrompidas na paisagem brasileira devem ser vistas, com temores como advento daquilo que muitos denominam o “novo normal”. Noutras palavras: vêm vindo aí mais cataclismas. Todas as instituições precisam se aparelhar para enfrentá-los.

Todas as paragens deste nosso belo planeta azul, tão maltratado pelo desmazelo de seus povoadores, registram na hora presente diversificadas ocorrências climáticas que colocam em risco as pessoas e seus pertences, ou seja, ameaçam seriamente a vida humana e nossas conquistas.

Estiagens prolongadas, ondas de calor, queimadas intensas, umidade do ar abaixo de padrões toleráveis, inundações, violentas tempestades, têm causado situações de feroz dramaticidade. Vamos buscar na África, esquecida dos homens e, às vezes, até dos próprios deuses de sua devoção religiosa, um exemplo bastante cruel do que vem ocorrendo numa área territorial atingida em cheio pela inclemência das variações climáticas. A opinião pública mundial, tomou ciência, estarrecida, de que num país localizado no sudeste do continente, já açoitado por problemas sociais, políticos e econômicos, por conta das intempéries climáticas, a fome atingiu grau inimaginável de degradação. Faltando cereais nos armazéns, produtos vegetais nas feiras e mercados, as autoridades ordenaram fosse colocado em execução um esquema de abate indiscriminado de animais selvagens, elefantes, leões, tigres, crocodilos, girafas e assim por diante para distribuição de postas de carne à população faminta. Escusado registrar a contribuição significativa do fator desigualdade social, sempre imperante na distribuição das riquezas provenientes do laboro humano, para a deplorável circunstância relatada.

As anomalias climáticas observadas na geografia brasileira apontam aspectos merecedores de atenção especial. Um deles é o fato de as queimadas eclodirem ao mesmo tempo em todos os biomas. Isso aconteceu pela primeira vez. Por outro lado, revelam-se fortes as evidencias de que, em alguns lugares, os focos de incêndio surgiram em razão de ato criminoso deliberado, o que carece ser devidamente explicado à sociedade.

O desafio está posto. O enfrentamento é tarefa de todos. As chamas e as águas revoltas não fazem distinção política, ideológica, religiosa ou social.

As mudanças, induzidas pelo desvario humano, provocam impactos devastadores na saúde, na segurança alimentar, na segurança energética e no desenvolvimento econômico. A gravidade do problema, repita-se, convoca todos nós, independentemente de quaisquer conveniências, a unir  esforços, nossos talentos, nossa disposição de luta em prol de uma causa comum. Nossa casa.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

 

A SAGA LANDELL MOURA

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