“Por suposto respeito à privacidade, adolescentes estão morrendo ou cometendo crimes” (Rute Pina, da BBC)
As
todo poderosas plataformas digitais, de propriedade de magnatas via de regra
petulantes, opõem-se tenazmente à regulamentação dos conteúdos propagados. No
caso brasileiro, encontram forte e irrestrito apoio de setores políticos fundamentalistas,
vários deles com notória e frenética atuação na “indústria de fake news.”
Alegam, levianamente, que o regramento violenta a liberdade de expressão. Confundem
propositadamente a livre manifestação de ideias, apanágio democrático
inalienável, com libertinagem em matéria de palavras e imagens a serviço da
animosidade e do ódio.
O entendimento das redes sociais colide
frontalmente com o pensamento dos democratas autênticos, com o sentimento das
camadas mais lúcidas da sociedade, que enxergam na regulamentação um
instrumento valioso e indispensável em favor da preservação dos direitos
humanos fundamentais. Posto que a internet não é território aberto para a prática
de felonias verbais e imagéticas, faz-se oportuno o registro, sempre que
possível, de exemplos contundentes dos malefícios incontáveis que o uso
desabrido da prodigiosa invenção é capaz de acarretar.
Ainda
agora, a Polícia Federal vem de desbaratar apavorante esquema de comunicação distorcida
envolvendo nossas crianças e adolescentes. O delito cibernético consistia no
seguinte: adolescentes desavisados eram orientados no sentido de executar atos de
tortura, mutilação, aspiração de substancias toxicas até a perda dos sentidos
ou a própria morte. Além disso, tornavam-se gratuitos expectadores de cenas explicitas de pedofilia. Entre outros
flagrantes captados nas investigações foram mostradas sevícias infligidas a
bebes, animais domésticos, automutilações, tudo comandado à distancia por
indivíduos de mente pervertida. A crueldade chegou a limites inimagináveis com
a divulgação ao vivo de lances piromaníacos, onde bando de rapazes ateava fogo
em moradores de rua, descrevendo sadicamente detalhes do atentado cometido.
Positivamente,
não dá pra aceitar como uma pessoa na posse de suas faculdades mentais ouse
assumir posição contrária à regulamentação das atividades das plataformas
digitais diante de tamanha selvageria. Só mesmo a má fé, associada à demência, pode
levar alguém a admitir como afronta à liberdade de expressão a proibição cabal a
que a internet seja utilizada como teatro permanente de coisas horripilantes.
E
não podemos nos olvidar de que os fatos acima narrados representam apenas uma
das inumeráveis facetas dos crimes diuturnamente perpetrados à falta de ações jurídico-legais
que defendam a sociedade, as famílias, os jovens e as crianças das agressões
contra a dignidade humana assumidas em consequência do desvirtuamento de uma
conquista tecnológica de tão alto significado civilizatório.
Jornalista
(cantonius1@yahoo.com.br)