sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"Casablanca" revisitado


 Cesar Vanucci *


"O cinema é infinito – não se mede."
(Vinicius de Moraes)


A Rede Globo, que detém entre as concorrentes em escala mundial a supremacia absoluta em dramaturgia de qualidade, possui um setor dedicado a consultas aos telespectadores,levantando opiniões quanto ao destino dos personagens nas novelas. Não sei honestamente dizer se tal intervenção é boa ou não para o enredo.  Mas sei que as impressões colhidas têm peso no desfecho das tramas. Acontece, às vezes, de o autor ser induzido a reformular a trajetória inicialmente traçada. Parcerias românticas podem ser, desse modo, desfeitas ou compostas, para gáudio da fiel torcida.

Imagino, vez por outra, embora divisando, já ai, dificuldades bem maiores na execução do esquema de apuração das tendências do público, como seria bacana para os cinemeiros, caso pudessem, também, a seu turno, influir na condução das histórias de seu agrado, envolvendo heróis, heroínas e vilões. A única fórmula que me ocorre, danada de complexa, de fazer as coisas acontecerem, aplicável a fitas de sucesso, seria garantir, com sugestões e palpites do espectador, a continuidade da história numa outra película. Algo no gênero, sem a participação obviamente do público, foi feito na impecável trilogia de "O poderoso chefão". De tão bem realizada, dá até pra pensar numa quarta película. Ao Andy Garcia seria oferecida a oportunidade de ouro de retomar a saga Corleone, alimentada nas marcantes representações de Robert de Niro, Marlon Brando e Al Pacino.

Pode ser que isso seja de todo inexeqüível. Mas, como eu, muita gente cheia de idéias arde de curiosidade prá saber como acabaria sendo o primeiro encontro da doce Ingrid Bergman com o carrancudo Humphrey Bogart, finda a guerra, depois do dia do adeus dolorido no aeroporto de Casablanca. E prá saber também o que poderia acontecer com o Claude Rains, caso os nazistas se inteirassem de ter sido ele, não "os suspeitos de sempre", o responsável pelos disparos que livraram os judeus e os resistentes franceses de mais um algoz. O fundo musical permaneceria o mesmo, com uma diferençazinha. Jimmy Durante como intérprete do inesquecível melódico.

Mudando de um filme para outro, seria interessante pacas contribuir com sugestões que ajudassem o aventureiro Clark Gable e a ambiciosa Vivien Leigh a se reconciliarem na seqüência de "O vento levou", largando no esquecimento a troca de desaforos do passado.

Se o esquema proposto pudesse algum dia funcionar, seria interessante também definir com o Bertolucci com quem afinal acabaria ficando, num eventual segundo tempo do filme, aquela belíssima criatura cor de ébano que viveu magistralmente o papel de estudante de Medicina e de faxineira, no excelente "Assédio sexual". No caso de dúvida atroz do cineasta, sei de alguns cidadãos bem postados, pessoas ilibadas, muitos até com netos já bem crescidinhos, ainda firmes na sela e bons nos arreios, em condições de oferecerem seus desinteressados préstimos.

Quem sabe mesmo se, nos desdobramentos de uma das tramas cinematográficas sobre o atentado de Dallas, não se pudesse chegar à elucidação dos detalhes escabrosos do complô contra Kennedy, apontando-se os nomes dos verdadeiros assassinos e mandantes, pondo-se, assim, ponto final na monumental farsa que, há 47 anos, vem sendo imposta à opinião pública mundial.

*  Jornalista (cantonius@click21.com.br)

Um comentário:

PONTO DE LEITURA disse...

Caríssimo Confrade Vanucci

Parabéns pelo belíssimo blog. O azul acalma olhos, seus textos alimentam e vagam da tela para o mundo. Não há limite, distância e obstáculos, para essa viagem infinita e inesgotável no universo virtual.
Incríveis sóis virtuais. Incríveis crepúsculos prosaicos.
Incrível escritor Vanucci, que ilumina o universo literário até alcançar o encontro; sem limite, no mistério da vida, na combinação dos elementos, das palavras bem engendradas, capturadas e analisadas.
Vanucci, seu telescópio é a vida.

Andreia Donadon Leal

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