Cesar Vanucci *
“Há os fatos e há o subsolo dos fatos.”
(Louis Pauwells)
Durante anos alimentei a suposição de que a expressão “Realismo Fantástico” houvesse sido cunhada por Jacques Bergier e Louis Pauwels. Só recentemente fiquei sabendo que os geniais autores de “O despertar dos mágicos” tomaram-na emprestado de um outro escritor, o belga Franz Hellens. Cuidaram, ao depois, de disseminá-la mundo afora para classificar fatos e eventos inusitados. Fatos situados além da lógica e compreensão do ser humano e do conhecimento consolidado. Na verdade, uma espécie de interpretação do universo, arriscaríamos dizer mágica, inteiramente desprendida das certezas e verdades científicas, tanto quanto da capacidade que temos de observação das coisas que rolam na vida cotidiana.
O real, visto um pouco mais de perto, é fantástico, como assinalam os autores mencionados. Convencido pessoalmente disso, anos a fio, até 2002, procurei de forma singela, com apoucados recursos, divulgar pela televisão, por meio de entrevistas, reportagens, imagens, aspectos surpreendentes, intrigantes, fascinantes mesmo, de uma realidade misteriosa, com certo jeito de charada, que inesperadamente irrompe, com suas inexplicabilidades, as trilhas percorridas pelas criaturas humanas. Uma realidade sobrenatural, localizada nos domínios sutis das percepções extrasensoriais, que não se enquadra nos padrões convencionais do relacionamento social. No antigo CBH, a seu tempo um mostruário vibrante de cultura e entretenimento, substituído sob nova orientação por um insosso amontoado de reclames, produzi e apresentei um programa que tinha por título exatamente “Realismo Fantástico”. Levei ao ar 400 apresentações contendo informações extraídas, boa parte delas, de leituras de livros poeirentos que abrigam, segundo H.G.Wells, maravilhas e milagres. Ou inacreditáveis revelações que dão sentido às idéias defendidas por Teilhard de Chardin – um pensador de escol despachado pelos superiores eclesiásticos, por conta de sua arrojada concepção do universo, para os cafundós da China rural – resumidas numa frase antológica: “Na escala universal, só o fantástico tem probabilidade de ser real.” Frase arrematada, adiante, de forma magistral: “Na escala cósmica as coisas não são tão fantásticas quanto a gente imagina. São muito mais fantásticas do que a gente jamais conseguirá imaginar.”
A propósito ainda do “Realismo Fantástico”. Tomando-o como indicador de ações intelectuais voltadas para outras fronteiras da criatividade e imaginação, fabulosos escritores resolveram adotar também a expressão no plano da arte literária. Fizeram-no de maneira soberba, conquanto diferenciada da proposta original de Bergier e Pauwels. Casos de Érico Veríssimo, em “Incidente em Antares”, Jorge Amado, em “A morte e a morte de Quincas Berro d’Água”, e Gabriel Garcia Marquez, em “Cem anos de solidão”, para nos determos na citação de três mestres do romance.
“O despertar dos mágicos” é pródigo em revelações espantosas que acabam ficando soterradas nos escombros do esquecimento. Parte delas contempla o esoterismo em suas variegadas modalidades.
Com riqueza de pormenores, os autores voltam os olhares, por exemplo, para uma corrente mística alemã intitulada “Tule”. Hitler e principais sequazes eram adeptos fervorosos. Ela teve influência preponderante na orientação pode-se dizer luciferina do movimento nazista. As chamas lúgubres do esoterismo nazi – segundo o livro - bebiam inspirações em fontes tibetanas. Essas fontes arrogavam-se em detentoras de “ensinamentos milenares”. Compunham uma escola esotérica incumbida de arregimentar forças terríveis para conduzirem a humanidade, sob a liderança de um “novo Messias”, à “charneira dos tempos”. Os membros do Tule confessavam-se capazes de alcançar o domínio do planeta. Protegiam-se de todos os perigos com bizarros rituais. Admitiam até a hipótese de sacrifícios humanos. Empenhavam-se na formação de uma central energética intelectual e espiritual obviamente orientada para formidandos malefícios. “Detinham” a certeza de que sua presença à frente dos acontecimentos fundamentais da história se prolongaria por mil anos. As expedições dos membros da “Tule” ao Tibete, para contatos com magos, eram habituais. O grupo estimulou a formação em Berlim, desde 1926, de uma colônia tibetana entrosada com os propósitos nazistas.
Essa série de dados curiosos remete a desconcertante constatação. Quando as tropas russas transpuseram os últimos bastiões da resistência hitlerista, os invasores se depararam, estupefatos, entre os milhares de cadáveres espalhados nas ruas, com indivíduos da raça himalaia. Envergavam uniformes alemães, sem insígnias nem documentos de identificação.
Eis aí episódio excitante e penumbroso do passado recente à espera de estudiosos da História que se animem a resgatá-lo.
* Jornalista (cantonius@click21.com.br)
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