Cesar Vanucci *
“O alicerce da democracia permite
o rompimento das maiores barreiras.”
(Presidenta Dilma Roussef, na
saudação ao Presidente Barack Obama)
§ Sinceramente falando, acho que o ex-Presidente Lula cometeu baita ato falho em não comparecendo ao almoço da recepção oficial oferecida ao Presidente Barack Obama. Não importa a razão arguida. Entendo singelamente que a ausência de alguém em certos acontecimentos só pode ser explicada a contento com apresentação de atestado de óbito. Mas acho, também, é bom que se diga, uma outra coisa. Entre os que criticam, de forma acerba a impensada decisão do operário que se tornou Presidente da República, muitos não mudariam a cara para censurá-lo, com igual ou maior veemência, caso tivesse resolvido marcar presença no evento. Tenho certeza, como dois e dois são quatro, que iriam dizer que ele teria baixado ali, todo empavonado, com o desedificante fito de procurar empalidecer a imagem da Presidenta Dilma.
§ E por falar em Dilma Roussef , que performance, hein?, a da Presidenta! As substanciosas exposições de motivos nos pronunciamentos dirigidos ao ilustre visitante deixaram impactante impressão. Com elogiável polidez diplomática e consciência do papel desempenhado como portavoz de uma nação soberana – que horas antes acabara de tomar no Conselho de Segurança da ONU posição não alinhada com os desejos do poderoso aliado -, a chefe do governo brasileiro pontuou um sem número de situações especiais, que clamam por necessárias e urgentes reavaliações. O protecionismo tarifário exacerbado concedido a produtos agrícolas e industriais estadunidenses para que se contraponham ao poder competitivo dos similares brasileiros foi uma das momentosas questões focalizadas. O apoio da Casa Branca ao esforço que nosso país vem desenvolvendo no sentido de garantir, como qualificado representante do bloco dos emergentes, uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas foi outro item relevante abordado. Tem-se como certo que tais temas frequentaram também a agenda das negociações reservadas cumpridas por Obama e Dilma. Esperar agora para ver o que resultará destas e de outras tratativas futuras já programadas.
§ Vai ficar difícil paca para certos agrupamentos fundamentalistas, que se opuseram raivosamente na campanha eleitoral finda à candidatura Dilma, ter que reexplicar aos que leram e ouviram suas paranóicas manifestações, aquela historinha fajuta, tão amplamente disseminada, do alegado e incontornável veto ao ingresso da Presidente em território estadunidense à conta de sua atuação política na juventude. Dilma Roussef foi homenageada com carinho e apreço singulares, no comecinho de seu governo com a visita do Presidente americano. Não teve que ir primeiramente, assim que empossada, a Washington, como era de costume proceder-se, para que pudesse receber, em nome de seu país, essa honraria.
Por outro lado, foi formalmente convidada a visitar a pátria de Obama e até já agendou esse compromisso, marcando-o para o segundo semestre deste ano. Isso aí, gente boa.
§ Um episódio isolado, está certo. Deplorável a mais não poder. Mas não de molde a empanar o brilho feérico proveniente dos eventos vividos com a memorável visita do Presidente Obama e comitiva, incluídas aí sua simpática esposa e filhas. Mesmo assim, um fato que serviu para mostrar a faceta arrogante proverbialmente detectada na atuação de alguns setores da vida estadunidense em seu relacionamento, marcado muitas vezes por grosserias e equívocos, com outras culturas. A revista a convidados nos encontros programados, promovida por agentes de segurança norte-americanos, foi de uma insolência a toda prova. O posicionamento altivo dos Ministros Fernando Pimentel e Guido Mantega, entre outros, recusando-se a se submeterem a tão absurda exigência, mesmo à custa da não participação pessoal, foi digno de louvores. A dignidade pessoal e cívica estava em jogo, como não? Imaginem só o bololô que uma determinação desse teor não desencadearia caso envolvesse, de um lado, agentes brasileiros e de outro, autoridades estadunidenses!
Relembremos, mal comparando, a ruidosa repercussão alcançada, anos atrás – de forma, por sinal, bastante incompreensível na própria mídia brasileira e junto a agentes de viagem brasileiros – por uma decisão tomada pela Polícia Federal na Alfândega enquadrando um simples turista, de nacionalidade americana, que acintosamente tentou ridicularizar o trabalho de vigilância executado pelos agentes. Como o episódio rendeu criticas! As autoridades brasileiras foram acusadas até de criar obstáculos ao turismo...
§ Na lista das demandas arroladas publicamente pela Presidente Dilma, nas saudações ao Presidente Obama, deixou de figurar um item de grande significado para a melhoria das relações entre brasileiros e americanos. É a explosiva questão do visto consular para brasileiro interessado em visitar a América. O trato dispensado pelos representantes da Embaixada, numa visão ampla, não é de quem haja absorvido a proposta de parceria respeitosa apregoada pelo Presidente Barack Obama. Muito antes, pelo contrário. É comumente preconceituoso, arrogante e, até mesmo, hostil. Carece ser revisto, o quanto antes, em prol de uma boa e civilizada convivência.
* Jornalista (cantonius@click21.com.br)
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