Cesar Vanucci*
“Um homem que venceu na vida fazendo força. ”
(Orestes Massanti, saudoso tesoureiro da FIEMG,
referindo-se ao amigo Fábio Motta)
Fábio de Araújo Motta, cujo centenário transcorre agora em março, foi das figuras mais fascinantes que conheci. Culto, generoso, possuía inteligência rutilante, visão intuitiva do mundo e muita perspicácia. Exercia o comando com simpatia e naturalidade. Deixou plantada no Sistema FIEMG, que dirigiu por muitos anos com descortino, obra admirável.
A primeira lembrança que dele guardo diz respeito a uma visita que fez a Uberaba, cidade em que morava. Impressionou-nos, a todos, sua oratória, magistral no conteúdo e na forma. Tornamo-nos amigos. Mais adiante, tornamo-nos irmãos, com passagem cumulativa pelo estágio, prazenteiramente desfrutado, do chefe estimado e do colaborador dedicado. Por mais de ano fui insistentemente convidado por Fábio para deixar meus afazeres no interior, onde atuava como jornalista, professor e advogado (do Sesi), e vir de muda para Belo Horizonte assumir a parte executiva da FIEMG. Uma série de instigantes circunstâncias, compondo harmonioso quadro de sincronicidades, ao jeito de complô armado pelo destino, acabou convertendo em realidade aquilo que parecia, a princípio, circunstância inimaginável, à qual me aferrava com obstinada resistência: sair do interior.
A convivência fraternal, nutrida de lealdade e trabalho perseverante em cima das idéias fecundas que jorravam de sua mente criativa, veio num crescendo o tempo todo. A admiração pelo dirigente e companheiro ganhou, na fluência do tempo, enriquecedoras dimensões. No período em que se licenciou da presidência, próximo de sua passagem, visitei-o quase que diariamente. Fui das últimas pessoas a vê-lo vivo. Estive em seu apartamento no Sion, acompanhado de dois colegas, ambos de saudosa recordação, Urias Botelho e Guilmar Gonçalves, nos derradeiros instantes que antecederam a viagem, sem retorno, para Araxá.
A lembrança de seu indomável espírito, de seu ímpeto empreendedor, palpita hoje num colosso de coisas, ligadas à construção humana e social, fazendo parte de portentoso patrimônio de realizações na Fiemg, Sesi, Senai, Casfam e IEL. Ele consolidou, com muito trabalho e talento, o chamado Sistema Fiemg.
Com o Fábio compartilhei, na condição de leal colaborador, das emoções, compensações, dificuldades, surpresas de que acaba sendo sempre tecida a aventura pessoal de um líder comprometido com projetos de interesse comunitário. A seu lado experimentei o amargo sabor da frustração e aturdimento quando da espantosa reação do ilustre governador Rondon Pacheco, por sinal, dos mais capacitados e brilhantes entre os que exerceram o comando governamental em Minas, ao bater os punhos sobre a mesa de jacarandá do salão de recepção do Palácio da Liberdade, exprimindo indignação, numa resposta inexplicável e inesperada ao memorial levado por empresários, políticos e técnicos em siderurgia, na palavra vibrante de Fábio, em favor da implantação da Açominas. Esclareça-se que a perplexidade que tomou conta do recinto derivou do fato de que o encontro em questão obedeceu rigorosamente a uma agenda traçada nos mínimos detalhes com o próprio Palácio, objetivando criar atmosfera propícia para o anúncio de empreendimento, considerado do mais alto interesse para a economia mineira, a ser feito pelo próprio Governador.
Há mais a contar sobre o fecundo período que marcou a passagem de Fábio pelo Sistema Fiemg.
Liderança incontestável
“Ele criou a consciência do social no Sistema FIEMG.”
(Cesar Rodrigues, saudoso presidente do
SENAI, falando do amigo Fábio Motta)
Retomo aqui o relato de histórias ligadas à trajetória de vida refulgente do saudoso dirigente classista empresarial Fábio de Araújo Motta, cujo centenário transcorre este mês.
Em certa ocasião, Fábio confiou-me informações que guardava carinhosamente, pedindo-me escrevesse alguma coisa sobre Chico Motta, seu pai. Tomou forma aí um livro delgado intitulado “Um homem chamado Chico Motta”. Ele quis com tal registro exprimir seu terno apreço filial e gratidão a uma figura intrépida, com relevante atuação política em Diamantina, onde exerceu o cargo de Prefeito, cidadão responsável por decisiva influência em sua formação.
As histórias ligadas a Fábio, à sua rica lenda pessoal, que conservo bem nítidas na memória, são numerosas. Delas poderia me ocupar por tempo bastante extenso. As realizações de cunho social e educacional que promoveu à frente do Sesi e do Senai, colocando à mostra acurada sensibilidade social e sólida formação humanística, juntamente com a projeção que assegurou à Fiemg nas esferas política e classista, conferem-lhe com todo mérito lugar de realce na galeria dos personagens que deixaram pegadas visíveis na caminhada do desenvolvimento econômico e social mineiro. Fábio de Araújo Motta destacou-se, também, no exercício da magistratura trabalhista, integrante que foi do TRT da 3ª Região, com passagens pelo TST, e dirigente da CNI, onde ocupou em várias gestões a vice-Presidência, chegando a exercer, mais de uma vez, a Presidência.
Seu poder de liderança era incontestável. Conferiu-lhe a prerrogativa de se tornar o dirigente com o mais dilargado tempo de permanência na história da Fiemg. Para isso contribuíram sobremaneira as posições desassombradas assumidas na defesa dos interesses da categoria industrial. Sua palavra e atitudes foram sempre bem assimiladas pelos seus pares.
Acode-me à lembrança, neste preciso momento, um episódio nunca antes, pelo menos por mim, trazido a público, que serve para revelar a dimensão do prestigio por ele desfrutado junto aos companheiros industriais. Durante greve ocorrida no setor de assistência médica do Sesi, um cidadão que se identificou como representante de industriais nucleados na Cidade Industrial de Contagem contatou Fábio ao telefone, para sugerir-lhe que se desvinculasse do cargo de presidente da Fiemg, como “única solução viável” para a “crise”. Adicionou a informação de que a “sugestão” apresentada nascera de decisão consensual de um grupo expressivo de empresários. Citou o nome do empresário Hélio Pentagna Guimarães, dirigente da Magnesita, entre muitos outros. Fábio, do outro lado da linha, pediu-lhe que confirmasse os nomes dos que estavam a “recomendar”, de forma tão enfática, por meio do solícito portavoz, sua saída. O autor do telefonema, sem rebuços e constrangimentos, “confirmou”. Fábio, então, disse-lhe: - “Espere um instante. Todos esses que você acaba de citar encontram-se aqui, neste momento, ao meu lado, num papo muito cordial. Seria bom você repetir pra eles o que acaba de dizer.” Hélio Pentgna Guimarães, que era vice da Fiemg, tomou do telefone e, em termos vigorosos, em nome dos demais, aplicou no interlocutor de Fábio Motta uma senhora descompostura. Disse-lhe poucas e boas, reduzindo a subnitrato de pó de mico, como era de costume dizer-se em tempos de outrora, a tentativa ridícula de desestabilização de Fábio, configurada na despropositada chamada telefônica.
O reduzido grupo envolvido na mal sucedida manobra permaneceu, depois dessa, mudo e quedo que nem penedo.
Retaliação pura e simples
“Estamos deixando nossos parceiros na mão.”
(Confissão do general comandante
da Força Aérea dos Estados Unidos)
Está na cara, pra quem tem olhos pra enxergar e ouvidos pra escutar, que o cancelamento pelo governo americano da compra de aviões Super Tucano da Embraer não passa de uma retaliação. As justificativas apresentadas para desfazer o contrato são pura fajutice. Conversa mole pra boi dormir, como se diz na saborosa linguagem roceira.
O próprio comandante da Força Aérea dos Estados Unidos, general Norton Schwartz, por mais que se esforçasse, não conseguiu ocultar o constrangimento, consciente da inexistência de argumentos técnicos que pudessem embasar a decisão tomada por Washington. Suas as palavras que se seguem: “Uma das coisas com as quais estou mais triste, sem mencionar a vergonha que esse fato traz para nós como Força Aérea, é que estamos deixando nossos parceiros na mão aqui.” Os parceiros deixados na mão a que se refere é a Embraer, que por conta do contrato montou fábrica na Flórida para o melhor atendimento dos clientes.
E por que mesmo a contundente represália? Elementar, dr. Watson. O governo dos Estados Unidos está mandando pra bom entendedor recado curto e grosso, quanto à disposição brasileira em promover o reaparelhamento da frota da FAB. Sem essa, é o que manda dizer, de optar por jatos franceses Rafale, ou por caças suíços. Os aviões “recomendados” são os F-18, da Boeing, disponha-se ou não essa empresa norte-americana a trazer, com os aviões, tecnologia de ponta pra sua fabricação em território brasileiro. Simples, assim. Ta bem?
Resta saber agora como o governo brasileiro irá se comportar diante dessa provocativa encenação de cunho político-comercial.
Gleisi Hoffmann, Ministra-chefe da Casa Civil da Presidência, determinou ao Ministério das Relações Exteriores que questionasse o governo do Irã sobre a prisão e condenação à morte do pastor evangélico Youssef Madarkhani. A condenação do religioso foi “motivada” pela circunstância de haver se convertido do islamismo ao cristianismo.
A grande mídia brasileira praticamente ignorou esse posicionamento brasileiro, firme e vigoroso, coerente com a política de direitos humanos, de óbvia repercussão internacional, de crítica contundente a mais esse atentado à liberdade praticado pelas autoridades persas. Muito estranhável esse procedimento dos órgãos de comunicação, sobretudo quando se tem presente que, em ocasiões recentes, muitos deles abriram as baterias para reprovar de forma acerba o governo brasileiro por “mostrar-se tolerante” com violações aos direitos fundamentais no país dos fanáticos aiatolás.
* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)