domingo, 24 de junho de 2012

Luminosidade ofuscante, não espessa treva

Cesar Vanucci *

“Dá pra sentir que hoje em dia as mentiras e
ilusões são percebidas cada vez mais rapidamente?”
(De uma profecia atribuída ao guru indiano Sai Baba)


As profecias apocalípticas jorram.

Quase todas, espantosas nos pormenores, precisam datas sobre o que está pra acontecer neste ano da graça de 2012. Inversão dos pólos magnéticos, deslocamento do eixo da Terra, colisão com asteróide de descomunal proporção, tsunamis e terremotos devastadores, elevação súbita do nível dos oceanos, bombardeio fulminante de raios solares, arrasador conflito nuclear, guerra cibernética: são hecatombes dos mais variados feitios acenando com a indesejável perspectiva, para breve, do final dos tempos. Em certos momentos, as informações de cientistas e místicos parecem coincidir. Muita gente garante perceber, solta no ar, uma sensação bem próxima de mudanças impactantes.

Em meio a esse turbilhão de adivinhações, topo, de repente, com uma teoria danada de instigante. De certo modo, a mais instigante de quantas já produzidas sobre o tema. É atribuída a um pensador indiano recentemente desaparecido, que estruturou em vida uma obra filosófica e educacional que continua atraindo grande contingente de adeptos, espalhados pelo mundo. Relatos interessantíssimos de prodígios no campo da parapsicologia compõem sua lendária biografia. Qual é mesmo o nome do personagem? Sai Baba.

O destino deste planeta azul, uma ilhota aparentemente insignificante perdida no meio de um oceano infindável composto de inexplicabilidades, como anota Huxley, é comentado de forma assaz original num depoimento, colhido via psicográfica ao que se afirma, e que vem sendo intensamente divulgado nas redes sociais. Baba fala de transformações profundas que já estariam acontecendo, afiançando não corresponder à realidade a predição de que o mundo vai acabar. A Terra – é acentuado também – entrou num processo de vibração energética tremendamente acelerado. Essa vibração afeta todos e ganha intensidade em emoções e pensamentos liberados pelas pessoas. Essa elevação vibratória – sublinha-se – pode parecer até um paradoxo, uma vez que ao nosso redor pululam o ódio e a miséria. Mas é assim mesmo que as coisas rolam no plano cósmico. “Estamos elevando a nossa consciência como jamais o fizemos”, assevera o pensador. “Mas, como assim; e essa escuridão que nos rodeia?” – pergunta-se. Resposta: dá, sim, pra ver a escuridão, mas as pessoas não devem temê-la ou com ela se identificarem. A escuridão não é uma força que obrigue ninguém a carregar ódio no coração. Não é uma força que se opõe à luz. É ausência da luz. Vem daí que as situações trevosas ou de penumbra enfrentadas pela humanidade, configuradas nas mazelas de todo tipo que nos espreitam e que tanto agridem a consciência social, estão sendo bombardeadas por uma claridade extremamente ofuscante gerada por esse novo estágio de conscientização. A luz emanada desse estado de espírito é mais copiosa do que em qualquer outro patamar da aventura do homem, assegura-se.

Uma comparação sugestiva trazida à nossa reflexão: a troca de uma lâmpada de 40w por outra de 100w no quarto de despejo leva a gente a enxergar no lugar sinais de desordem e de sujeira que, nem de leve imaginava pudessem existir. A luminosidade abundante de hoje em dia tem o condão de expandir nossa capacidade de percepção para mentiras, ilusões, engodos, mitos equivocados que não vinham sendo lançados no lixo, mas empurrados pra debaixo do tapete.

Este momento de irradiação energética poderosa convoca-nos a arrumar melhor o quarto de despejo. Arregaçar as mangas e promover limpezas que escorracem as imundícies. A mudança poderá trazer dores físicas, fruto de emoções negativas estocadas nas mentes e corações. A solução é assimilar em plenitude a vibração energética posta a circular. No fecho do depoimento atribuído a Sai Baba é dito que vivemos “a melhor época da humanidade desde todos os tempos.” Isso nos coloca no desfrute do privilegio de passar a ser testemunhas e agentes da maior transformação de consciência jamais imaginada.




Agressão aos preceitos humanísticos


“Homens são homens. Esquecem-se, às vezes de ser humanos.”
(Shakespeare)


Não sei bem precisar o motivo pelo qual, em meio ao costumeiro turbilhão do noticiário, três fatos sem quaisquer conotações, divulgados sem espalhafato, ocorridos em contextos culturais e geográficos diversificados, remoeram de forma persistente a minha cuca no final da semana. Consultando os botões de meu pijama, deduzi a hipótese de que, talvez, a explicação se contivesse na circunstância de serem, todos eles, de certa forma, reveladores de distorções comportamentais recebidas, via de regra, por aí afora, sem grandes questionamentos críticos. Distorções essas – acrescente-se - em flagrante discrepância com preceitos humanísticos que recobrem a vida de dignidade.

Estes os fatos.
Como a Ucrânia e a Polônia foram escolhidas sedes da Eurocopa 2012, a mídia esportiva dedicou razoável espaço para falar do que anda rolando nos dois paises em termos econômicos, políticos e culturais. Eis que, de repente, surpreendo-me diante de informações danadas de inquietantes sobre o antissemitismo que grassa solto num e noutro país e sobre ostensivas manifestações de feição neonazista levadas continuamente a público em território ucraniano. As imagens de pessoas agitando, inclusive em estádios de futebol, o símbolo mais característico da sinistra era hitlerista, a suástica, deixam-me perplexo. As informações que complementam as inacreditáveis cenas não fazem por menos. Fica-se sabendo, por exemplo, que vem ganhando crescente expansão na vida política ucraniana um partido chamado Svoboda, que prega abertamente o ódio racial. Seus seguidores conservam na conta de ídolos os veteranos da “Halychyna”, que nada mais é do que uma brigada dos tempos da ocupação alemã, constituída nos moldes das tenebrosas SS para cuidar da chamada “limpeza étnica”. Essa brigada ucraniana foi responsável pela chacina de 200 mil judeus. Doutra parte, o jornalista Michael Goldfarb, no “The Observer”, assinala que em estádios de futebol na Polônia, como projeção preconceituosa assimilada culturalmente, a expressão “judeu” é lançada de forma pejorativa, costumeiramente, nos duelos das torcidas, como elemento de agressão verbal recíproca. Algo atordoante.

O outro episódio desnorteante diz respeito a uma pesquisa da Universidade de São Paulo, divulgada em vários jornais. O “Núcleo de Estudos da Violência” saiu às ruas em onze capitais brasileiras, ouvindo pessoas sobre o que pensam do emprego da tortura pra fins de obtenção de provas. Os números apurados são de estarrecer um frade de pedra. Quase a metade dos entrevistados concorda totalmente ou parcialmente com a utilização desse “método” selvagem e covarde de se extrair “confissões” de presos. Seja observado que, em pesquisa anterior, no ano de 1999, o índice de aprovação da tortura foi, apesar de preocupante, menor: 34% contra os 47.5% de agora (pesquisa de 2010). Os que repudiam totalmente essa hedionda modalidade punitiva somavam, em 1999, 71.2% dentre as pessoas ouvidas. O índice caiu alarmantemente para 52.48% na pesquisa de 2010. É de dar calafrio na espinha.

O último fato a comentar tem raiz numa extraordinária façanha cientifica. Dez anos atrás, na África do Sul, uma equipe de médicos sul-africanos e estadunidenses conseguiu, num feito celebrado ruidosamente, separar gêmeos siameses da Zâmbia unidos pelo crânio.
A história de como tudo se processou, antes, durante e depois da miraculosa intervenção, é relatada em documentário de tevê com abundância de pormenores. Os garotos, desfrutando atualmente de plena autonomia de movimentos, são mostrados em diferentes ocasiões de sua rotina de vida. Inesperadamente, uma revelação pra lá de desconcertante, se é que esta palavra basta para absorver devidamente o impacto. Os dois necessitam de cuidados educacionais especiais, à vista de sequelas deixadas pela intervenção cirúrgica. Os pais não dispõem de recursos para cobrir o custeio desses serviços de atendimento especial de que os filhos se fazem carecedores. E não é que ninguém aparece, nesse cenário dramático, com disposição para botar um final feliz no caso? Difícil pacas ignorar o toque perverso da situação.

Eta mundo velho de guerra sem porteira, refratário à justiça social e à solidariedade humana!

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

Um comentário:

Augusto César disse...

Considero portuníssimas estas reflexões. Hidiernamente, parece que está havendo retrocesso comportamental e ético em muitos cantos do planeta terra!!! Parabenizo-o por expor este tristes acontacimentos.Comportamentos inadimissíveis quando falamos dos seres humanos privilegiados que habitam o continente Europeu onde se concentra o maior crescimento econômico da terra.

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