II Encontro Cultural da Academia
Público numeroso, constituído de técnicos em aquacultura e sustentabilidade econômica, representantes do movimento leonistico e setores intelectuais, participou do II Encontro Cultural da Academia, da AML (Academia Mineira de Leonismo), realizado no dia 30 de julho último, na sede do CREA, em Belo Horizonte.
O acadêmico Augusto César Soares dos Santos lançou na oportunidade seu livro “Tilápia – Criação Sustentável em Tanques-rede”, proferindo uma palestra sobre as potencialidades da Aquacultura para a atividade econômica brasileira.
O Coral da Assembléia Legislativa abrilhantou o evento com aplaudida programação artística.
As fotos abaixo são do Encontro.
De volta a Euricledes Formiga
(Luiz de Paula Ferreira, escritor)
Eurícledes Formiga era paraibano. Poeta dos bons. Repentista em condições de produzir espetáculos inesquecíveis. Quem coloca-me a par de tudo isso, reportando-se ao que narrei no artigo”Super-humano”, em que me ocupei dos prodigiosos dons de memorização do personagem, é ninguém nada mais, nada menos, do que Luiz de Paula Ferreira. Intelectual de múltiplas e admiradas facetas, escritor respeitado, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, e, como se tudo isso já não bastasse, um dos mais importantes empresários do cenário industrial brasileiro.
O depoimento que Luiz me deu ajuda a compor, de forma magistral, o perfil humano de Eurícledes Formiga. O espaço de hoje fica reservado à reprodução completa desse elucidativo texto.
“Venho dizer a você como conheci o Euricledes Formiga.
Foi num jantar de Rotary. Mês de junho, friorento, com presença numerosa de participantes. Ao fazer a abertura da reunião, o diretor de protocolo anunciou a presença de um convidado do presidente do clube. O convidado era um poeta.
O anúncio deu causa a alguns sorrisos e comentários a meia voz, sobre a utilidade que poderia ter a presença de um poeta em reunião de comerciantes, fazendeiros e profissionais liberais, que dispunham apenas de 60 minutos para a pauta do dia.
A coisa ficou nisso.
Lá pelo meio da reunião, o presidente fez a apresentação de seu convidado. Era um paraibano, de passagem para Belo Horizonte.
O convidado ergueu-se e fez uma mesura dirigida a todos. Era um cidadão robusto, de seus 30 anos, claro e corado, de mediana estatura, cabelos alourados, pescoço grosso, sustentando um rosto largo de nordestino.
E a reunião prosseguiu. Lá pelas tantas foi dada a palavra ao visitante. E este, no mais carregado sotaque nordestino, pediu licença para mostrar uns versos que havia composto para as festas de São João, já que estávamos na época das fogueiras.
E com desempenho vocal que a todos surpreendeu, declamou um poema ao qual dera o nome de São João do meu Nordeste.
Enorme foi a surpresa. Palmas vibrantes e gerais explodiram no final de sua apresentação. O homem era poeta mesmo. E dos bons. Esse conceito, aliado ao entusiasmo de todos, foi se fortalecendo e se consolidando na medida em que, atendendo a pedidos dos presentes, o cidadão foi declamando outras poesias de sua privilegiada lavra.
Em determinado momento, já dominando o auditório, o poeta anunciou que gostaria de improvisar sonetos a partir de motes que os rotarianos sugerissem.
Teve início então algo que nenhum de nós havia pensado que um dia pudesse presenciar.
Meia dúzia ou mais de motes foram propostos pelos rotarianos e o poeta, utilizando cada mote como chave de ouro, improvisou outros tantos sonetos, de beleza clássica.
Foi um espetáculo inesquecível.
Tempos depois, passando novamente por Montes Claros, Formiga hospedou-se comigo. No café da manhã, éramos poucas pessoas conversando com o poeta, quando chegou o jornal da terra.
Na primeira página havia uma crônica de uma coluna, ocupando metade do comprimento do jornal.
O Formiga pediu-me o jornal, depositou-o sobre a mesa, à sua frente e fixou os olhos na crônica. Em seguida tapou o texto com a mão e o braço. Fez isso por duas vezes. Cobria o texto com a mão e o braço e em seguida o descobria. A seguir devolveu-me o jornal e pediu:
Corrija-me se eu estiver errado.
A partir daí repetiu palavra por palavra, do princípio ao fim, o texto do jornalista montesclarense.
Todos os que estávamos presentes, e assistimos a essa cena, ficamos de queixos caídos.
Ante nosso assombro, pelo ocorrido, ele explicou que possuía memória visual. Não havia para ele nenhuma dificuldade em fazer o que assistimos. Tanto era assim que iria agora repetir o texto de baixo para cima. E o fez, comigo e os demais presentes acompanhando pelo jornal. Algo assombroso.”
Mais luzes sobre Euricledes
“Um jornalista, há tempos, recomendou-me
ler poesias de Euricledes Formiga.”
(Wenceslau Teixeira Madeira)
Em artigos recentes – “Super-humano” e “De volta a Euricledes Formiga” – contei algumas poucas coisas que sabia a respeito de um personagem com dons prodigiosos que fiquei conhecendo na adolescência. Expliquei que, à época em que presenciei algumas espantosas demonstrações de sua faculdade de memorização de textos, nada se me foi passado que permitisse estabelecer uma associação de idéias entre o que vi sendo por ele feito e manifestações quaisquer de cunho religioso.
O leitor Wenceslau Teixeira Madeira, em amável mensagem, aludindo a registro colhido no “Google” sobre a trajetória de Euricledes, complementa de forma enriquecedora, bastante clara, a história que contei.
A informação transmitida assinala que a “Viva Luz Editora” lançou a biografia de Euricledes Formiga, “um dos mais importantes poetas brasileiros”. O autor é Miguel Formiga, filho do biografado. “Euricledes Formiga, de poeta a médium, a resistência e a transformação” é o título do livro. A publicação “traça o perfil do poeta, que dedicou sua vida (...) à criação de fantásticos poemas e ao conforto de quem busca paz espiritual por meio da mediunidade”.
Nascido no sertão paraibano em 1924, Euricledes assumiu, com a perda muito cedo do pai, a responsabilidade de garantir o sustento dos familiares. Mudou-se para João Pessoa, onde se tornou conhecido por sua participação em recitais lítero-musicais. Ganhou fama por sua memória incomum. Desafiado em testes públicos, encantava a todos ao reproduzir frases, poemas e tudo o mais que se lhe fosse mostrado, a uma única leitura. Mudando-se para o Rio e, mais tarde, para Brasília e São Paulo, conviveu com figuras exponenciais da política e da cultura. Entre outros: Catulo da Paixão Cearense, Divaldo Pereira Franco, Arthur Moreira Lima, João Café Filho, Juscelino Kubitschek de Oliveira, Mario Quintana, Saulo Ramos, Helio Souto, Anselmo Duarte, Orlando Vilas Boas, Luiz Vieira, Paulinho Nogueira, José Neummane Pinto, Rolando Boldrim, Silvio Caldas, Jacob do Bandolim, Silveira Sampaio. Atuou como repórter na “Folha”.
O biógrafo de Euricledes Formiga assinala que as manifestações de mediunidade do poeta ocorriam de maneira intranquila e fora de controle. Essa circunstância levou-o, com a ajuda da esposa Annabel, a buscar orientação com renomadas figuras da liderança espiritista.
Divaldo Pereira Franco, também poeta, foi o primeiro a participar do processo que levou Euricledes a abraçar definitivamente a doutrina espírita. Os contatos com Chico Xavier ocorreram mais tarde. Formiga e Annabel foram a Uberaba. O que aconteceu passa a ser narrado pelo biógrafo. “Havia mais de 30 pessoas na fila e ouviu-se a voz de Chico, chamando: “Formiguinha, vem cá!” Como o marido não se manifestou, Annabel sugeriu que o médium o chamava. (...) Formiga não acreditou. Novamente, Chico chamou: “Formiguinha de luz, vem cá!” Annabel novamente falou ao marido que era a ele quem Chico chamava. (...) Ouviu como resposta: (...) Não é a mim que ele chama. Se fosse “Formiguinha de Treva”, poderia até ser, mas de luz jamais.” Chico, no terceiro chamado, foi mais enfático: “Euricledes Formiga, vem cá!” E, sorrindo, completou: “Formiguinha de luz, há dez anos que te espero!”
Euricledes Formiga dedicou-se de forma intensa à divulgação doutrinaria e práticas espíritas, vindo a falecer em 1983. Miguel Formiga, seu filho, engenheiro, escritor, autor da biografia, dá continuidade às ações do pai no plano religioso e intelectual. Na obra citada, além de muitas histórias interessantissimas vivenciadas por Euricledes, o leitor se inteira de sua fecunda criatividade poética. O prefácio do livro é de Carlos A. Baccelli, nome que desfruta do maior respeito nos círculos espíritas e culturais.
* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)
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