quinta-feira, 6 de setembro de 2012

No domínio das energias sutis

Cesar Vanucci *

“Morrer é só não ser visto”.
(Fernando Pessoa)

Acabei a leitura, de uma sentada só, de livro muito interessante em que são relatadas as incríveis experiências do paranormal estadunidense James van Praagh. Este cidadão tem o dom de estabelecer, com pessoas da platéia, em programas de televisão, de grande aceitação popular, insólitos diálogos. Os atendimentos individuais em seu consultório são também marcados pela singularidade. Ele costuma liberar informações desconcertantes, atribuídas a entes queridos ligados às mesmas e não mais pertencentes ao mundo dos vivos. As revelações, na maior parte das vezes, provocam forte impacto. A idéia de um contato desse gênero, que possa envolver forças ou energias do além, marca de modo bastante vigoroso os telespectadores.

Isso me leva a recordar que, alguns anos atrás, o “Fantástico”, da Globo, levou ao ar, com a participação de pessoas interessadas - ao que se afirmou - em desmascarar falsos paranormais, uma série de reportagens concernentes a essa polêmica modalidade de comunicação. Um ator especialmente treinado em técnicas de persuasão de público, valendo-se de jogo de palavras ardiloso e de deduções que incorporam elementos da psicologia, demonstrou como se faz possível engabelar indivíduos de boa fé, com falsas propostas de cunho místico. A performance do ator, sem dúvida convincente, oferece condições para explicar uma que outra – não todas –manifestação estranha produzida por Praagh junto ao público. Mas, de qualquer maneira,não especificamente no caso do paranormal dos Estados Unidos, cujo trabalho é encarado, ao que se sabe, com seriedade por parapsicólogos renomados, tem o sentido de um alerta em relação a eventuais espertalhões, “especializados” nessa área dos fenômenos inexplicáveis em arrancar algum, ludibriando incautos.

Mas nada do que James van Praagh consegue fazer na televisão, ou muito menos – está claro – do que os responsáveis pelo propalado desmascaramento de falsos sensitivos conseguem realizar com seus criativos e astuciosos estratagemas, aproxima-se tenuamente, como explicação, ou elemento de analogia, do “espetáculo” – chamemo-lo assim – que presenciei, há uns vinte anos, no Teatro Vanucci, Shopping da Gávea, Rio de Janeiro. Uma paranormal de nome Célia promoveu no recinto – sabe-se lá como – algo fantástico, extraordinário, inimaginável, nessa linha de contatos com o outro mundo. Casa superlotada, umas setecentas pessoas, dos mais diferentes bairros da antiga capital da República, de cidades das redondezas e de outros Estados, presenciaram tudo.

Depois de uma exposição interessante, rica em pormenores, acerca das variáveis infinitas de aplicação das chamadas energias sutis, de que é composto nosso enigmático e fascinante universo, a sensitiva dispôs-se a operar, inteiramente lúcida e com plena articulação das palavras e controle dos movimentos, andando de um lado para outro do palco, como “canal” numa comunicação, segundo garantiu, com criaturas que já haviam deixado este nosso “vale banhado de lágrimas”. E que, em vida, integraram o universo afetivo das pessoas presentes. Ninguém, no público, fez qualquer intervenção oral, qualquer pedido por escrito. Debaixo de silêncio absoluto, respeitoso, só dona Célia falou. Em dezenas de intervenções, chamou pessoas pelos nomes, indicando os números das poltronas em que se achavam sentadas. E, na seqüência, uma a uma, passou-lhes mensagens, “recebidas na hora”, dos parentes e amigos já “encantados”. As palavras foram obviamente recebidas com emoção, arrancando confirmações surpreendentes quanto aos dados apontados.

Num determinado instante teve-se a impressão de que a sensitiva havia cometido uma derrapagem. Ledo engano. Ela pediu a um cidadão, numa poltrona próxima à minha, que anotasse o recado de alguém cujo nome citou. O cidadão em referência assinalou não conhecer a pessoa mencionada. Célia admitiu: sim, ele estava com inteira razão. O “contatado” era, na verdade, filho de um amigo e vizinho seu, morador do apartamento de número tal, edifício tal, bairro tal. O espectador convocado a levar o recado emocionou-se às lágrimas. Os dados anunciados estavam rigorosamente corretos.

Essa sensitiva, tanto quanto sei, nunca foi levada a um estúdio de televisão para por à prova seus extraordinários dons, sua capacidade de utilizar, de forma tão arrebatadora, o poder inimaginável das chamadas energias sutis. Que muita gente, em reta intenção, enclausurada em dogmatismos religiosos rançosos, encontra dificuldades intransponíveis em aceitar.



Era uma vez duas Taças!

“Muita gente importante do futebol brasileiro ainda não se deu conta da verdade proclamada por Lincoln: pode-se enganar todo mundo durante algum tempo e certas pessoas durante o tempo todo, mas não se pode enganar todo o mundo todo o tempo.”
(Antônio Luiz da Costa)


Parar já com a enganação. Com esta perversa engabelação. Com a venda abusiva de ilusões. Ou com qualquer outro tipo de reação, verbal ou por escrito, que sirva pra alimentar a idéia de que estamos percorrendo os caminhos corretos nos preparativos que objetivem a reconquista de lugar de realce no palco futebolístico mundial. Não estamos. Tudo que se fez até agora, nessa montoeira de equívocos praticados, conduzirá a seleção, implacavelmente, em futuros compromissos, a rotundos fracassos. Outros mais da lista recente.

Tempo, se bem que escasso, ainda existe pras necessárias reformulações. O que anda faltando mesmo é vontade política para fazê-las. A vitória sobre a Suécia, logo após a frustrante campanha olímpica, deu novo alento à comissão técnica, comandada por Mano Menezes, mas não ajudou nadica de nada a desfazer, numa avaliação objetiva, ancorada em grau maior de exigência por parte dos entendedores de futebol, a desalentadora sensação de que, a continuarem as coisas como vão, a vaca acabará mesmo atolando no brejo.

As reformas precisam ter início pelos conceitos básicos. Carecem ser procedidas sem tardança. Sem choro nem vela. Sem novas concessões a fórmulas desgastadas na condução do esquema da preparação. A Copa das Confederações, preâmbulo importante do evento magno de 2014, já está batendo na porta. Se a Comissão Técnica não for substituída, se os métodos de convocação e os trabalhos nas quatro linhas não sofrerem alterações a breve prazo, babau! Era uma vez uma Taça. Era uma vez, aliás, duas Taças.

Os timecos que têm representado até aqui o futebol pentacampeão em grandes competições não se mostram, de modo algum, à altura, nem tecnicamente, nem fisicamente, nem psicologicamente, de cumprir a missão de enorme envergadura que o país do futebol pretende atribuir ao escrete a ser formado.

A reforma almejada não pode ser de meia sola. Terá de ser de solado inteiro. E, por favor, nada de recorrer ao surrado expediente de se anunciar alguma reforma pra não se fazer reforma alguma.

Dia desses, apoderado de inconformismo diante do feio estilo retranqueiro adotado nos gramados pela totalidade de nossos treineiros, em estado de desconforto face à submissão dos mesmos a critérios viciados na convocação dos atletas, pus-me a interrogar os botões de meu pijama acerca de algumas questões relevantes. Uma delas: a conveniência de se partir inovadoramente para a estruturação de um comando coletivo pra cuidar da orientação técnica do selecionado. Quem sabe até com a participação no grupo (a ser totalmente renovado) de um esportista vitorioso noutra modalidade competitiva! Alguém com reconhecido poder de gerenciamento, que seja capaz de injetar ânimo e entusiasmo novos, em dosagens certas, no elenco a ser constituído. José Roberto, do vôlei feminino, se encaixaria bem nesse perfil.

Craques do futebol do passado, tais como Zico, Tostão, talvez Pelé, ou Romário, partilhando responsabilidades na complexa empreitada, são nomes que também poderiam ser cogitados nessa desejável recomposição de quadros com o fito de recolocar as coisas nos devidos trinques.

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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