A pizza desejada por muitos
Cesar Vanucci *
“As conclusões aqui, são nada, um vazio.”
(Deputado Odair Cunha, relator da CPI)
As fartas evidências de que o escândalo que tem como pivô o banqueiro de bicho Carlinhos Cachoeira suplanta em extensão e gravidade o próprio “mensalão” recentemente julgado pelo STF, não foram suficientes para impedir que a CPI sobre o assunto terminasse melancolicamente em pizza. Pizza brotinho, com disse alguém.
Gente de dentro e de fora do governo, políticos graduados da situação e da oposição, setores influentes da mídia somaram forças para impedir a conclusão do trabalho investigatório parlamentar nos termos adequados. As provas reunidas conduziam inapelavelmente à necessidade de indiciamentos que passaram, a partir de certa hora, a ser considerados inconvenientes tanto para a oposição, quanto para a situação. Bem como, também, deploravelmente, para certos órgãos da grande midia, embaraçados diante do envolvimento até a medula de alguns jornalistas nas maquiavélicas tramas criminosas de Carlinhos.
Os arranjos de bastidores resultaram num parecer conclusivo (do relator) vazio de conteúdo. Ficou fácil derrubá-lo na votação da Comissão. A substituição do texto por um raquítico memorando, elaborado a gosto na undécima hora, desprovido de um mínimo de respeito à natureza da investigação, deu-se com o indisfarçável intento de cavar uma sepultura bem funda para a CPI. Ninguém acabou sendo indiciado. Nem os mais manjados atores políticos do enredo mafioso, o ex-senador Demóstenes Torres e o governador de Goiás, Marconi Perillo. Nem tampouco a empreiteira utilizada como fachada para uma montoeira de negócios escusos. Apesar do acúmulo escandaloso de indícios acerca da mancomunação de todos com as ações ilícitas do perigoso contraventor. Este aí, por sua vez, posto novamente em liberdade, já anda anunciando a disposição de, seguindo o “meritório” exemplo de outro malfeitor, Marcos Valério, negociar penas mais brandas, caso isso se revele realmente necessário, em troca de uma “delação premiada”. Um artificiozinho que lhe assegure, talvez, o “sagrado” direito de zerar o prontuário e ganhar um atestado legal de “regeneração súbita”.
A “síndrome de faroeste” sobrepaira ameaçadoramente sobre a vida estadunidense. O anunciado propósito do Presidente Obama, dando eco a clamor de ponderáveis parcelas da opinião pública, no sentido da adoção de medidas restritivas na venda de armas, vem provocando virulentas reações, por mais incrível que possa parecer. Grupos poderosos, contando inexplicavelmente com certo apoio popular e com algum apoio significativo da mídia, resistem em atmosfera de exacerbada indignação à idéia de se criar obstáculos à venda de armas nos termos em que a operação se processa atualmente. Querem que tudo permaneça como está em nome do sagrado “direito individual” de cada pessoa em possuir as armas que quiser e puder adquirir para se defender de ameaças que supostamente rondem o seu sossego. A prevalecer a tresloucada tese por eles sustentada, qualquer individuo continuará investido das condições de poder encomendar pelo telefone, para entrega domiciliar rápida, um rifle automático, ou mesmo uma bazuca, sem que se sinta na obrigação de explicar pra quem quer que seja as razões de seu procedimento. A arma – afiançam – é um produto de utilidade doméstica. Como geladeira, ou televisão. Impedir o cidadão de adquiri-la significa inadmissível invasão de privacidade, ora, veja, pois!
Obama vai se expor a nova saraivada de violências verbais, tal como aconteceu nas eleições, caso persista na louvável determinação de desarmar o país na tentativa de reduzir as tragédias amiúde provocadas por enlouquecidos atiradores solitários com acesso desembaraçado a verdadeiros arsenais bélicos.
“Muito bom, fui longe sem sair do lugar.”
(Comentário da telespectadora Elenilda Trindade, ouvindo
a interpretação de Zé Renato e Renato Braz da melodia
“Desenredo”, de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro)
Vou usar uma expressão cunhada por ninguém mais, ninguém menos do que Ary Barroso, o mais genial compositor de música popular do século 20. Umas quinhentas composições na bagagem. Todas lindas. Nenhuma com defeito de fabricação.
Ary, de certa feita, definiu a “Aquarela do Brasil”, segundo hino nacional brasileiro, como um “clangor de emoções”. Tomo emprestadas as sugestivas palavras para caracterizar nosso prodigioso Brasil musical. Um verdadeiro clangor de emoções que as programações da televisão e rádio teimam, por pirracice ou outra razão menor qualquer, em não projetar, como deveriam fazer, na devida dimensão.
Em atrações como “Samba na Gamboa”, da TV Brasil, “Sarau”, da Globo News, “The Voice Brasil” (título pouco inspirado) e “Som Brasil”, da TV Globo, “Senhor Brasil”, da TV Cultura e em faixas musicais do Canal Brasil, a criatividade musical incomparável de compositores, intérpretes e instrumentistas brasileiros tem sido, de alguma maneira, realçada. Mas isso é ainda considerado muito pouco quando se tem em conta o volume da divulgação habitual reservada a ritmos estrangeiros.
E não se pode perder de vista que a música estrangeira intensamente propagada nos veículos de massa oferece, no mais das vezes, não importa o gênero, padrão de qualidade que deixa sempre muito a desejar. Culpa, certeiramente, da influência negativa que as gravadoras, ávidas por venderem seus bagulhos, exercem no sistema de divulgação, sem falar da valiosa contribuição que é dada no caso por não poucos produtores e programadores, por meio da seleção de peças de mau gosto colocadas displicentemente no ar.
Dias atrás, no Canal Brasil, assisti empolgado a um espetáculo musical rico em brasilidade, com intérpretes magistrais. Não me recorda já haver visto qualquer um deles se apresentando noutro programa de televisão, embora todos eles revelem sobejas condições para, ao contrário do que ocorre com tantos artistas de duvidoso mérito, merecer a honra de escalação frequente em atrações de grande audiência na chamada tevê aberta. Esses intérpretes são Zé Renato e Renato Braz. O show mostrado foi impecável. “Desenredo”, de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, com o encaixe de um trecho do “Trem caipira”, de Vila Lobos, foi uma interpretação de tirar o fôlego. Eletrizante. Tenho zapeado, de lá pra cá, os prefixos na expectativa de reencontrar os artistas citados. Busca infrutífera. E não serão eles apenas, certeiramente, os únicos a experimentarem, neste momento, o amargor de se verem com sua arte bem brasileira mantidos à distância dos refletores, observando o espaço que, por mérito, deveria ser-lhes assegurado na programação, descerimoniosamente e obsessivamente ocupado por cantadores e cantorias estrangeiros.
Não tenho dúvida alguma em proclamar, alto e bom som, que a produção musical brasileira é, incontestavelmente, melhor do que a estrangeira. Mais uma prova dos nove fora disso tivemo-la, indoutrodia, naquele badalado espetáculo que atraiu meio milhão de pessoas à praia de Copacabana. Apresentaram-se ali Gilberto Gil e o americano Steve Wonder. A primeira parte do show, a cargo do brasileiro, foi infinitamente superior em qualidade. Mesmo não vivendo um de seus momentos mais inspirados, o autor do antológico “Aquele abraço” arrancou mais aplausos de que seu parceiro, reconhecido como celebridade mundial. Acompanhei, pela televisão, com entusiasmo, a performance de Gil. Não consegui, jeito maneira, acompanhar até o final o outro interprete. Lá pela quarta musica, danei a bocejar, entediado. Outros conhecidos confidenciaram-me haver experimentado idêntica sensação.
* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)
Um comentário:
Muito bom!!!!
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