Efeito Xandico
Cesar Vanucci *
“A aplicação da justiça é regida
pelo respeito aos princípios basilares.”
(Domenico Rosa, professor)
Por “efeito Xandico” compreenda-se a postura altiva, isenta, de cidadão de conduta retilínea calcada na ética. Alguém que conserve apreço intransigente aos valores e princípios que conferem dignidade à aventura humana, quando da apreciação de atos que projetem incongruências, conveniências espúrias, pragmatismos perversos e outras mazelas do jogo mundano.
Xandico deriva de Alexandre. No caso, o Alexandre de que se fala é o inolvidável Arcebispo de Uberaba, Alexandre Gonçalves Amaral, falecido há uma década. Homem de sabedoria incomum, em vivência encharcada de apostolicidade. Dono de fala eletrizante, didática e bem humorada, sempre adequada ao momento, à platéia, à faixa etária, ao ambiente cultural. Cidadão que nutria apego apaixonante aos princípios. Bispo mais moço à época da sagração, foi o religioso com o maior tempo de presença eclesial no mundo inteiro na fase outonal da existência.
Xandico era o apelido carinhoso, ganho nos tempos da meninice, pelo qual se fez conhecido nas relações familiares e dos amigos chegados. As atitudes e decisões deste ser humano especial, de presença refulgente no cenário da inteligência e da cultura, deram origem à expressão que encima o comentário, definida linhas atrás em sua essência, que costumo empregar com alguma assiduidade.
Nas definições recentes do Supremo Tribunal Federal no tocante ao “mensalão” anotei sinais comportamentais, implicando em apreço aos princípios sobretudo do Ministro relator, hoje na presidência da Corte, que me fizeram lembrar posições assumidas por Xandico em momentos cruciais. Isso conduziu-me a compor possível cenário para outras manifestações a serem tomadas pela instituição em futuros julgamentos. Refiro-me de forma especial ao “mensalão” mineiro, apontado como modelo matricial do processo que acaba de ser julgado e que teve também como eficiente operador o publicitário Marcos Valério.
Narro aqui episódio demonstrativo do que chamo “efeito Xandico”. Na administração JK como governador de Minas, ocorreu, em dado momento, elevação substancial nas alíquotas de imposto. O pessoal da Receita abusou, apertando com excesso policialesco os cravelhos da fiscalização. A indignação dos contribuintes foi enorme. Acabou desembocando, deploravelmente, na depredação da Delegacia Regional da Secretaria da Fazenda em Uberaba. À reação colérica, obviamente condenada pelos mais sensatos, seguiu-se violenta repressão policial, alvejando, como sói acontecer nesses momentos, criaturas humildes. Alexandre já vinha se ocupando em incandescentes artigos do criticável desempenho dos agentes do Fisco. Profligou a irrefletida explosão popular, lastimando ao mesmo tempo que pessoas ingênuas estivessem sendo submetidas a maus tratos na cadeia. Sua palavra ressoou forte. As violências cessaram. O Secretário José Maria Alkmin procurou-o em nome do governo, para um entendimento. Ouviu do Bispo o que pode ser classificado como uma senhora descompostura. O episódio ganhou a mídia. Os artigos do Bispo, batendo duro e firme no governo pessedista de JK, foram reproduzidos, a mando da oposição udenista, toda jubilosa, nos principais jornais do país.
Na sequência, representantes da oposição, Milton Campos e Pedro Aleixo entre eles, encaminharam a Alexandre uma mensagem de aplausos pela posição assumida, acompanhada, ingênua e inadvertidamente, de pedido para que interferisse no sentido de convencer um de seus partidários a aceitar a candidatura a Prefeito de Uberaba.
O tsunami que o fato provocou, vou te contar! Alexandre disse poucas e boas aos autores da mensagem, repelindo com veemência a proposta para que se tornasse “cabo eleitoral” udenista. Foi a vez dos pessedistas cuidarem de reproduzir, nos maiores jornais, os artigos em que o Bispo espinafrou os udenistas. O que estivera posto em jogo o tempo todo e que o pragmatismo político dos dois lados encontrou dificuldades em entender era uma questão essencial, em conflito com suas conveniências. Uma questão de respeito a princípios.
Antevejo para breve um acontecimento especial, baseado também em questões de principio. Conservando-se fiel aos valores da equidade jurídica, da isenção e da ética, o STF não vai ter como deixar de colocar em pauta o processo do outro mensalão. O de Minas. Vem daí que os meios de comunicação, com certeza, não terão como se esquivar de concentrar microfones e refletores nas sessões de julgamento. Os votos dos Ministros ganharão, consequentemente, estardalhante divulgação, como já ocorreu no episódio passado. A opinião pública ficará acompanhando o desenrolar do julgamento com indormida atenção, naturalmente solidária com o Supremo em sua disposição saneadora.
Os políticos situacionistas diante do indiciamento e eventual condenação dos adversários cuidarão de promover, certeiramente, como os oposicionistas procederam num quadro inverso, ruidosas manifestações.
Olha aí o “efeito Xandico” em ação.
Boas falas
Cesar Vanucci*
“Quando é que alguém vai bolar no horário
nobre da tevê o jornal da Boa Noticia?”
(Agripina Cordeiro Leite, telespectadora)
Na tentativa de atenuar um tiquinho o fato inexorável de a gente pisar no ano novo com o gosto acre de cabo de guarda-chuva na boca, tantas as coisas negativas que andaram (e andam ainda, muitas delas) pintando no pedaço, azoretando a paciência dos desprotegidos cidadãos, achamos de bom alvitre, como era de costume dizer-se em tempos de antanho, listar neste espaço algumas iniciativas de cunho positivo colocadas em prática ultimamente, mas que não fizeram jus a registros à altura no noticiário nosso (habitualmente catastrófico) de cada dia.
Quem utiliza amiúde avião de carreira nas viagens tem se confrontado, prazerosamente, com rigorosa pontualidade, dir-se-ia suíça, nas partidas e chegadas de voos. Não era bem assim que tudo rolava até outro dia. Sem estardalhaço, a situação sofreu alteração pra melhor. Claro, com intervenção bem sucedida dos organismos competentes, que conseguiram desfazer o cenário abagunçado das operações de navegação aérea que as imagens da televisão costumavam mostrar insistentemente num passado recente.
Dizia-se, pouco tempo atrás, que o Brasil não estava se preparando adequadamente para a Copa Mundial de Futebol. A entrega para funcionamento pleno, nos prazos estipulados, de vários estádios que serão palco das partidas programadas - caso, por exemplo, do Mineirão - revela que as preocupações então trazidas a público não deixaram, de certo modo, de ser marcadas por toque um tanto quanto alarmista.
Malgrado os juros bancários na boca do caixa, ou seja as taxas pagas pelo consumidor por empréstimos contraídos nos guichês das agências não tenham ainda chegado, em virtude da tradicional ganância (somada com caturrice) dos banqueiros, aos patamares preconizados na política econômica vigente, não se pode desconhecer que reduções significativas, puxadas sobretudo pelo Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, estão ocorrendo nos custos financeiros. Taí situação que favorece em muito o sistema produtivo e o cidadão comum. Alvíssaras!
A queda de 20 por cento nas taxas de energia elétrica, decretada meio na marra pelo governo, arrostando indisfarçável má vontade dos operadores do sistema, ávidos por lucros polpudos que remunerem à altura das expectativas seus acionistas, representa conquista econômica e social da maior relevância. Que o digam os setores beneficiados, ou seja, a Nação inteira! Pena não seja anotada com o destaque necessário, por motivos incompreensíveis (ou compreensíveis até demais) pela grande mídia.
O ideal mesmo, não há duvidar, seria desmatamento nenhum. Mas essa queda acentuada nos índices de devastação da floresta amazônica é lance merecedor, sim, de alguma celebração. As últimas medições feitas por satélites no imenso oceano verde brasileiro são reveladoras de que a ação oficial concernente ao assunto vem se mostrando positiva.
Tem-se como certo que nosso país executa presentemente o maior programa de implantação de moradias populares da história contemporânea. Essa grandiosa empreitada social é acompanhada com admiração e interesse em todas as partes do mundo. 2011 foi outro ano de recordes no setor de construções. Os valores dos financiamentos liberados pela Caixa são impressionantes.
* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)
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