sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Só faltava essa

Cesar Vanucci *

“Mas estão todos malucos!”
(Frase atribuída a Dom Pedro II, na partida para o exílio,
anotada por Paulo Rónai em seu “Dicionário de Citações”.)


O capítulo das zuretices e excentricidades do grande livro que narra as peripécias do bicho-homem em seus vais e vens por este mundo velho de guerra sem porteira, criado pelo bom Deus, onde o diabo costuma plantar seus perturbadores encraves, acaba de ser “enriquecido” com uma decisão no mínimo curiosa, tomada dias atrás pelo Parlamento alemão. Os deputados do país do chucrute aprovaram lei proibindo a zoofilia, após polêmicas inflamadas ao longo de vários meses.

Grupos organizados em associações, movimentando passeatas e formulando protestos diante da casa do Legislativo, expressaram sua discordância frontal ao que ficou decidido, prometendo reação braba.

Zoofilia, como a patuléia ignara de que sou parte não faz questão alguma de saber, quer dizer, num primeiro momento, segundo os dicionários, “amor aos animais”. Mas pode significar também, na linha interpretativa dos legisladores germânicos, “situação em que o carinho por outro animal, que não o homem, produz prazer sexual”, como registra o Aurélio. Ou, como consigna a “Wikipédia”, “atração ou envolvimento sexual de humanos com animais de outras espécies.” A  “Wikipédia” ainda se põe a explicar que são chamados de zoófilos aqueles seres humanos que se envolvem nessas práticas.

Textos da Psicologia fundamentada na teoria freudiana classificam a zoofilia como um transtorno da sexualidade. Na classificação internacional de doenças (CID-10), a situação se enquadra na categoria dos transtornos de ordem sexual chegados à bestialidade. Especialistas médicos têm-na na conta de manifestação neurótica, onde a insensibilidade e a grosseria se aliam a um bloqueio afetivo de amor.

Mas retornando à proibição parlamentar. Ela decorreu de estudos aprofundados onde chegou-se à conclusão de que a zoofilia é problema a ser encarado com seriedade. Essa prática, que se entrechoca com os padrões civilizatórios, prolifera entre os alemães, a ponto de se calcular hoje em 100 mil o número de zoófilos assumidos no país.

Os estudos revelaram coisas espantosas. Segundo as autoridades, cerca de 500 mil animais são mortos por ano, pouco depois de passarem por sevicias sexuais, ora, veja, pois...

A discussão em torno do esdrúxulo tema trouxe a lume incríveis argumentos. Principalmente por parte dos adeptos escancarados da zoofilia. Uma organização chamada Zeta (Engajamento Zoófilo para a Tolerância e a Informação) anunciou o propósito de refutar em Juizo a decisão dos deputados. Seu dirigente, Michael Kiok, de Munique, admitindo-se ligado “afetivamente” a uma cachorra de raça (pastor alemão), de nome Cissy, “há pelo menos sete anos”, botou pra fora sua indignação com relação à nova lei, afirmando aos jornais: “Fazem-nos sentir criminosos. Isso tudo por causa dos fanáticos defensores dos direitos animais, que pensam sejamos capazes de magoar nossos companheiros”.

O dirigente zoófilo, que já foi casado e considera “mais fácil compreender os animais do que uma mulher”, referia-se a manifestantes que apoiaram nas ruas de Berlim a deliberação parlamentar. Assegurou que irá recorrer à Corte Suprema da Justiça para “defender os respeitáveis direitos” da “categoria” representada pela Zeta.

Bem, é isso ai... Quanto ao mais, é como não se cansa de dizer o Fulgêncio do Abaeté, professor aposentado, recolhido hoje ao relativo sossego de aprazível sitio na zona rural de Conceição das Alagoas, lá pras bandas do Triângulo, ao confessar-se “meio deslocado” nestes tempos amalucados com “as teses novidadeiras volta e meia trazidas pela televisão, rádio, jornal e Internet”: “Só me faltava mais essa! Será que alguém não pode mandar parar, mode o degas aqui apear e cair no mato?”



Figura célebre e polêmica

“Muitos me odeiam sem me conhecer.”
(Edir Macedo)

Estou convencido que há um bocado de verdade na declaração feita por Edir Macedo, dirigente da Igreja Universal do Reino de Deus, à revista “IstoÉ”: “Muitos me odeiam sem me conhecer.” Mesmo não ignorando que alguns bons motivos por certo existem para uma avaliação critica da atuação do personagem, não se pode deixar de reconhecer, em boa verdade, que parte das reações negativas que o rodeiam se escora na intolerância e no preconceito.

A Igreja Universal do Reino de Deus, por ele fundada e dirigida, é um fenômeno religioso impressionante. Agrega no Brasil e nos outros 181 paises em que desenvolve trabalhos catequéticos e sociais milhões de seguidores. A expansão vertiginosa que pontilha a trajetória da instituição, em que pesem as constantes acusações de charlatanismo e exploração da fé das camadas mais humildes, formuladas até mesmo por outros grupamentos evangélicos, torna Edir uma celebridade internacional.

Lançando-se como empreendedor na área da comunicação social, com gana na disputa por posições de liderança, o líder da IURD agregou aos que não vêem com simpatia sua desenvolta presença na esfera do proselitismo religioso adversários bastante poderosos, ligados à concorrência midiática. Estes não o poupam de criticas acerbas, sempre por ele, de pronto, rebatidas no mesmo tom inflamado.

A obra que comanda tem, forçoso admitir, seus méritos. Afinal de contas não se constrói um império desses, no curso de 35 anos, sem a aquisição de forte base de credibilidade perante a opinião pública. O carisma de Edir Macedo é inegável. As coisas em que bota a mão desembocam sempre em frutuosos resultados. Mesmo as que não dizem respeito diretamente ao polêmico trabalho que promove, de propagação religiosa, marcado às vezes por reações de fanatice. Temos ai o exemplo da Rede Record, a cada dia mais presente nos índices de audiência. E ainda agora, mais recentemente, defrontamo-nos também com essa história do best-seller mundial em que se transformou a autobiografia de Edir, “Nada a perder”. Num único dia o livro acusou, na livraria onde foi lançado vendagem inédita de 25 mil exemplares. Noutros lugares do mundo, aconteceram situações parecidas. Isso dá o que pensar.

˜ A atitude do governador Cid Gomes, do Ceará, pagando a uma cantora famosa o polpudo cachê de 650 mil reais para um espetáculo artístico ao ensejo da inauguração de hospital público em Sobral, é de deixar em estado de absoluto transtorno o mais impassível monge contemplativo. Quê isso, seu Gomes? Dinheiro público não pode ser aplicado de forma assim tão leviana! Melhor seria que do currículo do ilustre Governador constasse o registro de que a soma acima mencionada houvesse sido reservada a anúncio, já no ato inaugural do estabelecimento, da ampliação do número de leitos hospitalares. A propósito do cabuloso assunto, o Ministério Público do Ceará já cuidou de propor medida judicial para que Cid devolva ao Erário a dinheirama aplicada no show.

˜ Lá fora, divulgou-se (mais uma) notícia alvissareira sobre a economia do Brasil. Cá dentro, a notícia em questão foi, por parte da grande mídia, solenemente ignorada. Ou, nas análises e no noticiário (costumeiramente negativos) que se lê ou se ouve por ai a respeito dos rumos socioeconômicos brasileiros, só chegou a ser citada muito discretamente.
Caso é que o Fórum Econômico de Davos, na Suíça, reunindo opiniões de 1330 grandes executivos, de 68 países, colocou o Brasil como o terceiro mercado mundial mais sólido para investimentos. Os países classificados em posição mais destacada foram China e Estados Unidos.



O desabafo do Papa

“Ficamos sem fala.”
(Cardeal Giovanni Lajola)

Depois da inesperada renúncia, outra atordoante surpresa. Declarações incisivas que soaram como um recado impactante sobre os descaminhos que estariam sendo trilhados, por integrantes da Cúria Romana, na condução das atividades da Igreja.

Bento XVI, nos derradeiros pronunciamentos como Sumo Pontífice, fez revelações que levantam fundadas suspeitas de que a abdicação ao trono de Pedro não teve como única motivação a alegada falta de vigor físico e psicológico. Para o ato que produziu comoção mundial, notadamente nos círculos católicos, terá concorrido também, com certeza – há que se deduzir das manifestações vindas agora a lume – uma rede de intrigas montada nos bastidores do Vaticano com o fito de debilitá-lo e de impedir mudanças importantes na vida da milenar instituição.

Os depoimentos, em tom de desabafo, são de irrecusável significado histórico. Denunciam situações que estariam em desacordo com a linha de atuação pontifícia e que não podem deixar de ser vistas como instrumentos de desestabilização de seu sagrado magistério. As frases proferidas por Ratzinger nas homilias que o mundo ouviu em clima novamente de espanto são, no ver de analistas conceituados, muito reveladoras.

Vejamos algumas delas.
“A face da Igreja, às vezes, é desfigurada. Penso em particular nos golpes contra a unidade da Igreja, as divisões no corpo eclesial. Por isso, Jesus denuncia a hipocrisia religiosa, o comportamento que deseja aparecer, os hábitos que procuram o aplauso e a aprovação...”
“Viver a Quaresma em uma mais intensa e evidente comunhão eclesial, superando individualismos e rivalidades, é um sinal humilde e precioso para aqueles que estão distantes da fé ou indiferentes.”
“Muitos estão prontos a estraçalhar as roupas diante de escândalos e injustiças – naturalmente cometidos pelos outros -, mas poucos parecem dispostos a agir sobre o próprio “coração”, a própria consciência e as próprias intenções, deixando que o Senhor transforme, remova e converta.”
“Nossa tarefa é trabalhar para que o verdadeiro Concilio (...) prevaleça e a Igreja seja verdadeiramente renovada.”

Quem melhor resumiu o impacto causado pela retórica papal foi o Cardeal italiano Giovanni Lajolo: “Ficamos sem fala.”

A leitura que respeitados “vaticanistas” fazem desses pronunciamentos é de que Bento XVI exprimiu como pôde, ciente de suas limitações, com palavras vigorosas mas resguardando a dignidade do cargo, sua amargura diante de episódios constrangedores provocados por elementos que gozavam de sua confiança e que se perderam em gestos de indesculpável infidelidade. As inconfidências do mordomo desleal; os desatinos do Banco do Vaticano, engolfado em transações escabrosas até com chefões da Máfia; a corrupção e desmandos detectados em relatórios subscritos por vários Cardeais inconformados com certos rumos do palácio apostólico; as reações de alguns purpurados da Cúria às medidas punitivas contra clérigos que fizeram vista grossa aos numerosos casos de pedofilia que abalaram tantas comunidades; essas coisas todas e outras mais constituiriam o verdadeiro fundamento do desencanto expresso por Bento XVI.

Sinalizando evidências de que, embora partidário de reformas, não soube ou não conseguiu, por força de intransponíveis óbices domésticos, promovê-las, o Papa resignatário estaria, agora, empenhado em abrir caminho para a ascensão de um sucessor capaz de sacudir estruturas e levar avante uma renovação verdadeira, como tanto se almeja, no seio da Igreja.

Hora propicia, voltamos a dizer, para a entrada em cena de alguém com o perfil de um João XXIII. Alguém, tocado pelo Espírito Santo, como se prevê nas escrituras sagradas, que proceda, talvez – por que não? -, de uma parte do mundo onde a presença católica se revele, em número de fiéis e devoção, mais vigorosa. A América Latina, o Brasil, por exemplo.

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)


IX ENCONTRO CULTURAL DA ACADEMIA


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

CONVITE ESPECIAL AOS AMIGOS DO BLOG




À espera de um novo João XXIII

Cesar Vanucci *

“A mensagem de Roma é humilde como uma quadra popular
e grandiosa como uma catedral de verdades eternas.”
(Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Ataíde)

Bento XVI sai de cena de forma surpreendente. Deixa de sua passagem pela cátedra de Pedro o registro de uma atuação sem a reluzencia de seus predecessores mais próximos. A decisão que tomou, reconhecendo-se despojado de condições físicas e psicológicas para dar continuidade à missão que lhe foi atribuída, causou compreensível comoção. Trouxe à tona, sem dúvida, sua grandeza de caráter e, também, seu estilo discreto e sua visão extremamente racional das coisas deste mundo. Mas a renúncia ficará lembrada, lá na frente, como ato invulgar que provocou apenas rastro efêmero de estupefação. Não como um instante histórico em que teria ocorrido a ruptura de uma obra pessoal pontilhada de realizações, por meio das quais a Igreja teria dado avanços de monta na propagação da mensagem evangélica.

Bento XVI adquiriu notoriedade pelo conservadorismo entranhado e brilhantismo teológico de feição imobilista. Será, assim, merecidamente celebrado como eficiente burocrata da fé. Nunca como alguém predestinado a ascender, a qualquer tempo - como aconteceu, por exemplo, com seu antecessor próximo, João Paulo II -, a um lugar entre os luminares do pensamento religioso de todos os tempos.

É bastante sugestivo, quando se analisa o ato inesperado de Bento XVI, a identificação, por ele próprio admitida, que tinha com o Papa Celestino V, cujo tumulo visitou em Áquila, nos Apeninos, em 2009, quando do terremoto que atingiu a região. Esse Celestino V, lá por volta de 1294, aos 80 anos, resolveu abdicar das funções pontifícias. Recolheu-se a um mosteiro, entregando-se à meditação mística. Sua renúncia, 719 anos transcorridos, é o precedente mais próximo que se tem da decisão tomada por Ratzinger.

A humanidade inteira sabe. Há uma mensagem de Roma a ser transmitida a todos os homens, em todas as latitudes. Todos, mesmo os não católicos, se dão conta da importância dessa mensagem. Ela chega do fundo e do alto dos tempos. É mensagem de sabedoria. Dá voz, como lembra Tristão de Ataíde, ao amor contra o ódio, à justiça contra a exploração, à paz contra a violência, à esperança contra o desespero. O mesmo autor resume de forma lírica o teor desse recado: ele é humilde como uma quadra popular e grandioso como uma catedral de verdades eternas.

Essa mensagem não pode abrir mão, obviamente, dos valores essenciais da fonte original. Mas também não pode, por outro lado, em nome de dogmas e preconceitos rançosos, alguns de cunho nitidamente maniqueísta, instituídos pela mera vontade humana, olvidar os desafios novos, as alternativas de comportamento social nascidas da abertura da consciência humana para a realidade de um mundo em ebulição.

Para a Igreja, como depositária da mensagem, e para o personagem elevado à cátedra suprema do magistério encarregado de transmitir a mensagem, voltam-se naturalmente as expectativas e esperanças de uma humanidade confusa, sufocada pela estridência de estranhas propostas econômicas, políticas, sociais em voga, ávida por orientação que a ajude encontrar os caminhos seguros da paz, da concórdia e do bem-estar social. Por essa razão, a escolha do sucessor de Bento XVI galvaniza atenções. O que as multidões passam, então, a aguardar é a escolha de um Papa que seja capaz de empreender um diálogo sereno, respeitoso, amadurecido com todas as vertentes do pensamento religioso moderno, estabelecendo as bases duradouras de uma convivência universal saudavelmente ecumênica. É a escolha de um Pontífice que se proponha a reavaliar posicionamentos da Igreja acerca de temas candentes, como a sexualidade na vida moderna, a distribuição justa das riquezas sociais, a necessidade de mudanças na ordem econômica, as transformações comportamentais da sociedade e tantos outros desafios relevantes, alguns deles no próprio âmago da instituição, como o celibato sacerdotal, a ordenação de mulheres, por aí. O que a sociedade humana espera é a designação de um sucessor de Pedro que se mire no esplendoroso exemplo de João XXIII. Um Papa que soube promover, a seu tempo, a mais arrojada experiência de abertura empreendida até então nos domínios da Igreja, reabastecendo de esperança a eterna mensagem, na tentativa de torná-la mais atraente para ser ouvida mais longe.


Antagonismo com odor udenista

“É a primeira vez que aparece nessa cor, porque em pronunciamentos
 anteriores (...) ela vestiu preto com uma renda branca por cima.”
(Deputado Carlos Sampaio, líder do PSDB na Câmara,
 encontrando tempo no trabalho parlamentar para assunto de moda.)

Dilma tem razão. Existe, sim, uma turma “do contra”. Independentemente das divergências políticas, que fazem parte do saudável jogo democrático, existe realmente um antagonismo sem causa, gratuito, solto no ar, voltado para toda e qualquer iniciativa governamental, mesmo as de irrecusável valor econômico e irretorquível significado social. E não é que muitos veículos de comunicação social já se acostumaram a dar repercussão exagerada a essa forma pouco inspirada de se confrontar  idéias?

O caso da redução na conta de luz das famílias e dos setores produtivos, tão bem acolhida pela opinião pública e objeto de contestação insana em alguns redutos, serve para exemplificar esse tipo de postura desprovida de isenção e bom senso.

Atendendo a justos clamores do setor empresarial, Dilma Rousseff conseguiu reduzir, de maneira bastante significativa, os custos de energia para o consumo em geral. Fez tudo rigorosamente de acordo com o figurino mercadológico, sem intervencionismos drásticos, escorada em medidas plausíveis executadas dentro da alçada federal. Às empresas do sistema ofereceu-se a antecipação nas concessões desde que concordassem com a redução das tarifas. Três delas, inclusive a Cemig, não aceitaram a proposta.

Mas caso é que as taxas foram reduzidas – algo nunca visto no gênero na história deste país - e isso constituiu uma notícia ótima para a sociedade.

Não passou desapercebido o ingente esforço da turma do contra – que parece beber “inspirações” para o que anda aprontando no estilo desarvorado da antiga UDN, em seu combate passional sem tréguas aos planos desenvolvimentistas dos radiosos tempos de JK – objetivando desqualificar a providencial decisão. Antes que o esquema da energia mais barata entrasse em vigor irrompeu assim meio de repente, do nada, uma onda espalhafatosa em torno de um apagão de dimensão descomunal que estaria prestes a ocorrer. O noticiário nosso de cada dia ficou recheado, edições seguidas, de registros acerca do “mais que provável” colapso no sistema de abastecimento de energia elétrica, “causado”, evidentemente, pela “imprevidência” governamental. A onda acabou se desvanecendo como bolhas de sabão sopradas ao vento, diante da consistente avaliação técnica das condições operacionais do sistema de abastecimento de energia elétrica apresentada pelo Ministério de Minas e Energia, descartando, de pronto, qualquer hipótese de apagão.

Na sequência dessa destemperada e malsucedida intervenção, a “turma do contra”, sem se enrubescer, apelou feio em novo e desabrido ataque à Presidenta. Ousou protocolar, na Procuradoria Geral da República, uma representação contra Dilma pelo uso – acredite, se quiser – de tom vermelho na veste envergada quando do pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão para o anúncio do corte nas tarifas de luz. O “fundamento” da hilária representação foi o de que a chefe do governo teve em mira, em optando por indumentária dessa cor, promover o seu partido político. A “denúncia” assumiu tom ainda mais psicodélico no momento em que estilistas de moda compareceram a público para explicar que a cor da roupa não era vermelha coisa alguma, mas rosa choque. Ao tomar ciência do episódio matutei com os botões de meu pijama a baita falta que vem fazendo o jornalismo irreverente do Stanislau Ponte Preta. A tal da representação é matéria que encontraria, sem mais leve dúvida, espaço destacado no seu saboroso Febeapá.

Encurtando razões, temos, assim, projetadas fartas evidências no sentido de que não poucos adversários de Dilma Rousseff, aparentemente desgostosos com as intenções de votos simpáticos à sua atuação, apuradas em sucessivas pesquisas, conservam-se firmes no propósito de, talqualmente antigos próceres udenistas na época de JK, sustentar combate desarvorado às suas ações político-administrativas.

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013


VIII ENCONTRO CULTURAL DA ACADEMIA

Na quarta-feira, dia 30 de janeiro, aconteceu no Centro de Cultura Nansen Araujo, do "Sesiminas", numa promoção da Academia Mineira de Leonismo, com o apoio do Lions Clube BH Inconfidência, o VIII Encontro Cultural da Academia. Público numeroso e participativo compareceu à exposição que fiz, subordinada ao tema "Ovnis, na visão de um repórter".
As fotos, colhidas pelo Acadêmico Augusto Cesar Soares dos Santos, retratam o acontecimento.


Por quem os sinos dobram

Cesar Vanucci *

“Incêndio na Kiss. Socorro.”
(Mensagem postada no Facebook por Michele Froehlich
Cardoso, uma das vítimas fatais da tragédia em Santa Maria)

Os sinos de Santa Maria dobram não apenas pelas inocentes vítimas, seus desolados familiares, mas por todos nós. Ao entrar para o rol das descomunais tragédias que poderiam ter sido evitadas, palco de incêndio que contabilizou o maior número de mortes nos últimos 50 anos no Brasil, causando comoção nacional e internacional, a cidade conhecida como “coração do rio Grande” colocou-nos a todos nós em estado de choque, parceiros na dor infinita da comunidade. De certa maneira, fez-nos sentir um tanto quanto cúmplices do estado de coisas que permitiu o desencadeamento do apavorante incidente. Sim, os sinos dobram também por nós, enquanto membros da coletividade, por revelarmo-nos omissos, desatentos, indiferentes a regras elementares de prevenção e segurança ambientais.

Quando se toma conhecimento de que as vítimas morreram asfixiadas, carbonizadas, pisoteadas, numa casa noturna sem autorização legal para operar, funcionando em espaço inadequado para grandes aglomerações, não dispondo de funcionários treinados para atender emergências, despojados, todos eles, de qualquer orientação preventiva acerca dos riscos do emprego de apetrechos suscetíveis de provocarem combustão espontânea em ambientes fechados; quando se está ciente também de que o cenário desse dantesco drama revelava-se desprovido de saídas de emergência, de placas de sinalização, de portas ou janelas que pudessem favorecer a evacuação rápida do público aos primeiros sinais de alerta; todos nós, pais de família, educadores, autoridades, damo-nos conta, aturdidos, de que isso pôde ocorrer e pode voltar a ocorrer mais adiante por força de conivência deplorável, da parte de muitos inconsciente, mas nem por esse motivo destituída de suma gravidade. Essa conivência, complacência, tolerância descabida, ou que outro nome tenha, têm permitido o funcionamento, à mingua de fiscalização rígida, por este país-continente afora, de centenas (talvez milhares) de estabelecimentos frequentados por nossos jovens que exibem instalações com pontos em comum com as dependências da boate”Kiss”.

O indiciamento no inquérito policial dos proprietários da boate, do músico que acionou o sinalizador, seus companheiros de banda, provavelmente dos seguranças que, ao invés de ajudarem, teriam criado obstáculos à saída da multidão espavorida, não fecha, a rigor, a cadeia das responsabilidades diretas ou indiretas que vêm à tona a uma avaliação mais aprofundada dos fatos. Se a casa noturna não dispunha de um mínimo de requisitos para desenvolver suas atividades, por que permanecia, então, de portas abertas acolhendo constantemente festejos com grande participação popular? Quem ou qual órgão avalizou irresponsavelmente e por tempo dilargado essa infringência constante de regras essenciais?

A dor imensa que se abateu sobre a Nação, a onda de solidariedade que se ergueu à volta do incidente em terras gaúchas convocam-nos a reflexões nesta hora. Deriva daí, de pronto, o reconhecimento da necessidade de adoção de providências urgentes para se evitar que tragédias assim se repitam. Somos sabedores de que, em outras partes do mundo, em consequência de negligências, omissões, falhas na fiscalização, ganância, e outros fatores, tal como se vê por aqui, episódios semelhantes, ou até de proporção mais avantajada, ocorreram recentemente. Nos Estados Unidos (dois), na Rússia, na China, na Argentina, para mencionar alguns deles. Mas isso não traz consolo algum, quando choramos os mortos de Santa Maria. Serve unicamente para robustecer a certeza de que a imprevidência e a irresponsabilidade não são defeitos detectados apenas entre nós no trato da coisa pública.

O que toca agora promover, como fruto da reflexão, é ação. Muita e fecunda ação. Ação em ampla escala em prol de uma legislação com regras nacionais, calcadas em estudos da ABNT, para o tema da segurança contra incêndios. Ação que implante sistemas de prevenção e fiscalização mais rígidos, de maneira a impedirem possa uma festa de congraçamento fraterno mudar de feição, de repente, não mais do que de repente, transformando-se numa balada de horrores.


Preconceito é que nem tiririca

“Época difícil, essa nossa, em que é mais
 difícil quebrar um preconceito do que um átomo.”
(Albert Einstein)

Vamos lá. O que poderá haver em comum entre Taro Aso, Ministro de Finanças do Japão e também vice-primeiro ministro do gabinete governamental do país, o coronel Ubiratan de Carvalho Góes Beneducci, da Polícia Militar de São Paulo, e o delegado Pedro Paulo Pontes Pinho, da Polícia Civil do Rio de Janeiro?

O noticiário dos últimos dias dá conta de que todos eles, tão distanciados no que fazem um do outro, foram pilhados em flagrante delito na prática de execráveis preconceitos, desafortunadamente para o gênero humano, enraizados que nem grama tiririca na convivência social.

O japonês, figurinha manjada pelos seus patrícios em decorrência do destempero verbal num sem número de embaraçosas situações, aprontou contra sua própria e respeitável categoria: a gente idosa. Do alto de seus setenta e lá vai pedrada de vida, esmerando-se na função de defensor intrépido da “lógica de mercado” nas intervenções sociais, considerou razoável a hipótese de se apressar a passagem de pessoas mais velhas, atacadas de enfermidades sem cura, de modo a desonerar os cofres públicos e o sistema de saúde de gastos com cuidados médicos especiais. Noutras palavras, é preciso “chegar-se a uma solução final”, como se dizia nos tempos do nazismo, nessa história de idosos enfermos, que se apegam “enervantemente” ao sopro de vida que lhes resta. Afinal de contas, manter ativo esse esquema assistencial custa um dinheirão e, por conseguinte, traz consideráveis prejuízos ou deixa de trazer justos lucros monetários a quem, tão benevolentemente, banca no interesse público os chamados planos de saúde. Ufa!

Diante da onda de indignação erguida pela boçal manifestação, feita num lugar do mundo em que o envelhecimento é assunto sensível (um quarto da população de 128 milhões é composta de pessoas com idade acima de 60 anos), o Ministro andou ensaiando o que se poderia chamar de recuo. Recolocou a cara de pau diante das câmeras, esboçando pedido esfarrapado de desculpa. Mas o recado desalmado já havia sido certeiramente transmitido ao vivo e a cores, deixando rastro inapagável de desassossego na alma das ruas.

Enquanto isso, aqui deste outro lado do equador, brotavam outras aprontações preconceituosas, a primeira delas com iniludível conotação racista. O acima citado Paulo Ubiratam de Carvalho Góes Beneducci, capitão de polícia, noutro gesto de singular estupidez, expediu uma ordem de serviço aos comandados para ações de policiamento ostensivo numa região de classe média alta de Campinas. Da “ordem de serviço” baixada consta recomendação para que a abordagem em prol da tranquilidade pública, a ser feita com máximo rigor, contemple pessoas “em atitude suspeita, especialmente indivíduos de cor parda e negra.”
Ordem dada, ordem exemplarmente cumprida. As diligências militares passaram a ser direcionadas a grupos de jovens entre 18 e 25 anos na periferia, em que fosse anotada a presença “ameaçadora” de cidadãos de epiderme escura... A PM de São Paulo apressou-se em negar o teor racista do documento. Informou, sem convencer, ter havido desatenção na redação do texto, concluindo a “explicação” com dado que adiciona ao episódio toque surreal, tragicômico mesmo: “O próprio capitão Beneducci é pardo e quis apenas expor as características físicas dos suspeitos.” Órgãos de direitos humanos reagiram com veemência, solicitando entre outros esclarecimentos do governo dados estatísticos contendo o perfil étnico das pessoas abordadas em diligências, sobretudo naquelas que registram casos de “resistência seguida de morte”, tão frequentes na crônica policial naquele Estado.

Já a participação do delegado da Polícia Civil carioca, Pedro Paulo Pontes Pinho, nessa sequência desastrada de manifestações desrespeitosas à dignidade humana, consistiu na postagem feita, em redes sociais, de críticas acerbas, de cunho machista, à participação de mulheres nas atividades policiais. Por causa das declarações, ele foi exonerado do cargo. Chamado à responsabilidade, valeu-se novamente da rede social para desculpar-se e dizer-se mal compreendido e injustiçado.

Esses posicionamentos, despojados de bom senso e de respeito humano, são amostras da permanência no relacionamento comunitário de uma espécie de erva daninha. Algo danado de difícil de ser erradicado. São posturas preconceituosas, nos casos citados envolvendo raça, sexo e idade, que costumam medrar insidiosamente no relacionamento social. São que nem grama tiririca. Aquela graminha incômoda que, no versejar roceiro, de um autor talentoso, cujo nome neste momento se me escapa, “a gente pode arrancá, virá de raiz pro ar, mas quá!, um fiapo escondido no torrão faiz a peste vicejá...”
 * Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)



sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Os tons prediletos do leitor

Cesar Vanucci *

“Pornô para mulheres”.
(Definição do crítico inglês Charles Burton
sobre o livro “Os cinquenta tons de cinza”)

No aeroporto, à espera de embarque, surpreendo, até onde a vista alcança, oito passageiros absorvidos na leitura de livro. O título do livro é o mesmo em todos os casos. Na agência de revistas e jornais, concluindo uma compra, deparo-me, na fila do caixa, com três pessoas pedindo embrulho pra presente de exemplares de uma mesma publicação, retirada de uma pilha exposta com grande visibilidade na estante central. Na sorveteria sofisticada, provida de produtos de primeira linha, onde os preços de uma casquinha para um grupo de seis pessoas, em lazer domingueiro, quase se equiparam ao valor de uma entrada de apartamento na zona sul, duas adolescentes, o exemplar exposto na mesa, trocam idéias, animadamente, sobre um trecho do livro. No mesmo dia, sou presenteado por alguém de meu círculo de amizades com o tal livro. Em todas as situações descritas os personagens fazem parte do outrora chamado sexo frágil.

Hora de citar o título do livro: “Os cinquenta tons de Cinza”, da escritora inglesa Erika Leonard James. Os lances que testemunho constituem amostra exuberante de um fenômeno editorial que ganhou, como fico sabendo, extensão mundial. O agora mais procurado romance nas livrarias do mundo inteiro já acusa a incrível façanha de 2 milhões e 500 mil exemplares, distribuídos em versões correspondentes a dezenas de idiomas.

Mas, afinal de contas, que obra tão especial é essa que está a provocar, sobretudo em redutos femininos, onda de interesse tão avassalador? Uma apreciação crítica singela, de fôlego curto, revela, à simples leitura dos primeiros capítulos, que não se trata de nenhuma produção primorosa, em condições de identificar na autora personagem em condições de galgar as culminâncias do talento criativo literário, como poderia parecer, a princípio, frente ao estonteante sucesso de vendas. Nada sugere na trama e no estilo narrativo os traços de um romancista fulgurante, digno de reverencias por parte do público leitor.

Definido como um “pornô para mulheres” por críticos literários irreverentes, que se revelaram compreensivelmente intrigados com a contaminante reação do público, tudo faz crer que esse fenômeno literário nasceu de um boca-a-boca incrementado que acabou ganhando inacreditável proporção mundial, bem administrado nas eficientes estratégias marqueteiras da editora.

“Os cinquenta tons de cinza” é, em suma, um tipo de publicação que poderia ter passado perfeitamente desapercebida às atenções dos adeptos da leitura, desde que todos nos ativéssemos a avaliá-la estritamente pelo mérito literário. O enredo reporta-se a uma ligação afetiva com características mórbidas. Garota pacata, de aparência comum, vida quase nula no quesito relacionamento, afeiçoa-se a um magnata acostumado a subjugar as pessoas ao seu redor. Ambos envolvem-se em práticas desvairadas daquilo que se convencionou designar pela sigla de BDSM, ou seja, bandagismo, dominação, sadismo e masoquismo, temas abordados com extrema crueza no linguajar. Algo que pode ser descrito como cenas exacerbadas e de muita vulgaridade de “sexo explicito”, permeadas de blablablá romântico, de algum modo até pueril, diálogos que roçam as fimbrias da chulice.

Acerca da obra diga-se ainda que é baseada na trilogia da controvertida história vampiresca de “Crepúsculo”, pra meu gosto e de muita gente, uma história de babaquice sem tamanho.

O êxito espantoso do livro, talvez não previsto de início pela autora e nem pela editora, vai seguramente fazer desse best-seller, não demora muito, um filme. Com toda certeza, de grande bilheteria. Aguardar pra ver.


Depardieu e Bardot

 “Quando o dinheiro fala, o bom senso fica mudo.”
(Provérbio belga)

Que baita papelão o deste ator francês, Gérard Depardieu! Recorrer a asilo político para não ter que pagar imposto sobre fortuna adquirida é o fim da picada. Astro de filmes como “Cyrano de Bergerac” e “Green Card – Passaporte para o amor”, Depardieu reagiu com furor, a exemplo de outros bilionários franceses, ao anúncio do governo de seu país no sentido de elevar a alíquota de impostos para pessoas que ostentem rendimentos mensais superiores a 1 milhão de euros, ou seja, quase 3 milhões de reais. Adquiriu propriedade na cidade belga de Néchin, refúgio tradicional de franceses ricos que querem fugir da tributação. Confessou, ao depois, inabalável disposição em abdicar da cidadania francesa. Tudo por causa da ameaça de mordida do “leão”. Cientificado de que essa condição só é permitida ao cidadão que possua título de naturalização em outro país, recorreu a Vladimir Putin. O dirigente moscovita, mais do que depressa, em ato de vulgar oportunismo, assinou decreto concedendo a naturalização pleiteada.
Depardieu, além de ator, por sinal excelente, conhecido pela interpretação da figura cômica Obelix e, mais recentemente, do místico russo Rasputin, é empresário bem-sucedido, dono de vinhedos e restaurantes.
Seu gesto, como não poderia deixar de ser, pegou mal à beça. Deixou nódoa de pusilanimidade em seu currículo. O ator optou por alinhar-se com a legião de pessoas muito endinheiradas que, no mundo inteiro, nos Estados Unidos de modo especial - como se viu agora nas eleições –, consideram um despropósito e até mesmo intolerável invasão de privacidade a taxação de tributos contra ganhos elevados, ora, veja, pois...

Bem diferente a postura da Brigitte Bardot, musa de gerações aos tempos de atriz, hoje respeitada líder conservacionista. Ao ameaçar seguir o exemplo de seu compatriota e colega de profissão e requerer também a cidadania russa age de forma imprudente, denotando ausência de bom senso. Mas a justificação apresentada encerra um certo toque de grandeza: Brigitte está a se insurgir contra a crueldade sistemática a que são submetidos os chamados animais irracionais. Mas como essa prática perversa é universal, o que restaria mesmo para ela fazer seria requerer cidadania marciana.

˜ Eu já andava intrigado pacas com o “chá de sumiço” tomado por aquela garotinha do São Benedito, moradora na rua que divide os municípios de Belo Horizonte e Santa Luzia. Volta e meia, alguém ligado à dita cuja, Marildinha o seu nome, trazia-me episódio referente à curiosidade, traduzida muitas vezes em perguntas consideradas desconcertantes, conforme o ambiente até mesmo irreverentes, expressa pela menor diante de situações que não consegue entender e que as pessoas encontram, geralmente, dificuldades em explicar.
O fato é que, dia desses, pelo que fiquei sabendo, numa reunião a que esteve presente um membro da comissão organizadora da Copa, Marildinha deixou cair, de repente, a seguinte pergunta: - Escuta aqui, a venda de bebida alcoólica é proibida nos Estádios durante a realização de jogos de futebol?
Diante da resposta afirmativa, ela retornou a carga: - “E por que essa proibição vai deixar de existir na Copa? Os “hoolligans” das torcidas estrangeiras bebem menos e são mais comportados do que os nossos?”
Fogo essa Marildinha.

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

A SAGA LANDELL MOURA

Privatização que não deu certo

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