Punição exemplar para os arruaceiros
Cesar Vanucci *
“Reforma, sim; bagunça, não!
(La reforme, oui; la chienlit, non!” – frase atribuída a de Gaulle,
proferida em 19 de maio de 1968, segundo anotação de Paulo Rónai,
em seu “Dicionário de Citações”.)
E os arruaceiros, essa insignificante minoria incendiaria, responsável por atos abominados por todos. Pelas imagens mostradas na televisão, informações coligidas nas redes sociais, ou flagrantes colhidos nas operações policiais será que já não dá para expô-los aos olhares da reprovação popular e enquadrá-los nos devidos conformes legais?
Esses repulsivos grupos de vândalos tiveram “motivações” variadas. Infiltraram-se nas passeatas com objetivos nebulosos, desvirtuando por completo o sentido pacífico e ordeiro das democráticas manifestações. Promoveram depredações, saquearam, agrediram, implantaram confusão, deixando rastro considerável de prejuízos ao patrimônio público e ao patrimônio privado. Deu para perceber que esse contingente numericamente inexpressivo era constituído, em parte, por bandidos com prontuário robusto. Pessoal que divisou nos deslocamentos populares a ensancha oportunosa (vá lá) de surrupiarem bens alheios. Agrupou, também, contumazes desordeiros sem causa com propensão para perturbar, por qualquer meio, o sossego comunitário. Esse contingente desagregador e pernicioso foi ainda integrado por indivíduos amargos, ressentidos, de mal permanente com a vida. Caso de um que outro estudante universitário desequilibrado, ou profissional liberal desajustado, surpreendidos, como andou acontecendo, com a “boca na botija”, a apedrejarem prédio público, a transportarem bens de consumo “expropriados” das lojas invadidas.
Mas não se pode ignorar a presença nessa horda de malfeitores, de outros elementos, maquiavélicos, de alta periculosidade, obstinados em promover desordem com o fito de exacerbar a níveis insuportáveis os ânimos. Fomentaram a confusão seguindo um método, uma estratégia, um nefando propósito. Não nos causará espanto se das averiguações procedidas pelos organismos de segurança, serviços de inteligência policial, resultar a constatação de que alguns bagunceiros agiram em função de palavras de ordem emitidas por núcleos radicais avessos aos postulados da vida democrática. Esses núcleos realmente existem, encontram dificuldades imensas em propagar seus conceitos deletérios no seio da opinião pública, mas não perdem ocasião de contaminarem com ações e idéias retrogradas o ambiente social, fieis ao “princípio” que norteia sua concepção fundamentalista da vida: “quanto pior, melhor”.
A sociedade brasileira quer a punição severa dessa corja. Sua identificação e indiciamento criminal representam saudável reação comunitária contra os desmandos.
Às autoridades compete, também, promover uma investigação em profundidade das obstruções ocorridas nas rodovias, alegadamente patrocinadas por caminhoneiros. As suspeitas de locaute carecem ser esclarecidas. Os responsáveis pelas malfeitorias precisam responder legalmente por seus gestos.
De outra parte, os poderes constituídos estão na obrigação de rever os contratos com os permissionários que exploram o sistema de pedágio nas rodovias, à vista da estarrecedora revelação de que eles, quase todos, se mostram inadimplentes nos compromissos contratuais assumidos com a União e os Estados.
Mais que paranóia, terrorismo
“O governo brasileiro recebeu com grave preocupação a notícia de que as comunicações eletrônicas e ligações telefônicas de cidadãos brasileiros estariam sendo objeto de espionagem por parte de órgãos da inteligência norte-americana.”
(Antônio Patriota, Ministro das Relações Exteriores do Brasil)
Os Estados Unidos veem se esfacelarem, sob olhares gerais de aturdimento e indignação, os vestígios dos comprometimentos éticos e morais assumidos com o exercício da liderança ostentada pelo país no cenário mundial. A descoberta da tentacular operação de espionagem eletrônica montada com a prestimosa ajuda de empresas transnacionais das áreas de telecomunicações, infraestrutura de rede, software e segurança deixa o império inteiramente desnudo.
Existissem, como acontece (suspeitosamente, diga-se de passagem) no campo da economia, agências de risco para avaliação periódica do comportamento político dos países, a nota de classificação correta a ser atribuída neste preciso momento ao Tio Sam não poderia ser outra senão um sonoro zero. Com as estarrecedoras revelações vindas à tona, graças à coragem do jovem Edward Snowden, ex-colaborador da CIA, o autor do grave delito foi inapelavelmente flagrado em ação. Foi pego com a boca na botija, como era de costume dizer-se em tempos de antigamente. A expressão paranóia é insuficiente para explicar o que aconteceu. Terrorismo se apresta melhor como definição para esse ato de banditismo internacional. Um ato que desacredita a Casa Branca em sua cantilena retórica de bom mocismo. Subestima e procura humilhar as demais nações, sobretudo aliadas, e violenta estridentemente princípios basilares consagrados na convivência humana.
Fica claro que a complexidade das relações internacionais leva os países, de uma maneira geral, a desenvolverem atividades que os obriguem a colocar sob proteção atividades relacionadas com a sua segurança. Mas chegar-se, a partir daí, à idéia de espalhar esquemas de arapongagem eletrônica por tudo quanto é canto, vasculhando a intimidade doméstica de pacatos cidadãos dentro e fora do país, levantando clandestinamente informações sobre o que pensam e fazem parceiros e aliados, significa um indesculpável extravasamento de limites éticos. A indignação mundial aumenta diante das evidências de que esse monitoramento na linha assustadora dos métodos do “Grande Irmão” foi também utilizado, certeiramente, para a obtenção de vantagens desleais em negociações comerciais.
“Grampear amigos é inaceitável”, registrou Ângela Merkel, da Alemanha. “Não aceitamos esse comportamento”, repicou François Hollande, traduzindo o mal-estar francês. Essas manifestações de desagrado e inconformismo, somadas a tantas outras, abrirá fatalmente uma brecha de desconfiança duradoura no relacionamento dos Estados Unidos com tradicionais aliados. Alguns deles poderão até, como aconteceu no vergonhoso episódio da interceptação do avião presidencial boliviano – um espetáculo constrangedor de hipocrisia e covardia, por sinal repudiado com veemência pelo bloco das nações latino-americanas –, se sujeitarem bovinamente à vontade e conveniências da desacreditada liderança estadunidense. Mas, no íntimo, se conservarão ressentidos e magoados com o “amigo” infiel, que trata com menoscabo o relacionamento entre eles. Feridas assim permanecem abertas por muito tempo. Demoram a cicatrizar.
A posição do governo de nosso país, face aos atordoantes acontecimentos, tendo em vista a constatação de que Brasília abrigou, consoante denúncia de “O Globo”, base de espionagem por satélite operada por equipes das agências NSA e CIA voltadas para levantamento de dados por e-mails e telefonemas de cidadãos, empresas e repartições brasileiros, está sendo rigorosamente correta. Além do imprescindível pedido de esclarecimentos ao governo estadunidense, estabelece medidas importantes em três outras frentes. São elas: a abertura de investigação concernente à provável participação no esquema de “bisbilhotagem eletrônica” das empresas de telecomunicações sediadas no Brasil; o estudo urgente de novas regras legislativas capazes de garantir sigilo de dados na internet: e a atuação diplomática na esfera internacional mode que assegurar a segurança nas atividades cibernéticas.
Repita-se. Essa história está mais pra terrorismo do que pra paranóia desvairada.
Um comentário:
...muito lucido e oportuno.
nilda maria
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