Meu caro Francisco
Cesar Vanucci *
“Que cada um sinta a necessidade de dar
à humanidade
os valores éticos de que a humanidade
necessita.”
(Papa Francisco)
Devo confessar, de cara, que o tom coloquial destas
maltraçadas, em substituição à etiqueta emplumada tradicional, inspira-se da
recomendação reiterada que você passou, na Jornada Mundial da Juventude, para
homens e mulheres empenhados na construção de um mundo melhor, para que
valorizem sempre em suas ações o contato humano fraterno.
Senti firmeza, baita firmeza, em sua fala. Dei-me
conta, de repente, apoderado de santa alegria, de uma situação extremamente
valiosa. O surgimento em cena de uma liderança com legitimidade universal,
providencialmente escalada por desígnios superiores nas esferas transcendentes,
para fazer ecoar nos céus do mundo neste instante uma mensagem renovada de fé e
esperança nos destinos do ser humano.
Você disse, na Jornada, com todas as letras, pontos e
vírgulas, coisas que no recôndito da alma todas as pessoas reconhecem verdadeiras,
mas que acabam, por um montão de razões indesculpáveis e jogo de conveniências
mundanas, relegadas a plano secundário nas propostas de edificação humana.
Tanto quanto suas palavras, seus gestos de afeição
fraternal, profusamente registrados pelas câmaras ao longo dos percursos
percorridos no papamovel em ruas cariocas, revelaram-se extremamente
inspiradores. Tomo um deles como símbolo especial dessa aproximação com o outro
apontado por você como essencial à convivência saudável. Alguém não identificado,
no meio da incalculável multidão, passou-lhe às mãos uma cuia de chimarrão.
Você sorriu, levou confiantemente a bomba da cuia aos lábios, sorveu uma porção
do líquido e devolveu, com o veículo em movimento, o recipiente ao desconhecido
ofertante. Foi de arrepiar. Naquele preciso momento, deu pra perceber tudo
aquilo que você, pouco tempo depois, em comovente depoimento, transmitiu: “...
antes de viajar, fui ver o papamovel que seria trazido para cá. Era cercado de
vidros. Se você vai estar com alguém a quem ama, amigos, e quer se comunicar,
você não vai fazer essa visita dentro de uma caixa de vidro. Não. (...)E no
automóvel, quando ando pela rua, baixo o vidro, para poder estender a mão,
cumprimentar as pessoas. Quer dizer, ou tudo ou nada. Ou a gente faz a viagem
como deve ser feita, com comunicação humana, ou não se faz. Comunicação pela
metade não faz bem.”
Palavras de invulgar sabedoria. Sua comunicação
singela, direta, franca, atinge o âmago das questões. Oferece respostas
magistrais às inquietações humanas. Você nos trouxe, Chico, com irradiante
simpatia e carisma arrebatante, a chance de podermos repensar, dentro de
conceitos (segundo suas próprias palavras) revolucionários – no sentido de
transformações sociais positivas, consentâneas com a dignidade humana –, os
aspectos amargos das estruturas de vida complexas da civilização atual.
Estruturas abaladas pela corrupção de diferentes
feitios e espalhada por tudo quanto é canto, que gera tanto inconformismo e
clamores por representar traço de ligação com a injustiça social que campeia
por aí agora. Engrenagens impregnadas, como você diz, da idolatria do dinheiro,
do protagonismo do dinheiro, que estabelece “uma política mundial economicista,
sem qualquer controle ético, um economicismo autossuficiente que vai arrumando
os grupos sociais de acordo com sua conveniência.” Estruturas, como ainda diz
você, que criaram o “drama desse humanismo desumano que estamos vivendo”, que
descarta jovens e idosos, que leva à banalização da violência e à “globalização
da indiferença” e que nos lança no rosto, como uma bofetada, a catástrofe de
doentes que não têm acesso a tratamento, de homens e mulheres que se tornam
mendigos e que sucumbem aos rigores climáticos, de crianças que não têm
condição de se educarem. Estruturas, enfim, que fazem questão de ignorar tudo
isso como fato relevante, mas que tratam, aí sim, como “grande catástrofe” a
oscilação de 3 ou 4 pontos nas bolsas de algumas capitais do mundo financeiro.
Papa Francisco, mesmo que os donos do mundo venham
botar pra fora alguma insatisfação com o que você diz, fique certo de que seu
recado está sendo absorvido. Mentes e corações esperançosos, a cada hora em
maior número, se fixam obsedantemente na idéia construtiva de se “estimular uma
cultura ecumênica do encontro (...) no mundo todo.” De tal modo “que cada um
sinta a necessidade de dar à humanidade os valores éticos de que a humanidade
necessita.”
O craque Djalma
“Conselho de Djalma aos jovens: disciplina,
disciplina.”
(João Eurípedes Sabino, presidente do
Fórum permanente dos Articulistas de Uberaba)
Em 2012 passei uma tarde inteira papeando com Djalma
Santos, na residência do craque, em Uberaba. Fui levado até ele por um amigo comum, o
jornalista Luiz Gonzaga de Oliveira. Toquei as peças da inesgotável coleção de
troféus espalhada pelos vários cômodos da casa, ouvindo do próprio atleta
relatos interessantíssimos acerca da origem de várias delas. Nada na residência
acolhedora denotava vestígios de ostentação típicos das vivendas dos astros do
futebol moderno, nem todos com folha de serviços prestados ao nível de Djalma.
No curso da conversa, o olhar umedecido pela emoção,
Santos falou do trabalho executado na várzea durante longo espaço de tempo, com
sua escolinha de futebol, pela qual passaram mais de dois mil garotos. Lamentou
muito que a iniciativa, responsável pela inclusão social de grande contingente
de menores, houvesse sido interrompida por falta de apoio governamental.
A irradiante simpatia do maior lateral da história do
futebol, como aconteceu com tantos amigos e conhecidos que com ele conviveram
em seus 30 anos de presença marcante na vida de Uberaba, conquistou-me para
sempre. A brandura da fala, a simplicidade gestual, a sabedoria adquirida nos
embates da vida encantaram-me. Ajudaram-me a entender o porquê de um atleta com
currículo tão reluzente haver se tornado uma referencia mundial, não apenas por
conta da arte exibida nas competições, mas também por ostentar a condição
inédita e invejável de nunca haver sido expulso de um jogo, em qualquer fase da
carreira.
Djalma contou-me que boa parte das promessas feitas
aos campeões mundiais por governantes e dirigentes políticos jamais foram
cumpridas. Citou, como exemplo, o caso da aposentadoria aos tricampeões,
anotando que Lula, num contato recente, havia manifestado a disposição de
resolver o assunto, mas nada, até aquele momento, havia acontecido de positivo.
Li nos jornais, pouco depois da prosa daquela tarde
inesquecível, que as aposentadorias prometidas há tantos anos haviam sido finalmente
concedidas.
A imagem de Djalma vai ficar gravada pra sempre nos
gramados da memória.
- Um provável “descuido” dos programadores de filmes dos canais de televisão, que rotineiramente projetam fitas abaixo da critica (sem contar as repetições enganosamente rotuladas de “lançamentos inéditos”), surpreendeu o telespectador refestelado na poltrona diante da telinha, domingo desses, com uma sequência interessantíssima de atrações cinematográficas.
- Um provável “descuido” dos programadores de filmes dos canais de televisão, que rotineiramente projetam fitas abaixo da critica (sem contar as repetições enganosamente rotuladas de “lançamentos inéditos”), surpreendeu o telespectador refestelado na poltrona diante da telinha, domingo desses, com uma sequência interessantíssima de atrações cinematográficas.
“Nunca aos domingos”,
dirigido por Jules Dassin, uma comedia saborosa com tons dramáticos, que traz
no papel central a excelente atriz grega Melina Mercouri, que chegou ocupar a
função de Ministra da Cultura em seu país, abriu a série. “Deus da carnificina”
veio a seguir. Trata-se de uma comédia de costumes que apresenta interpretações
excepcionais de Jodie Foster, Michael Longstreet, Kate Winslet e Christoph
Waltz. As tomadas de cena ficam concentradas no interior de um apartamento, mas
o enredo, composto de magistrais diálogos, é de tal forma absorvente que a
gente nem percebe. Robert de Niro, como personagem principal fez da outra
película exibida, “Entrando numa fria”, um espetáculo divertidíssimo. No papel
de um agente aposentado da CIA, não consegue desvencilhar-se do vezo de
espionar a vida dos outros, fixando-se obsessivamente na figura do futuro
genro. As situações hilárias da história rendem boas gargalhadas.
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