“Sob mil olhares”, um cântico à vida
Cesar Vanucci *
“A razão como roteiro, com o vento da paixão.”
(Pope)
Ao assumir recentemente a Cadeira nº 33 da respeitável Academia de Letras do Triângulo Mineiro, a escritora, professora e promotora cultural Arahilda Gomes Alves lançou um novo livro de crônicas intitulado “Sob mil olhares”, apontando-o como “retratos de uma estrada percorrida, necessidade de partilha, no aprendizado mútuo.” Honrado com o convite para prefaciar a obra, anotei com as ‘palavras abaixo reproduzidas as minhas impressões.
Conheço Arahilda de muitos carnavais já efusivamente comemorados. Nossa identificação, no desfrute partilhado de crenças humanísticas arraigadas, não conhece as limitações de tempo, espaço e distância. Um caso típico de amizade instituída desde sempre, com força de permanência.
Percorrendo as alamedas da memória, revejo Arahilda em instantes marcantes de sua trajetória. A garotinha espoleta, que exercitava a voz no programa infantil da E-5. A adolescente graciosa atulhada de sonhos. A mulher feita, cabeça boa, sensibilidade social aflorada, têmpera forte, vida tocada dentro do conceito poético de Pope: a razão como roteiro, com o vento da paixão.
As pessoas que com ela convivem, na rotina familiar, na esfera profissional, na atividade comunitária estão em condições de atestar, com base em copiosos exemplos práticos, o jeito saudavelmente apaixonado com que ela se lança nas causas abraçadas, notadamente as que consultam os sagrados interesses sociais e culturais.
Do aconchego amorável de seu lar, tempos da meninice, lá na João Pinheiro, rua pacata de uma Uberaba sem a efervescência dos dias atuais, sobrevivem belas lembranças. O pai Alaor e dona Adelaide, a mãe, a prodigalizarem atenções e carinho à prole de cinco filhos, passando-lhes a lição de que a aventura humana bem que vale a pena. Todos eles, Alaíde, Airton, Adelmo, Arahilda, Alaorzinho, de saudosa memória, assimilaram bem o ensinamento. Projetaram-no em suas vidas. (Peço permissão para abrir aqui parênteses mode render minha homenagem de saudade ao Alaor José, companheiro de lida jornalística que “partiu primeiro” no ano passado. Leal e talentoso, tocou a vocação com idealismo e desassombro. Arrostou, como outros de nosso grupo, as incompreensões de setores refratários às idéias de mudanças. Mas deixou as digitais impressas nos lugares por onde passou, na terra natal e longe dela, dando contribuição como cidadão para a construção de um mundo melhor. Fecho parênteses).
Na terna convivência familiar, recebendo estímulos para o exercício das coisas do espírito, Arahilda despertou cedo para a vida cultural e artística. A música, a literatura, as promoções culturais ocuparam lugar especial em seu roteiro pessoal. Sem se afastar dos afazeres domésticos, dona de casa e mãe de família dedicada, encontrou tempo para marcar posição na sociedade como educadora e propagadora da boa arte. Seus livros são um desdobramento natural, como mostra esse cântico de vida intitulado “Sob mil olhares”, da alma da autora. Uma criatura que conserva olhos bem abertos para as cenas objetivas do mundo exterior, mas que não perde o lirismo romântico de que se acha impregnada por inteiro. Decorre daí a graciosidade nos conceitos e palavras que perpassam as crônicas alinhadas. Delicados e meigos textos, com fulgores de forma e exuberância de sentimentos. Suas essas percepções da vida: “A vida, estabelece duetos em melodias sonoramente ecoantes transformados em coro de vozes na apologia de um mundo melhor.” “Meditei sobre o ipê, que em poucos meses perdera sua glória. Percebi que os homens são como aquele ipê amarelo da minha rua. Hoje, estufam o peito, orgulhosos, mas se esquecem de que a vaidade se desvanece ante a efemeridade das coisas!”
São narrativas reveladoras também, a partir de observações verazes, do conhecimento que tem dos costumes sociais, da psicologia popular. São páginas, no frigir dos ovos, entusiásticas e festivas, com toques genuínos daquilo que de melhor uma figura humana tão rica quanto a Arahilda mostra-se apta a oferecer aos que põem gosto em boa prosa, calcada em vivências de forte conteúdo humano.
Alegria do povo
“Muito do instinto, da alma e do espírito do povo se põe como em
retrato psicossocial nos flagrantes dos espetáculos futebolísticos.”
(João Lyra Filho, sociólogo)
“Futebol, alegria do povo” será o tema da “Semana Mundial do Serviço Leonistico”, tradicional celebração da Governadoria e Clubes do Distrito LC-4 e da Academia Mineira de Leonismo, este ano em sua 18ªedição.
A promoção, prevista para o mês de outubro vindouro, conta com o apoio da Rede Itatiaia de Rádio, Sistema Fiemg, Assembléia Legislativa de Minas Gerais e Tribunal de Contas de Minas.
No último dia 22 de agosto, no Círculo Militar de Belo Horizonte, a coordenação do grande evento anunciou em ato cultural bastante concorrido a programação a ser cumprida entre os dias 8 e 15 de outubro. O governador do Lions, José Leroy Silva, presidiu a assembléia, recepcionando, entre outros ilustres convidados, o vice-presidente da Assembléia Legislativa, deputado Adelmo Carneiro Leão, o conselheiro do Tribunal de Contas, dr. Viana, o ex-diretor internacional do Lions, Sebastião Braga, além do diretor presidente da Rede Itatiaia de Rádio, jornalista Emanuel Carneiro, que brindou o público com uma exposição rica em informações a respeito dos impactos sociais e econômicos da Copa Mundial de Futebol de 2014. O “Cafeinne Trio” abrilhantou o evento com requintadas interpretações da música popular brasileira, francesa e estadunidense. O Lions homenageará na “Semana” figuras exponenciais do futebol cuja trajetória de vida esteja ligada às Copas Mundiais.
Ao desincumbir-me da tarefa de apresentar aos presentes, no referido ato, as linhas gerais da programação a ser cumprida na “Semana”, fiz as considerações que entrego neste momento à apreciação dos leitores.
O futebol, a mais ecumênica das práticas esportivas, tem raízes fincadas na alma humana. Está presente em todas as culturas, independentemente das diferenciações étnicas, linguísticas, religiosas e comportamentais.
Puxo da memória para trazer dos confins do mundo sugestiva ilustração. Estava em visita ao Tibet. Nas altitudes himalaianas de respiração ofegante, tive em Lhasa a atenção despertada para as “peladas” de rua, entusiasticamente disputadas até por monges com seus hábitos encarnados e sandálias de couro cru.
Deflui daquelas cenas, típicas de ambientes fissurados em futebol, a razão de algo que muito me havia intrigado na televisão local: a sequência interminável de imagens de disputas futebolísticas de tudo quanto é lugar. Percebi que o prepotente invasor chinês prevalecia-se, massiva e astuciosamente, do interesse popular tibetano pelo futebol para deslocar os olhares da população subjugada daqueles acontecimentos relevantes no mundo exterior que fossem capazes de agravar o óbvio estado de tensão política vigente no belo país do topo do mundo.
Uma tarde, no Potala, a mais imponente e sagrada das edificações de Lhasa, ao deixar os aposentos pessoais que serviram no passado ao Dalai Lama desterrado, fui instado a colocar minha assinatura com outros dados num livro sob a guarda de um impassível monge, com estatura e compleição física de atleta de voleibol. Ao identificar minha condição de brasileiro, o monge entreabriu os lábios, esboçou sorriso meio cúmplice, largando no ar, de forma bem pausada, emblemática expressão: Ro-má-riô! A cena rendeu risada.
Paixão universal, o futebol ganhou aqui, por estas nossas bandas, condimentos muito especiais, nascidos das características singulares da conduta humana e comportamento social de nossa gente. Essa modalidade esportiva tomou entre nós formato de incomparável coreografia. Haverá, por acaso, alguém que se atreva a negar que aquela lindeza de gol do Everton Ribeiro, do Cruzeiro, no jogo de quarta-feira (21 de agosto) com o Flamengo, no Mineirão, não mereça ser visto como um lance arrebatante de dança no estilo que consagrou artistas do naipe de Fred Astaire e Gene Kelly?
Essas e outras coisas pedem de sociólogos e antropólogos substanciosas interpretações. Esclarecimentos que nos capacitem a entender melhor os motivos pelos quais desfrutamos hoje a invejável condição de sermos universalmente reconhecidos como o País do futebol, como a Pátria das chuteiras, celeiro inesgotável de craques para os gramados do mundo.
Futebol no Brasil, que nem carnaval e samba, há que ser visto, pois, como poderoso instrumento de celebração permanente da vida. É o povo em plena efervescência criadora.
Entregues ao conhecimento de todos estas observações, colocamo-nos agora na expectativa de que o movimento leonistico de Minas dê de si o melhor no sentido de fazer da celebração da “Semana”, neste ano da graça de 2013, um acontecimento reluzente. Uma festa cívico-cultural que venha exprimir satisfatoriamente uma das facetas culturais mais representativas da inteligência, talento e jeito de ser, único e inigualável, da brava gente brasileira.
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