CONVITE
XX ENCONTRO CULTURAL DA ACADEMIA
Maiúscula
projeção
Cesar
Vanucci *
“Teremos
aviões à altura da necessidade de defesa do país.”
(Ministro da Defesa Celso Amorim)
Com
postura altiva, reveladora de elevado grau de maturidade politica – como tão
bem se ajusta às aspirações gerais de uma nação orgulhosa de sua soberania e
vocação de grandeza -, o Brasil fechou o ano com duas decisões de maiúscula
projeção no contexto internacional.
Uma
delas foi o documento elaborado em parceria com a Alemanha levado à apreciação
da assembleia das Nações Unidas, contendo proposta de criação de um marco
regulatório no emprego dos recursos cibernéticos nas comunicações mundiais. A
aprovação da proposta pela grande maioria das delegações com assento na organização,
rodeada de simpatia e louvores, foi reconhecida pela comunidade das nações como
uma contribuição inestimável à causa dos direitos humanos.
Do
Brasil partiu, assim que desmascarada a conspiração com ramificações mundiais
montada por órgãos de segurança estadunidenses, a manifestação de protesto mais
veemente contra essa arapongagem eletrônica clandestina. A ignóbil prática
alveja indistintamente governantes, cidadãos comuns, empresas e setores estratégicos
de países tidos na conta de inimigos, como também de países apontados como,
“aliados” da Casa Branca. A destemida manifestação brasileira encontrou
naturalmente eco universal. Estimulou outros dirigentes de nações a tornarem pública
sua indignação e inconformismo. Estribados nas estarrecedoras revelações de um
ex-prestador de serviços das agências americanas de segurança, revelações essas
que não conseguiram ser desfeitas convincentemente nas pueris notas de
“esclarecimentos” do governo norte-americano, os governantes brasileiros
criaram ambiência ideal para que o mundo se inteirasse de que o alegado combate
ao terrorismo internacional vem servindo também de biombo para esconder ações
de espionagem com fitos políticos e econômicos. Este sistema de espionagem coloca
sob ameaça permanente direitos individuais e interesses grupais respeitáveis,
localizados em territórios, como já dito, considerados “amigos” pelo Tio Sam.
Espera-se,
nos desdobramentos do espantoso episódio, que as normas de regulamentação
sugeridas sejam de molde a conter os destemperados ímpetos sherloqueanos da
grande potência do norte. E, também, é de se esperar que os demais países,
alertados para os riscos que correm, mostrem-se capazes de estabelecer à sua volta
uma blindagem protetora face a essas arremetidas de configuração criminosa. A
opinião pública universal parece, a esta altura, em estado de alerta com
relação à palpitante questão. Indícios loquazes desse despertar de consciência
têm surgido em diferentes lugares. Caso, por exemplo, dos vários editoriais
vindos a lume recentemente nas páginas de publicações prestigiosas do Reino
Unido e dos Estados Unidos, onde se proclama, com todas as letras, pontos e vírgulas,
que o autor das denuncias contra as agências de segurança americanas, merece
ser tratado como alguém que prestou relevante serviço à causa humana e não como
um desterrado politico, ou um traidor da pátria.
O
segundo grande lance de pujante afirmação politica do Brasil no plano
internacional decorre da decisão tomada pela chefe do governo, assessorada pelo
Ministério da Defesa, de adquirir na Suécia os caças a serem utilizados na
defesa de nosso espaço aéreo. A opção, fruto de um trabalho técnico
irretocável, no dizer do brigadeiro Juniti Saito, comandante da FAB, contrariou
todas as especulações que vinham sendo feitas a propósito das compras. A
impressão geral era de que a escolha incidiria sobre um dos demais modelos
concorrentes, em virtude de seu suposto maior poder de fogo nas negociações, já
que contavam com respaldo dos governos de seus países, os Estados Unidos e a
França. A escolha, atendendo exclusivamente a conveniências politicas,
econômicas e técnicas, colocou à prova nossa elogiável condição de independência
nas grandes decisões estratégicas governamentais.
Concedeu-nos
ainda excepcionais vantagens para absorção de tecnologias de ponta, essenciais
no percurso de desenvolvimento de uma potência emergente.
Compensação
pecuniária justa
“Precisariam
ser pagos cerca de R$ 8 bilhões,
o
que não representa um risco para o sistema financeiro.”
(Flávio Siqueira Junior, do Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumidor – IDEC)
Aguarda
vez na pauta das discussões do Supremo uma questão importantíssima, de forte
impacto social e econômico. Diz respeito ao ressarcimento devido aos cidadãos e
organizações lesados nos planos ditos econômicos que, no passado, alteraram as
regras dos cálculos incidentes sobre os depósitos das Cadernetas de Poupança.
Para os poupadores – cuidemos de reforçar a memória – sobrou o pesado fardo de
arcar com os prejuízos decorrentes das famigeradas medidas emergenciais
adotadas nos chamados planos Bresser, Verão, Collor I e Collor II. Um séquito
de decisões desastradas que outra coisa não configurou senão um confisco de
poupanças, escancaradamente à luz do dia, com reflexos dramáticos na vida do
cidadão comum.
Temos
acompanhado com atenção o que está sendo dito a respeito do palpitante assunto
em artigos, entrevistas e depoimentos de muitos especialistas em matéria
financeira e comunicadores sociais. Dá pra perceber, com certo desconforto, que
essas manifestações denotam, de modo geral, maior preocupação com as
repercussões na economia interna do sistema financeiro diante de eventual
decisão favorável à causa dos poupadores, do que com as consequências dessa
decisão na vida das multidões prejudicadas com os abusivos atos
irresponsavelmente praticados pela administração pública no passado. Quer
dizer, tem gente influente tomando partido ostensivo na contenda que o Supremo
prepara-se para julgar. Trata-se – está na cara – de uma queda de braço que
posiciona de um lado a dona de casa, o chefe de família espoliados em seus
direitos e, de outro lado, a banca miliardaria do sistema financeiro. Um
complexo empresarial carregado tradicionalmente de regalias, que acumula, cada
dia, cada semana, cada quinzena, cada mês, cada trimestre, cada exercício,
lucros estratosféricos. Os maiores, por sinal, registrados nas atividades bancárias
de toda Via Láctea. A “isenta” torcida de boa parte dos comentaristas a se
ocuparem do assunto é para que o pêndulo da balança no STF se incline- ora,
veja, pois! – para o lado mais poderoso. E bota poderoso nisso!
Os
Ministros da Suprema Corte, por uma mera questão de justiça e de singelo bom
senso, não vão ter como se furtar ao dever de reconhecer a
inconstitucionalidade dos critérios da correção da poupança adotados naqueles
momentos de nada saudosa recordação para os investidores em cadernetas de
poupança. E definir, com base nesse reconhecimento, alguma fórmula razoável de
compensação pecuniária.
E
se alguém, desavisadamente, sentir-se propenso a admitir como correta a tese de
que uma decisão favorável aos poupadores precisa ser a todo custo evitada, de
modo a não “prejudicar” as atividades econômicas, “tumultuar” a rotina
lucrativa ascendente das organizações bancárias, cuide, por favor, o prezado
leitor de aconselhá-lo a inteirar-se de uma fala pontifícia recente. Aquela
fala em que Francisco fustiga as situações circunstanciais deste momento
delicado da história humana em que setores hegemônicos na vida econômica e
politica conferem à economia uma primazia indevida, apresentando-a de forma
icônica como um fim em si mesma, não como meio para se atingir um fim. Fim que deve
ser sempre social. Situações assim concorrem para que ocorram opções
equivocadas, como a que é proposta por “especialistas”, favorecendo bancos em
detrimento da sociedade.
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