Cesar
Vanucci *
“Em
matéria de recursos públicos, o que se desperdiça
constitui
verdadeira afronta aos direitos humanos.”
(Antônio Luiz da Costa, educador)
Uma
das teclas mais marteladas na rebelião das ruas em junho passado foi o gasto
exagerado com a construção e adaptação de estádios para a Copa. E não é que os
manifestantes estavam entupidos de razão? Dados e números de fontes
qualificadas, recentemente trazidos ao conhecimento público, provam a
procedência do clamor popular. Levantamento da consultora suíça HPMG sustenta
que os gastos brasileiros com a preparação dos estádios superam os das últimas
edições da Copa. A de 2006, na Alemanha, e a de 2010, na África do Sul.
A
avaliação toma por base, nos cálculos procedidos, a quantidade de assentos
disponíveis nas arenas esportivas. Estabelece, consoante com tal metodologia, um
ranking em matéria de custos que mostra nosso país, numa lista de 20, com a
metade dos estádios mais caros do mundo.
O
“Mané Garrincha”, de Brasília, figura no terceiro lugar da relação, atrás de
dois estádios ingleses, o Wembley e o “Emirates Stadium”, pertencente ao
Arsenal. Sua construção, de acordo com o critério apontado, chegou aos R$20.770
por assento, enquanto que os valores despendidos nos dois outros estádios citados
foram respectivamente de R$32.480 e R$23.370.
Na
sétima colocação, o Maracanã custou R$15.640. A Arena da Amazônia, décima
posição, custou R$13.780. O Itaquerão, em São Paulo, vai ficar em 12º lugar: R$12.820
por assento. Em 13º, a Arena Pantanal (R$11.860); em 14º, a Arena Pernambuco
(R$11.540); em 15º, a Fonte Nova, Bahia, com R$10.570; em 19º, o Mineirão, com
R$10.250; em 17º, o Castelão (R$8.970); e em 20º, a Arena das Dunas (R$7.690,00).
Um
estudo paralelo concernente ao mesmo tema, este elaborado pelo Instituto
Braudel em colaboração com a ong “Play the Game”, ambas também europeias, revela
que cada assento nos doze estádios brasileiros que sediarão jogos do Mundial
custaria R$13.500. As médias apuradas por assento nas arenas das Copas da
África, Alemanha, Japão/Coreia foram, respectivamente, de R$12.100, R$7.900 e
R$11.600,00.
Esses
levantamentos todos apontam outras cifras para efeitos comparativos. O novo
estádio Wembley, na Inglaterra, ficou em R$ 2 bilhões, 920 mil reais. O estádio
de Brasília tem custo estimado de R$ 1 bilhão, 430 mil reais. Na nova arena da Juventus
(Itália), incluída no ranking em 18º lugar (R$9.290 por assento), foram
aplicados R$ 384 milhões de reais.
Esses
dados e números suscitam algumas considerações e interrogações. Vamos lá a
algumas, das mais chamativas. Por que cargas d’água, essa decisão de se construir
o Itaquerão, em São Paulo? Não seria mais correto, e provavelmente, bem menos
dispendioso optar-se pela modernização de um estádio já pronto? Caso, por
exemplo, do Morumbi? Adiante. Em Manaus e Natal ocorreram fatos totalmente
desprovidos de um mínimo de bom senso. Colocou-se abaixo, na capital amazonense,
um estádio de 40 mil lugares, implantado em 1970 dentro de concepção
arquitetônica bastante elogiada na época, para erguer-se uma outra arena. Algo
similar ocorreu no Rio Grande do Norte. Uma arena nunca utilizada na plenitude
de sua capacidade foi jogada no chão, para ser substituída por um estádio com o
dobro de assentos. Como explicar isso?
O
tema clama por outras observações. Os custos do Maracanã e do Mineirão são –
pra dizer o mínimo – surpreendentes. Afinal de contas, ambas as arenas, de
feição arquitetônica moderna, majestosas, em condições de acolher multidões, já
tidas antes de envergarem suas novas e vistosas roupagens como marcos
referenciais entre os estádios do mundo, passaram por um processo de adaptação
danado de dispendioso, envolvendo cifrões superiores aos de outras arenas
nascidas do nada. Precisava ser mesmo assim? O Comitê Organizador da Copa está
na obrigação de prestar à opinião pública os esclarecimentos necessários acerca
dessas elevadas aplicações nas obras de reforma desses estádios. Aliás, falar
verdade, os esclarecimentos por todos aguardados terão que abranger o conjunto
inteiro das ações levadas avante com o aplaudido objetivo de fazer da Copa de
2014 um evento histórico.
A
circunstância de parte dos recursos investidos derivarem de fontes privadas não
desobriga, de maneira alguma, os órgãos governamentais do dever de oferecerem à
apreciação da sociedade uma prestação de contas de transparência solar. Até
porque não se pode deixar de lado a marcante a participação do BNDES e de outros
Bancos oficiais nos investimentos.
De
outro lado, os dirigentes do Comitê Organizador do torneio necessitam, também, se
conscientizarem de um indeclinável dever. A abertura, com urgência, dos debates
a respeito do que poderá ser feito, tão logo concluídos os jogos, no sentido de
impedir que alguns estádios se transformem em “elefantes brancos”. Ou seja, em afrontosos
monumentos ao desperdício.
Violência
urbana
“Por
conta da estupidez humana, as grandes cidades,
não
importa o país, banalizaram de tal forma a violência
que os moradores acabam se sentindo, às vezes,
em
certos lugares, protagonistas de filmes de terror.”
(Antônio Luiz da Costa, professor)
A
informação registrada a seguir não pode servir, jeito maneira, de consolo pra
ninguém, como dado comparativo pertinente à violência urbana imperante aqui ou
alhures. Vale simplesmente como uma amostra assustadora a mais do clima de
sobressalto que alveja hoje de forma impiedosa o ser humano. Não apenasmente e tão
somente em terras brasileiras, mas em tudo quanto é canto deste convulsionado planeta
azul.
Caso
é que um jovem brasileiro, de Uberlândia, Minas Gerais, desapareceu no mês de novembro
passado, em circunstâncias alarmantes, na cidade de São Francisco, Estados
Unidos. Intelectualmente bem dotado, dominando fluentemente quatro idiomas,
perspectivas de carreira brilhante, ele fazia ali curso de especialização em
desenho industrial. Pessoas da família e amigos, além da própria policia do
lugar, receberam em derradeiros contatos ligações telefônicas dele, dizendo-se
perseguido e clamando por socorro. Muitos dias angustiantes transcorreram sem
qualquer informação que levasse ao seu paradeiro. Só agora, no finalzinho do
ano, o corpo do moço acabou sendo finalmente localizado na baia da cidade. Para
chegar até ai, a família viu-se compelida a acionar gente importante do governo.
Conseguiu desse modo apressar as investigações.
Naturalmente
traumatizados com a dolorosa ocorrência, sem se inteirarem ainda dos detalhes
misteriosos que envolveram a morte do rapaz, puderam constatar, durante
permanência nos Estados Unidos para a identificação e o funeral, que outros
oito jovens latinos, da mesma faixa etária, também foram dados como
desaparecidos na mesma ocasião, naquela ciclópica metrópole americana. Fizeram
outra constatação não menos dolorida: no departamento de medicina legal de São
Francisco, 1.200 corpos jazem em gavetas mortuárias à espera de identificação.
Mais: o órgão responsável pelas perícias médicas dispõe de apenas um único legista
pra cuidar de um problemão com toda essa proporção.
Como
dito no início, as revelações erguidas documentam um capitulo a mais numa
tragédia de caráter universal: a violência urbana, nos grandes centros sempre acompanhada
de assustadores indícios da impotência dos sistemas de segurança pública no
sentido de enfrentá-la.
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