quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

CONVITE XXI ENCONTRO CULTURAL DA "ACADEMIA MINEIRA DE LEONISMO"








Espiritualidade e física quântica. 
 A psicóloga Cristina Cavalieri, do Instituto Rama, encaminhou-nos gentilmente a gravação que fez da palestra de Maria Ângela Vaz de Melo, proferida no XX Encontro Cultural da Academia. Os interessados em ouvir essa vibrante exposição poderão acessar o link a seguir.
http://www.youtube.com/watch?v=SmqE2T5F63U&feature+youtu.be


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Questão social, não policial


Cesar Vanucci *

“Não se viu, a propósito dos rolezinhos, um debate sobre as
 causas estruturais que permitiram a essas mobilizações aflorar.”
(Senador Cristovam Buarque)

Fixei a atenção por momentos nos assim denominados rolezinhos. Precisei de curto tempo para concluir que a questão levantada é social, não policial. Pitadas de preconceito e de despreparo profissional é que andam conferindo ao caso dimensão despropositada. A contribuição da mídia sensacionalista revelou-se significativa para o espalhafato criado a respeito. Ou seja, desses encontros marcados em “shoppings” por jovens da periferia socialmente desguarnecida.
A história reclama diálogo urgente para que sejam desfeitos mal-entendidos. O debate terá que ser calcado num bom começo de conversa. Isso implica no reconhecimento taxativo do direito à livre circulação de qualquer cidadão, independente da categoria social, em todo e qualquer centro comercial. Em tudo quanto é lugar de convergência pública. A vedação pura e simples dessa prerrogativa cidadã, que está atrelada à liberdade constitucional de ir e vir, caracteriza inapelavelmente apartação social. Agressão a um direito fundamental, à democracia. Rescende a “apartheid”, para relembrar, desgostosamente, vocábulo repulsivo empregado para designar práticas segregacionistas ainda aplicadas em certas paragens deste nosso mundo velho de guerra sem porteira.
Assim vistos os acontecimentos, o melhor a fazer é partir imediatamente para a construção do diálogo. Comungo do ponto de vista do Prefeito Fernando Haddad, de São Paulo, quando propõe que “as cidade têm de ser discutidas”, sugerindo sejam abertos espaços públicos para que seus habitantes de todas as faixas etárias e classes possam desfrutá-las. E, quando também pontua que a incompreensão de muita gente face ao assunto tem suscitado reações marcadas por exageros. “Mas nada, que uma boa conversa não resolva”, como sublinha.
O que os rolezinhos vêm fazendo é, na verdade, denunciar uma sociedade desumana, injusta e segregadora, como também constata o filósofo Leonardo Boff, entre outros categorizados observadores da conjuntura social. Cristovam Buarque, senador da República, é outra voz respeitada a partilhar da mesma percepção. Admite: os rolezinhos “desnudam o sistema de apartação implícita, sem leis.” Alerta ainda: “Daqui para a frente, os “shoppings” (...) terão um papel positivo no conforto social, mas a “guerrilha cibernética” (o senador refere-se aí às redes sociais utilizadas para a programação dos encontros dos jovens) é uma realidade com a qual vamos conviver. Ou assume-se a segregação explicita, ou promove-se a miscigenação social.”
Não era pra ser, mas virou problema, por ausência de bom senso no trato da questão. Moças e rapazes das camadas menos aquinhoadas financeiramente, a exemplo de rapazes e moças das camadas afortunadas, possuem todo o direito do mundo em programar pelas redes sociais encontros em lugares de afluência pública, os shoppings incluídos. Despiciendo registrar que ninguém, nenhum poder articulado, pode estabelecer restrições a esses contatos via internet, nem tampouco impedir sejam os encontros realizados em consequência de posturas preconceituosas de classe. De outra parte, habitualmente inábil na lida social, como fartamente demonstrado, a polícia não pode adotar na vigilância contra eventuais excessos praticados em locais públicos, o estilo “leão de chácara” de boate. Não se ajusta ao seu papel institucional exigir de quem frequente centros comerciais carteirinha indicativa de capacidade pecuniária como consumidor.
Deixe-se claro, ainda, por outro lado, aos jovens que seus encontros em lugares públicos não podem se aprestar a palco de arruaças e confusões. E sejam as autoridades competentes lembradas que lhes cumpre a obrigação de distinguir, com precisão e equilíbrio, a diferença de comportamento entre quem compareça a tais locais para papear com amigos, usufruir momentos de lazer, adquirir mercadorias e os que – certeiramente, uma minoria insignificante – estejam ali a fim de infringir regras de convivência social. Confundir, por puro preconceito, jovens das periferias com marginais é insano e injusto. A turma dos rolezinhos dispõe de aparelhos de TV e de acesso aos demais veículos de comunicação de massa. Como os jovens de lares abonados financeiramente, são submetidos também a um bombardeio midiático massivo, que chama sua atenção para as ofertas de produtos nas vitrinas multienfeitadas e coloridas das lojas dos shoppings. Adquirir produtos ou simplesmente admirá-los nas prateleiras, por singelo prazer, hábito de tanta gente, não configura de maneira alguma ato passível de condenação.
O Poder Público precisa saber extrair dos fatos as lições devidas. A abertura de espaços comunitários para a convivência humana é de grande significação nas politicas de integração social. A escola de tempo integral, com boa qualidade cultural, faz parte dessas politicas.
Resumindo toda essa “melódia”: em se tratando do Brasil, corremos riscos maiores com o “rolezão” da exclusão social acionado a partir de atitudes precipitadas e de intolerâncias descabidas, do que com os tais rolezinhos, manifestação juvenil que pode ser perfeitamente escoimada de algum possível exagero na base de um papo legal.
                             
                            Lideranças despreparadas

Cesar Vanucci *

“O mundo tornou-se mau por ser malgovernado
e não porque a natureza humana seja pervertida.”
(Dante Alighieri, sempre atual)


“Tamo n’água!” Esta singela expressão era bastante empregada em papos cotidianos de outrora. Servia como registro de uma forte decepção ou temor diante do proceder de alguém importante depositário de nossa confiança que, de repente, contrariasse as expectativas gerais à volta de uma questão palpitante.

Certas reações patéticas de personagens que se viram alçados a posições de relevo, com caneta cheia na mão para decisões capazes de influenciar a vida de multidões, levam—nos, hoje também, reconferindo atualidade à expressão, a exclamar: “tamo n’água, gente boa!”

A cena mundial aponta-nos alguns vultos eminentes providos de enorme força moral que ninguém em sã consciência ousa contestar. O conceito se aplica ao papa Francisco, ao Dalai Lama e a não mais do que uma meia dúzia de outros dois ou três cidadãos. Todos reverenciados pela liderança exercida com lucidez e espírito público. Mas nenhum, verdade seja dita, com plena legitimidade politica para impor suas propostas essenciais de transmutação oferecidas à humanidade com o nobre objetivo de acelerar a conquista de patamares mais elevados na convivência social.

As sábias recomendações que traçam arrancam entusiásticos aplausos. Mas cadê coragem e vontade política das elites para implementá-las? Da retórica não se consegue passar jamais para as ações concretas. Conexões ocultas de uma conjuntura perversa, que concede ao dinheiro o privilégio de governar, não de servir ao homem, não permitem possam as ideias generosas, expressas por cérebros iluminados, germinarem nos frutos almejados. Em virtude disso os avanços na direção de estágios de vida mais fraternais ocorrem num ritmo mais moroso do que o cobiçado nas esperanças que povoam a alma das ruas.

Um punhado de cidadãos poderosos, senhores de prerrogativas suficientes para alterar os rumos das coisas que pintam no pedaço, recusa-se intransigentemente a promover as mudanças desejadas nos sonhos globais de construção de um mundo melhor. Age assim por comodismo, despreparo, abomináveis conveniências.

Foquemos a atenção em aprontações recentes dos dois dirigentes com maior poder de fogo nos conciliábulos internacionais. Quando mencionamos “poder de fogo” incluimos, obviamente, o formidando arsenal bélico das potencias que representam. Em patéticos episódios ambos deixam à mostra, outra vez, inimaginável indigência intelectual, ausência de sensibilidade social em questões momentosas. Revelam-se despojados do sentimento de mundo que pode contribuir para um processo de construção consentâneo com a dignidade humana.

A imagem de Vladimir Putin está associada a gestos truculentos, mesmo que, num e noutro momento de sua atuação, como nos casos da desativação do arsenal de armas químicas da ditadura síria e da reaproximação do Irã com o ocidente, ele se tenha revelado hábil negociador. A opinião pública não se esquece dos métodos brutais empregados na repressão radical às operações dos rebeldes chechenos ocorridos num teatro de Moscou e numa escola do interior de seu país, que levou ao extermínio de alguns culpados e centenas de inocentes. Ele passa a impressão de sentir dificuldades em se desvencilhar das amarras de militante ativo da tenebrosa KGB.

Indoutrodia fez uso dos meios de comunicação para uma proclamação tipicamente imperial. Lembrou éditos dos antigos tzares. Dirigindo-se aos atletas que participarão dos Jogos Olímpicos de Inverno, deixou cair; solene, sem meias palavras, essa desconcertante declaração: “Venham para os Jogos, mesmo se vocês forem homossexuais. Nada acontecerá com vocês, sempre que deixem as crianças em paz!” A estapafúrdia afirmação pode ser assim interpretada: para o chefe do governo russo toda pessoa com orientação sexual não tradicional é pedófilo de nascença. Está claro que uma afirmação temerária dessas cairia melhor na boca de algum radical religioso fundamentalista do que na boca de alguém em condições de anunciar decisões de relevância crucial para a sociedade de nossos tempos.

Barack Obama, que não mais se preocupa em preservar as anotações humanísticas de sua biografia, convocou também a midia para “explicações” sobre a arapongagem eletrônica dos órgãos de segurança estadunidenses. Falou, falou e nada disse que pudesse significar tênue arrependimento pelas violações aos direitos humanos praticadas. Lembrou Cantinflas com todo aquele papo furado. Não evidenciou a mais leve disposição de formalizar pedido de desculpas aos “aliados” e cidadãos que tiveram as vidas devassadas pela bisbilhotice paranoica e comercialmente interesseira. Junto com o pronunciamento, que vendeu a ideia arrogante da existência de um esquema de comando acima do bem e do mal, desejoso de fazer de leais amigos apenas obedientes vassalos, irrompeu no noticiário nova leva de denúncias sobre abusos da espionagem. Outras ocorrências inacreditáveis sobre ações desencadeadas pelos serviços secretos americanos e britânicos. O rastreamento eletrônico voltou-se também para os usuários de aplicativos de smartphones. As coletas de informações penetram na vida pessoal das vítimas, não poupando nem detalhes de seu alinhamento político e religioso ou de sua orientação sexual.

O monitoramento tem como alvos o “Google Maps” nos smartphones, listas de contatos, registros de telefones e dados geográficos em fotos postadas pelos celulares nos aplicativos do “Facebook”, do Flicker”, do “Linkedin” e do “Twitter”, do jogo infantil “Angry Birds”, entre outros, minha Nossa Senhora d’Abadia!

Falar verdade. Com esses caras por aí, embaralhando e dando as cartas, comandando de forma tão irresponsável, pra dizer o mínimo, os destinos do planeta, sentimo-nos, indo do espanto para o temor, impelidos a ressuscitar o simplório desabafo dos tempos de infância:”Tamo n’água, minha gente!”

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