Absurdo atrás de absurdo
“Mais difícil quebrar um preconceito do que um átomo!”
(Albert
Einstein)
Os
números vindos a seguir estampam um acúmulo inimaginável de absurdos. São
típicos deste mundo em que vivemos, surreal sob tantos aspectos.
Dan
Akerson, antigo presidente mundial da General Motors, embolsava salário de 9
milhões e 100 mil dólares anuais. Ou seja, 21 milhões, 840 mil reais. Deixou a
função para continuar prestando consultoria à própria montadora por “módicos” 4
milhões e 600 mil dólares por ano. Em nossa moeda algo equivalente a 11
milhões. Quem passou a ocupar, com sua saída, a presidência da empresa, foi a
engenheira Mary Barra, primeira mulher no comando da organização, contratada
com o salário de 4 milhões e 400 mil reais, inferior à remuneração atual de seu
antecessor pelas tarefas de consultoria.
As
primeiras situações absurdas detectadas decorrem, naturalmente, dos valores que
acabam de ser enunciados. São valores que escancaram a abissal diferença existente,
a bem da verdade em tudo quanto é lugar, entre quem é colocado no topo e quem é
colocado no piso do sistema salarial vigente, mesmo que não saibamos neste
momento qual vem a ser o salário mínimo na GM. Não fica difícil pra ninguém
comprovar o desnível injusto dos padrões salariais adotados tanto em
organizações públicas quanto privadas. Trata-se de uma insensatez que, nalgum
momento futuro da trajetória humana, terá que ser fatalmente corrigida.
Cabe
registrar agora outra absurdidade. O salário que a GM pagava ao antigo
presidente é infinitamente superior ao que ora é pago pelas mesmíssimas tarefas
à presidenta, um e outro, já visto, elevadíssimos O episódio é revelador de uma
tendência universal, inexplicável à luz do bom senso, de se atribuir
gratificação diferenciada ao esforço produtivo de homens e mulheres. Tudo
funciona naquela manjada base daquele refrão publicitário antigo, bem maroto,
de uma marca de chocolate, que distribui um “delicado” pra elas e dois ou muito
mais “delicados” pra eles. Prática genuinamente machista provinda de tempos
antediluvianos, incompatível com tudo aquilo que as lideranças costumam
teorizar, em ocasiões solenes, na exaltação dos princípios fundamentais que
conferem dignidade a pessoa humana.
A
disparidade salarial foi classificada, dia desses, pelo Presidente dos Estados
Unidos, Barack Obama, como um “constrangimento”. A mulher – asseverou – merece
o mesmo pagamento pelo mesmo trabalho. A jornalista Mariana Queiroz Barbosa
menciona o fato em reportagem da “IstoÉ” repleta de registros numéricos
comprobatórios do abismo salarial prevalecente entre homens e mulheres.
Creio
que o leitor concordará com a observação de que a expressão “constrangimento” é
por demais branda para classificar o que realmente rola no pedaço. O que os dados
levantados pela jornalista projetam deve ser definido como um desproposito sem tamanho.
Como uma indecência. Vejam só se não tenho razão! No mundo de hoje a distância
remuneratória entre gêneros é, em média, de 22.8%. No Brasil, o indicador é um
pouco maior: 27%. Há 10 anos, segundo a OIT (Organização Internacional do
Trabalho) a coisa mostrava-se pior ainda: 36.4%. Santa Catarina é o Estado com
a diferença mais gritante: 34.2%. Já o Amapá, surpreendentemente, é a unidade
da Federação que registra a diferença menor: 6.7%.
Para
reflexão geral seguem mais esses elementos informativos. Praticamente em todas
as partes do planeta o abismo salarial entre homens e mulheres, mal ou bem, tem
decrescido. Menos – ora, veja, pois! – em Portugal, onde só tem feito crescer
de ano para ano. Na Itália, a diferença fica abaixo de 10%. Nos Estados Unidos
chega a 23%. Na União Europeia cai: 16.2%. Mas isso não impede que na Alemanha
e na Inglaterra atinja mais de 20%.
Recordando
o empenho incessante, muitas vezes infrutífero, dos homens e mulheres de boa
vontade no sentido de libertar o mundo dos grilhões dos inúmeros preconceitos odiosos
que o asfixiam, entre os quais se avulta o machismo, caracterizado aqui numa de
suas facetas mais notórias, somos levados a um registro lapidar de alguém nada
menos que Albert Einstein: “Época triste a nossa em que é mais difícil quebrar
um preconceito do que um átomo”.
O todo poderoso “mercado”
(É
o que propalou a mídia, algum tempo atrás)
As
pessoas que desejam o melhor ao Brasil, notadamente as que atuam na comunicação
social, bem que poderiam firmar um pacto no sentido de desmistificar e
desqualificar as forças contrárias aos interesses nacionais que se movimentam
por aí, com irresponsável desenvoltura, travestidas de "mercado".
Fico
pasmado, dia sim outro também diante das reações cotidianas do tal "mercado".
Onipotente, esse ser incorpóreo, com lampejo de vida estritamente ectoplásmico,
é “convocado” a opinar a respeito de tudo, Ele funciona como uma espécie de
sismógrafo viciado, medindo a conjuntura econômica a serviço escancarado dos
grupos de assalto especulativo. Interpreta as coisas a seu exclusivo talante.
Não se dá ao mais leve escrúpulo de disfarçar as contradições gritantes dos
posicionamentos de encomenda. Mantém sob controle, a soldo, um batalhão de
prestimosos colaboradores. Gente fervorosamente engajada em esforço
conspiratório contrário às nossas aspirações de progresso. É só por tento no
que tais colaboradores, que atendem pelos apelidos de "analistas",
agências de risco etc., costumam aprontar a cada vez que nas áreas política,
administrativa, tecnológica, produtiva – considerados aí os setores produtivos primário,
secundário e terciário – se delineiem iniciativas ou atitudes estimuladas pelos
interesses brasileiros de caráter desenvolvimentista. Tudo serve de pretexto
para as soezes tentativas de apequenar-nos diante de nossos próprios olhos.
Para fazer-nos crer que, os brasileiros, somos ineficientes, despreparados, sem
condições, portanto, de almejar acesso a brevês que assegurem autonomia de voo
mais ampla na conquista de novos espaços econômicos e sociais no contexto
mundial.
O
monitoramento feito pelo "mercado" é tendencioso e implacável. Por
inexistir uma constatação à altura das impertinências praticadas, o
"mercado" passa a ideia de infalibilidade. Defende com fervor
frenético seus bolorentos dogmas. Suas reações têm força, para alguns, de édito
real ao tempo em que as monarquias eram levadas a sério. São recebidas como clausulas
pétreas no contrato comunitário em círculos não afeiçoados ao exercício da
divergência democrática. Em face dessas circunstâncias, o "mercado"
não se acanha de insultar a inteligência dos cidadãos, de alvejar despudoradamente
o bom senso. Ele, "mercado", sabe muito bem que suas opiniões
encontram sempre boa divulgação, agências de risco para respaldá-las,
porta-vozes solícitos para justificá-las.
O
"mercado", visto está, não se peja um tiquinho que seja, em lançar
mão de arguições absurdas, quando colocado diante de pedidos de explicações dos
setores mais lúcidos da opinião pública, com relação ao que ocorra de estranho
na economia. Mantém engatilhado um pretexto extravagante para ocultar os
incessantes ataques especulativos acobertados. Está aqui, como amostra, um
exemplo dos procedimentos escalafobéticos que adota, sempre confiante na
extremada simploriedade popular.
Num
momento de razoável euforia face aos anúncios da ligeira reação nos negócios,
da expansão significativa na balança comercial, da superação prematura da meta
do "superávit primário"; justo nesse preciso momento, tempos
passados, a Bolsa despencou. As taxas do dólar e do euro se elevaram e o
"risco Brasil" (olha aí!) subiu. O que foi mesmo que o
"mercado" saiu apregoando a respeito? Acredite, se quiser: a
"causa" de toda a ebulição negativa foi um feriado ocorrido no meio
de semana nos Estados Unidos.
A
"explicação" é dada assim, com a mesma cara-de-pau com que se estaria
levantando a hipótese maluca de que os "resultados adversos"
decorreriam de uma crise de disenteria que acometeu os habitantes de uma vila na
parte setentrional da Capadócia.
Valha-nos
Nossa Senhora da Abadia D'Água Suja!
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