Manifestações
sim, baderna não
Cesar
Vanucci *
É
dever dos próprios manifestantes afugentar
os baderneiros infiltrados nas passeatas.”
(Domingos Justino Ferreira, educador)
Indivíduos
de suprema periculosidade, travestidos de “manifestantes” bem intencionados,
“torcedores” entusiasmados, “policiais” cônscios do dever, “mocinhos”
empenhados em combater o mal, andam criando clima de tensão e incomum
desassossego nas ruas das grandes cidades.
Esses
ferozes malfeitores constituem uma minoria organizada especialista em promover
distúrbios e danos físicos, morais, materiais e psicológicos por onde circula.
Precisam ser contidos a bem da paz social. Exemplarmente punidos conforme as
exigências de uma sociedade sobressaltada.
Operações
de segurança eficazes mode neutralizar as deletérias ações praticadas carecem
ser adotadas com urgência. A Copa Mundial de Futebol está próxima. Todos
almejamos poder acompanha-la com muita vibração, sem ameaças aos padrões
ordeiros da boa convivência comunitária. Recusamo-nos, categoricamente, os
brasileiros, a admitir que a bandidagem articulada continue a aprontar
desatinos, projetando do país uma imagem desfocada, negativa, contraposta em
tudo por tudo à verdadeira índole de nossa gente.
Poder
Público, grupos sociais, mídia, lideranças em todos os níveis, educadores,
adultos e jovens, população em geral, deixadas de lado quaisquer diferenças e
divergências no campo das ideias, estão na obrigação de resguardar a todo custo
os valores da nacionalidade. Disso brota naturalmente firme decisão de repelir as
reações descabidas desses plantonistas da desordem. Um pessoal reconhecidamente
truculento, posto que insignificante do ponto de vista quantitativo.
Todos
estamos concordes quanto a garantir condições propícias para as manifestações
que traduzam nas ruas e praças emoções populares legitimas. A democracia (e só
ela é capaz disso) estimula, de modo saudável, esse procedimento. Mas, a partir
de atitudes resolutas, da vigilância atenta dos próprios manifestantes engajados
nos esquemas reivindicatórios, toda a comunidade terá que se sentir mobilizada
no afã de expungir dessas concentrações públicas os baderneiros nelas
infiltrados. Não passam de delinquentes que, atrás das máscaras, carregam ódio e
ressentimento, além de petardos letais trazidos nas mochilas. O incidente
estupido que ceifou a vida preciosa do cinegrafista da Band é amostra loquaz,
ao lado de outras, de um estado de coisas que a opinião pública deseja ver
devidamente desmantelado. Todo mundo alimenta, neste momento, a expectativa de
que medidas vigorosas de defesa social sejam adotadas contra essa avalancha de
abusos inqualificáveis, colocando um basta definitivo nas depredações de bens
públicos e privados promovidas pelos desordeiros de sempre.
Por
extensão, já que se trata de um tipo de ocorrência inserida no mesmo contexto,
todos passamos também a aguardar que, em sua relevante missão institucional de
resguardo da ordem, a policia não mais empregue meios que, ao contrário de
conter abusos, contribuam para exacerbá-los.
De
outra parte, o que ora sucede no futebol, dentro e fora dos estádios, por conta
da insânia das chamadas “torcidas organizadas”, e ainda nas ruas, em falsas
repressões a ações de assaltantes pelos assim chamados “justiceiros”, reclama
também explícitas condenações da sociedade. Acumulam-se os episódios que
envolvem delinquentes especializados em tumultuar espetáculos futebolísticos.
Essa malta a serviço da baderna agride, lesiona, mata, invade concentrações,
dita ameaçadoramente regras aos jogadores sobre como se comportarem nos
gramados. Conta, às vezes com a leniência de paredros esportivos. Seus
integrantes têm que ser, vez por todas, banidos do futebol.
Enquadramento
severo nos conformes da lei é o que se recomenda igualmente, sem tardança, ao
bando de imbecis, racistas e homofóbicos que, nas ruas, em desafio aberto à
lei, anuncia “justiça” pelas próprias mãos. Intitulando-se “implacáveis
justiceiros”, espancam, torturam, tiram vidas. Os alvos das atrocidades são mendigos,
menores, “suspeitos” segundo seu desatinado critério. Na internet gabam-se das “façanhas
heroicas”. Deixam rastro de sinais suficientes das articulações criminosas em
que se acham emaranhados.
Globalização
da indiferença
“O
amor ao dinheiro é a raiz de todos os males.”
(Paulo,
Primeira Epístola a Timóteo , já naquele tempo)
A
globalização da indiferença, que encobre inaudita crueldade no trato das
questões sociais, promove incessantemente, diante da insensibilidade geral, um
desfile assustador de acontecimentos que não poderiam jamais passar
desapercebidos nas reflexões e comentários críticos da sociedade humana sobre
estes nossos tempos amalucados.
Vejam
só esta revelação! Oitenta e cinco megatrilionários possuem patrimônio
equivalente ao conjunto de valores pecuniários de 3 bilhões e 500 milhões de
seres humanos. Ou seja: metade da população mundial. Para que esta informação
possa ser devidamente assimilada, cuidemos de gravar bem gravado que não se
está a falar aqui de 85 milhões, nem de 85 mil indivíduos bem aquinhoados pela
roda da fortuna, parcelas numéricas, aliás, já escandalosamente
desproporcionais num quadro justo de partilhamento de bens universais. Do que
se está falando mesmo é de apenasmente, tão somente, de 85 pessoas. Quer dizer:
número talvez equivalente ao da lotação de um desses veículos articulados
apelidados de “move”, ora em fase de testes pra correr nas linhas do futuro
BRT.
Tão
atordoante revelação veio a furo numa pesquisa da ong britânica Oxfan. Foi
apresentada aos “donos do mundo” no recente encontro das lideranças politicas e
econômicas de Davos, Suíça. Trocada em miúdos, a pesquisa aponta entre outras
absurdidades que a hiperconcentração da riqueza mundial só tem feito crescer.
Paralelamente a isso, como fica fácil deduzir, a vergonhosa desigualdade social
não para de aumentar.
Colho
na “CartaCapital”, em trabalho assinado por Luiz Antônio Cintra, mais dados
impactantes do referido estudo. Carlos Slim, magnata mexicano, considerado o
cara mais rico do mundo, possuía em 2009 bens avaliados em 35 bilhões de
dólares. Isso correspondia, a valores de hoje, a mais de 80 bilhões de reais.
Importância comparável ao PIB do Uruguai em 2013. Já no ano passado, a fortuna
de Slim escalava as altitudes everestianas dos 73 bilhões de dólares. Quase 200
bilhões de reais, algo próximo do PIB inteiro de Portugal ou do Peru.
Já
o financista Warren Buffet, norte-americano, outro afortunado, detinha
patrimônio de 40 bilhões de dólares antes da bolha imobiliária que tantos
estragos promoveu justamente na área em que se especializou e em que construiu
retumbante carreira. Isso não afetou seus guardados financeiros, sabe-se lá
porque cargas d’água, nadica de nada. Contabilizando agora haveres de 59
bilhões de dólares, ele engrossa com essa dinheirama toda no bolso a lista dos
85 viventes premiados com a mega sena do Olimpo. Cidadãos que, juntos,
repita-se, conseguiram amealhar patrimônio igual ou superior ao da metade da
população deste planeta azul do bom Deus, onde o diabo aprecia fixar seus
enclaves.
O
estudo da ong inglesa acerca da hiperconcentração da riqueza mundial entrega à
apreciação dos estudiosos em questões socioeconômicas muitos outros elementos
desconcertantes. Por exemplo: em função do poderio das grandes corporações
financeiras, 95 por cento do ganho de renda registrado nos Estados Unidos a
partir de 2009 foram carreados para o contingente humano dos 1% mais abonados.
Em 2012, de outra parte, enquanto o grupo dos 1% mais ricos lograva abiscoitar
22 por cento da renda do país, 0,01% deles, ainda mais afortunados (se é que
seja possível imaginar algo assim), abocanhavam 11% do bolo. A lógica seguida
no jogo do “mercado”, idêntica noutras paragens do atlas, foi a de garantir
mais para quem tem mais, valha-nos Deus, Nossa Senhora!
Enquanto
isso, anotando dados numéricos de uma das vertentes mais perversas dos problemas
gerados pela concentração da riqueza nas mãos de poucos, chegamos a
aterrorizante constatação. O desemprego, de acordo com a Organização
Interamericana do Trabalho, cresce incessantemente em todos os continentes. Os
“sem salários” os “sem carteiras assinadas” totalizavam, em 2013, 202 milhões
de criaturas. Cinco milhões a mais do que em 2012.
De
tudo quanto aqui colocado, indicadores candentes de uma questão momentosa de
descomunal proporção, projeta-se inarredável certeza. Para que o mundo funcione
melhor transformações substanciais terão que ser introduzidas na sistemática
que rege as atividades econômicas. A economia há que ser vista como meio. Não
como fim em si mesma. O dinheiro, como lembra o Papa Chico, existe para servir
ao homem. Não para governá-lo.
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