Torcida
contraria
Cesar
Vanucci *
“Na
economia, como na Copa, não vale torcer contra o Brasil”
(Fernando Pimentel, até recentemente
Ministro do
Desenvolvimento, Indústria e Comercio
Exterior).
Como
é que é mesmo? O PIB brasileiro cresceu 2.3 por cento em 2013, índice inferior
apenas aos resultados de dois entre 14 países da lista dos detentores de
economias pujantes, a China (7.7%) e a Coreia do Sul (2.8%)? Nosso índice de
expansão econômica no exercício passado foi, então, superior aos da Grã-Bretanha,
Estados Unidos, África do Sul, todos com 1.9%, Japão (1.6%), Alemanha (0.4%),
França (0.3%), México (1.17%), Itália e Espanha (com registros de retração
acima de 1%)?
Uai!
Mas nada disso constava, até indoutrodia, dos vaticínios de doutos analistas
econômicos com presença realçante nos espaços midiáticos. O que eles
anunciavam, estardalhantemente, a ponto de semear desassossego, com inequívoco intuito
crítico, de modo politicamente tendencioso, era que a situação estava mal,
muito mal. O caos se aproximava a galope. O mundo inteiro mostrava-se confuso
com os “indicadores declinantes”, da “fragilizada” economia brasileira. Nada parecia
suficiente o bastante para desfazer as profecias catastróficas. Nem mesmo os
expressivos números e dados das políticas sociais de moradia, de inclusão
educacional, de ocupação da mão-de-obra, de ampliação da assistência médica, ao
lado dos investimentos de grande porte em obras de infraestrutura,
contrapondo-se flagrantemente a tão agourentas previsões.
Falar
mal do Brasil, negar categoricamente suas virtualidades e potencialidades,
apontar nossa permanente e total “incapacidade” para executar projetos de
magnitude parece constituir exercício rotineiro em certos redutos despojados de
sentimento nacional. Dessa prática desagregadora não se furtam, deleitando-se
com as besteiras assacadas, numerosos sabichões que se dizem especialistas em
avaliações da conjuntura politica e econômica. Esse pessoal de mal com a vida
finge desconhecer que o Brasil continua despertando o mesmo grau de interesse
por parte dos investidores desde muitos anos pra cá. Em 2013, o assim
denominado Investimento Estrangeiro Direto (IED) foi de 63 bilhões de dólares.
Já tinha sido em 2012 de 65 bilhões de dólares.
O
ex-Ministro Fernando Pimentel chama a atenção para dados extremamente
positivos. De um ano para outro a demanda em recursos de investimentos por
setores de máquinas e equipamentos foi de 10.2 por cento. Ano passado, o BNDEs
liberou, via Programa de Sustentação dos Investimentos, a soma de 82.1 bilhões
para aquisição e exportação de máquinas e projetos de inovação, com juros
anuais de 3.5 por cento e prazo para pagamento em até 12 anos.
Enquanto
isso, a arrecadação federal bateu novo recorde histórico agora em janeiro.
Paralelamente a isso, uma banca de consultores econômicos internacionais
reconhecia ser o real a moeda mais valorizada da América Latina ante o dólar.
Mais: no começo deste ano de 2014, a abertura de empresas acusava recorde na
história empresarial brasileira, segundo registros do Indicador Serasa Experian.
Resumo
da ópera: o que boa parte dos analistas econômicos propala, em sua obsedante
verrina pessimista, está em estridente dissonância com a realidade.
Esses racistas de carteirinha...
“No Galo, o preto e o branco sempre
andaram juntos.”
(Faixa
de repudio ao racismo exposta nas
arquibancadas
do Independência pela torcida atleticana)
Numa mesma semana duas demonstrações
estridentes de nauseabundo racismo ocuparam o noticiário nosso de cada dia. Num
campo de futebol em cidade peruana, o atleta Tinga, do Cruzeiro, foi alvejado
com refrãos ofensivos a cor todas as vezes em que tocou a bola. A insana
agressão motivou uma onda compreensível de desagravos, envolvendo até mesmo
manifestação da Presidenta Dilma Rousseff.
Na Capital da República, uma australiana
de maus bofes, em flagrante desarmonia com a vida, aprontou baita confusão num
salão de beleza, ao recusar-se ser atendida por uma profissional negra. Não
satisfeita com a violência praticada, apelou também para ofensas, na base de
descabido preconceito, ao ser abordada por policiais de epiderme escura
incumbidos do boletim de ocorrência.
Gestos bestiais desse teor não podem
permanecer nunca sem resposta à altura. O enquadramento nas conformidades da
lei de grupos e indivíduos emaranhados nessas repulsivas manifestações de
intolerância tem sempre pedagógicos efeitos. No caso de não poder ser feita,
para fins de punição, a identificação individual dos racistas no meio de uma
multidão, como sói ocorrer num estádio de futebol, as autoridades competentes
nem por isso deverão se omitir na aplicação dos corretivos legais cabíveis. A
interdição de jogos no local da ocorrência é capaz de dissuadir torcedores
tendentes a repetir atos desse gênero de virem a fazê-lo.
O incidente registrado no Peru enseja
outra observação intrigante. Quem conhece a realidade peruana sabe bem que a
população desse belo país-irmão, berço de soberbas civilizações em períodos
bastante distanciados da história, é constituída na maior parte de descendentes
dos povos indígenas colonizados pelos espanhóis. E não ignora também a
existência, a prevalecer até dias de hoje, de um execrável ranço racista
atingindo esses povos, procedente ainda da opressiva era colonial. A
constatação causa amargura aos setores mais lúcidos e socialmente comprometidos
da dinâmica comunidade peruana. No incidente envolvendo o atleta brasileiro
chamou a atenção a circunstância de a plateia nas arquibancadas, exprimindo com
fidelidade o quadro demográfico étnico do país, comportar em bem mais elevada
quantidade descendentes da orgulhosa população nativa andina. Entre os que se
compraziam em alvejar com refrãos racistas o atleta negro brasileiro encontravam-se,
por certo, cidadãos que nalgum momento da vida experimentaram, na convivência
mundana, o fel da discriminação.
Seja adicionado também que não é nada
difícil desenhar o perfil padrão do racista. Trata-se, geralmente, alguém de
mal com a vida. Por mais que procure disfarçar, nutre pelo fascismo em suas
variegadas modalidades um forte pendor. Hitler e Stalin e outros tiranos menos
votados representam para ele, racista de carteirinha, personagens exponenciais
da história. O racista aprova com entusiasmo a violência para externar
desagrado ou inconformismo com relação à politica. Considera “esse tal negócio
de direitos humanos” uma bobajada, externando sempre o ponto de vista de que as
reivindicações sociais devam ser resolvidas preferencialmente na base do
cassetete.
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