sexta-feira, 25 de abril de 2014

Estão em todas

“Se o doleiro tivesse sido condenado no processo Banestado, possivelmente não estaria delinquindo novamente.” (Promotor Claudio Esteves, do Paraná)


Nos vastos domínios que se estendem do Oiapoque ao Chui, complementados pelas milhas marítimas que dão a configuração exata do território continental brasileiro, não existe viva alma sequer que nunca haja ouvido falar deles. Nem mesmo os solitários integrantes das derradeiras tribos amazônicas a serem ainda contatadas pelos sertanistas da FUNAI.
Esses escolados trambiqueiros, frajolas de imaculado “colarinho branco”, que circulam desenvoltos nas altas esferas mundanas, trocando amistosos tapinhas nas costas com figuraços do poder politico e econômico, participando de reuniões charmosas, regadas com o “legítimo”, registradas em fotos galantes nas colunas, estão em todas. Ou quase todas. Farejam e fomentam mutretas tempo inteiro. Craques consumados na arte de extrair e repassar informações privilegiadas, garantem inestimável ajuda para que sejam engordadas as contas secretas de sua selecionada clientela em bancos da Suíça e Ilhas Cayman. São criaturas emblemáticas no contexto da corrupção. Nem é preciso o registro expresso de seus nomes para que sejam de pronto identificados. Estão sempre em cartaz. Revezam-se na interpretação dos enredos no teatro das falcatruas.
Falemos primeiro do doleiro paranaense ora apontado como pivô de maracutaias que rendem, dia sim, outro também, vistosas manchetes. Ele ocupa o palco das malfeitorias há pelo menos duas décadas. Desde os tempos da megalavagem de dinheiro via Banestado, ocorrência que jaz um tanto esquecida. Age nacionalmente. Não quer saber de vínculos partidários. Optou pelo “ecumenismo” nas ações fraudulentas solícitamente coordenadas a mando de bandalhos de diferentes siglas. Corteja e é cortejado por gente poderosa, que não esconde sua gratidão pelos serviços executados.
Olhando bem as coisas, o estilo de atuação do doleiro paranaense é parecido com o daquele “banqueiro de bicho” das plagas goianas, também volta e meia no centro de maquinações de alguma tramoia rendosa qualquer. As parcerias firmadas por este outro manjado personagem do “cast” da corrupção garantem-lhe prestígio e proteção em círculos também de abrangente espectro político. Os comparsas filiam-se a diferentes legendas. São, igualmente, companheiros incondicionais para o que der e vier, no caso da barra pesar em demasia.
A situação do doleiro e do “banqueiro de bicho” guarda semelhança no tocante às técnicas operacionais empregadas e nos aliciamentos de pessoas, com outro desses insinuantes caras. Este, também, um “bambambã ” em proezas audaciosas boladas com propósitos de “vencer na vida” a qualquer preço. Banqueiro festejado, de olho guloso em “oportunidades” variadas, é um cara que já andou se emaranhando, luas passadas, nas malhas da lei. Desvencilhou-se da encrenca, pelo menos temporariamente, salvo pelo gongo graças a um providencial “habeas corpus”. Medida de segurança essa, específica, hiper criticada nos meios jurídicos. Aconteceu, também, algo inesperado que tornou ainda mais desconcertante o episódio. Os encarregados do inquérito de indiciamento do referido cidadão viram-se implacavelmente alvejados à conta do laborioso trabalho investigativo por eles produzido.
A história desses delinquentes de alto coturno e a de outros mais tem – repita-se - muito em comum. Os figurinos de atuação são idênticos. Mesmo monitorados, eles continuam a desfrutar de incompreensível impunidade, circunstancia que lhes assegura sobra de tempo pra, de repente, se envolverem em novas aprontações.  Isso acontece, entre outras razões, por obra de processos enervantemente morosos.
Até agora, como sabido, um único entre os operadores desses esquemas mafiosos foi julgado e condenado. O articulador do “mensalão mineiro” e do “mensalão federal”.
Tanto quanto os demais, esse aí demonstrou engenho e criatividade na aglutinação dos componentes dos bandos favorecidos e nas fórmulas adotadas de lesão ao patrimônio público. Não revelou “preferencia” a correntes políticas. Envolveu-se com representantes de quase todas. Ou seja, com elementos que, na cena social, conseguem permanecer, por certo tempo, “acima de qualquer suspeita”. Alguns deles, ao lado do governo. Outros, contrários ao governo. Outros mais, nem a favor, nem contra o governo, muito pelo contrário. Uma turma, felizmente minoria no cenário político, mas a exemplo dos operadores das mutretas, seus eficientes comparsas, endiabrada da breca, como era de costume dizer-se em tempos antigos.






Umas e outras

“Um pequeno grande equívoco.”
 (Marcelo Neri, presidente do IPEA)


Violência contra a mulher.  Depois da celeuma levantada pelos dados divulgados, o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) retornou a público para dizer que ocorreu um erro na tabulação da pesquisa relativa à violência contra a mulher. Se falha houve quanto aos aspectos metodológicos aplicados na consulta; se faltou rigor técnico na apuração dos dados; se o fato se originou de “um pequeno grande equivoco”, já que “estamos numa curva de aprendizado”, como tentou justificar Marcelo Neri, presidente da instituição; se tudo isso realmente rolou, uma coisa permaneceu estridentemente gravada no espirito popular. Setores ponderáveis da sociedade brasileira, percentual elevado de mulheres incluídas, confessaram-se muitíssimo intolerantes e preconceituosos na avaliação do comportamento feminino rotineiro. Mesmo que tenha havido queda na revisão procedida, de 65% para 25%, o índice que bota culpa nas mulheres, por conta das “vestes ousadas”, pela incidência de estupros é aberrante, assustadoramente alto. Roça as franjas do mais genuíno talebanismo.

Decisões em favor do crescimento.  Parcela expressiva da opinião pública não atentou devidamente para o relevante significado econômico e social de algumas medidas na esfera da gestão pública anunciadas recentemente. As decisões tomadas dizem respeito aos leilões de concessão à iniciativa empresarial contemplando a construção e modernização de rodovias – tronco nas diferentes regiões do país. Inseridas na segunda etapa do PIL (Programa de Investimentos em Logística), os leilões promovidos atingem trechos rodoviários superiores a 4 mil quilômetros, implicando em investimentos globais de 28 bilhões de reais. São obras de pavimentação e duplicação a serem efetivadas, segundo os planos traçados, ao longo de cinco anos. As rotas correspondentes as tais concessões atravessam territórios de avantajada produção agropastoril. Com os investimentos a serem aplicados garantirão condições acentuadamente mais propícias no transporte de cargas valiosas aos portos marítimos de escoamento de bens exportáveis. O esquema de licitações adotado prevê, ainda, na região norte, a utilização de aquavia pelo rio-mar Amazonas para a circulação de riquezas destinadas ao mercado internacional. Apontado pelo governo federal como essencial no processo de desenvolvimento, traduzindo um salto de qualidade em matéria de gestão pública, como entendido por produtores, exportadores e analistas econômicos, o sistema de concessões estabelecido para rodovias vai ser agora, também, estendido às ferrovias, atividades portuárias e de produção energética. Tudo leva a crer que desse conjunto de providencias resultará contribuição preciosa para acelerar o crescimento nacional. Boas falas.
  
Epidemia de cesáreas.  O secretário Nacional de Atenção à Saúde, do Ministério da Saúde, médico mineiro Helvécio Magalhães, ex-secretário Municipal de Saúde de Belo Horizonte no governo Fernando Pimentel, reconhece uma situação constrangedora para todos nós, cidadãos brasileiros, médicos, mães. Contrariando regras de bom senso e de sentido humanitário aplicáveis à saúde pública, violentando recomendações da Organização Mundial de Saúde, “existe uma epidemia de cesárias no País!” Ignorância, comodismo, ausência de critério médico rígido concorrem para a anômala situação. Só no SUS, 42% dos partos implicam em procedimentos cirúrgicos. A média nacional de cesarianas executadas é maior: 53%. A indiferença geral que circunda a momentosa questão ajuda a explicar episodio recente, indicativo da gravidade assumida pelo problema, acrescido de variável que escancara uma clara violação de direitos humanos. Em Torres, no Rio Grande do Sul, contra sua própria vontade, uma gestante foi levada a hospital sob escolta policial e submetida à força a uma cesárea, por conta de medida judicial definida a pedido dos médicos que a atenderam.




 *Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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