quinta-feira, 31 de julho de 2014


A estatura moral do Brasil

Cesar Vanucci*

“A tão sonhada paz na região depende de Israel, a parte mais forte e equipada do conflito”. (Celso Amorim, Ministro da Defesa do Brasil)

Os radicais que comandam na atualidade o Estado de Israel cometeram mais um estrondoso desatino. Este, apenas verbal. Sem perdas de vidas inocentes. Mas altamente revelador, outra vez, do animo belicoso e postura prepotente que entendem por bem (melhor dizendo, por mal) assumir nas inesgotáveis demandas de seu país com a tolerante comunidade das nações.

O Brasil não é um país irrelevante. Não é “anão diplomático”, conforme anotado na histérica descrição do porta-voz do grupo extremista. E, a seu turno, Israel não possui estatura moral para impor a quem quer que seja, muito menos ao Brasil, regras desabridas, ao inteiro arrepio das leis internacionais, como aprecia costumeiramente fazer. Exemplo frisante dessa conduta abominável se configura nos deslocamentos de suas ferozes divisões blindadas em territórios da Palestina. Na hora presente, provocando perplexidade e comoção planetária, essas divisões promovem uma luta desigual e iníqua, que recorda sob muitos aspectos os horrores praticados, no passado, pelo nazismo contra o heroico e indefeso povo hebreu.

Quando o Papa Francisco, do alto de sua cátedra, brada ao mundo “parem com isso!”, ele na verdade interpreta um anseio humano global. Fala de um sentimento que povoa as mentes e os corações de homens e mulheres de boa vontade em todos os quadrantes do mundo, independentemente de crenças e etnias diversificadas. Um tipo de gente, esmagadora maioria, que sonha com a implantação da paz e de fraternal convivência em todos os lugares, sobretudo num ponto do globo cheio de simbolismo sagrado, berço das mais poderosas e influentes correntes ideológicas da civilização. Como aceitar que justamente num lugar assim possa ocorrer uma explosão ensandecida como essa, produzida por radicalismos os mais desapiedados. A culpa no cartório pelos brutais acontecimentos deve ser atribuída, em cota proporcionalmente maior, a radicais israelitas, no confronto mantido com seus adversários, parte deles também radicais fanáticos. Mas o que está prioritariamente em jogo é a aspiração ardente das multidões palestinas de ter sua pátria. Tal como almejado e conquistado com inteira justiça e merecimento pelos judeus num passado não tão distante. Tal como já definido, há décadas, pela assembleia geral da ONU.  

O que a diplomacia brasileira expressou na critica à exacerbação imprimida ao conflito pelo contendor bélica, politica, tecnológica, economicamente mais poderoso, no caso  Israel, situa-se na mesma linha do pensamento pontifício. Parem já com isso! Interrompam o massacre! Tomem logo seus assentos na mesa de negociações.  Tracem em definitivo, com concessões se necessário, os limites dos territórios israelense e palestino. Aprendam a conviver. Mirem-se no exemplo aqui do Brasil. Um país de indiscutível grandeza cultural e politica, que não cultiva desafeições com nenhum de seus dez vizinhos territoriais. Um país onde as comunidades árabe e judia convivem em perfeita harmonia. Onde a pluralidade de ideias e as diferenças de costumes são satisfatoriamente respeitadas e onde, também, os fundamentalistas de todos os matizes são contidos em suas idiossincrasias e intolerâncias.

Veja bem o porta–voz dos radiais de Telavive se o Brasil dispõe ou não de condições para opinar a respeito do horror de Gaza, essa sucessão de incidentes atordoantes tão próximos da funesta lembrança do genocídio ocorrido no gueto de Varsóvia?

Já ia me esquecendo. Como o porta-voz também fez menção a um mero e inofensivo placar de simples contenda esportiva, em seu patético esforço de desqualificar o Brasil como Nação, que tal lembrar ainda do tétrico e dilacerante placar em vidas preciosas construído com o “eficiente” concurso das tropas de ocupação que, por terra, mar e ar, vêm se esmerando a reduzir a escombros – com gente dentro - asilos, escolas, hospitais, lares, na estreita faixa rodeada por muros e patrulhas militares reservada ao confinamento do povo palestino?  




Filme já visto

Cesar Vanucci*


“A instituição ganha mais dinheiro no Brasil do que ganha em qualquer 
outro país, inclusive na matriz, na Espanha.”
                  (ex–Presidente Lula, aludindo ao banco Santander).

O Santander extrapolou os limites. Dilma Rousseff classificou o ato de “inadmissível”. Foi demasiadamente branda na reação. A impertinência do grupo espanhol, que tem neste nosso país tropical, abençoado por Deus, um de seus núcleos operacionais mais dinâmicos e rendosos, se não o mais importante deles, roça as raias da imbecilidade sob o estrito ponto de vista empresarial. Representa ainda inocultável violência à ordem institucional política. Onde já se viu absurdidade desse tamanho? Uma organização estrangeira, extravasando arrogância, resolve de repente dirigir-se à clientela para exprimir tendenciosa orientação política! Resolve manifestar preferencia partidária com relação a uma campanha eleitoral de suma importância para o futuro de um país que lhe franqueou as portas para ocupação de espaço privilegiado no mundo de promissores negócios!

Ponho-me a matutar com os botões do pijama qual não seria o fragor, inclusive midiático (além de diplomático), da reação do governo da Espanha diante da inimaginável hipótese de que o Banco do Brasil, por exemplo, atuando no mercado daquele país, resolvesse sem mais essa nem aquela emitir juízo de valores sobre candidaturas numa campanha eleitoral em curso. O rebu que uma intromissão descabida como essa seria capaz de produzir, vou te contar!...

O Santander aprestou-se a protagonista da vez nas periódicas sortidas maquiavélicas deflagradas por forças estranhas à vida e ao sentimento nacional. Essas forças, às vezes mancomunadas com grupos nativos, mantêm-se sempre entocaiadas á espera de ensanchas oportunosas. Ávidas por botar pra fora estaparfúrdios “ensinamentos” sobre como nós, brasileiros, deveremos nos comportar na condução de nossos próprios destinos políticos.

Acode irresistivelmente à lembrança, nesta hora, aquela ridícula manifestação de 2002, feita por um gringo mundialmente reconhecido como mago da especulação financeira, George Soros. Ele falava, na ocasião, em nome do “mercado”. Ou seja, em nome desse ente ectoplásmico, evocado costumeiramente em momentos imprevistos, por conveniências clandestinas, ativas nos bastidores mundanos, para “opinar” a respeito de questões momentosas. Questões, naturalmente, que possam render algum ganho espúrio aos manipuladores de sempre das riquezas circulantes. E o que foi mesmo que o supracitado cara andou dizendo com repercussão encomendada na mídia e com a indisfarçável cumplicidade de manjados oportunistas na esfera política? Seguinte: “A vitória, nas eleições, de Luís Ignácio Lula da Silva e de seu companheiro José Alencar, outro Silva com marca legendária na historia, representaria o caos...” O papo do mega especulador não colou. A catastrófica profecia foi vista por todos como terrorismo econômico. O malogrado prognóstico soou como eco de pronunciamento impregnado de babaquice formulado anteriormente pelo então presidente da FIESP, Mario Amato. O mencionado prócer classista vociferava que um possível triunfo de Lula na disputa com Fernando Collor, seria capaz de desencadear–ora, veja, pois! - um fluxo incontrolável de brasileiros para Miami na busca de exílio. O grotesco episódio faz aflorar na lembrança deste desajeitado escriba uma outra intervenção descabida com sotaque estrangeiro. A exemplo da primeira, salpicada de preconceito. Outro empresário influente, de Minas Gerais, no exercício da presidência da Belgo Mineira, Hans Schaller, compareceu gratuitamente a publico para sublinhar que o então presidente da FIEMG, José Alencar, não traduziu o pensamento do empresariado brasileiro quando anunciou a disposição de votar no líder sindicalista na disputa com o “caçador de marajás”. O autor desse outro palpite infeliz ficou mudo e quedo que nem penedo depois de ter-lhe sido lembrado que, em razão da nacionalidade, ele não poderia votar no candidato de sua preferencia, a não ser que Collor pusesse concorrer a presidente em seu país natal.  



O filme projetado pelo Santander é o de sempre. Parece um bocado com aqueles lançamentos cinematográficos “inéditos” da televisão. Surge infalivelmente na tela do cinema político toda vez que o Brasil se prepara para votar. O elenco pode até mudar. O enredo, não! 





Grupos de ódio

Cesar Vanucci*


“Enquanto a cor da pele for mais importante que o
 brilho dos olhos, haverá guerra”. (Bob Marley)


Quem tem olhos pra enxergar e ouvidos para escutar que se esforce por captar o alarido sombrio do movimento racista escancaradamente empenhado em marcar presença em tudo quanto é frente. A virulência extremista parece haver encontrado em bolsões conturbados da vida contemporânea estímulos renovados para suas vociferações de ódio fraticida. Na Europa, principalmente na França, partidos ultraconservadores, que pregam abertamente a discriminação, ganharam em recentes prélios eleitorais espaço mais dilargado para atuação. O fundador da “Frente Nacional”, Jean-Marie Le Pen, eufórico com a meteórica ascensão da filha e atual líder da agremiação, Marine Le Pen, ao palco central da política, declarou, entre gargalhadas histéricas, aludindo numa entrevista ao ator e cantor judeu Patrik Bruel, essa atordoante imbecilidade: “Da próxima vez faremos uma fornada com eles!”
Nos Estados Unidos, o numero dos chamados “grupos de ódio”, que defendem a supremacia branca e “cristã”, alvejando não só negros e judeus, mas a tudo quanto “fuja” ao seu “padrão de nação” – imigrantes, latino-americanos, muçulmanos, gays e minorias étnicas – cresceu cerca de 56% desde 2000. Esses núcleos antissemitas hidrófobos chegam a 940 em todo país. Segundo a polícia federal estadunidense, 5.800 crimes motivados por ódio racial foram cometidos em 2012. Atrás dos delitos atuam a Ku Klux Klan, “skindeads”, neonazistas, o Partido dos Cavaleiros (The Knigths Party) e outros grupamentos especializados na disseminação do ódio. Os sinistros símbolos nazistas e da KKK são vistos em muitas das ocorrências criminosas.   

Cotas na pós-graduação. Uma valiosa informação acerca da (auspiciosa) expansão do projeto de democratização do ensino superior implantado pelo Ministério da Educação. Depois de bem sucedido esforço no capitulo das cotas raciais, a Universidade Federal de Brasília está partindo para adotar o mesmo regime de partilha nas matriculas em seus cursos de pós-graduação. A pioneira iniciativa, não divulgada com destaque, incompreensivelmente, pela grande mídia, acabará sendo introduzida, em breve, com certeza, nas demais instituições escolares.

Taxa de Juros. Analistas políticos mencionam com insistência, em especulações pré-eleitorais, o nome de Armínio Fraga, renomado técnico das fileiras da oposição para ocupar, numa eventual vitória eleitoral em outubro, posição de destaque na área econômica do governo. Isso acende a lembrança de que por volta de 1999, época em que o economista esteve à frente da politica econômica, a taxa de juros andou alcançando as altitudes himalaianas dos dois dígitos.  


Chico Buarque. Pelos seus 70 anos, Chico Buarque de Holanda está sendo festejado em prosa, verso e música. Muitíssimo justa a celebração. Não são tão numerosos assim os brasileiros providos de currículo tão cintilante. O autor de tantas melodias e letras inesquecíveis, definitivamente incorporadas ao rico reportório da criação artística brasileira, é alguém com lugar assegurado no time titular de nossos maiores compositores. É, por sinal, parceiro de vários deles. Esbanja talento em tudo que bota mão. Enveredando pelo teatro musical, construiu uma produção dramatúrgica admirável. Marcou presença na literatura com excelentes romances, que arrebataram prêmios e inspiraram filmes. Sua obra, impregnada de lirismo, de rico conteúdo social, estampa também discurso corajoso em favor dos direitos essenciais. E não nos esqueçamos de que Chico combateu na linha de frente nas lutas pela redemocratização. Alçou-se por tudo quanto realizou e continua realizando à invejável condição de personagem exponencial no cenário cultural brasileiro e latino-americano, com projeção internacional.

Um comentário:

Lincoln O. Klein disse...

Infelizmente a mídia está olhando somente e tão somente, que centenas de palestinos estão perdendo a vida. Enquanto apenas uma pequena parte (dezenas) de israelenses estão morrendo do outro lado. Então ai temos uma desproporção bem grande (Centenas X Dezenas); e isto aos olhos de quem vê de longe é simplesmente horripilante. Mas caro senhor jornalista, coloque-se no lugar de milhares de famílias que dormem em cima de um grande barril de nitroglicerina pura, que não dormem achando que talvez não acordem no outro dia, pois a ameaça de grupos extremistas, simbolizados por homens bombas, que com a mente lavada pelas delicias de encontrarem varias virgens que os levariam ao extremo do prazer, caso eles se matem, levando consigo o máximo de pessoas que consigam matar com estas explosões? Imaginem se Israel não tivesse um sistema próprio de antimísseis fornecidos por um cartel de armas que abastece aqueles loucos sanguinários do Hamas, e que durante a noite, dezenas destes mísseis caíssem sobre a população judaica indefesa, qual seria o número de mortes que ocorreriam do lado judeu, ai sim nos teríamos uma desproporção de números, com milhares de judeus mortos na caladas da noite, e apenas uma pequena parte dos terroristas que perderiam a vida. Olhe por este prisma, e veja a conclusão que o senhor chegaria. Atenciosamente,

A SAGA LANDELL MOURA

Desigualdade gera fome e pobreza

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