O futebol pede mudanças urgentes
Cesar Vanucci*
“O Brasil de Didi, Garrincha e Romário recebeu a
Copa em casa,
com um
técnico ultrapassado e uma seleção sem força de ataque”.
(Afonsinho,
craque do passado)
O
acachapante desempenho da seleção na Copa clama, naturalmente, por mudança de
rumos. A destituição da comissão técnica, que se conduziu de forma tão desastrada,
representa apenas o começo do começo das transmutações desejadas. Algo mais
profundo e consistente carece ser adotado sem delongas.
Os
especialistas em assuntos relacionados com o esporte das multidões precisam lançar
logo na mesa das discussões as sugestões, postulações e conceitos que assegurem
ao futebol brasileiro a chance de reencontrar suas origens e itinerário
históricos.
Animo-me,
como torcedor, arriscar alguns singelos palpites. Imagino que não deixarão de
ser cogitados pelos entendidos no grande debate acerca da construção do novo
modelo de atuação a ser adotado pelo futebol brasileiro daqui pra frente.
Primeiro palpite. Nada, ao contrário do que tem sido aventado, de trazer
técnico estrangeiro. Identifico em inúmeros craques do passado elementos com
cabedal à altura para assumir o posto. Querem um bom nome? Zico, tá bem? Outro
palpite: convocação para compor o escrete deverá contemplar apenas craques engajados
em campeonatos nacionais. Assim é que se procedia noutros tempos. Com
resultados positivos, tá? Se preciso, criem-se mecanismos de incentivo de
maneira a reter por aqui os jogadores selecionados. Mas sem essa de recorrer-se
a atletas que joguem no exterior. Alguns deles emitem, não raras vezes, sinais
claros de desvinculação com o sentimento nacional. Muita gente questiona os
critérios que norteiam o trabalho das ditas comissões técnicas diante da
circunstância de que jogadores consagrados em nossas competições, como é o
caso, para ficar num só exemplo, do Everton
Ribeiro, do elenco do Cruzeiro, campeão nacional, considerado o “craque
do ano”, serem solenemente ignorados nas convocações.
Modificação
do calendário dos torneios, cuidados especiais com o futebol de base,
incremento às competições escolares, eliminação radical da influência de patrocinadores
e agenciadores de craques nas convocações e escalações, são outros itens
relevantes a serem levados na devida conta pelos que futuramente venham a assumir
a tarefa de colocar o futebol, alegria do povo brasileiro, nos devidos eixos.
Abrir
logo o debate. A Copa América e as Olimpíadas estão à vista.
Vez do leitor. A respeito do artigo “Tristeza e perplexidade sem fim”, o
engenheiro Guilherme Roscoe fez o comentário abaixo reproduzido.
“Caro Cesar, após a interessante leitura de seus artigos, principalmente ao
que se refere a nossa derrota na Copa, tomo a liberdade de expor minha visão
sobre o fatídico jogo.
Terça feira, 8 de julho 2014, semifinal da Copa do Mundo de Futebol.
Sem favoritos, esperava-se uma partida difícil. Mas, o que eu vi, você viu e todo mundo viu pela televisão, foi um massacre.
Sem favoritos, esperava-se uma partida difícil. Mas, o que eu vi, você viu e todo mundo viu pela televisão, foi um massacre.
Inédito na amplitude do
marcador, nesta fase, de todas as Copas. Passado o susto, a perplexidade e a
forte emoção, vamos rever o que vimos.
Zaga brasileira improvisada, imposição
da suspensão do capitão, por falta boba no jogo anterior. Até os 11 minutos, o
jogo parecia equilibrado, até com alguns momentos de domínio brasileiro. Um
passe impreciso no ataque, retomada e veloz contra-ataque dos alemães: o
recurso foi desviar a bola para escanteio; daí o primeiro gol, bola a meia
altura chutada de voleio por um adversário livre na área. Se o time já parecia
excessivamente nervoso, aí se descontrolou de vez, os alemães fizeram mais
quatro em pouco tempo, aproveitando os espaços no meio campo e na defesa
brasileira.
No segundo tempo, em função de substituições na equipe, houve um
relativo equilíbrio e os alemães venceram esse tempo por 2 x 1.
Diferenças: brasileiros abusam de sua qualidade no drible e prendem demais a bola, por isso fica lento o jogo coletivo; vimos a seleção deles jogar com muita objetividade, passes precisos, deslocamentos constantes para receber os passes - assim o jogo fica rápido - o movimento da bola é que é rápido!
Diferenças: brasileiros abusam de sua qualidade no drible e prendem demais a bola, por isso fica lento o jogo coletivo; vimos a seleção deles jogar com muita objetividade, passes precisos, deslocamentos constantes para receber os passes - assim o jogo fica rápido - o movimento da bola é que é rápido!
As
chances para finalizar foram aproveitadas com eficácia pelo time europeu:
chutes firmes, com bom controle da direção e diretos, sem efeito.
Em, pelo
menos, três dos sete gols, me lembrei do Ochoa, goleiro do México - fiquei
imaginando como seriam evitados.
Após um desastre tendemos a buscar
culpados; bobagem, somos todos culpados, inclusive a imprensa e parte da
torcida: o fato do Brasil ter vencido cinco vezes em décadas não lhe garante
superioridade, aí está o resultado da prepotência. Mas, se há culpados, dois
não podem ser esquecidos: o 18 da Colômbia que tirou Neymar da equipe e o capitão
que displicentemente se excluiu. Disse.”
Da Copa às Olimpíadas
Cesar Vanucci*
“O mundo assistiu a uma boa organização
em um recanto civilizado.” (Mino Carta, jornalista)
Com
medíocre atuação, exibindo futebol de várzea, a seleção canarinho perdeu a Copa
que o Brasil soube ganhar com suprema maturidade e indiscutível competência. O
vexame nas quatro linhas impediu que a euforia popular pela grande conquista
alcançasse níveis ainda mais elevados. Mas o que resultou, como lição
definitiva do torneio esportivo recém-findo, foi a certeza inquestionável de
que o nosso país, ao contrário do que foi propagado, com enervante insistência,
por uma minoria ruidosa de “ cartomantes do derrotismo”, provou outra vez
suficiente capacitação para promover eventos de magnitude, de qualquer gênero e
a qualquer momento, de forma impecável.
As
coisas decepcionantemente, não funcionaram a contento no gramado, fazendo jus,
obviamente, a criticas aprofundadas e reações de compreensível inconformismo.
Já no tocante ao formidável complexo logístico montado para fazer desta a Copa
das Copas, os resultados atingidos revelaram-se, sem qualquer exagero de fala, impecáveis.
Os
dados que têm sido mostrados, somados às manifestações de observadores isentos e
das multidões de turistas que circularam intensamente pelo território
continental brasileiro, com destaque para os palcos dos jogos, são deveras
reveladores. Retratam eficiência operacional nas ações desencadeadas pelos
setores de serviços engajados na gigantesca empreitada. Transporte aéreo e
rodoviário, hotelaria, sistema de mobilidade urbana, segurança pública,
atendimento de urgência, tudo se encaixou harmoniosamente no enredo da Copa.
Colhi
de pessoas de outros países referências altamente elogiosas ao tratamento
dispensado nos aeroportos, incluídos aqueles (caso de Confins, por exemplo) com
obras ainda não inteiramente concluídas. Outro frisante exemplo do bom trabalho
executado por organizações brasileiras alvejadas impiedosamente por setores da
mídia na antevéspera da Copa está configurado no desmantelamento, pela polícia,
da quadrilha que, há décadas, sem ser importunada pela lei, promovia na
clandestinidade, com bem provável conivência nos altos escalões da FIFA, ações
fraudulentas no esquema de ingressos.
E
o que não dizer da acolhida extremamente cordial, calorosa, incomparável quando
confrontada com a de acontecimentos de relevo vividos noutros lugares do mundo,
assegurada pela gente do povo às levas de visitantes estrangeiros?
A
Nação provou exuberantemente seu poder criativo e capacidade empreendedora para
envolver-se em iniciativas de repercussão planetária. Desmentiu categoricamente,
uma vez mais, os plantonistas do pessimismo. Um pessoal de baixo astral que,
aqui dentro e lá fora, arriscou agourentos prognósticos sobre o que “estaria” prestes
a acontecer por ocasião das competições. Por não entenderem bulhufas de Brasil,
fracassaram rotundamente nas sombrias profecias. Uma vez mais.
É chegado o momento de se concentrar atenções
nos preparativos das Olimpíadas de 2016. A experiência de agora foi de
incalculável valia. Elevou a autoestima das ruas. Vamos tentar conservar acesa
a esperança de que esse outro magno empreendimento, conjugando novamente energias
positivas e esforços de todos os segmentos da nação, venha a se transformar
também, como aconteceu na Copa, na Olimpíada das Olimpíadas.
Vez
do leitor. A
leitora Climêni Maria Serra confessa ser “torcedora do e
pelo Brasil em qualquer circunstância” e sobre o artigo “Tristeza e perplexidade
sem fim” registra: (...) “Esta
Copa está emocionante. Ontem, derrota brasileira. Houve muito choro, decepção,
frustração, com o sonho que se evaporou...O nosso querido Felipão assumiu a
responsabilidade. O Neymar Jr., contundido no último jogo, e era nossa
esperança, nem jogou. Minha reação diante disso tudo foi dar gargalhadas!
Isso é saudável:
Rir das próprias desgraças. Chorar pode consolar, mas... enfim rir é o melhor
remédio...”
SAUDADES DE RUBEM ALVES
"Quem não planta jardim por dentro, não planta jardins por
fora e nem passeia por eles."
Rubem Alves
(19/07/2014) num
ipê amarelo, enquanto amigos
leem Fernando Pessoa e Cecília
Meirelles.
“Nós não vemos o que vemos, nós vemos o que somos.
Só veem as belezas do mundo, aqueles que têm belezas
dentro de si.”
Rubem Alves
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