O recado das urnas
“Não confio nas pessoas que a propósito do mar só me falam de enjoo.”(Louis Pauwells, escritor francês)
O povo falou, tá
falado. O recado foi de clareza solar. Das urnas emergiu, inequívoca, a opção
popular pela proposta de governo que enfatizou as conquistas sociais como o
eixo estratégico do desenvolvimento nacional. Das muitas lições a extrair dos
resultados da consulta eleitoral alguns pontos precisam ficar pra sempre
gravados na mente e coração das pessoas.
Os brasileiros são
bastante conscientes, por um lado, das potencialidades e virtualidades do país.
E, por outro lado, de suas carências e insuficiências. Sensíveis a essas
realidades, mostram-se avessos às manifestações de mórbido derrotismo derivadas
da constatação óbvia dos problemas cruciais a enfrentar na caminhada do
progresso. Sabem perfeitamente que, apesar dos esplêndidos avanços registrados,
existem coisas demais ainda por fazer em função da colossal dívida social
acumulada. Entendem que a empreitada do governo, com o apoio da sociedade,
depende de trabalho, muito trabalho, de criatividade, muita criatividade, de
conjugação poderosa de esforços dos segmentos produtivos para que a Nação
consiga fazer florescer em plenitude sua indesviável vocação de grande
potência.
Deixam expresso, no
entanto, grande desconforto face às avaliações distorcidas, aos diagnósticos
apocalípticos volta e meia propagados em torno da escalada desenvolvimentista
levada a cabo. E desconfiam pra valer, com carradas de razão, das intenções dos
que, contemplando todas essas coisas procedem invariavelmente como aquelas
criaturas morbidamente subjugadas a uma interpretação pessimista da vida que,
olhando o mar, só descobrem em seu empobrecido
vocabulário palavras para descrever enjoo.
O posicionamento do
eleitorado levou em conta todos os fatores acima alinhados, atentemos para
isso.
Do ponto de vista
organizacional, a eleição foi, mais uma vez, irrepreensível. Forneceu ao mundo
outra prova de nossa invejável pujança democrática.
Dilma Rousseff, a
Presidenta reeleita, revelou-se mulher de fibra, cheia de coragem, à altura da
missão que lhe foi outorgada pela Nação. Enfrentou, com altivez, borrascas de
incompreensões. Foi alvo, o tempo todo, na mídia, de uma saraivada de críticas
que extrapolaram os limites razoáveis da tolerância civilizada. Algumas dessas
críticas, inspiradas em denuncismos despojados de consistência, tiveram
indisfarçável feição de “terrorismo eleitoral”.
É oportuno anotar,
a esse propósito, o que o jornalista Jânio de Freitas disse na “Folha de São
Paulo”: “A última .investida originada na imprensa para interferir na disputa
eleitoral – última, bem entendido, até a hora em que escrevo – é feita com o
nome do doleiro Alberto Youssef, com abuso do condicional (“teria dito”, “teria
feito”), com um hipotético delegado sem nome e com um tal depoimento de cujo
teor nem o advogado do depoente ouviu falar.
Dado apenas como
doleiro, Alberto Youssef é mentiroso profissional. E seu negócio são
importações mentirosas para exportar dólares como pagamentos. Sua atual busca
de delação premiada, em troca de liberdade apesar de criminoso confesso e
comprovado, não é a primeira. Voltou a ser preso, há seis meses, porque,
desfrutando de liberdade concedida pela Justiça como prêmio por antigas
delações, dedicou-se aos mesmos crimes que se comprometera a não repetir. A
delação premiada e o acordo com um juiz foram ambos mentirosos.”
A essa observação
do jornalista merece ser juntada a declaração incisiva ao jornal “O Globo”,
divulgada de forma discreta num que outro órgão da grande imprensa, de Antônio
Figueiredo Bastos, advogado do doleiro citado. Segundo o causídico, em momento
algum do depoimento, foi feita qualquer alusão a Lula e Dilma. “Estamos
perplexos (...).É preciso ter cuidado porque está havendo muita especulação”,
asseverou.
A excessiva má
vontade de alguns analistas com acesso desembaraçado aos meios de comunicação
em massa não poupou a candidata nem mesmo depois do consagrador triunfo
eleitoral alcançado. “No coração do Brasil, no Brasil que produz, no Brasil
moderno, a vitória da oposição foi acachapante”, não se vexou de dizer alguém
na televisão. “O governo de Dilma sai bastante enfraquecido da eleição”,
afirmou um outro elemento. “A oposição foi derrotada pela comunicação”,
asseverou um outro, na maior cara de pau, certo de estar convencendo as pessoas
que o ouviram.
Hora de diálogo e mudanças
“Brasil, mais uma vez, esta filha tua não fugirá da luta!”(Dilma Rousseff, na primeira fala após a reeleição)
Em seu primeiro
pronunciamento após o consagrador triunfo eleitoral, a candidata reeleita Dilma
Rousseff deu voz à estadista para conclamar a Nação a conjugar ideias, emoções,
ações, sentimentos e vontades na conquista do futuro. Concentrou apostas na
“energia mobilizadora da sociedade” com vistas à preparação de terreno propício
para a construção de “um novo momento”. Enfatizou a força do diálogo, lembrando
que nas democracias maduras “união não significa ação monolítica”, mas
pressupõe abertura e disposição para o saudável intercâmbio das ideias.
“Toda eleição
tem que ser vista como forma pacífica e segura” - acentuou também,
acrescentando que “toda eleição é uma forma de mudança” e que uma reeleição há
que ser entendida como “um voto de esperança dado pelo povo na melhoria do
trabalho do governo.” Asseverando ter compreendido com precisão o clamor
popular por mudanças estruturais traduzido nas urnas, anunciou a disposição de
se tornar “uma Presidenta muito melhor do que fui até agora.”
A fala de Dilma
Rousseff encontrou simpática ressonância em diferentes setores da comunidade.
Recolhemos de alguns conhecidos - que fazendo valer respeitável prerrogativa
democrática optaram por não clicar o “13” na cabine indevassável - emblemáticas
manifestações. Traduzem provavelmente uma média sugestiva das reações
favoráveis detectadas em ponderáveis camadas da sociedade à conclamação
presidencial pelo diálogo e pelas reformas. Reformas essas, como sabido,
ardentemente almejadas no sentimento das ruas.
Um desses
conhecidos, visivelmente impressionado com os termos do discurso,
classificando-o de “propositivo, lúcido e sereno”, assegurou-nos que não teria
experimentado dúvidas em dar o voto à candidata reeleita, caso tivesse ouvido,
anteriormente, pronunciamento seu de igual teor.
Dilma tem agora
pela frente os olhos da Nação focados em suas futuras iniciativas. Mais do que
uma simples expectativa, paira no ar uma ardente esperança. Essa esperança
converge para as promessas feitas pela candidata, a serem transmutadas em ações
concretas imediatas pela Presidenta.
As reclamadas
reformas política e tributária, o intransigente combate à corrupção, com
alterações na legislação capazes de por cobro à impunidade, são alguns itens
essenciais nesse processo complexo de enfrentamento das muitas questões
consideradas tormentosas para a sociedade. No tocante à atividade econômica, as
atenções se voltam naturalmente para o anúncio e a execução de medidas que
imprimam ritmo mais acelerado ao crescimento, com garantia da sustentabilidade
empregatícia até aqui mantida e a expansão de postos de trabalho derivada da
abertura de mais frentes de negócios.
Dilma está
coberta de razões ao afirmar, alto e bom som, que este nosso Brasil brasileiro
“saiu maior desta eleição.” Isso nos remete à reconfortante certeza de que a
Nação inteira – com espaço óbvio nas discussões reservado aos respeitáveis
segmentos da opinião política que submeteram à apreciação do eleitorado
propostas de atuação governamental diferenciadas das proposições da corrente
vitoriosa - tem todo o direito de aguardar decisões que levem à construção de
“um País mais moderno, mais produtivo, um País da solidariedade e das
oportunidades.”
A união de todas
as forças vivas do País à volta de um magno projeto de desenvolvimento,
desejada igualmente no pronunciamento do senador Aécio Neves ao reconhecer os
resultados do pleito, constitui na verdade um anseio nacional.O
recado das urnas
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