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XXX ENCONTRO CULTURAL
DA ACADEMIA
Análises de Delfim e Ciro
“Nenhum
outro país tem um portfólio tão impressionante.”
(Delfim
Neto)
Uma
sequência de lúcidas análises sobre o momento político, econômico e social
brasileiro foi oferecida pela “CartaCapital” aos leitores em sua edição de 5 de
novembro. A revista abriu espaço para entrevistas e comentários de Delfim Neto,
Ciro Gomes, Jaques Wagner e Renato Janine Ribeiro. Vale a pena anotar muitas
das coisas por eles transmitidas.
Crescer
é a única alternativa, afiança Delfim, acentuando que sem a confiança do setor
privado, a Presidente Dilma Rousseff corre o risco de sacrificar os ganhos
sociais. “O Brasil vai precisar de um ajuste”, assinala, acrescentando que
“estamos em uma situação desagradável, mas não à beira do Apocalipse, da
tragédia.”
Ele
mantém firme sua aposta no Brasil, mas adverte: “É crescer ou crescer. Não há
outra saída.” Depois de explicar que “ninguém pode esperar um superávit
primário de 2% em uma fase de estagnação” e que “não se pode mais usar
políticas fiscais compensatórias, pois o nível da dívida subiu muito e as
medidas não têm mais eficácia”, Delfim voltou a bater na tecla: temos de voltar
a crescer. O economista reconhece que Dilma “perdeu a credibilidade no setor econômico
por ter sacrificado o equilíbrio fiscal e ter sido um pouco leniente com a
inflação”. Tudo isso - assevera ainda – “para conservar a inclusão social.”
Acrescenta que, apesar da falta de apoio do setor econômico, “ela ganhou a
eleição, por causa do suporte social, pelo fato de manter os empregos e a
melhoria dos salários.” Delfim lembra que “Aécio teve apoio do mundo econômico,
mas o PSDB continua associado ao descaso com as demandas sociais.”
Indagado
da razão pela qual Dilma Rousseff não conseguiu manter o ganha-ganha dos tempos
de Lula, Delfim respondeu: “Lula é uma coisa diferente, um animal de outro
mundo, uma inteligência absolutamente privilegiada” (...) “Ele tem uma intuição
poderosa e foi beneficiado por um vento de cauda muito grande.” Voltando a
analisar o governo Dilma, sublinha que “quando ela assumiu, o vento de cauda
havia se transformado em vento de frente.” “Depois – anota ainda – viu que a
economia ia crescer muito pouco e esqueceu o programa que a elegeu”, esperando
“fazer mais com menos”, com ênfase na produtividade. Para o ex-ministro, o
governo demorou em promover as concessões na área da infraestrutura. “Demorou,
porém parece ter aprendido.”
No
final das considerações, Delfim enfatiza a necessidade de ser recuperada pelo
governo a confiança do setor econômico, sob pena de perdê-la no flanco social.
Palavras textuais suas no arremate: “Tenho pela Dilma uma grande admiração. Ela
tem uma virtude extraordinária, é absolutamente honesta. Talvez
desagradavelmente honesta para alguns. O governo tem se aperfeiçoado na área de
concessões isso é claro. Além disso, o Brasil tem programas magníficos,
projetos monumentais, com taxas de retorno gigantescas. Nenhum outro país tem
um portfolio tão impressionante. Com um mínimo de inteligência o Brasil vai
voltar a crescer.”
Já
Ciro Gomes, ex-Ministro e ex-governador, sustenta a tese de que Dilma “precisa
de melhores companhias”. “É incrível que tenha escapado da derrota com a equipe
que montou no governo.” Afirma ainda que a Presidenta ganhou o pleito em razão
de a maioria dos brasileiros ter perdoado “as graves contradições de sua
governança e, especialmente, de sua condução da economia.” Aduz a essas
considerações: “E o fizemos por argumentos de duas ordens: confiamos em sua
boa-fé e decência pessoal, vis-à-vis a crônica de desmandos e escândalos
magnificados pelos sócios majoritários da imoralidade prática, especialmente na
grande mídia. E, acima de tudo, penso eu, por percebermos que, por trás de
tudo, é possível enxergar que a “turma” que Dilma de fato representa, apesar de
sua mania de andar mal-acompanhada, os valores mais importantes para o povo: o
compromisso nacional, o trabalho como bem central em uma Nação civicamente
sadia, o compromisso moral com a superação da vergonhosa desigualdade que nos
aparta (de um lado, uma elite minúscula, mas aferrada a uma cultura
escravocrata, de outro, imensa maioria excitada com informação globalizada de
um padrão de consumo ao qual não conseguem ascender com o pouco que
evoluíram).”
Ciro
acredita que pra tudo há solução. Mas nenhuma produzida a partir da prostração
ideológica que caracterizou a campanha eleitoral. “Fora do trivial cardápio
moralista, discutiram-se apenas as nuances do conservadorismo.” Conclama a
presidenta “a desinterditar o debate, chamar a inteligência brasileira e pedir
que todos deixem suas certezas na porta de entrada e, livres de preconceitos,
produzam uma ideia comovente ao País. Uma economia política inteligente guiada
pelo pragmatismo na superação de nossos desequilíbrios.”
Análises de Janine e Wagner
“A
democracia é o território do diálogo,
do
contraditório e do embate de ideias.”
(Jaques Wagner, governador da Bahia)
Reportamo-nos
hoje, como prometido, após conhecer as análises de Delfim Neto e Ciro Gomes,
aos depoimentos feitos por Jaques Wagner e Renato Janine Ribeiro sobre o
momento político, social e econômico brasileiro. Já explicamos que essas e as
anteriores manifestações citadas, foram publicadas pela “CartaCapital”.
Representam, todas elas, interpretações dignas de atenção da realidade
nacional.
Assegurando
que a votação recebida por Dilma provém da constatação popular de que a
presidenta reeleita sabe conduzir melhor as políticas sociais, o filósofo
Renato Janine Ribeiro, da Universidade de São Paulo, espera que ela mude seu
modo de governar, se quiser “fazer um segundo mandato melhor do que o
primeiro.” Assevera que, justamente por isso, precisa empenhar-se nesse sentido
com o mesmo denodo de Lula, que se saiu melhor na etapa complementar da gestão.
Registra que “se houver de fato uma disposição maior ao diálogo”, isso será
ótimo, lembrando que Dilma é considerada por muitos como centralizadora,
circunstância que acaba obstruindo a criatividade.
Sobre
a alegada divisão do Brasil, o pensador emite o seguinte conceito: “Existe um
clima de ódio alimentado por alguns veículos, sobretudo uma revista. Mas acho
que ao menos 50% dos brasileiros não dão muita importância à política. Entre
aqueles 30% e 40% que dão, há um profundo antagonismo. Mas vejo essa revolta,
essa intolerância, mais no eleitorado tucano. Isso não quer dizer que os 48%
que votaram em Aécio são intolerantes, um terço, talvez. E um número menor
ainda fala em impeachment. Restou,
porém, uma divisão, não geográfica, mas entre aqueles que se sentem
beneficiados pelas políticas sociais do governo petista e quem se sente
prejudicado ou tem preconceito contra a população que subiu na vida nos últimos
12 anos. Havia uma expressão horrorosa nos anos 1960, quando ocorreram os
conflitos raciais nos Estados Unidos. “No Brasil não temos isso porque os
negros conhecem seu lugar.” A ideia de que o pobre sabe qual é “o lugar do
pobre” sempre foi forte no Brasil.”
Afiançando
que o Brasil não está dividido e que aos vencedores é negada a soberba e aos
perdedores o rancor, Jaques Wagner, declara, por sua vez, que o país
empolgou-se com dois projetos políticos. Os programas apontaram para diferenças
que precisam ser assumidas para que possam ser superadas. “Mas na pluralidade a
nossa unidade deve ser sempre protegida”, argumenta.
Na
análise do governador da Bahia, a democracia, nosso bem maior, “é o território do
diálogo, do contraditório e do embate de ideias.” A democracia – registra ainda
– “não resiste à intolerância e a qualquer tipo de fundamentalismo.” Já que
nossa democracia é complexa, com múltiplas tonalidades, imaginar a hipótese de
reduzi-la – sublinha também – é empobrecer e simplificar o debate.
Wagner
propõe relações melhores com o empresariado, assinalando que pontes carecem ser
construídas para recuperação do nível de investimento e aumento da
produtividade. Alude também à questão tormentosa da corrupção, defendendo que
ela seja combatida com vigor, “tanto no âmbito da sua repressão e punibilidade
dos efetivamente envolvidos, como na sua prevenção, aumentando os mecanismos de
transparência e controle, modificando as suas causas geradoras, especialmente o
financiamento das atividades políticas.”
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