sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Afugentando talibãs 

 “Aventurar-se a ser radical e não ser imbecil não é fácil.”
(James Garfield)

Essa minha amiga, dona de alentado currículo como educadora, democrata sincera, politicamente apartidária, engajada em fecundo trabalho humanitário, resolveu lidar de modo engenhoso, empregando leve pitada de humor, com a histeria talibã que se apoderou do território internáutico onde diariamente exercita, como ocorre com ávidas multidões, a arte da convivência.

Estando “já por aqui” – conforme anota, botando ênfase nas palavras e acompanhando-as de gesto característico – com “as raiventas mensagens encaminhadas, dia sim outro também, por conhecidos contaminados pelo ebola do radicalismo mais idiota”, bolou resposta-padrão, nos devidos trinques, àqueles que desperdiçam tempo para importuná-la. Explica, com detalhes, que não concordando, por entender-se “cidadã no pleno juízo das faculdades mentais”, com a pregação intolerante, machista, preconceituosa, racista, afrontosa ao sentimento das ruas, de uma minoria de fanáticos que anda falando, entre outras parvoíces, em dissolução do Congresso, deposição de governantes legítimos, desrespeito aos direitos fundamentais e substituição do regime democrático por um sistema despótico, promovendo ainda denuncismos sem fundamento, procurou num primeiro momento responder às mensagens desvairadas com ponderações objetivas e argumentos jurídicos e éticos. Nada disso conteve a insana onda.

A saraivada de despautérios parece até haver crescido ao depois. Os extremistas contra atacaram com furor mais exacerbado. Foi aí, então, que resolveu adotar o método atualmente utilizado, polido mas incisivo, no diálogo com a turma. Na mesma hora em que lhe cai às mãos uma mensagem de cunho radical, ela dá o troco num definitivo recado: “Caro Fulano (ou fulana): acuso recebida a circular em que propõe, com fervorosa convicção, a implantação no Brasil de um califado nos moldes defendidos pelos adeptos do chamado Estado Islâmico”.

Indago, curioso, dessa minha amiga: - “Está dando certo tal reação?” Resposta: “E como! Muito certo! Vários deles vêm optando, agora, nas manifestações, por moderação na crítica política. Há também quem deu preferência por trancar-se em copas. Manter-se mudo e quedo que nem penedo.”
Fica aí uma sugestão para afugentar cricris que com seu mau humor enxameiam as redes sociais destilando fel. Indivíduos esses que encontram insuplantáveis dificuldades para engatar as marchas corretas na caminhada pelas estradas da vida.


Conto de fadas diferente
  
“Aqui sou feliz”.
(Maria Rosa Silva, a moça que rejeitou a fama)

História recheada de ternura, com toque de certo modo ecológico, uma espécie de conto de fadas com epílogo fora do enredo, a dessa paranaense de nome Maria Rosa Silva, narrada por René Ruschel na “CartaCapital” de n°627.
Em 1988, então com 11 anos de idade, a jovem, hoje com 26 anos, mãe de dois filhos, atraiu à atenção do famoso ator Antony Quinn, que se encontrava no Brasil para rodar em Portal do Paraná cenas daquele que seria o penúltimo filme de sua fulgurante carreira que acumulou quatro Oscars. Trabalhando na peixaria da mãe, próxima do restaurante onde os integrantes do elenco faziam as refeições, a garota tentou recolher autógrafos das celebridades. Quinn pegou-lhe a mão, olhou-a fixamente e, visivelmente comovido, disse-lhe que ela era reencarnação de uma pessoa muito querida. Estudiosos da vida e obra do ator anunciaram, tempos depois, que essa “pessoa muito querida” seria a atriz Susan Ball, falecida aos 21 anos em 1955.
O encontro teve desdobramentos surpreendentes. Antony Quinn e esposa, Kathy Benvin, acabaram convencendo a família de Maria Rosa a permitir que ela fosse levada para os Estados Unidos, onde lhe assegurariam educação e vida de enorme conforto. A menor partiu, mas ficou fora apenas duas semanas. Disse sentir saudades da família, da casa, dos amigos, do lugar onde vivia. Seu célebre protetor não conseguiu, jeito maneira, demovê-la do propósito de retornar. Apesar disso, manteve, dali pra frente, contatos por carta e telefone com a garota, até que a morte o levasse em 2001. Maria Rosa recusou, na sequência, reiterados convites para atuar como modelo, atriz e ser capa de revista. Optou pela continuidade da vida simples do interior. Ainda trabalha na peixaria da mãe. Cursou administração, frequentando depois curso de direito. Estuante de vida, boa estampa, argumenta sempre que “para ser feliz, precisa muito pouco” e que é imensamente feliz no lugar em que mora.


Midia oposicionista. Mino Carta, ex-diretor da “Veja”, ex-diretor da “IstoÉ”, atual diretor da “CartaCapital”, é apontado por muitos como uma das figuras exponenciais do jornalismo brasileiro. O que escreve tem peso e medida. Ele costuma dizer que a grande mídia nativa representa, no atual panorama político, o segmento mais poderoso das forças da oposição. Os fatos do noticiário nosso de cada dia alimentam, continuamente, a intrigante tese. Nas especulações de nomes e, depois, na escolha dos integrantes do novo ministério de Dilma Rousseff, isso parece haver ficado, outra vez, evidenciado. Num primeiro momento, numerosos comentaristas e analistas criticaram asperamente, por antecipação, a presidenta dando por certa a hipótese de que a composição do quadro de auxiliares diretos, segundo “abonadas fontes”, iria contemplar elementos de forte “tendência bolivariana”, seja lá o que de pejorativo tal expressão possa significar na concepção dos que a utilizam. Anunciadas as primeiras indicações de nomes para o Ministério, acolhidas com simpatia notadamente nos círculos empresariais, o tom da critica mudou. Dilma – passaram, então, a dizer - renegou promessas, revelou “tremenda incoerência”, deu uma guinada de 180 graus nos compromissos assumidos, resolvendo sem mais essa nem aquela, simplesmente “tucanar”... É a tal história: preso por ter cão, preso por não ter.


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