A repulsa mundial com relação ao atentado à
redação do semanário francês "Charlie Hebdo", vem retratada abaixo pelo talento de chargistas mineiros, que
com verve e espírito crítico enriquecem as páginas de nossos jornais.
Os traços são dos
cartunistas Son Salvador, Duke, Quinho, Janey Costa, Mario Vale.
O Papa e o Dalai Lama
“Apenas os que dialogam podem construir pontes e vínculos.” (Papa Francisco)
Confesso
em boa e lisa verdade, das altitudes everestianas em que se aloja minha
incondicional admiração pelo Papa Francisco, haver experimentado uma pontinha
de preocupação e desconforto com a notícia de que o Vaticano não descobriu na
agenda pontifícia espaço de tempo, mínimo que fosse, mode permitir ao Dalai Lama
bater papo reservado com Chico. Imagino que só mesmo razões poderosas demais da
conta, um tanto quanto também misteriosas, poderiam influenciar tão
desconcertante atitude. Os temores de que o autoritário governo chinês pudesse
vislumbrar no cordial gesto da Igreja, em recepcionando o líder budista, sinal
“inamistoso” capaz de perturbar a evolução dos entendimentos diplomáticos em
marcha no sentido de que a China conceda maior liberdade religiosa às minorias
cristãs, parecem-me, de princípio, insuficientes como argumento para explicar aquilo
que, de fato, rolou nos bastidores.
O
Papa, pelo que todos nos habituamos a observar, não é alguém que contenha os
impulsos generosos de seu dna diante de desafios tormentosos nascidos das
incompreensões e intolerâncias mundanas, que se anteponham à caminhada em favor
de uma construção humana fraterna.
Mas,
diante do episódio já consumado, nada me compete fazer além deste
despretensioso registro. Quem, afinal de contas, pensa ser este desajeitado
escriba, com suas quimeras em torno da vida, pra querer adivinhar o que
exatamente ocorreu nessa tentativa frustrada de aproximação, para diálogo
inequivocamente positivo, dos dois carismáticos personagens? Maior estadista
destes modernos e conturbados tempos, Francisco - desfazendo rançosos padrões
de comportamento nas relações inter-religiosas e políticas - tem consagrado
atenção especial à conciliação universal, a práticas ecumênicas em condições de
reconectarem o mundo com sua essência espiritual e humana. Isso pesa na
interpretação dos atos que promove como líder da Igreja.
Pecados
jornalísticos. Recebendo no
Vaticano um punhado de comunicadores ligados à televisão europeia, o Papa
Francisco relacionou para os visitantes os grandes pecados da atividade
jornalística no mundo contemporâneo. São estes: calúnia, difamação,
desinformação. O Pontífice condenou também o alarmismo catastrófico, a falta de
sensibilidade social e a tendência para relatos dos acontecimentos pela metade.
Noutra
manifestação palpitante, o Pontífice conclamou as pessoas a enfrentarem por
meio do diálogo respeitoso, da vivência ecumênica, os dramáticos problemas
suscitados pelo fanatismo, pelo radicalismo, pelos preconceitos e intolerância
existentes neste mundo tocado pela pluralidade de ideias.
Episódios surrealistas
“Algumas bizarrias
destes confusos tempos são
mais
surrealistas que as telas de Salvador Dali.”
(Antônio Luiz da
Costa, educador)
Vereadores
de Belo Horizonte reavivaram recentemente uma versão, com toque bem
sofisticado, do “curral eleitoral” dos tempos do voto na base do “bico de pena”
ou da “marmita de cédulas”. Mode evitar eventuais deserções de última hora, que
pudessem prejudicar o triunfo, tido como “favas contadas”, no pleito para a
composição da mesa dirigente da Câmara, os edis comprometidos com a chapa
apoiada pelo Executivo foram confinados num hotel confortável, cumulados de
mordomias, até a hora de depositar os votos nas urnas. O esquema funcionou a
pleno contento e apresentou, além da vantagem comparativa das comodidades
oferecidas aos eleitores, um outro diferencial com relação aos “currais” de
antanho. O eleitor confinado sabia de antemão dos nomes a serem sufragados. No
passado, as coisas não corriam bem assim. Os votantes agrupados em “currais”
desconheciam, quase sempre, as pessoas para as quais seriam destinados os
votos. Se alguém, dentre eles, se aventurasse a indagar pelos nomes dos
personagens a serem votados, ouviria como resposta dos encarregados em manter o
“moral” da turma concentrada nos “currais”, protegendo-a de malsãs influências
externas, o seguinte: - “Mas como é que a gente vai saber dos nomes, se o voto
é secreto?”
“Mico”
atrás de “mico” A histeria de
talibãs tupiniquins continua gerando o que, no popular, é considerado “pagar
mico”. Em Goiás, cidadão investido da condição de procurador revelou-se
possesso ao tomar conhecimento de que o governo brasileiro estaria enviando
jovens à Venezuela para receberem treinamento em prol da incendiária proposta
da tal “revolução bolivariana”. Pediu em altos brados a instauração de rigoroso
inquérito contra a União, exigindo do Itamaraty as explicações devidas face à
gravíssima denúncia. Pouco depois de toda sua frenética movimentação, ficou
sabendo que a “exportação” dos jovens mencionada pela fonte em que se louvou
para fazer as veementes denúncias dizia respeito a uma região de Sucre
denominada “Brasil”, e não ao país do mesmo nome. País onde vive, trabalha e
desfruta de liberdade para cometer toda sorte de asneiras. Pelo que consta, o
referido cidadão se recusa, até aqui, a estender a mão à palmatória, mode
retratar-se da vexação.
Já
esta outra aqui, também militante de falange radical, vereadora carioca, achou
por bem usar da tribuna para desancar colegas “comprometidos” com o tal
“movimento bolivariano”, seja lá o que isso signifique, centrando
incandescentes críticas no bigodudo presidente da Venezuela Nicolás Maduro.
Toda explosão retórica teve como fulcro manifestação simpática de companheiros no
parlamento à figura do lendário Chaves, personagem da televisão, recentemente
falecido. O “carlitiano” artista mexicano foi confundido pela raiventa
parlamentar com outro Chaves famoso.
Hugo, ex-presidente venezuelano, também já desencarnado.
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