sexta-feira, 30 de janeiro de 2015


Passando tudo a limpo

Cesar Vanucci *

“É apenas o começo.”
(Juiz Sergio Moro, comparando a “Lava Jato”
 com a operação “Mãos Limpas”, deflagrada na Itália)

Desta feita, parece que as coisas vão ser realmente passadas a limpo, doa a quem doer, de conformidade com as aspirações da sociedade. Nascida de benfazeja conjugação de forças, envolvendo Justiça Federal, Ministério Público Federal, Ministério da Justiça, Polícia Federal, a operação “Lava Jato” dá provas de manter sob pulso firme as rédeas dos acontecimentos, avançando com firmeza nas apurações das colossais maracutaias praticadas por ousado bando mafioso composto de agentes públicos, políticos e empreiteiros inidôneos, além de elementos do submundo financeiro.

No começo, ao se delinearem indícios do escabroso esquema, as operações de deslindamento dos fatos concentraram-se nas irregularidades promovidas por graduados da Petrobras, os apelidados “predadores internos”. Ao depois, surgiram pistas apontando na direção da grei política.

O vazamento de nomes, rodeado de espalhafato, sem acompanhamento de provas, enfocou em dado momento, campanha eleitoral em curso, partidários da candidatura situacionista. Adiante, o mesmo reprovável critério de denuncismo solto alvejou também alguns elementos das fileiras oposicionistas. Compreensível reação do núcleo central das investigações levou à constatação de que pessoas com acesso às diligências, em manobras escusas, empenharam-se no lançamento de lenha na fogueira política. Sindicância aberta para definição de responsabilidades conteve um pouco o açodamento acusatório.

Noutro momento, a opinião pública tomou ciência, estupefata, do indiciamento, além dos funcionários infiéis da estatal e de doleiros inescrupulosos, de outro poderoso conjunto de malversadores do bem público: empreiteiros agrupados num cartel montado com o fito de mamar à exaustão nas tetas do Tesouro. Esta foi, certeiramente, a primeira vez que a história registrou a detenção em massa de corruptores desse naipe. No passado, outras operações ligadas a delitos de “colarinho branco” deram em nada.

Chega agora, tudo indica, a hora das denúncias oficiais contra políticos emaranhados nos fraudulentos esquemas. Da lista, provavelmente, não constarão todos os nomes listados na onda sensacionalista dos vazamentos intempestivos. O que também parece em vias de ocorrer são revelações relativas ao sistema financeiro clandestino usado na desova da nota preta acumulada nos atos de corrupção e sonegação da atrevida patota.

Os brasileiros aguardam da força-tarefa coordenada pelo magistrado Sergio Moro e pelo Procurador Rodrigo Janot que o trabalho atinja as derradeiras consequências. A operação Lava Jato pode redimir o país do tantão de investigações inacabadas que resultaram em pizza e das impunidades mortificantes.



Tragédias terroristas lá e acolá

Cesar Vanucci *

“Eu sou Charlie!”
(Frase que o mundo adotou para expressar
indignação aos atos dos fanáticos do Apocalipse)

Os atentados que estremeceram Paris e comoveram o mundo produziram verdadeira conscientização universal quanto aos riscos confrontados pela humanidade diante do radicalismo terrorista. As calorosas manifestações de solidariedade e repulsa ouvidas de pronto em todos os cantos do planeta deram o tom firme e resoluto da reação aos desatinos radicais.

A caminhada que líderes mundiais, de diferentes tendências políticas e religiosas, de braços dados, empreenderam pelas ruas da capital francesa, em sinal de desagravo, à frente da  multidão, reafirmou a certeza de que a sociedade humana identifica no fanatismo incendiário, espalhado por aí, um adversário feroz. Um inimigo obcecado pelo propósito de destroçar valores caros à boa convivência. Com interpretações mórbidas de textos sagrados, atitudes preconceituosas violentas, as falanges radicais de diversificadas matizes tornaram-se, na atualidade, ameaças permanentes à estabilidade social.

O desafio está posto. O combate ao radicalismo há que ser vigoroso. Mas não pode prescindir das cautelas recomendadas pela cartilha democrática. As facções extremistas não podem lobrigar brecha alguma nas medidas de defesa social a serem adotadas que crie ensancha oportunosa a manobras perversas. Nada que venha alimentar a intolerância, a xenofobia, a discriminação contra segmentos formados por criaturas de boa paz. Confundir a imensa maioria dos seguidores do Islã com essa horda minoritária desvairada que semeia o pavor em nome de falsos conceitos religiosos é laborar em equívoco clamoroso, suscetível de afetar a convivência inter-religiosa e humanitária.  A fonte matricial dos impulsos criminosos terroristas não é religiosa. Não é étnica. Nada tem a ver com nacionalidades. É brutalidade solta. Declaração de guerra gratuita contra a dignidade humana, como fez questão de registrar, em indignado pronunciamento, o Imã da Grande Mesquita de Paris, principal hierarca da comunidade muçulmana, Dali Boubakeur.

Depois de tudo isso devidamente trazido à reflexão, rogo agora um minuto da preciosa atenção dos poucos (mas leais) leitores deste desajeitado escriba para o registro de outra tragédia terrorista de dias atrás.

Aconteceu na mesma semana dos incidentes em território francês acima comentados, parece até que no mesmo dia. A Nigéria, país com a maior população do continente africano, foi cenário de atos perpetrados com dose de crueldade inaudita por outro grupo radical. A grande mídia internacional, concentrada absorventemente na cobertura dos acontecimentos de Paris, não reservou no relato dos episódios tempo e espaço correspondentes à sua gravidade.

Seguinte: vinte pessoas morreram estraçalhadas e outras dezenas ficaram feridas num shopping popular em consequência da detonação da carga de dinamite presa ao corpo de uma – anotem aí - garotinha de apenas dez anos de idade. Dois dias depois, provocando igualmente grande número de vítimas inocentes, mais duas menores, uma de 11 e outra de 13 anos, “explodiram” noutro local de intensa movimentação popular. As ocorrências foram praticadas a mando da arrepiante facção terrorista “Boko Haram”. Organização que também se diz “porta-voz” do pensamento maometano, no que é veementemente contestada pelas lideranças dessa corrente religiosa majoritária no país. Os responsáveis pela horripilante façanha se notabilizam, tanto quanto os selvagens adeptos do Isis, por barbaridades sem fim nas regiões em que atuam.

Este registro comporta uma interrogação de certo modo incômoda, que insistimos em fazer a nós mesmos: será que a diferença de tratamento dispensado pela mídia, atinente à divulgação das tragédias na França e na Nigéria, pode induzir a suposição de que, do ponto de vista da comunicação internacional, uma tragédia horrenda em terras d’África não teria o mesmo peso de uma tragédia horrenda acontecida em terras europeias? E como uma coisa puxa a outra, será que as lideranças mundiais não poderiam promover também em Lagos, capital da Nigéria, uma outra emblemática e memorável manifestação pública, como a de Paris, para expressar seu desagravo e repulsa a esses fanáticos do apocalipse?



Onde já se viu?

Cesar Vanucci *

“Não se espantar é toda a arte que
conheço para tornar e manter a gente feliz.”
(Pope)

Os juros cobrados aos consumidores que recorrem a financiamentos continuam a escalada estratosférica. Calcula-se que a taxa média anual nas operações bancárias andem próximas dos 45 por cento, mais do que o triplo do aumento dos juros básicos (Selic), fixados pelo Banco Central. No tocante aos juros do cheque especial, apontando índice de crescimento superior a 15 por cento no exercício passado, a taxa anual já ultrapassa os 200 por cento. A mais elevada dos últimos anos, mesmo considerada a circunstância de a Selic, utilizada como referência pelo sempre voraz sistema bancário, ser agora menor do que era em períodos anteriores. Dados tão desestimulantes - a serem fatalmente agravados com esta mais recente elevação da Selic - incitam os observadores a sair gritando por ai como certamente faria o saudoso Joelmir Beting com aquela verve e domínio do assunto que tanto o distinguiam no colunismo econômico: “Cruz crédito!”

Namorados virtuais. Observando por aí esse mundão de gente, em tudo quanto é canto, a toda hora, em circunstâncias as mais inesperadas e improváveis, a clicar incríveis engenhocas eletrônicas, recebendo, passando e repassando informações, filmando, fotografando, batendo papos intermináveis, fofocando, adquirindo e desvencilhando-se de coisas, num pandêmico esforço de comunicação global, não cheguei a me espantar nadica de nada com uma reportagem do Fantástico. Mostrando mudanças viscerais de comportamento ocorridas, ultimamente, na sociedade japonesa, a repórter entrevistou alguns rapazes, que se proclamam de saída heterossexuais, mas que se dão por plenamente realizados hoje, nos relacionamentos “com o outro sexo”, em manter enraizados elos afetivos com personagens virtuais. Eles trocam confidências com as “namoradas”. Chamam-nas carinhosamente pelo nome ou apelido. Demonstram zelo e carinho na incrementada “convivência”. Dizem sentir falta delas. Admitem até nutrir um certo sentimento de posse que os leva, às vezes, ao ciúme. As revelações, comportando indicadores de rematada babaquice, um maná para estudiosos de antropologia e psiquiatria, não chegaram ao ponto de uma explicação suficientemente clara sobre se paixonite tão tórrida é capaz de arrastar os enamorados, nalgum momento, a atos de intimidade conjugal. Onde já se viu!...

“Viva Hitler!” Comandante do Batalhão de Choque da PM carioca até recentemente, o coronel Fábio de Souza vem de ser exonerado das funções que ocupava no gabinete do Secretário da Segurança naquele Estado. Adepto confesso do nazismo, o militar, junto com colegas da corporação, fazia apologia das ideias hitleristas na internet, propagando mensagens deste teor: “Viva Hitler!”; “Viva a raça sem defeitos!”; “Coronel Fábio pela instauração do Reich!” Incitava, ainda, em ordens de comando aos subordinados, a violência policial para coibir manifestações de protesto. Entrou em discordância com outro coronel, Márcio Rocha, ex-comandante do Batalhão de Choque. Pouco depois de uma troca de mensagens suas com outros militares criticando o colega, a residência do referido coronel foi alvejada com rajada de tiros. Tá danado.

Atlas desfigurado. Uma editora britânica conceituada socorreu-se de um expediente indigno para movimentar vendas de seus produtos no Oriente Médio. Lançou um Atlas omitindo a existência do Estado do Israel. “Justificou-se” com a afirmação, ridícula a mais não poder, que sua decisão obedece a “preferências locais”. Consta que, após o malfeito praticado, a editora fez um mea-culpa, desculpando-se. Tá danado.




GALERIA DE ARTE



DI CAVALCANTI,

CIDADÃO DO MUNDO 

Di Cavalcanti

                                                                 Para mim, a principal função
                                                          da arte é a conscientização”
(Di Cavalcanti)

Mais conhecido como Di Cavalcanti, Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo foi um grande pintor, desenhista, ilustrador e caricaturista brasileiro.
Um dos idealizadores da semana de Arte Moderna de 1922, foi dos primeiros a retratar elementos da realidade urbana brasileira, como favelas, festas populares, operários.
Juntamente com outros nomes de valor, como Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Graça Aranha, foi um dos mais representativos artistas do modernismo brasileiro.
Di Cavalcanti contava em sua obra o que via e o que vivia, seja no desenho, na caricatura ou na pintura. Mostrava o cotidiano das pessoas comuns. Sua obra contempla a sociedade brasileira de seu tempo, aquilo que seu olhar pôde perceber.
Di Cavalcanti notabilizou-se ainda como escritor, jornalista e poeta. Transportou para a arte brasileira a complexa efervescência social e política do século 20.
Boêmio, cidadão do mundo, trazia na alma três capitais – Rio de Janeiro, São Paulo e Paris. Uma das principais figuras da Semana de Arte Moderna, foi, apesar de sua natureza indisciplinada, um artista engajado. Cultor da beleza feminina, fez das mulheres o tema principal de sua obra. 
(Fonte: “Mercado Arte”)

Na ilustração, amostras do poder criativo do artista

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