E por falar em
latifúndio
Cesar Vanucci *
“Hoje, quem não tem
lucros expressivos
com a agropecuária
prefere ficar na terra,
pois sabe que ela se
valorizará com o tempo.”
(Bastiaan
Reydon, consultor do Banco Mundial)
A
ilustre Ministra Katia Abreu, da importante pasta da Agricultura, está na
obrigação de corrigir a declaração feita de que não mais existe latifúndio no
continente territorial brasileiro. Ou, então, de solicitar, do alto de sua
prerrogativa como autoridade ministerial, que o Incra cuide rápida e
urgentemente de promover uma alteração radical em seu Cadastro de Imóveis
Rurais. Isso carece ser feito de modo a evitar a divulgação de “informações
equivocadas” pertinentes à palpitante questão imobiliária no campo.
De
acordo com o Cadastro mencionado, contemplando-se apenas o segmento das
propriedades privadas, deixadas de lado as terras públicas ou devolutas,
existem hoje no Brasil apenasmente 130 mil e 300 latifúndios. Essas porções de
terra de descomunal tamanho abarcam área superior a 244.7 milhões de hectares.
A superfície média das propriedades em questão corresponde a 1,8 mil hectares.
Recorrendo-se a uma outra medida, 18 mil quilômetros quadrados, tá bem? Os
indicadores do órgão governamental apontam no sentido de que 2.3% dos
proprietários rurais concentram hoje 47.2% de toda a área disponível para o
desenvolvimento das atividades agrícolas, reconhecidamente fundamentais no
processo de desenvolvimento nacional. No modo de ver da Associação Brasileira da
Reforma Agrária, pelo menos a metade desses mais de 130 mil latifúndios
constantes do Cadastro do Incra mostra-se improdutiva. Pela legislação
fundiária vigente, sobre um terreno rural dessa proporção, devidamente
caracterizado como improdutivo, recairia ônus tributário anual de 20 por cento
de seu valor. Se tão rígido critério fosse pra valer, o dono do imóvel ficaria
sob o risco de vir a perdê-lo ao longo de cinco anos. Mas não se conhece caso
algum em que a legislação haja sido aplicada.
Para
se ter uma ideia da dimensão colossal desses latifúndios, os maiores do mundo,
aqui estão pra efeito de comparação, as superfícies em quilômetros quadrados de
algumas unidades federativas brasileiras: Alagoas, 29.107 km²; Distrito
Federal, 5.794 km²; Sergipe, 21.867 km²; Espírito Santo, 45.733 km²; Rio Grande
do Norte, 53.167 km²; Paraíba, 53.958 km². Oportuno ainda ressaltar que Belo
Horizonte, com seus 332 quilômetros quadrados de superfície, acolhe uma
população próxima dos dois milhões e quinhentos mil habitantes.
Um
conhecido que vai sempre a negócios ao Japão conta-me que, em mais de uma
oportunidade, ao se falar das gigantescas extensões brasileiras de terra
apropriadas para cultivo recolheu de cidadãos daquele país manifestações que
giram entre a incredulidade e a perplexidade. Vivendo espremidos num território
de superfície inferior a 320 mil quilômetros quadrados, os japoneses sentem,
obviamente, tremenda dificuldade em entender como pode nalgum lugar do mundo
(no caso, o Brasil) áreas desse tamanhão não inspirarem a criação, nos planos
prioritários de desenvolvimento, de políticas mais arrojadas na distribuição da
terra.
Acompanhada
da implementação em elevada escala de boas técnicas de produção e
produtividade, disponíveis entre nós, essa distribuição constituiria
evidentemente instrumento decisivo na multiplicação da riqueza coletiva.
Falta
de água e de consciência
Cesar Vanucci *
“Tomara que chova três
dias sem parar.”
(Estribilho
de modinha carnavalesca lembrado nessa véspera do tríduo momesco em virtude da
escassez de água que nos ronda)
A
estiagem prolongada acena com a perspectiva incômoda de desabastecimento. A
chamada crise hídrica entra de supetão nas preocupações da comunidade.
Comunidade esta já sobrecarregada de situações tormentosas, originárias das
proverbiais dificuldades humanas em saber conciliar o frenético ritmo da vida
moderna com as respeitáveis exigências da preservação do meio ambiente.
A
Natureza vem emitindo, não é de hoje, repetitivamente, sinais inquietantes.
Legiões de homens e mulheres de boa vontade, atentos a tão abundante
sinalização, insistem também há tempos em conscientizar a opinião pública sobre
as ameaças tormentosas que nos espreitam. São riscos decorrentes das ações
destrutivas sistemáticas no plano ambiental, praticadas em alta escala por aí
afora. Doloroso constatar a insuficiência das medidas de combate aos excessos
amiúde comprovados. Os alertas feitos não encontram, desafortunadamente, a
ressonância devida. Não conseguem, jeito maneira, alterar os rumos desastrosos
das coisas. As informações disponíveis apontam no sentido de emergências que,
até recentemente, na suposição geral eram dadas como improváveis.
Chegada
a hora fatídica da onça beber água, como se diz no linguajar popular. Sem
intenção alguma de gracejar, é o caso até de arriscar uma pergunta: e será que
haverá água pra beber? Nas quantidades habituais, pelo visto, não. Os órgãos
competentes já falam em racionalização, deixando subentendido como inevitável,
mais adiante, algo sumamente indesejável: racionamento.
O
quadro geral oferece contornos dramáticos. O desmazelo, melhor dizendo, a
irresponsabilidade humana quanto à preservação dos elementos naturais adquiriu
proporções descomunais. Criou toda ambiência propicia para que amargássemos
condições adversas na tentativa de desfrute de apreciáveis conquistas de
conforto. O que se antecipa ruim tende a se tornar ainda pior, na eventualidade
de que as diligências recomendadas na esfera da gestão pública e na área da
cooperação comunitária não sejam devidamente executadas. O momento reclama
conjugação de vontades poderosa, ancorada no bom senso, para que as medidas
preconizadas sejam, todas elas, colocadas logo em prática.
Essas
providências implicam, a curto prazo, em correções técnicas, administrativas e
comportamentais indispensáveis, a partir da captação e tratamento da água,
passando pela distribuição, até o consumo domiciliar. Todo desperdício terá que
ser doravante combatido com determinação. As recomendações precisarão ser
incorporadas à rotina de todos, mesmo que, em resposta aos ardentes anseios
populares (e às preces fervorosas de tanta gente), São Pedro resolva abrir de
vez as torneiras do céu, mandando chuva em níveis suficientes para a
recuperação de reservatórios e aumento do volume dos rios e barragens.
As
variações climáticas, decorrentes da força colossal da Natureza, obviamente
insatisfeita com o tratamento que o mundo contemporâneo lhe reserva, têm peso
considerável nessa angustiante questão da escassez d’água. Mas, não há como
eximir organismos dos governos, ligados à captação e distribuição do precioso
líquido de culpas notórias pelo que ocorre. A ineficiência no planejamento e a
inépcia burocrática na gestão do processo, percebidas em vários Estados, fazem
jus a inapeláveis contestações.
Numa
contemplação global do problema que nos aflige, inquietante também noutras
regiões deste planeta azul, cabe deplorar, com base em substanciosas
evidências, a inconsciência e incompetência detectadas como xis do problema.
O
instinto predador que impulsiona numerosas engrenagens ditas
desenvolvimentistas, despojadas de sensibilidade social, tem deixado rastros
devastadores. Dá causa à fúria constante dos elementos naturais. Doutra parte,
a arrogância e o pragmatismo que conduzem grande parte das conquistas
tecnológicas e econômicas menosprezam as prioridades humanísticas. O que se
observa, então, é a ciência debruçada na criação contínua de instrumentos
eficazes para eventuais confrontos bélicos e nada empenhada em estudos voltados
a questões relevantes como, por exemplo, a dessalinização da água dos oceanos.
Ou seja, desses três quartos de massa líquida da superfície do globo que já até
inspiraram poetas a propor a troca de seu nome de Terra para Água.
Sepulcros
caiados
Cesar Vanucci *
“Je suis hypocrite.”
(Refrão
sugerido pelo jornalista Mino Carta para definir atitudes de rematada falsidade
de alguns dirigentes políticos do Ocidente e do Oriente)
Articulistas
da CartaCapital – publicação que se sobressai pela capacidade analítica
aprofundada dos fatos – denunciam a postura hipócrita de um punhado de
dirigentes de países na ruidosa manifestação de solidariedade à sociedade e
autoridades francesas, em razão de sua justa indignação diante dos recentes
atentados terroristas. Na suprema cara de pau, apostaram em que não se lhes
seria lembrada, naquela hora pelo menos, a visceral incoerência entre tais
gestos magnânimos de rematada falsidade e o comportamento rotineiro que adotam de
flagrante desrespeito aos direitos fundamentais. Genuínos “sepulcros caiados”
(pra nos valermos de uma expressão evangélica) dos tempos convulsionados de
hoje, esses elementos não se enrubesceram em participar da passeata de Paris,
disputando lugares nas primeiras filas com aclamados defensores das liberdades
públicas, à frente da gigantesca multidão dominada compreensivelmente pela dor
e pela revolta.
Compõem,
entre outros, a lista feita pelos jornalistas Mino Carta e Carlos Leonam os
figurões abaixo citados, todos com avantajada culpa no cartório no capítulo do
desrespeito aos direitos humanos. Antonis Samara, Primeiro-ministro da Grécia,
ganhou notoriedade por promover violência xenófoba contra imigrantes,
confinando-os e expulsando-os do país; Xeque Abdulah Al-Nahyan, Ministro do Exterior dos Emirados Árabes – seu governo
financia – vejam só! – os insanos “jihadistas” e mantém presos, sem julgamento,
numerosos jornalistas; Ahmet Davutoglu, Primeiro-ministro da Turquia – seu país
move combate sem tréguas à imprensa independente. Enquanto marchava em Paris,
periodistas turcos, cartunistas entre eles, amargavam prisão pelo “crime” de
criticar fundamentalistas muçulmanos; Benjamin Netanyahu, Primeiro ministro de
Israel, tem comandado uma série de sangrentas invasões na Palestina, utilizando
aviões, tanques, artilharia pesada contra civis. A contabilidade tétrica da
última intervenção acusa 2 mil mortos e 10 mil feridos; Abdullah, rei da Jordania, ordenou a invasão
da rede de TV Al-Abasiya, encaminhando dezenas de jornalistas para a cadeia e
estabeleceu o bloqueio das comunicações pela internet; Mahmoud Abbas,
presidente da Palestina, comanda um território onde o exercício dos direitos
fundamentais foi praticamente banido; Babacar Keita, Presidente do Mali, acusado
de suprimir os direitos civis e de aplicar tortura a adversários; Samech
Shoukry, Ministro das Relações Exteriores do Egito, Sergey Lavrov, Ministro das
Relações Exteriores da Rússia, Ramtave Lamamra, Ministro das Relações
Exteriores da Argélia, Petro Poroshenko, Presidente da Ucrânia: há necessidade
de explicar o que vem acontecendo nesses países no tocante à liberdade de
expressão e aos direitos fundamentais?
Daí
a sugestão de Mino Carta para que eles todos, ao invés de se agruparem em torno
do refrão “Je suis Charlie”, passassem a bradar “Je suis hypocrite”...
GALERIA DE ARTE
TARSILA DO AMARAL,
PERSONAGEM DE DESTAQUE DO
Tarsila do Amaral (Capivari, 1 de setembro de 1886 — São Paulo, 17 de
janeiro de 1973) foi uma das figuras centrais da pintura e da primeira fase do
movimento modernista no Brasil,
ao lado de Anita Malfatti. Seu quadro Abaporu, de 1928, inaugura o movimento antropofágico nas artes plásticas.
Estudos em São Paulo e Barcelona - Tarsila do Amaral estudou em São Paulo, em colégio de freiras do bairro
de Santana e no Colégio Sion. E completou os estudos em Barcelona, na Espanha, no Colégio
Sacré-Coeur.
Início da carreira - Começou a aprender pintura em
1917, com Pedro Alexandrino Borges. Mais tarde, estudou com o alemão George Fischer Elpons. Em 1920, viaja a Paris e frequenta a Academia
Julian, onde desenhava nus e modelos
vivos intensamente. Também estudou na Academia
de Émile Renard.
Apesar de ter tido contato com as novas tendências e vanguardas, Tarsila
somente aderiu às ideias modernistas ao voltar ao Brasil, em 1922. Numa
confeitaria paulistana, foi apresentada por Anita
Malfatti aos modernistas Oswald
de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia. Esses novos amigos passaram a frequentar seu atelier, formando o Grupo
dos Cinco.
Em janeiro de 1923, na Europa, Tarsila se uniu a Oswald de Andrade e o
casal viajou por Portugal e Espanha. De volta a Paris, estudou com os artistas
cubistas: frequentou a Academia de Lhote, conheceu Pablo Picasso e tornou-se amiga
do pintor Fernand Léger, visitando a academia desse mestre do cubismo, de quem
Tarsila conservou, principalmente, a técnica lisa de pintura e certa influência
do modelado legeriano.
Fases Pau-Brasil e Antropofagia - Em 1924, em
meio à uma viagem de "redescoberta do Brasil" com os modernistas
brasileiros e com o poeta franco-suíço Blaise
Cendrars, Tarsila iniciou sua fase
artística “Pau-Brasil”, dotada de cores e temas acentuadamente tropicais e
brasileiros, onde surgem os "bichos nacionais" (mencionados em poema
por Carlos Drummond de Andrade), a exuberância da fauna e da flora brasileira, as máquinas, trilhos,
símbolos da modernidade urbana.
Casou-se com Oswald de Andrade em 1926 e, no mesmo ano, realizou sua
primeira exposição individual, na Galeria Percier, em Paris. Em 1928, Tarsila
pinta o Abaporu, obra que deu origem ao Movimento Antropofágico, idealizado pelo marido.
Em julho de 1929, Tarsila expõe suas telas pela primeira vez no Brasil,
no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, em virtude da quebra da Bolsa de Nova York,
conhecida como a Crise de 1929, Tarsila e sua família de fazendeiros sentem no bolso os efeitos da
crise do café e Tarsila perde sua fazenda. Ainda nesse mesmo ano, Oswald de
Andrade separa-se de Tarsila porque ele se apaixonou e decidiu se casar com a
revolucionária Patrícia Galvão, conhecida como Pagu. Tarsila sofre demais com a
separação e com a perda da fazenda, o que a leva a entregar-se ainda mais a seu
trabalho no mundo artístico.
Em 1930, Tarsila conseguiu o cargo de conservadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Deu início à organização do catálogo da coleção do primeiro museu de
arte paulista. Porém, com o advento da ditadura de Getúlio
Vargas e com a queda de Júlio
Prestes, perdeu o cargo.
Fase social - A partir da década de 40,
Tarsila passa a pintar retomando estilos de fases anteriores. Expõe nas 1ª e 2ª
Bienais de São Paulo e ganha uma retrospectiva no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) em 1960. É tema de sala especial na Bienal de São Paulo de 1963 e, no ano seguinte, apresenta-se na 32ª Bienal de Veneza.
Últimas décadas: 1960 e 1970 – Em 1965, vivendo sozinha, foi submetida a uma cirurgia de coluna, já que sentia muitas dores, e um erro médico a deixou paralítica,
permanecendo em cadeira de rodas até seus últimos dias. Em 1966, Tarsila perdeu sua única filha, Dulce, que faleceu de um ataque de diabetes, para seu desespero. Nesses tempos difíceis, Tarsila declara, em
entrevista, sua aproximação com o espiritismo. A partir daí, passa a vender seus quadros, doando parte do dinheiro
obtido a uma instituição administrada por Chico
Xavier, de quem se torna amiga. Ele
a visitava, quando de passagem por São
Paulo e ambos mantiveram
correspondência.
Tarsila do Amaral, a artista-símbolo do modernismo brasileiro, faleceu
no Hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo, em 17 de
janeiro de 1973 devido a depressão. Foi enterrada no Cemitério da Consolação.
Representações na cultura -Tarsila do Amaral já foi retratada como
personagem no cinema e na televisão, interpretada por Esther
Góes no filme "Eternamente
Pagu" (1987), Eliane
Giardini nas minisséries "Um Só Coração" (2004) e "JK" (2006).
A artista também foi tema da
peça teatral Tarsila, escrita entre novembro de 2001 e maio de 2002 por Maria Adelaide Amaral. A peça foi encenada em 2003 e publicada em forma de livro em 2004. A
personagem-título foi interpretada pela atriz Esther Góes e a peça também tinha
Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Anita Malfatti como personagens.
Tarsila do Amaral foi
homenageada pela União Astronômica Internacional, que em 20 de novembro de 2008
atribuiu o nome "Amaral" a uma cratera do planeta Mercúrio.
Em 2008, foi lançado o
Catálogo Raisonné Tarsila do Amaral, uma catalogação completa das obras da
artista em três volumes, em realização da Base7 Projetos Culturais, com
patrocínio da Petrobras, numa parceria com a Pinacoteca do Estado de São Paulo,
Secretaria de Estado da Cultura e Governo do Estado de São Paulo.
(Fonte: Wikipédia)
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