quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

E por falar em latifúndio



Cesar Vanucci *

“Hoje, quem não tem lucros expressivos
com a agropecuária prefere ficar na terra,
pois sabe que ela se valorizará com o tempo.”
(Bastiaan Reydon, consultor do Banco Mundial)

A ilustre Ministra Katia Abreu, da importante pasta da Agricultura, está na obrigação de corrigir a declaração feita de que não mais existe latifúndio no continente territorial brasileiro. Ou, então, de solicitar, do alto de sua prerrogativa como autoridade ministerial, que o Incra cuide rápida e urgentemente de promover uma alteração radical em seu Cadastro de Imóveis Rurais. Isso carece ser feito de modo a evitar a divulgação de “informações equivocadas” pertinentes à palpitante questão imobiliária no campo.

De acordo com o Cadastro mencionado, contemplando-se apenas o segmento das propriedades privadas, deixadas de lado as terras públicas ou devolutas, existem hoje no Brasil apenasmente 130 mil e 300 latifúndios. Essas porções de terra de descomunal tamanho abarcam área superior a 244.7 milhões de hectares. A superfície média das propriedades em questão corresponde a 1,8 mil hectares. Recorrendo-se a uma outra medida, 18 mil quilômetros quadrados, tá bem? Os indicadores do órgão governamental apontam no sentido de que 2.3% dos proprietários rurais concentram hoje 47.2% de toda a área disponível para o desenvolvimento das atividades agrícolas, reconhecidamente fundamentais no processo de desenvolvimento nacional. No modo de ver da Associação Brasileira da Reforma Agrária, pelo menos a metade desses mais de 130 mil latifúndios constantes do Cadastro do Incra mostra-se improdutiva. Pela legislação fundiária vigente, sobre um terreno rural dessa proporção, devidamente caracterizado como improdutivo, recairia ônus tributário anual de 20 por cento de seu valor. Se tão rígido critério fosse pra valer, o dono do imóvel ficaria sob o risco de vir a perdê-lo ao longo de cinco anos. Mas não se conhece caso algum em que a legislação haja sido aplicada.

Para se ter uma ideia da dimensão colossal desses latifúndios, os maiores do mundo, aqui estão pra efeito de comparação, as superfícies em quilômetros quadrados de algumas unidades federativas brasileiras: Alagoas, 29.107 km²; Distrito Federal, 5.794 km²; Sergipe, 21.867 km²; Espírito Santo, 45.733 km²; Rio Grande do Norte, 53.167 km²; Paraíba, 53.958 km². Oportuno ainda ressaltar que Belo Horizonte, com seus 332 quilômetros quadrados de superfície, acolhe uma população próxima dos dois milhões e quinhentos mil habitantes.

Um conhecido que vai sempre a negócios ao Japão conta-me que, em mais de uma oportunidade, ao se falar das gigantescas extensões brasileiras de terra apropriadas para cultivo recolheu de cidadãos daquele país manifestações que giram entre a incredulidade e a perplexidade. Vivendo espremidos num território de superfície inferior a 320 mil quilômetros quadrados, os japoneses sentem, obviamente, tremenda dificuldade em entender como pode nalgum lugar do mundo (no caso, o Brasil) áreas desse tamanhão não inspirarem a criação, nos planos prioritários de desenvolvimento, de políticas mais arrojadas na distribuição da terra.

Acompanhada da implementação em elevada escala de boas técnicas de produção e produtividade, disponíveis entre nós, essa distribuição constituiria evidentemente instrumento decisivo na multiplicação da riqueza coletiva.
  
Falta de água e de consciência

Cesar Vanucci *

“Tomara que chova três dias sem parar.”
(Estribilho de modinha carnavalesca lembrado nessa véspera do tríduo momesco em virtude da escassez de água que nos ronda)

A estiagem prolongada acena com a perspectiva incômoda de desabastecimento. A chamada crise hídrica entra de supetão nas preocupações da comunidade. Comunidade esta já sobrecarregada de situações tormentosas, originárias das proverbiais dificuldades humanas em saber conciliar o frenético ritmo da vida moderna com as respeitáveis exigências da preservação do meio ambiente.

A Natureza vem emitindo, não é de hoje, repetitivamente, sinais inquietantes. Legiões de homens e mulheres de boa vontade, atentos a tão abundante sinalização, insistem também há tempos em conscientizar a opinião pública sobre as ameaças tormentosas que nos espreitam. São riscos decorrentes das ações destrutivas sistemáticas no plano ambiental, praticadas em alta escala por aí afora. Doloroso constatar a insuficiência das medidas de combate aos excessos amiúde comprovados. Os alertas feitos não encontram, desafortunadamente, a ressonância devida. Não conseguem, jeito maneira, alterar os rumos desastrosos das coisas. As informações disponíveis apontam no sentido de emergências que, até recentemente, na suposição geral eram dadas como improváveis.

Chegada a hora fatídica da onça beber água, como se diz no linguajar popular. Sem intenção alguma de gracejar, é o caso até de arriscar uma pergunta: e será que haverá água pra beber? Nas quantidades habituais, pelo visto, não. Os órgãos competentes já falam em racionalização, deixando subentendido como inevitável, mais adiante, algo sumamente indesejável: racionamento.
O quadro geral oferece contornos dramáticos. O desmazelo, melhor dizendo, a irresponsabilidade humana quanto à preservação dos elementos naturais adquiriu proporções descomunais. Criou toda ambiência propicia para que amargássemos condições adversas na tentativa de desfrute de apreciáveis conquistas de conforto. O que se antecipa ruim tende a se tornar ainda pior, na eventualidade de que as diligências recomendadas na esfera da gestão pública e na área da cooperação comunitária não sejam devidamente executadas. O momento reclama conjugação de vontades poderosa, ancorada no bom senso, para que as medidas preconizadas sejam, todas elas, colocadas logo em prática.

Essas providências implicam, a curto prazo, em correções técnicas, administrativas e comportamentais indispensáveis, a partir da captação e tratamento da água, passando pela distribuição, até o consumo domiciliar. Todo desperdício terá que ser doravante combatido com determinação. As recomendações precisarão ser incorporadas à rotina de todos, mesmo que, em resposta aos ardentes anseios populares (e às preces fervorosas de tanta gente), São Pedro resolva abrir de vez as torneiras do céu, mandando chuva em níveis suficientes para a recuperação de reservatórios e aumento do volume dos rios e barragens.

As variações climáticas, decorrentes da força colossal da Natureza, obviamente insatisfeita com o tratamento que o mundo contemporâneo lhe reserva, têm peso considerável nessa angustiante questão da escassez d’água. Mas, não há como eximir organismos dos governos, ligados à captação e distribuição do precioso líquido de culpas notórias pelo que ocorre. A ineficiência no planejamento e a inépcia burocrática na gestão do processo, percebidas em vários Estados, fazem jus a inapeláveis contestações.

Numa contemplação global do problema que nos aflige, inquietante também noutras regiões deste planeta azul, cabe deplorar, com base em substanciosas evidências, a inconsciência e incompetência detectadas como xis do problema.

O instinto predador que impulsiona numerosas engrenagens ditas desenvolvimentistas, despojadas de sensibilidade social, tem deixado rastros devastadores. Dá causa à fúria constante dos elementos naturais. Doutra parte, a arrogância e o pragmatismo que conduzem grande parte das conquistas tecnológicas e econômicas menosprezam as prioridades humanísticas. O que se observa, então, é a ciência debruçada na criação contínua de instrumentos eficazes para eventuais confrontos bélicos e nada empenhada em estudos voltados a questões relevantes como, por exemplo, a dessalinização da água dos oceanos. Ou seja, desses três quartos de massa líquida da superfície do globo que já até inspiraram poetas a propor a troca de seu nome de Terra para Água.
  
Sepulcros caiados

Cesar Vanucci *

“Je suis hypocrite.”
(Refrão sugerido pelo jornalista Mino Carta para definir atitudes de rematada falsidade de alguns dirigentes políticos do Ocidente e do Oriente)

Articulistas da CartaCapital – publicação que se sobressai pela capacidade analítica aprofundada dos fatos – denunciam a postura hipócrita de um punhado de dirigentes de países na ruidosa manifestação de solidariedade à sociedade e autoridades francesas, em razão de sua justa indignação diante dos recentes atentados terroristas. Na suprema cara de pau, apostaram em que não se lhes seria lembrada, naquela hora pelo menos, a visceral incoerência entre tais gestos magnânimos de rematada falsidade e o comportamento rotineiro que adotam de flagrante desrespeito aos direitos fundamentais. Genuínos “sepulcros caiados” (pra nos valermos de uma expressão evangélica) dos tempos convulsionados de hoje, esses elementos não se enrubesceram em participar da passeata de Paris, disputando lugares nas primeiras filas com aclamados defensores das liberdades públicas, à frente da gigantesca multidão dominada compreensivelmente pela dor e pela revolta.
Compõem, entre outros, a lista feita pelos jornalistas Mino Carta e Carlos Leonam os figurões abaixo citados, todos com avantajada culpa no cartório no capítulo do desrespeito aos direitos humanos. Antonis Samara, Primeiro-ministro da Grécia, ganhou notoriedade por promover violência xenófoba contra imigrantes, confinando-os e expulsando-os do país; Xeque Abdulah Al-Nahyan, Ministro  do Exterior dos Emirados Árabes – seu governo financia – vejam só! – os insanos “jihadistas” e mantém presos, sem julgamento, numerosos jornalistas; Ahmet Davutoglu, Primeiro-ministro da Turquia – seu país move combate sem tréguas à imprensa independente. Enquanto marchava em Paris, periodistas turcos, cartunistas entre eles, amargavam prisão pelo “crime” de criticar fundamentalistas muçulmanos; Benjamin Netanyahu, Primeiro ministro de Israel, tem comandado uma série de sangrentas invasões na Palestina, utilizando aviões, tanques, artilharia pesada contra civis. A contabilidade tétrica da última intervenção acusa 2 mil mortos e 10 mil feridos;  Abdullah, rei da Jordania, ordenou a invasão da rede de TV Al-Abasiya, encaminhando dezenas de jornalistas para a cadeia e estabeleceu o bloqueio das comunicações pela internet; Mahmoud Abbas, presidente da Palestina, comanda um território onde o exercício dos direitos fundamentais foi praticamente banido; Babacar Keita, Presidente do Mali, acusado de suprimir os direitos civis e de aplicar tortura a adversários; Samech Shoukry, Ministro das Relações Exteriores do Egito, Sergey Lavrov, Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Ramtave Lamamra, Ministro das Relações Exteriores da Argélia, Petro Poroshenko, Presidente da Ucrânia: há necessidade de explicar o que vem acontecendo nesses países no tocante à liberdade de expressão e aos direitos fundamentais?

Daí a sugestão de Mino Carta para que eles todos, ao invés de se agruparem em torno do refrão “Je suis Charlie”, passassem a bradar “Je suis hypocrite”...




GALERIA DE ARTE


TARSILA DO AMARAL,

PERSONAGEM DE DESTAQUE DO

MOVIMENTO MODERNISTA










Tarsila do Amaral (Capivari, 1 de setembro de 1886São Paulo, 17 de janeiro de 1973) foi uma das figuras centrais da pintura e da primeira fase do movimento modernista no Brasil, ao lado de Anita Malfatti. Seu quadro Abaporu, de 1928, inaugura o movimento antropofágico nas artes plásticas.

Estudos em São Paulo e Barcelona - Tarsila do Amaral estudou em São Paulo, em colégio de freiras do bairro de Santana e no Colégio Sion. E completou os estudos em Barcelona, na Espanha, no Colégio Sacré-Coeur.

Início da carreira - Começou a aprender pintura em 1917, com Pedro Alexandrino Borges. Mais tarde, estudou com o alemão George Fischer Elpons. Em 1920, viaja a Paris e frequenta a Academia Julian, onde desenhava nus e modelos vivos intensamente. Também estudou na Academia de Émile Renard.
Apesar de ter tido contato com as novas tendências e vanguardas, Tarsila somente aderiu às ideias modernistas ao voltar ao Brasil, em 1922. Numa confeitaria paulistana, foi apresentada por Anita Malfatti aos modernistas Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia. Esses novos amigos passaram a frequentar seu atelier, formando o Grupo dos Cinco.
Em janeiro de 1923, na Europa, Tarsila se uniu a Oswald de Andrade e o casal viajou por Portugal e Espanha. De volta a Paris, estudou com os artistas cubistas: frequentou a Academia de Lhote, conheceu Pablo Picasso e tornou-se amiga do pintor Fernand Léger, visitando a academia desse mestre do cubismo, de quem Tarsila conservou, principalmente, a técnica lisa de pintura e certa influência do modelado legeriano. 

Fases Pau-Brasil e Antropofagia - Em 1924, em meio à uma viagem de "redescoberta do Brasil" com os modernistas brasileiros e com o poeta franco-suíço Blaise Cendrars, Tarsila iniciou sua fase artística “Pau-Brasil”, dotada de cores e temas acentuadamente tropicais e brasileiros, onde surgem os "bichos nacionais" (mencionados em poema por Carlos Drummond de Andrade), a exuberância da fauna e da flora brasileira, as máquinas, trilhos, símbolos da modernidade urbana.
Casou-se com Oswald de Andrade em 1926 e, no mesmo ano, realizou sua primeira exposição individual, na Galeria Percier, em Paris. Em 1928, Tarsila pinta o Abaporu, obra que deu origem ao Movimento Antropofágico, idealizado pelo marido.
Em julho de 1929, Tarsila expõe suas telas pela primeira vez no Brasil, no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, em virtude da quebra da Bolsa de Nova York, conhecida como a Crise de 1929, Tarsila e sua família de fazendeiros sentem no bolso os efeitos da crise do café e Tarsila perde sua fazenda. Ainda nesse mesmo ano, Oswald de Andrade separa-se de Tarsila porque ele se apaixonou e decidiu se casar com a revolucionária Patrícia Galvão, conhecida como Pagu. Tarsila sofre demais com a separação e com a perda da fazenda, o que a leva a entregar-se ainda mais a seu trabalho no mundo artístico.
Em 1930, Tarsila conseguiu o cargo de conservadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Deu início à organização do catálogo da coleção do primeiro museu de arte paulista. Porém, com o advento da ditadura de Getúlio Vargas e com a queda de Júlio Prestes, perdeu o cargo.

Fase social - A partir da década de 40, Tarsila passa a pintar retomando estilos de fases anteriores. Expõe nas 1ª e 2ª Bienais de São Paulo e ganha uma retrospectiva no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) em 1960. É tema de sala especial na Bienal de São Paulo de 1963 e, no ano seguinte, apresenta-se na 32ª Bienal de Veneza.

Últimas décadas: 1960 e 1970 – Em 1965, vivendo sozinha, foi submetida a uma cirurgia de coluna, já que sentia muitas dores, e um erro médico a deixou paralítica, permanecendo em cadeira de rodas até seus últimos dias. Em 1966, Tarsila perdeu sua única filha, Dulce, que faleceu de um ataque de diabetes, para seu desespero. Nesses tempos difíceis, Tarsila declara, em entrevista, sua aproximação com o espiritismo. A partir daí, passa a vender seus quadros, doando parte do dinheiro obtido a uma instituição administrada por Chico Xavier, de quem se torna amiga. Ele a visitava, quando de passagem por São Paulo e ambos mantiveram correspondência.
Tarsila do Amaral, a artista-símbolo do modernismo brasileiro, faleceu no Hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo, em 17 de janeiro de 1973 devido a depressão.  Foi enterrada no Cemitério da Consolação.


Representações na cultura -Tarsila do Amaral já foi retratada como personagem no cinema e na televisão, interpretada por Esther Góes no filme "Eternamente Pagu" (1987), Eliane Giardini nas minisséries "Um Só Coração" (2004) e "JK" (2006).
A artista também foi tema da peça teatral Tarsila, escrita entre novembro de 2001 e maio de 2002 por Maria Adelaide Amaral. A peça foi encenada em 2003 e publicada em forma de livro em 2004. A personagem-título foi interpretada pela atriz Esther Góes e a peça também tinha Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Anita Malfatti como personagens.
Tarsila do Amaral foi homenageada pela União Astronômica Internacional, que em 20 de novembro de 2008 atribuiu o nome "Amaral" a uma cratera do planeta Mercúrio.
Em 2008, foi lançado o Catálogo Raisonné Tarsila do Amaral, uma catalogação completa das obras da artista em três volumes, em realização da Base7 Projetos Culturais, com patrocínio da Petrobras, numa parceria com a Pinacoteca do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura e Governo do Estado de São Paulo.
(Fonte: Wikipédia)

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