sexta-feira, 13 de março de 2015

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A lista dos políticos

Cesar Vanucci

“Depois da divulgação da lista, chega a hora das provas.”
(Elio Gaspari, jornalista)

Denotando estado de espírito que mistura, compreensivelmente, doses de expectativa, esperança, indignação e desabafo, a sociedade acaba de tomar conhecimento da tão aguardada lista de nomes de políticos remetida pela Procuradoria Geral da República ao STF. Reconhece na medida um sinal positivo a mais da preocupação oficial, captando com fidelidade o sentimento nacional, em esclarecer tintim por tintim, com transparência solar, todos os meandros da descomunal embrulhada em que se meteram empreiteiros, burocratas e agentes políticos inescrupulosos. Aguarda, confiante, que a trama criminosa seja devidamente deslindada, com cobranças penais aos indivíduos mancomunados na dilapidação de recursos pertencentes ao povo, administrados pela Petrobras.

A divulgação demorou um pouco, talvez, a ser feita. Isso não invalida sua relevância. Poderá, também, talvez, ser complementada, em eventuais desdobramentos do processo, com outros personagens. Mas o que já está posto contribui significativamente para colocar as coisas em rumos adequados. Impõe-se, a partir de agora, a contenção de certos excessos incriminatórios midiáticos, provocados por denuncismos prematuros de origem suspeitosa, desacompanhados de provas.

Uma das primeiras constatações permitidas pela liberação dos nomes é de que vários políticos citados nas abundantes especulações iniciais do caso não fazem parte, agora, da relação vinda a lume.  Outra observação de suma importância, que não pode passar à deriva das emoções, senso de justiça e sentimento dos que acompanham a candente questão, é de que a simples indicação solta de um nome, constituindo, sim, indício, não significa, de maneira definitiva, prova de culpabilidade de alguém.

No Estado Republicano de Direito, ninguém é condenado de antemão pela mera circunstância de ter o nome anotado em depoimento de criminosos confessos. É bom não perder de vista as conveniências em jogo de tais elementos, interessados em extraírem benefícios capazes de atenuar sua culpa no cartório. Caso concreto, sem tirar nem por, dos manjados “delatores premiados” da maracutaia na Petrobras. Suas declarações poderão conter verdades, mas poderão render também mentiras e relatos pelas metades. Tudo vai ter que ser aclarado, daqui pra frente, a tempo e a hora, dentro do competente processo regimental instaurado. Às partes, conforme rege o figurino democrático, terá que ser facultado o direito sagrado de se explicarem.

A confiança na ação do Judiciário, que não pode neste momento escassear por parte da opinião pública, deixa outra explícita recomendação. Manter ligados os aparelhos de percepção pessoal, de modo a não deixar escapar bom senso e lucidez na análise dos fatos, faz-se imprescindível. No bojo das revelações já conhecidas surgirão, provavelmente, novos elementos e pistas em condições de anularem acusações, desfazer denúncias. Encurtando razões:  os políticos indicados não são réus. Sobre eles não pesam condenações. Em investigações a serem ainda abertas é que ficará definido o papel de cada personagem no desconcertante enredo.

O Judiciário tem a palavra. A ele, tão somente, está afeta a missão de aclarar os fatos.  Inclusive de fixar os exatos contornos de tempo das operações criminosas levadas a cabo, já que dispõe de registros, baseados nas “delações”, de que o propinoduto petrolífero estaria funcionando desde os anos noventa. Tema, claro está, a ser apurado.

Essa cabulosa história proporciona, a se ver pela lista mostrada, outras inesperadas constatações. A malversação flagrada, ao contrário do que se imaginava de princípio, teve indisfarçáveis conotações multipartidárias. Poucas legendas escaparam. Deixou à mostra fragilidades notórias de alguns expressivos quadros do PP, com sua ambiguidade interesseira; do PMDB, onde tantos se esforçam por negar continuamente as respeitáveis origens da agremiação; do PT, com sua desbordante desfiguração ideológica; do PSDB, empenhado, ao que parece, em reencarnar a morbidez farisaica da antiga UDN. São evidências desnorteantes que conferem sentido e atualidade à ideia da necessária e urgente reforma política, tantas vezes anunciada quanto postergada.

E, por derradeiro: a hipótese de criação de uma CPI para avaliação do comportamento do Ministério Público, como se andou propalando por aí, representaria neste instante um gesto de pequenez cívica assustador. Nenhum organismo oficial, visto está, é imune a investigações de seus atos, conforme consta das prerrogativas constitucionais afetas ao Congresso. Mas uma decisão dessa natureza, neste preciso momento, não pode surgir de um propósito mesquinho de revide.



Eta mundo velho de guerra!

Cesar Vanucci 

“As armas foram todas parar nas mãos dos radicais islâmicos...”
(Noticiário de canto de página dos últimos dias)

A avalancha de informações liberadas no noticiário nosso de cada dia, por processos midiáticos os mais variados, não favorece muitas vezes o conhecimento pronto de dados relevantes por parte da opinião pública. Colhidos ao acaso, fruto de leituras mais atentas, aqui estão ligeiras amostras de situações insuspeitadas que costumam volta e meia ocorrer sob ângulo diferenciado de análise.

Os Estados Unidos promoveram recentemente vários pactos militares, inclusive com a Turquia, visando o fornecimento de armas e treinamento a rebeldes sírios “moderados” para combater a ditadura síria de Bashar al Assad e, por extensão, também, o tal “califado do terror”. O compromisso lembrou filme já visto. Pois não é que os temores levantados se confirmaram bem mais cedo do que se esperava? Agorinha mesmo, começo de março, a “Harakat Hazm”, organização de “rebeldes moderados” sírios, recebeu a ajuda bélica prometida. Pra estupefação geral, anunciou dias depois sua autodissolução. Do atordoante episódio resultou, de imediato, a “transferência” dos equipamentos bélicos que lhe foram “confiados” para combater “inimigos” exatamente para os próprios. A Al-Nustra, ligada à Al Quaeda, contam despachos da conturbada região, patrocinou até desfile de pompa de seus aguerridos militantes para exibir os misseis e demais peças do arsenal generosamente “doados”. Ampliando o estrago produzido pela “inspirada estratégia” política, os “bravos” combatentes do grupo dissolvido confirmaram bem depressa, incondicional adesão às forças do sinistro “califado do terror”.

Outra mais. Com aquele estilo radical que tanto o notabiliza e que representa um empecilho sério à causa da paz no conturbado Oriente Médio, o primeiro ministro Benjamin Netanyahu, do Israel, pontuando gesto sem precedentes na diplomacia internacional, decidiu desafiar e, mais do que isso, provocar o Presidente Barack Obama em seus próprios redutos. Com o apoio das também radicais lideranças republicanas, ocupou a tribuna do Congresso dos Estados Unidos para se opor, veementemente, apelando para argumentos irreais, nascidos de paranoia demagógica, às negociações em curso entre a Casa Branca, países europeus e o Irã, com vistas a um acordo nuclear que elimine a possibilidade de o país dos aiatolás raivosos passarem a integrar o fechado clube dos detentores de armas atômicas. Clube do qual, por sinal, Israel faz parte, na moita como se costuma dizer, não é de hoje.

Netanyahu chegou ao extremo de contrariar relatórios dos serviços de inteligência dos Estados Unidos e, segundo consta, até mesmo dos serviços de inteligência de seu país, segundo os quais as cláusulas definidas no pacto com os iranianos representam garantias mais do que suficientes, sob o ponto de vista técnico, para impedir a criação de mais um indesejado arsenal bélico. Está mirando, com essa sua nova ofensiva contra a redução de tensões na região, a conquista do eleitorado mais extremista, de forma a permanecer no posto de chefe de governo nas eleições que se avizinham. Merece ser salientado que parte da opinião pública israelita vem expressando discordância aberta aos métodos adotados pelo “premier”. De outra parte, há também a registrar que sua conduta desencadeou reações desfavoráveis nos Estados Unidos, a ponto da líder democrata na Câmara de Representantes tomar da palavra para dizer, com todas as letras, que a posição adotada pelo líder radical israelita constituiu “um insulto à inteligência do país”. Mais ainda: tudo indica que seu inconformado protesto ressoará como voz isolada no contexto internacional. O acordo com o Irã é tido como “favas contadas”.  Os governos dos Estados Unidos e dos países europeus empenhados nas negociações tem-no na conta de um triunfo diplomático de singular significação para a história do mundo.


Retomando o itinerário

Cesar Vanucci 

“Barack Obama empenha-se num retorno
 às origens de sua trajetória política.”
(Antônio Luiz da Costa, educador)

Não passa desapercebida a olhares mais argutos a circunstância de que o Presidente norte-americano Barack Obama se desdobra, presentemente, em esforços para resgatar, pelo menos em parte, a imagem de líder comprometido com avanços sociais e políticos que lhe permitiram acesso à simpatia e admiração universais nos primórdios de sua atuação governamental.

Na época em que arrebatou o Nobel da Paz, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos encarnou uma liderança que, para multidões no mundo inteiro, encantadas com sua conduta e propostas, concentrava as condições desejáveis para ajudar a promover um projeto de mudanças vitais na história contemporânea. Todos nos recordamos muito bem do verdadeiro delírio popular que, logo após sua ascensão ao poder, passou a rodeá-lo nas praças públicas apinhadas nos países que visitou.

As ações praticadas pelo seu governo, nalguns tópicos demasiadamente parecidas com as de seu antecessor na Casa Branca, trouxeram, depois, entretanto, desalento e frustração em dosagem elevada. O constrangedor episódio da arapongagem eletrônica executada pelos órgãos de espionagem estadunidenses em dimensão universal, com fitos políticos e comerciais, não poupando nem aliados, acabou por deixá-lo extremamente vulnerável a críticas acerbas, dentro e fora de seu país.

Dentro de tão delicado e complexo cenário ganha visibilidade, agora, a disposição de Obama em reescrever sua biografia como líder no tempo de mandato que lhe resta à frente da mais poderosa nação do planeta. Em reintroduzir nos programas de trabalho conceitos e iniciativas que, por fatores os mais variados, andaram um tanto quanto obscurecidos em sua agenda de prioridades.


O diálogo aberto com os dirigentes cubanos insere-se nessa linha generosa de cogitações. Com a providencial intermediação do grande estadista contemporâneo, Papa Francisco, estão em andamento negociações voltadas para o reatamento das relações diplomáticas e comerciais e da eliminação do embargo econômico. A posição anunciada põe cobro a meio século de desentendimentos e tensões. A busca de solução harmoniosa para as também efervescentes pendências de muitas décadas com o Irã dos aiatolás é outra atitude que merece ser arrolada como demonstração do empenho do atual mandatário estadunidense em recuperar, de certo modo, a aprovação e o apreço desfrutados no passado junto à opinião pública, no plano doméstico e na esfera mundial.

Cabe aplicar o mesmo entendimento às medidas de esvaziamento paulatino do presídio de Guantánamo – que Obama prometeu fechar, pratrazmente, escorado em bem embasados argumentos jurídicos e humanitários -, com os sucessivos deslocamentos de detentos sem culpa formada para outros países, na condição, já aí, de cidadãos libertos de acusações. Foi assim que ocorreu numa tratativa recente com o governo José Mujica, do Uruguai.

Digna ainda de toda atenção, pontuando outra providência frisante, indicação dessa elogiável disposição propositiva de Obama, é a firme cartada que vem executando, enfrentando seus sempre raivosos adversários políticos, em favor da implantação de uma política pública de saúde abrangente para as camadas populares socialmente desguarnecidas dos Estados Unidos. A não inclusão desse beneficio essencial nos programas governamentais representa uma nódoa que todo cidadão de média e baixa renda aspira seja eliminada na história de um país tão próspero e tão cheio de oportunidades.

O modelo assistencial previsto por Obama é eficiente no ver de qualificados analistas. Permitir-lhe-á, provavelmente, reencontrar-se com aqueles índices de popularidade atingidos noutros momentos decisivos de sua vitoriosa trajetória como homem público.







GALERIA DE ARTE


     DJANIRA:


 Mergulho de cabeça nos temas retratados




Djanira da Motta e Silva (Avaré SP 1914 - Rio de Janeiro RJ 1979). Pintora, desenhista, ilustradora, cartazista, cenógrafa e gravadora. No final da década de 1930, passa a morar no Rio de Janeiro, onde tem suas primeiras instruções de arte em curso noturno de desenho no Liceu de Artes Ofícios e com o pintor Emeric Marcier (1916-1990), hóspede da pensão que Djanira instala no bairro de Santa Teresa. Os contatos com os artistas Carlos Scliar (1920-2001), Milton Dacosta (1915-1988), Arpad Szenes (1897-1985), Vieira da Silva (1908-1992) e Jean-Pierre Chabloz (1910-1984), frequentadores de sua pensão, proporcionam um ambiente estimulador que a leva a expor no 48º Salão Nacional de Belas Artes, em 1942. No ano seguinte, realiza sua primeira mostra individual, na Associação Brasileira de Imprensa - ABI. Em 1945, viaja para Nova York, onde conhece a obra de Pieter Bruegel (ca.1525-1569) e entra em contato com Fernand Léger (1881-1955), Joán Miró (1893-1983) e Marc Chagall (1887-1985). De volta ao Brasil, realiza o mural Candomblé para a residência do escritor Jorge Amado (1912-2001), em Salvador, e painel para o Liceu Municipal de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Entre 1953 e 1954, viaja a estudo para a União Soviética. De volta ao Rio de Janeiro, torna-se uma das líderes do movimento pelo Salão Preto e Branco, um protesto de artistas contra os altos preços do material para pintura. Realiza em 1963, o painel de azulejos Santa Bárbara, para a capela do túnel Santa Bárbara, Laranjeiras, Rio de Janeiro. No ano de 1966, a editora Cultrix publica um álbum com poemas e serigrafias de sua autoria. Em 1977, o Museu Nacional de Belas Artes – MNBA realiza uma grande retrospectiva de sua obra.
Comentário Crítico
Djanira nasce no interior de São Paulo, numa família de poucos recursos. Casa-se com um maquinista da Marinha Mercante, e cedo fica viúva. Aos 23 anos, é internada com tuberculose no Sanatório Dória, em São José dos Campos, onde faz seu primeiro desenho: um Cristo no Gólgota. Com a melhora, continua o tratamento no Rio de Janeiro, e reside em Santa Teresa, por causa de seu ar puro. Em 1930, aluga uma pequena casa no bairro e instala uma pensão familiar. Um de seus hóspedes, o pintor Emeric Marcier (1916-1990), a incentiva e lhe dá aulas de pintura. Djanira também frequenta, à noite, o curso de desenho no Liceu de Artes e Ofícios. Nesse período, trava contato com o casal Arpad Szenes (1897-1985) e Vieira da Silva (1908-1992), com Milton Dacosta (1915-1988), Carlos Scliar (1920-2001), e outros que vivem em Santa Teresa e frequentam o meio artístico.
Em 1945, realiza uma viagem aos Estados Unidos, que foi decisiva em sua formação: conhece pessoalmente Marc Chagall (1887-1985), Joan Miró (1893-1983) e Fernand Léger (1881-1955) e é acolhida pela embaixatriz brasileira, a escultora Maria Martins (1900-1973). Em suas frequentes visitas a museus, Djanira interessa-se especialmente pela obra do pintor flamengo Pieter Bruegel (ca.1525-1569). Em 1947, retorna ao Brasil. Sua produção volta-se para temas populares, como em Parque de Diversões (1948), ou para a representação de trabalhadores como os colhedores de café nas fazendas paulistas, batedores de arroz, vaqueiros, pescadores, tecelões, oleiros e operários. A artista pinta também, a óleo ou têmpera, retratos, autorretratos, obras de temática religiosa e paisagens.
A sua pintura dos anos 1940 é geralmente sombria, utiliza tons rebaixados, como cinza, marrom e negro, mas já apresenta o gosto pela disciplina geométrica das formas. Na década seguinte, sua palheta se diversifica, com uso de cores vibrantes, e em algumas obras trabalha com gradações tonais que vão do branco ao cinza-claro. Apresenta em seus tipos humanos uma expressão de solene dignidade.
A artista sempre busca aproximar-se dos temas de suas obras: no fim da década de 1950, após convivência de seis meses, pinta os índios canela, do Maranhão. Na década de 1970, desce às minas de carvão de Santa Catarina para sentir de perto a vida dos mineiros e viaja para Itabira para conhecer o serviço de extração de ferro.

Djanira trabalha ainda com a xilogravura, gravura em metal, e faz desenhos para tapeçaria e azulejaria. Em sua produção, destaca-se o painel monumental de azulejos para a capela do túnel de Santa Bárbara (1958), no Rio de Janeiro. Inicialmente nomeada como "primitiva", gradualmente sua obra alcança maior reconhecimento da crítica. Como aponta o crítico de arte Mário Pedrosa (1900 - 1981), Djanira é uma artista que não improvisa não se deixa arrebatar, e, embora possuam uma aparência ingênua e instintiva, seus trabalhos são consequência de cuidadosa elaboração para chegar à solução final.


Os paineis registram amostras expressivas do talento da artista













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