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A lista dos políticos
Cesar
Vanucci
“Depois da
divulgação da lista, chega a hora das provas.”
(Elio Gaspari, jornalista)
Denotando
estado de espírito que mistura, compreensivelmente, doses de expectativa,
esperança, indignação e desabafo, a sociedade acaba de tomar conhecimento da
tão aguardada lista de nomes de políticos remetida pela Procuradoria Geral da República
ao STF. Reconhece na medida um sinal positivo a mais da preocupação oficial,
captando com fidelidade o sentimento nacional, em esclarecer tintim por tintim,
com transparência solar, todos os meandros da descomunal embrulhada em que se meteram
empreiteiros, burocratas e agentes políticos inescrupulosos. Aguarda,
confiante, que a trama criminosa seja devidamente deslindada, com cobranças
penais aos indivíduos mancomunados na dilapidação de recursos pertencentes ao
povo, administrados pela Petrobras.
A
divulgação demorou um pouco, talvez, a ser feita. Isso não invalida sua relevância.
Poderá, também, talvez, ser complementada, em eventuais desdobramentos do
processo, com outros personagens. Mas o que já está posto contribui
significativamente para colocar as coisas em rumos adequados. Impõe-se, a
partir de agora, a contenção de certos excessos incriminatórios midiáticos, provocados
por denuncismos prematuros de origem suspeitosa, desacompanhados de provas.
Uma das
primeiras constatações permitidas pela liberação dos nomes é de que vários
políticos citados nas abundantes especulações iniciais do caso não fazem parte,
agora, da relação vinda a lume. Outra
observação de suma importância, que não pode passar à deriva das emoções, senso
de justiça e sentimento dos que acompanham a candente questão, é de que a
simples indicação solta de um nome, constituindo, sim, indício, não significa,
de maneira definitiva, prova de culpabilidade de alguém.
No Estado Republicano
de Direito, ninguém é condenado de antemão pela mera circunstância de ter o
nome anotado em depoimento de criminosos confessos. É bom não perder de vista as
conveniências em jogo de tais elementos, interessados em extraírem benefícios capazes
de atenuar sua culpa no cartório. Caso concreto, sem tirar nem por, dos
manjados “delatores premiados” da maracutaia na Petrobras. Suas declarações
poderão conter verdades, mas poderão render também mentiras e relatos pelas
metades. Tudo vai ter que ser aclarado, daqui pra frente, a tempo e a hora,
dentro do competente processo regimental instaurado. Às partes, conforme rege o
figurino democrático, terá que ser facultado o direito sagrado de se
explicarem.
A confiança
na ação do Judiciário, que não pode neste momento escassear por parte da
opinião pública, deixa outra explícita recomendação. Manter ligados os
aparelhos de percepção pessoal, de modo a não deixar escapar bom senso e
lucidez na análise dos fatos, faz-se imprescindível. No bojo das revelações já
conhecidas surgirão, provavelmente, novos elementos e pistas em condições de
anularem acusações, desfazer denúncias. Encurtando razões: os políticos indicados não são réus. Sobre
eles não pesam condenações. Em investigações a serem ainda abertas é que ficará
definido o papel de cada personagem no desconcertante enredo.
O
Judiciário tem a palavra. A ele, tão somente, está afeta a missão de aclarar os
fatos. Inclusive de fixar os exatos contornos
de tempo das operações criminosas levadas a cabo, já que dispõe de registros,
baseados nas “delações”, de que o propinoduto petrolífero estaria funcionando
desde os anos noventa. Tema, claro está, a ser apurado.
Essa
cabulosa história proporciona, a se ver pela lista mostrada, outras inesperadas
constatações. A malversação flagrada, ao contrário do que se imaginava de
princípio, teve indisfarçáveis conotações multipartidárias. Poucas legendas
escaparam. Deixou à mostra fragilidades notórias de alguns expressivos quadros
do PP, com sua ambiguidade interesseira; do PMDB, onde tantos se esforçam por
negar continuamente as respeitáveis origens da agremiação; do PT, com sua
desbordante desfiguração ideológica; do PSDB, empenhado, ao que parece, em
reencarnar a morbidez farisaica da antiga UDN. São evidências desnorteantes que
conferem sentido e atualidade à ideia da necessária e urgente reforma política,
tantas vezes anunciada quanto postergada.
E, por
derradeiro: a hipótese de criação de uma CPI para avaliação do comportamento do
Ministério Público, como se andou propalando por aí, representaria neste
instante um gesto de pequenez cívica assustador. Nenhum organismo oficial,
visto está, é imune a investigações de seus atos, conforme consta das prerrogativas
constitucionais afetas ao Congresso. Mas uma decisão dessa natureza, neste
preciso momento, não pode surgir de um propósito mesquinho de revide.
Eta mundo velho de guerra!
Cesar
Vanucci
“As armas
foram todas parar nas mãos dos radicais islâmicos...”
(Noticiário de canto de página dos últimos dias)
A avalancha
de informações liberadas no noticiário nosso de cada dia, por processos
midiáticos os mais variados, não favorece muitas vezes o conhecimento pronto de
dados relevantes por parte da opinião pública. Colhidos ao acaso, fruto de
leituras mais atentas, aqui estão ligeiras amostras de situações insuspeitadas que
costumam volta e meia ocorrer sob ângulo diferenciado de análise.
Os Estados
Unidos promoveram recentemente vários pactos militares, inclusive com a Turquia,
visando o fornecimento de armas e treinamento a rebeldes sírios “moderados”
para combater a ditadura síria de Bashar al Assad e, por extensão, também, o
tal “califado do terror”. O compromisso lembrou filme já visto. Pois não é que
os temores levantados se confirmaram bem mais cedo do que se esperava? Agorinha
mesmo, começo de março, a “Harakat Hazm”, organização de “rebeldes moderados”
sírios, recebeu a ajuda bélica prometida. Pra estupefação geral, anunciou dias
depois sua autodissolução. Do atordoante episódio resultou, de imediato, a
“transferência” dos equipamentos bélicos que lhe foram “confiados” para
combater “inimigos” exatamente para os próprios. A Al-Nustra, ligada à Al
Quaeda, contam despachos da conturbada região, patrocinou até desfile de pompa
de seus aguerridos militantes para exibir os misseis e demais peças do arsenal
generosamente “doados”. Ampliando o estrago produzido pela “inspirada
estratégia” política, os “bravos” combatentes do grupo dissolvido confirmaram
bem depressa, incondicional adesão às forças do sinistro “califado do terror”.
Outra mais.
Com aquele estilo radical que tanto o notabiliza e que representa um empecilho
sério à causa da paz no conturbado Oriente Médio, o primeiro ministro Benjamin
Netanyahu, do Israel, pontuando gesto sem precedentes na diplomacia
internacional, decidiu desafiar e, mais do que isso, provocar o Presidente
Barack Obama em seus próprios redutos. Com o apoio das também radicais
lideranças republicanas, ocupou a tribuna do Congresso dos Estados Unidos para
se opor, veementemente, apelando para argumentos irreais, nascidos de paranoia
demagógica, às negociações em curso entre a Casa Branca, países europeus e o
Irã, com vistas a um acordo nuclear que elimine a possibilidade de o país dos
aiatolás raivosos passarem a integrar o fechado clube dos detentores de armas
atômicas. Clube do qual, por sinal, Israel faz parte, na moita como se costuma
dizer, não é de hoje.
Netanyahu
chegou ao extremo de contrariar relatórios dos serviços de inteligência dos
Estados Unidos e, segundo consta, até mesmo dos serviços de inteligência de seu
país, segundo os quais as cláusulas definidas no pacto com os iranianos
representam garantias mais do que suficientes, sob o ponto de vista técnico,
para impedir a criação de mais um indesejado arsenal bélico. Está mirando, com
essa sua nova ofensiva contra a redução de tensões na região, a conquista do eleitorado
mais extremista, de forma a permanecer no posto de chefe de governo nas
eleições que se avizinham. Merece ser salientado que parte da opinião pública
israelita vem expressando discordância aberta aos métodos adotados pelo
“premier”. De outra parte, há também a registrar que sua conduta desencadeou
reações desfavoráveis nos Estados Unidos, a ponto da líder democrata na Câmara
de Representantes tomar da palavra para dizer, com todas as letras, que a
posição adotada pelo líder radical israelita constituiu “um insulto à
inteligência do país”. Mais ainda: tudo indica que seu inconformado protesto
ressoará como voz isolada no contexto internacional. O acordo com o Irã é tido
como “favas contadas”. Os governos dos
Estados Unidos e dos países europeus empenhados nas negociações tem-no na conta
de um triunfo diplomático de singular significação para a história do mundo.
Retomando o itinerário
Cesar
Vanucci
“Barack
Obama empenha-se num retorno
às origens de sua trajetória política.”
às origens de sua trajetória política.”
(Antônio Luiz da Costa, educador)
Não passa
desapercebida a olhares mais argutos a circunstância de que o Presidente norte-americano
Barack Obama se desdobra, presentemente, em esforços para resgatar, pelo menos
em parte, a imagem de líder comprometido com avanços sociais e políticos que
lhe permitiram acesso à simpatia e admiração universais nos primórdios de sua
atuação governamental.
Na época em
que arrebatou o Nobel da Paz, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos
encarnou uma liderança que, para multidões no mundo inteiro, encantadas com sua
conduta e propostas, concentrava as condições desejáveis para ajudar a promover
um projeto de mudanças vitais na história contemporânea. Todos nos recordamos
muito bem do verdadeiro delírio popular que, logo após sua ascensão ao poder,
passou a rodeá-lo nas praças públicas apinhadas nos países que visitou.
As ações
praticadas pelo seu governo, nalguns tópicos demasiadamente parecidas com as de
seu antecessor na Casa Branca, trouxeram, depois, entretanto, desalento e
frustração em dosagem elevada. O constrangedor episódio da arapongagem
eletrônica executada pelos órgãos de espionagem estadunidenses em dimensão
universal, com fitos políticos e comerciais, não poupando nem aliados, acabou
por deixá-lo extremamente vulnerável a críticas acerbas, dentro e fora de seu
país.
Dentro de
tão delicado e complexo cenário ganha visibilidade, agora, a disposição de
Obama em reescrever sua biografia como líder no tempo de mandato que lhe resta
à frente da mais poderosa nação do planeta. Em reintroduzir nos programas de
trabalho conceitos e iniciativas que, por fatores os mais variados, andaram um
tanto quanto obscurecidos em sua agenda de prioridades.
O diálogo
aberto com os dirigentes cubanos insere-se nessa linha generosa de cogitações.
Com a providencial intermediação do grande estadista contemporâneo, Papa Francisco,
estão em andamento negociações voltadas para o reatamento das relações
diplomáticas e comerciais e da eliminação do embargo econômico. A posição anunciada
põe cobro a meio século de desentendimentos e tensões. A busca de solução
harmoniosa para as também efervescentes pendências de muitas décadas com o Irã
dos aiatolás é outra atitude que merece ser arrolada como demonstração do
empenho do atual mandatário estadunidense em recuperar, de certo modo, a aprovação
e o apreço desfrutados no passado junto à opinião pública, no plano doméstico e
na esfera mundial.
Cabe
aplicar o mesmo entendimento às medidas de esvaziamento paulatino do presídio
de Guantánamo – que Obama prometeu fechar, pratrazmente, escorado em bem
embasados argumentos jurídicos e humanitários -, com os sucessivos
deslocamentos de detentos sem culpa formada para outros países, na condição, já
aí, de cidadãos libertos de acusações. Foi assim que ocorreu numa tratativa
recente com o governo José Mujica, do Uruguai.
Digna ainda
de toda atenção, pontuando outra providência frisante, indicação dessa
elogiável disposição propositiva de Obama, é a firme cartada que vem executando,
enfrentando seus sempre raivosos adversários políticos, em favor da implantação
de uma política pública de saúde abrangente para as camadas populares
socialmente desguarnecidas dos Estados Unidos. A não inclusão desse beneficio
essencial nos programas governamentais representa uma nódoa que todo cidadão de
média e baixa renda aspira seja eliminada na história de um país tão próspero e
tão cheio de oportunidades.
O modelo
assistencial previsto por Obama é eficiente no ver de qualificados analistas. Permitir-lhe-á,
provavelmente, reencontrar-se com aqueles índices de popularidade atingidos noutros
momentos decisivos de sua vitoriosa trajetória como homem público.
GALERIA DE ARTE
DJANIRA:
Mergulho de
cabeça nos temas retratados
Djanira
da Motta e Silva (Avaré SP 1914 - Rio de Janeiro RJ 1979). Pintora, desenhista,
ilustradora, cartazista, cenógrafa e gravadora. No final da década de
1930, passa a morar no Rio de Janeiro, onde tem suas primeiras instruções de
arte em curso noturno de desenho no Liceu de Artes Ofícios e com o pintor
Emeric Marcier (1916-1990), hóspede da pensão que Djanira instala no bairro de
Santa Teresa. Os contatos com os artistas Carlos Scliar (1920-2001), Milton
Dacosta (1915-1988), Arpad Szenes
(1897-1985), Vieira da Silva (1908-1992) e Jean-Pierre Chabloz (1910-1984), frequentadores de sua pensão,
proporcionam um ambiente estimulador que a leva a expor no 48º Salão Nacional
de Belas Artes, em 1942. No ano seguinte, realiza sua primeira mostra
individual, na Associação Brasileira de Imprensa - ABI. Em 1945, viaja para
Nova York, onde conhece a obra de Pieter Bruegel (ca.1525-1569) e entra em contato
com Fernand Léger (1881-1955), Joán Miró (1893-1983) e Marc Chagall (1887-1985).
De volta ao Brasil, realiza o mural Candomblé para a residência do escritor Jorge
Amado (1912-2001), em Salvador, e painel para o Liceu Municipal de Petrópolis,
no Rio de Janeiro. Entre 1953 e 1954, viaja a estudo para a União Soviética. De
volta ao Rio de Janeiro, torna-se uma das líderes do movimento pelo Salão Preto
e Branco, um protesto de artistas
contra os altos preços do material para pintura. Realiza em 1963, o painel de
azulejos Santa Bárbara, para a
capela do túnel Santa Bárbara, Laranjeiras, Rio de Janeiro. No ano de 1966, a
editora Cultrix publica um álbum com poemas e serigrafias de sua autoria. Em
1977, o Museu Nacional de Belas Artes – MNBA realiza uma grande retrospectiva
de sua obra.
Comentário Crítico
Djanira
nasce no interior de São Paulo, numa família de poucos recursos. Casa-se com um
maquinista da Marinha Mercante, e cedo fica viúva. Aos 23 anos, é internada com
tuberculose no Sanatório Dória, em São José dos Campos, onde faz seu primeiro
desenho: um Cristo no Gólgota. Com a melhora, continua o tratamento no Rio de
Janeiro, e reside em Santa Teresa, por causa de seu ar puro. Em 1930, aluga uma
pequena casa no bairro e instala uma pensão familiar. Um de seus hóspedes, o
pintor Emeric Marcier (1916-1990), a
incentiva e lhe dá aulas de pintura. Djanira também frequenta, à noite, o curso
de desenho no Liceu de Artes e Ofícios. Nesse período, trava contato com o
casal Arpad Szenes (1897-1985) e Vieira da Silva (1908-1992), com Milton
Dacosta (1915-1988), Carlos Scliar (1920-2001), e outros que vivem em Santa
Teresa e frequentam o meio artístico.
Em
1945, realiza uma viagem aos Estados Unidos, que foi decisiva em sua formação:
conhece pessoalmente Marc Chagall (1887-1985), Joan Miró (1893-1983) e Fernand
Léger (1881-1955) e é acolhida pela embaixatriz brasileira, a escultora Maria Martins
(1900-1973). Em suas frequentes visitas a museus, Djanira interessa-se
especialmente pela obra do pintor flamengo Pieter Bruegel (ca.1525-1569). Em
1947, retorna ao Brasil. Sua produção volta-se para temas populares, como em Parque
de Diversões (1948), ou
para a representação de trabalhadores como os colhedores de café nas fazendas
paulistas, batedores de arroz, vaqueiros, pescadores, tecelões, oleiros e
operários. A artista pinta também, a óleo ou têmpera, retratos, autorretratos,
obras de temática religiosa e paisagens.
A
sua pintura dos anos 1940 é geralmente sombria, utiliza tons rebaixados, como
cinza, marrom e negro, mas já apresenta o gosto pela disciplina geométrica das
formas. Na década seguinte, sua palheta se diversifica, com uso de cores
vibrantes, e em algumas obras trabalha com gradações tonais que vão do branco
ao cinza-claro. Apresenta em seus tipos humanos uma expressão de solene
dignidade.
A
artista sempre busca aproximar-se dos temas de suas obras: no fim da década de
1950, após convivência de seis meses, pinta os índios canela, do Maranhão. Na
década de 1970, desce às minas de carvão de Santa Catarina para sentir de perto
a vida dos mineiros e viaja para Itabira para conhecer o serviço de extração de
ferro.
Djanira
trabalha ainda com a xilogravura, gravura em metal, e faz desenhos para
tapeçaria e azulejaria. Em sua produção, destaca-se o painel monumental de
azulejos para a capela do túnel de Santa Bárbara (1958), no Rio de Janeiro.
Inicialmente nomeada como "primitiva", gradualmente sua obra alcança
maior reconhecimento da crítica. Como aponta o crítico de arte Mário Pedrosa
(1900 - 1981), Djanira é uma artista que não improvisa não se deixa arrebatar,
e, embora possuam uma aparência ingênua e instintiva, seus trabalhos são consequência
de cuidadosa elaboração para chegar à solução final.
Os paineis registram amostras expressivas do talento da artista
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