O recado das
ruas
Cesar Vanucci *
“Sem partido, sem partido!”
(Coro
de vozes impedindo que na passeata de São Paulo, que reuniu, segundo a “Folha”,
210 mil manifestantes, políticos fizessem uso da palavra)
O
tamanho da manifestação pegou todo mundo de surpresa. Tendo como foco central a
atuação da Presidenta Dilma Rousseff e de seu partido, o PT, deixou os arraiais
políticos em polvorosa. Ninguém calculava que a convocação pelas redes sociais
fosse capaz de atrair tanta gente. Sobretudo se levada em conta a origem difusa
e a diversidade de propósitos das mensagens espalhadas aos internautas. O
recado das ruas, transmitido de maneira pacífica, de acordo com o figurino
democrático, tudo isso considerado, foi de iniludível clareza.
Largadas
obviamente de lado as impertinências de grupos radicais minoritários
infiltrados nas passeatas – gente avessa ao sentimento nacional, inimiga
raiventa do regime democrático -, o que fica como sumo do pensamento comunitário
expresso no ar é uma demonstração insofismável de que as mudanças políticas e sociais,
amiúde acenadas à Nação pela classe política, não podem mais, jeito maneira,
continuar sendo empurradas com a barriga. Urge promovê-las.
Os
setores mais lúcidos da sociedade sabem o que carece ser feito. Os políticos têm,
sim senhor, noção bastante precisa do que a sociedade realmente almeja. Mesmo
que muitas das postulações vindas a furo pequem pela inconsistência, algumas
delas chegando até mesmo a molestar lastimavelmente fundamentos basilares de
nossa estrutura institucional democrática, existe consolidada na consciência
cívica da Nação uma agenda ideal de demandas propositivas clamando por soluções
urgentes. O combate sem tréguas à corrupção, com a identificação de corpo
inteiro de corruptores e corrompidos, como vem agora acontecendo
auspiciosamente na “Lava Jato”, é uma dessas reivindicações inalienáveis da
vontade popular.
A
reforma política ampla, como fruto de um debate bem articulado, com prazo
definido para execução, é outro item de suprema relevância no processo. É
indisfarçável o mal estar produzido no espirito popular pelas urdiduras de
tantos agentes políticos oportunistas e fisiológicos abrigados em todas as
legendas. Trata-se de pessoal agarrado com frenético apego ao poder.
Contempla-o como um fim para enriquecimento indevido. Não como um meio valioso
para se atingir o respeitável interesse público, fim magno da ação diuturna de
construção humana. Há que se cuidar, na elaboração do trabalho, da eliminação
de fatores que encorajem a participação no enredo político de atores
desqualificados, hoje para nosso infortúnio tão numerosos.
A
opinião pública confessa-se de acordo com ajustes econômicos para o
enfrentamento dos problemas difíceis e complexos que nos afligem. Apoia as
medidas. Mas considera indispensável a convocação também do pessoal do chamado
“andar de cima” para o compartilhamento harmonioso e justo do custo da crise.
Falar apenas em cortes de implicações sociais, alimentando-se temores de que
possa haver retrocesso nas alentadoras conquistas dos últimos anos, não é
procedimento correto. É preciso encarar a possibilidade de os déficits das
contas públicas implicarem também em gravames das fortunas e dos lucros
exorbitantes. O combate eficaz às evasões fiscais faz parte do conjunto de
medidas a serem adotadas nesse capítulo.
O mesmo cabe dizer com relação a um levantamento eficiente, para as
cobranças inevitáveis, dos colossais valores ilicitamente estocados em
operações financeiras clandestinas. Sabido é, até dos aborígenes das últimas
tribos remanescentes a serem ainda contatadas nas selvas amazônicas pelos
sertanistas da Funai, que são em número bastante significativo os cidadãos
“acima de qualquer suspeita”, associados remidos do CPP (Clube dos Privilégios
Perversos), detentores de contas fabulosas nos chamados “paraísos fiscais”. Ou
sejam esses redutos de pirataria e gatunagem hipocritamente tolerados pela sociedade
das nações. Só numa única agência do HSBC flagrada recentemente pela proeza de
haver conseguido extrapolar os limites permitidos na bandalheira relativa a
operações fraudulentas, das 130 mil contas oficialmente lastreadas, perto de 9
mil são de ilustres patrícios. Apontar tais elementos, na forma da lei, além do
caráter saneador intrínseco da medida, proporcionará ensancha oportunosa para o
resgate legal de aportes financeiros de grande peso mode que reduzir o déficit público.
Quanto
ao mais, não percam as lideranças políticas, os representantes dos Poderes
legitimamente constituídos, as lideranças de todos os demais segmentos
representativos da sociedade brasileira, a formidável chance de estabelecer um
diálogo proveitoso com a Nação. A chance de firmar conexão e sintonia com as
aspirações populares legítimas. Façam de tudo para que dê certo. Promovam
confabulações, ajustes, pactos, diálogos, entendimentos dentro da reta intenção
de ouvir e procurar atender aos clamores justos nascidos da alma das ruas. A
hora recomenda conjugação poderosa de vontades de modo a que a Nação trilhe o
caminho indesviável de sua vocação de grandeza.
A
tragédia nigeriana
Cesar
Vanucci
“Só
em 2014, o “Boko Haram” massacrou mais
de
10 mil civis, a grande maioria muçulmanos.”
(Jornalista Giampaolo Petrucci)
Em comentário recente,
focalizando a tragédia provocada pelo fundamentalismo terrorista muçulmano no
território francês, chamei a atenção dos leitores para um outro ato virulento
contra os direitos humanos, praticado na mesma ocasião por fanáticos religiosos
no maltratado continente africano. Expressei a opinião de que o mundo inteiro,
a partir das lideranças das grandes potências, deveria organizar manifestações
semelhantes àquelas que, compreensivelmente, ocorreram em Paris, em sinal de
justa solidariedade na dor e no sofrimento ao povo nigeriano.
Ao lançar no papel tais
considerações não tinha conhecimento ainda de um texto bastante elucidativo que
me foi encaminhado por uma amiga querida, engajada em fecunda atividade
pastoral cristã, a respeito dos acontecimentos em terras d’África. Tendo por
cenário a Nigéria, os acontecimentos em questão são descritos como “um dos mais
brutais massacres dos últimos anos da história do continente”. A Nigéria possui
175 milhões de habitantes (o mais populoso do continente, 7º do mundo) sendo
detentor do 38º PIB nacional. Povoado por 500 grupos étnicos, conta com
avolumada presença de cristãos no meio de uma população de predominância
islâmica. O texto aludido, de autoria do jornalista Giampaolo Petrucci, foi publicado
na revista “Adista Notizie”, de 24 de janeiro passado. A tradução é de Moises Sbardelotto.
Entendo de suma oportunidade reproduzi-lo nesse “minifúndio de papel” (lembrando
o jornalista e escritor Roberto Drummond). Seguem titulo e análise publicados.
“A fé, os interesses e os silêncios, chave de leitura do “Boko Haram”: “De
acordo com informações não oficiais, mas bem credenciadas, como a Anistia Internacional e
a BBC, teriam sido mais de duas mil
as vítimas da ofensiva lançada a partir do dia 3 de janeiro passado pelo Boko Haram na região
de Baga, onde o grupo
fundamentalista ocupou uma importante base militar, posto avançado de uma força
tarefa multinacional africana na região.
O recrudescimento da atividade terrorista chega a
um mês das eleições presidenciais do dia 14 de fevereiro, nas quais o atual
presidente cristão Goodluck Jonathan,
no poder desde 2010, vai se recandidatar, mesmo sendo considerado politicamente
incapaz de adotar estratégias críveis de combate ao terrorismo – também por
causa de um Exército desorganizado, mal pago, corrupto e mal equipado – e de
controlar o território para evitar os conclamados conluios entre governos
locais e terroristas.
O “Boko
Haram” – locução hausa que significa "a educação ocidental é pecado" –
começou os ataques no Estado de Borno (nordeste
da Nigéria) em 2009, mas, com as
recentes intensificações do conflito, ele aspira, confiando também na filiação
ao Estado Islâmico, à
desestabilização de um dos países mais ricos de petróleo do mundo, além da
constituição de um grande califado para além das fronteiras com os Camarões, Chade e Níger, capaz de se expandir para
toda a África ocidental muçulmana,
já amplamente abalada pelo avanço dos movimentos jihadistas na região do Sahel.
Só em 2014, o “Boko
Haram” massacrou mais de 10 mil civis, a grande maioria muçulmanos,
e provocou a fuga de mais de 1,7 milhão de pessoas. Depois das medidas de
segurança adotadas pelas forças de segurança nigerianas nos mercados e nas
praças do norte, os fundamentalistas mudaram a estratégia de ataque, forçando
meninas e moças pouco mais do que adolescentes a se fazerem explodir em lugares
particularmente lotados de civis.
Precisamente o indizível horror provocado pelos
últimos atentados realizados em Maiduguri e
em Potiskum com esse modus operandi finalmente
chamou a atenção da sonolenta indignação da mídia e das instituições
internacionais sobre o drama nigeriano.”
Vítimas de
segunda categoria
Cesar Vanucci
*
“Todos devíamos vir para a África!”
(Arcebispo Francisco Montenegro, da
Nigéria)
Dou sequência aqui ao trabalho
jornalístico sobre os apavorantes acontecimentos da Nigéria provocados pelos
fanáticos do “Boko Haram”. Como já explicado, o autor do texto é o jornalista
italiano Giampaolo Petrucci.
"Penso na grande
manifestação de Paris e desejo também
aqui uma grande marcha de unidade nacional que supere as divisões políticas,
étnicas e religiosas. Devemos dizer 'não' à violência e encontrar uma solução para
os problemas que afligem a Nigéria", disse à
agência “Fides” Dom Ignatius Ayau Kaigama (arcebispo
nigeriano de Jos), que em várias ocasiões
criticou a comunidade internacional pela falta de atenção dada à questão
nigeriana, definindo, de fato, como "vítimas de primeira categoria – as
europeias – e vítimas de segunda categoria" as africanas.
Esta
também a opinião do arcebispo de Agrigento
– que se tornará cardeal no próximo consistório de fevereiro –, Francesco Montenegro, que falou no
Dia Internacional dos Migrantes,
18 de janeiro. "Todo
morto deveria fazer-nos pensar", declarou. "É estranho que só Paris
se tornou o centro do mundo. No dia seguinte, ao contrário, todos devíamos ir
para a África, porque duas mil pessoas sofreram a mesma
violência de Paris, mas, mais uma
vez, dividimos o mundo no sofrimento: nós, os da primeira categoria, postos
todos juntos a dizer que não é justo, enquanto não vimos os dois mil mortos
da Nigéria, mortos de segunda categoria".
Por outro
lado, numa "Declaração sobre os ataques na
Nigéria", em 12 de janeiro, o Conselho
Ecumênico das Igrejas (WCC) apontou o absurdo de uma cobertura religiosa
de certas atrocidades: "Uma mentalidade que concebe as crianças como bombas e que
massacra indiscriminadamente mulheres, crianças e idosos está além da
indignação e se desqualifica para qualquer possível pretensão de justificação
religiosa".
O WCC também expressou "profunda
decepção com a discriminatória falta de cobertura midiática internacional"
que a crise nigeriana exige e pediu, por um lado, a intervenção decisiva do
governo e, por outro, uma adequada solidariedade por parte da comunidade internacional.
A Rede Nowar sublinhou no dia 12 de
janeiro, ao ensejo da visita da vice embaixadora nigeriana à Itália, Martina
Gereng-Sen, que o terrorismo "não tem nada a ver com o Islã", como demonstra o fato de que a
grande maioria das vítimas do terror "pertence aos povos não ocidentais"
e são principalmente muçulmanos.
"Nos mesmos dias do
massacre em Paris, foram cometidos
massacres por parte de milícias terroristas na Nigéria, Líbia, Iraque, Iêmen, Síria”. No
comunicado da Rede Nowar pede-se que "a mídia e a
opinião pública reservem a eles a mesma dor e respeito que demonstramos no caso
das vítimas de Paris". Existe,
ainda, a denúncia de que vários "países da Otan
(incluindo
a Itália) e monarquias do Golfo, mesmo nos últimos anos, equiparam, formaram,
financiaram o crescimento de diversos grupos terroristas".
O fato de
que o “Boko Haram” busca cobertura
religiosa de finalidade não manifesta também é assinalado pelo diretor da
revista dos combonianos, “Nigrizia”,
padre Efrem Tresoldi, em entrevista à Rádio Vaticano no dia 12 de
janeiro. "Esse
terrorismo chamado islâmico está colocando na mira não só os cristãos, mas
ainda mais as próprias comunidades muçulmanas do norte do país. É uma campanha
que vai contra, eu diria, os próprios princípios da humanidade e, portanto, não
tem nada a ver com a religião: são criminosos, mas que têm apoio, como se sabe,
também dentro do Estado" e "financiamentos também do exterior".
Em
análise publicada no dia 9 de janeiro pela agência Sir,
o padre Giulio Albanese (comboniano, fundador
da agência missionária “Misnae”,
colaborador de várias publicações) denunciou o silêncio ocidental, definindo as
vítimas de Baga como "filhas de um deus menor".
Falando
do “Boko Haram” disse tratar-se de um
movimento que "instrumentaliza"
a religião para fins políticos. A situação, salienta, degenerou depois da
vitória eleitoral de Goodluck Jonathan,
em 2010, "nada
apreciada pelas oligarquias do norte do país, de fé islâmica, que viram
redimensionado, por assim dizer, o seu peso político. Jonathan, de fato,
pertence à etnia Ijaw, minoria de nível
nacional e de tradição cristã, mas que representa a maioria da população na
região do Delta do Níger, riquíssima em
petróleo e sob o controle das multinacionais estrangeiras. Nesse contexto, o
fator religioso se sobrepõe a uma competição pelo poder que, a esse ritmo,
corre o risco de dividir a Nigéria
em
duas".
"As razões do
aumento da atividade terrorista – acentua Albanese – devem ser buscadas, pelo menos em parte, nas
relações que o “Boko Haram” manteve, ao longo
dos últimos anos, com políticos locais e membros das forças de segurança
originárias do norte, interessadas na radicalização do conflito, a fim de
tornar a Nigéria ingovernável".
GALERIA DE ARTE
INIMÁ DE PAULA,
o artesão das cores
“A paisagem é sempre maior e mais forte que o homem
nas minhas telas.”(Inimá de Paula)
Inimá
José de Paula foi um pintor, desenhista e professor brasileiro. Artista
autodidata, Inimá de Paula criou uma linguagem própria inconfundível. Seus
trabalhos possuem características definidas e pessoais, com pinceladas ricas em
tonalidades e sensibilidade.
Inimá
foi um artesão das cores, e é considerado por muitos o maior fauvista
brasileiro, o maior de todos os artistas contemporâneos mineiros, sendo
reverenciado em sua terra natal.
Sua
pintura tem características pessoais e bem definidas, e é altamente bem
elaborada e estruturada; suas pinceladas são fartas e generosas.
As
obras de Inimá podem ser encontradas nos mais importantes museus brasileiros,
em acervos de fundações públicas e privadas e em coleções particulares de renomados
colecionadores. Seu nome é citado em diversos dicionários de artes plásticas e
livros de arte. Recebeu ainda, inúmeras homenagens, títulos e medalhas.
Inimá
de Paula nasceu no dia 7 de Dezembro de 1918 em Itanhomi. Desde criança, Inimá
gostava de desenhar e quando foi prestar serviço militar em Juiz de Fora/MG, em
1937, encontrou, no Núcleo Antônio Parreiras, a oportunidade de realizar suas
primeiras pinturas e estudos.
Mudou-se
para o Rio de Janeiro em 1940 e já alimentava o sonho de ser pintor enquanto
trabalhava como retocador de fotografias. Matricula-se nas aulas de Argemiro
Cunha no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, as quais abandona em pouco
tempo. Passa a pintar com alguns dos ex-integrantes do Núcleo Bernardelli.
Uma
oportunidade de trabalho o levou a Fortaleza em 1944. Lá, uniu-se aos jovens
artistas e participou ativamente do movimento modernista local. Juntamente com
Antônio Bandeira, Aldemir Martins e Jean-Pierre Chabloz fundou a Sociedade
Cearense de Artes Plásticas (SCAP), que foi responsável pelo desenvolvimento da
arte moderna no Ceará.
De
volta ao Rio, no ano seguinte, passou a concorrer regularmente no Salão
Nacional de Belas Artes, o mais disputado e importante salão de arte da época,
e em breves sete anos conquistou todas as premiações. Ainda em 1945 expõe com
Aldemir Martins, Antônio Bandeira e Jean-Pierre Chabloz, na galeria Askanasy.
Em
1948, graças ao apoio de Cândido Portinari, faz sua primeira mostra individual
no Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/RJ).
Em
1950, ganha o prêmio de viagem ao país do Salão Nacional de Belas Artes (SNBA)
e, no ano seguinte, viaja e expõe na Bahia.
Em
1952, venceu o disputado Prêmio de Viagem ao Estrangeiro. Em Paris, entre 1954
e 1956, assiste a cursos na Académie de la Grande Chaumière e na École Normale
Supérieure des Beaux-Arts. Em seguida, acompanha as aulas de André Lhote e de
Gino Severini.
Quando
volta, passa a fazer pinturas abstratas, algumas das quais mostra na 5ª Bienal
de São Paulo. Na primeira metade dos anos 1960, muda-se para Belo Horizonte e
retoma a pintura figurativa.
Em
1998 é criada a Fundação Inimá de Paula em Belo Horizonte, para cuidar de todos
os assuntos concernentes à sua obra e à catalogação integral da mesma, sendo
iniciativa pioneira no país, rivalizando apenas com a também impressionante
iniciativa que é o Instituto Manabu Mabe. O próprio Inimá autenticou
pessoalmente muitas e muitas obras. A Fundação Inimá de Paula, em parceria com
o Governo do Estado de Minas Gerais, inaugurou em abril de 2008 o Museu Inimá
de Paula, em antigo prédio da capital mineira. O Museu está aberto ao público
e, além do seu acervo, os amantes da arte podem ver as várias exposições de
artistas brasileiros que ali mostram suas obras.
Inimá
pintou até o seu último ano de vida, falecendo no dia 13 de agosto de 1999 em
Belo Horizonte. Fonte: Mercado Arte
Amostras da criativa obra de Inimá
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