Cesar Vanucci
“A repetição é a melhor retórica.”
(Napoleão
Bonaparte)´
Napoleão dizia que a repetição é a
melhor retórica. A marquetagem política dá provas seguidas da precisão do
conceito.
O impactante diagnóstico das condições
sofríveis das contas públicas mineiras, que vem de ser divulgado pelo recém-empossado
governo Pimentel, revela que uma propaganda oficial ardilosa manteve a
comunidade por muito tempo desinformada de fatos cruciais. O famoso “choque de
gestão”, que “produziu” o chamado “déficit zero”, ilustra bem o que aconteceu.
O bombardeio midiático sobre o “déficit zero” durou anos. Parcelas ponderáveis
da opinião pública acreditaram piamente no que foi alardeado pelas administrações
tucanas.
Sou testemunha ocular de episódios bem ilustrativos
gerados pela falsa revelação. Acompanhando o então deputado estadual Adelmo
Carneiro Leão, hoje parlamentar federal, em visitas a figuras exponenciais do
mundo oficial e classista, convidadas a aderirem à campanha desencadeada pelo
mesmo na Assembleia Legislativa de Minas, em favor da renegociação da dívida pública,
deparei-me, mais de uma vez, com reações de espanto das pessoas contatadas diante
da revelação de que a dívida pública mineira, a mais alta entre os Estados da
Federação, havia atingido patamares insuportáveis, colocando em risco toda a
política de investimentos oficiais.
As pessoas procuradas relutavam em
aceitar, de principio, as informações acerca dos números apresentados. “Uai! E
o déficit zero?” A pergunta irrompia com frequência nesses momentos exigindo
explicações claras e didáticas, com dados técnicos irretorquíveis, extraídos
sobretudo de um livro, trazido na pasta, de autoria dos professores Fabricio
Augusto e Claudio Gontijo, onde a história da construção da dívida pública
mineira é devidamente esmiuçada.
Presenciei, noutra oportunidade, num
contexto diferente, manifestação ruidosa de surpresa de participantes de um
concorrido encontro de lideranças sociais, quanto à informação, anotada só de
passagem pelo expositor, a respeito desses mesmos atordoantes números da dívida.
Para muita gente só agora é que a ficha
caiu. O “déficit zero” da retórica demagógica, da marquetagem abusada, de
custos estrondosos e estampada em toda espécie de mídia, “alcançou” no frigir
dos ovos valor que roça os 100 bilhões. Se Minas fizesse parte da comunidade
econômica europeia estaria a ostentar atualmente situação quase tão aflitiva
quanto a da Grécia. A liquidação desse colossal endividamento, mesmo com o
abrandamento de algumas cláusulas em função de renegociações prestes a serem
definidas, vai reclamar pesados sacrifícios sociais.
No seio da opinião pública começam a se
erguer vozes indignadas a indagarem por qual razão, antes da efetivação do
pagamento das exorbitantes parcelas instituídas como obrigações do Estado de
Minas, não se monta uma auditoria a respeito de toda essa situação. Um estudo
amplo, transparente, que explique tintim por tintim à sociedade como a tal
dívida foi, afinal de contas, constituída, quando, por quem, pra que. Trata-se,
sem sombra de dúvida, de um nebuloso capítulo da história brasileira que carece
ser destrinçado, nesta hora em que a Nação dá demonstrações cabais de querer
ver as coisas de interesse público claramente passadas a limpo.
A chamada crise hídrica
Cesar Vanucci
“A culpa não é do meu banho!”
(Tirada
bem humorada das lideranças
ambientalistas
a propósito da chamada “crise hídrica”)
Não
importa que, nesta hora, a frase “a culpa não é do meu banho” esteja sendo
utilizada como refrão de propaganda por uma agremiação política. Multidões não
filiadas partidariamente, mesmo solicitamente dispostas a colaborar com os
esquemas propostos de racionalização do abastecimento, estão convencidíssimas
de que nem seu banho de chuveiro ou de banheira, nem tampouco a descarga do
vaso sanitário em suas casas merecem ser onerados de culpa nessa questão da
escassez da água. O buraco, como era de costume dizer-se em tempos de
antigamente, é mais embaixo.
Em
termos práticos pode-se até afirmar que se trata, de certa maneira, de buracos
profundos e extensos, escavados nas entranhas da terra com o objetivo de que
neles sejam inseridos tubulões capazes de permitir o escoamento, em grandes
quantidades, de riquezas minerais valiosas. Riquezas essas, por sinal, como
sabido, extraídas do solo dadivoso a preço de banana nanica refugada em final
de feira na periferia. É o caso também de lembrar que o preço pago pela imensa
caudal do precioso líquido canalizado nessas operações é ainda mais aviltado,
se é possível conceber tamanho absurdo.
Há
mais buracos a registrar. São os sulcos e encanamentos em terreno lavrado, tomado
por irrigações. O uso da água nessas atividades é incessante, descomedido. Sua
aquisição custa, igualmente, uma ninharia. Todo esse descontrole resulta de outorgas
despropositadas. Outorgas essas que carecem ser, de conformidade com corretas
avaliações técnicas, urgentemente reexaminadas.
As
considerações acima já haviam sido lançadas no papel quando nos inteiramos dos
elucidativos dados e informações debatidos numa concorrida reunião promovida
por especialistas em questões hídricas. O encontro foi coordenado pelo
respeitado líder ambientalista Apolo Heringer Lisboa, idealizador e fundador do
famoso “Projeto Manuelzão”. Aprovou-se na oportunidade, como ponto de partida
para estudos e ações, um conceito fundamental destinado a balizar atuação dos
interessados no enfrentamento da momentosa questão do denominado “colapso
hídrico”. Os estudiosos afiançam, apegados a uma visão ecossistêmica da vida e
da gestão pública, que a sobrevivência da fauna dos rios e dos animais
silvestres compõem parte inegociável das metas que se tem em mira atingir num
processo de preservação ambiental voltado para a qualidade de vida melhor.
A
saúde dos rios não é apenas do interesse da espécie humana. Existe para ser
observada uma “lógica ecológica” e os setores de vanguarda do pensamento
preservacionista vêm procurado colocar as autoridades a corrente dessa
circunstância. Assinalam não fazer sentido algum a majoração das tarifas de
água ou aplicação de multas aos consumidores comuns quando se tem em vista o
fato de não serem eles, definitivamente, os responsáveis pela crise de
abastecimento detectada.
O
diagnóstico de especialistas renomados sobre o desabastecimento constata não
estarem sendo dadas, por quem de direito, respostas convincentes sobre o que
vem rolando no pedaço. Informações cruciais – garantem - têm sido sonegadas ao
público. Isso alimenta perguntas preocupantes. Uma delas: onde foram parar as
águas de Minas, se apenas 20 por cento delas estariam sendo consumidas nos
aglomerados urbanos e nas pequenas atividades comerciais e de produção
doméstica? Cadê as explicações pertinentes ao alentado conjunto das outorgas de
água distribuídas pelo IGAM?
Tem-se
por certo que 80 por cento do volume da água retirada da natureza beneficiam as
atividades econômicas. Tal abundância de água, adquirida a preço simbólico é
utilizada descontroladamente. Não se vê por aí ninguém falando em investimentos
tecnológicos, de irretorquível relevância, que forcem a economia no emprego do
valioso produto. São notórios os abusos derivados dos minerodutos e do
rebaixamento continuo dos lençóis subterrâneos que vem secando as nascentes dos
rios. O alarmante quadro traçado mostra que a retirada desabrida de águas dos
mananciais, com ou sem outorgas, por meio de poços artesianos e canalização
direta dos rios, esvazia os lençóis freáticos, seca as nascentes e reduz o
volume dos rios.
No
entendimento dos estudiosos o regime insuficiente de chuvas não seria causa do
desabastecimento. Assim como as eventuais inundações não decorreriam também do
excesso chuvoso. Outras causas menos focalizadas e mais importantes estariam na
origem dos problemas. A chuva representaria – asseveram eles – apenas uma gota
d’água a mais ou a menos em toda a complexa equação. O tema se apresta a muitas
outras considerações. E questionamentos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário