sexta-feira, 10 de abril de 2015

Razões para criticar e para celebrar

Cesar Vanucci 

“O financiamento conseguido pela Petrobras junto ao banco chinês é superior ao valor pago pela aquisição da Vale no leilão de 1997. Uma nota preta!”
(Antônio Luiz da Costa, educador)
  
Existem, sim, sobejas razões para que a mídia, no saudável exercício democrático que lhe é inerente de avaliar o comportamento da economia brasileira, se ocupe com comentários críticos de vários procedimentos governamentais que contribuíram para os pífios resultados alcançados ultimamente.
O crescimento de apenas 0.1 por cento do PIB, os números das contas públicas, das contas relativas aos negócios com o exterior, a tendência inflacionária altista, os indicadores macroeconômicos mais recentes compuseram um quadro, pode-se afiançar, bastante aquém do potencial produtivo da Nação. Ocorreu ainda, entre outras situações perturbadoras, clara desaceleração no ritmo da produção de bens, o que configurou um indesejável sinal de “desindustrialização”.
Sem que isso possa, de maneira alguma, servir-nos de consolo face ao desempenho desfavorável registrado, conseguimos manter-nos, entretanto, na posição de sétima potencia global entre os países detentores de economia pujante. A constatação deixa naturalmente realçado que o mundo continua a enfrentar uma crise de grande proporção. Essa crise projeta-se, como não fica difícil deduzir, no esforço que o país promove na busca de novos patamares de desenvolvimento.
Mas, por outro lado, existem também fortes motivos para que, apesar de todos os pesares, sem abrir mão de suas legitimas prerrogativas institucionais, a mídia aprenda a destinar espaço mais dilargado, nas apreciações feitas sobre nossa conjuntura econômica, a revelações animadoras que porventura aportem o noticiário nosso de cada dia, chutando pra fora do gramado a cantilena exageradamente derrotista adotada.
O financiamento de 3.5 bilhões de dólares que o Banco de Desenvolvimento da China acaba de conceder à Petrobras, nesse momento delicado enfrentado por sabidos fatores pela estatal, é acontecimento de extraordinária relevância. Sinaliza, de forma irretorquível, que a empresa, como almejado pelos que comandam agora seus destinos e pela sociedade brasileira, tem condições plenas, dispõe das potencialidades necessárias para reencontrar-se em sua trajetória de progresso. O valor do financiamento anunciado – bom relembrar – é superior à soma que, em maio de 1997 foi utilizada na aquisição, em leilão de privatização, por grupos particulares, da antiga Vale do Rio Doce. Marcada por controvérsias, a operação – recorramos novamente à memória - foi considerada por respeitáveis setores da mídia como a maior transação da história econômica nacional. Os ativos da organização foram transferidos, na época, por 3.3 bilhões de dólares, com financiamento subsidiado pelo BNDEs.
Esse aporte de agora do Banco de Desenvolvimento da China para a Petrobras faz ainda jus a destaque todo especial quando se tem sob mira mais outra elucidativa informação. Os 3.5 bilhões de dólares superam, por exemplo, a ajuda que a Comunidade Europeia, depois de muitas e acaloradas negociações, resolveu dias atrás conceder à Grécia para retirá-la da enrascada financeira em que se acha mergulhada. A quantia liberada, em euros, corresponde a 2 bilhões,158 milhões e 400 mil dólares.
Temos aqui mais informação econômica recente que reivindica, pela mesma forma, pelo teor positivo de que se reveste, atenção dos comentaristas midiáticos. Contrariando diagnósticos de especialistas com acesso aos veículos de comunicação, a balança comercial brasileira, agora em março, apresentou saldo positivo de 458 milhões de dólares. A cifra é quatro vezes maior à anotada no mesmo período do ano de 2014, quando o saldo registrado acusou 118 milhões de dólares.
Outro dado digno de nota que não merece passar desapercebido: no primeiro bimestre deste ano, já em decorrência do chamado ajuste, o erário acumulou saldo fiscal positivo de 18 bilhões de reais. A dívida líquida manteve-se estável.



Balde de piche

Cesar Vanucci 

“Quem com piche picha, com piche será pichado!”
(Frase cunhada por um delegado de polícia após
haver desarticulado um grupo de pichadores de prédios)


O apreciado articulista e renomado jurista Aristóteles Atheniense lançou em 27 de março passado, sexta-feira, nesta página franqueada pelo DC para o fecundo exercício democrático das ideias, um comentário sobre a deletéria ação clandestina dos pichadores de prédios. As considerações alinhadas, traduzindo sensata e oportuna avaliação de um problema urbano que incomoda bastante a todos, inspiraram este desajeitado escriba a retirar do baú, para republicação, a crônica trazida na sequência.

O cidadão identifica-se no telefone como frequentador assíduo destes escritos. Não contendo a satisfação pelo aumento do número de leitores, exprimo-me de forma um tanto desajeitada:
-   Você é o 24.
- Mas, como? Reage ele, o tom de voz contrafeito.
Demoro um pouquinho a explicar que em artigo de dias atrás andei recenseando 23 leitores pras coisas que escrevo. Com sua manifesta adesão, o número está se elevando, naturalmente, a 24.
-  Pula o número.
-  Como?
-- Passa para 25. Nesse negócio de número, sou que nem os “brothers” ianques: tenho lá minhas superstições. Eles são cismados com o 13. Tanto é que o excluem da numeração de andares e elevadores nos edifícios. Minha cisma é com o 24, tá bem?
Foi assim o começo de conversa com o 25º cidadão que se declarou disposto a fazer parte de meu seleto, inteligente e culto público leitor. Na continuidade do papo ele comenta artigo onde deixei consignado meu inconformismo com relação a atos rotineiros de vandalismo praticados por pichadores de prédios.
Conta-me que, há alguns anos, na cidade do interior onde morava, problemas de depredação do patrimônio comunitário foram enfrentados e coibidos de forma assaz original.
Caso é que o delegado do lugar, depois de campana bem sucedida, identificou o bando de desocupados que, nas caladas da noite, enfeiava muros e paredes com garatujas traçadas a piche, revelando especial predileção por superfícies recentemente pintadas.
Representantes do jornal e da rádio locais, ao lado de outros interessados, foram convidados a conhecer, na Delegacia, os autores dos malfeitos. Ficaram sabendo que eram quatro rapazes de famílias bem postas na sociedade. À hora em que os moços entraram na sala, os convidados se deram conta de que todos eles, possuidores de cabeleiras esparramadas ombro abaixo, dois deles com vistosas madeixas, ostentavam, constrangidos, um penteado pra lá de extravagante. O arranjo capilar resultara da aplicação de um laquê diferente, na base do piche. Os cabelos eriçados, da cor do azeviche, ficaram petrificados. A versão dada pelo delegado, sem maiores questionamentos da plateia, era de que, flagrados em delito, em desabalada carreira, os desordeiros acabaram tropeçando no balde de piche, mergulhando, por incrível que pudesse parecer, as cabeças na substância viscosa.
O responsável pelo relato lembra que o delegado era chegado à citação de máximas de pensadores famosos. E não perdeu a ensancha oportunosa de encerrar as explicações com uma frase de efeito, obviamente de sua lavra: -- Quem com piche picha, com piche será pichado!
Segundo ainda o leitor, o corretivo policial pode não ter observado as recomendações pedagógicas adequadas. Mas deu certo. 
A pichação parou.





GALERIA DE ARTE



     CHANINA   

 obra pujante e original 




Natural da Polônia, nascido em 1927, Chanina emigrou para Belo Horizonte, com os pais, aos nove anos de idade. É considerado um dos mais representativos artistas da chamada “Geração Guignard”. Em 1946 ingressou na escola de arte então dirigida por Guignard na capital mineira.
Marcada por intenso colorismo e apoiada numa visão poético-onírica em que a fantasia e a criatividade formam a tônica dominante, a obra de Chanina projeta paisagens, figuras, palhaços, cavalos, abstrações, retratos.
 As mulheres - apontadas pelo crítico Frederico Moraes como "as mais fascinantes de toda a pintura brasileira" - ocupam lugar especial nesse processo criativo.
Mais amplas informações sobre o grande artista poderão ser encontradas no livro Chanina: arte e trajetória, de autoria de Renato Sampaio, publicado em julho de 2003, em Belo Horizonte, pela Rona Editora. 
Fonte: Projeto Chanina

Outras informações:
Pintor, desenhista, ilustrador, gravador, ilustrador e professor. Luwisz Szejnbejn Chanina (1927: Zofjowce, Polônia).
Praticou figurativismo, recorrendo a cores intensas e figuras e animais fantásticos.
“Seu forte é a percepção de um opulento, formidável, espantoso mundo interior que impõe sua presença, que se extravasa irresistivelmente sobre a realidade externa e a despedaça.” (Malomar Lund Edelweiss).
1946 – Frequentou o Instituto de Belas Artes de Belo Horizonte, depois Escola Guignard, no qual viria a ser professor.
1955 – Formou-se em medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais. Teve aulas de gravura com Anna Letycia e de litografia com João Quaglia.
1966 – Ganhou o 1º Prêmio de pintura no Salão de Belas Artes de Belo Horizonte.
1967 – Participou do Salão Nacional de Arte Moderna, Rio de Janeiro.
2003 – Foi lançado o livro Chanina: arte e trajetória, de autoria de Renato Sampaio.
Exposições individuais:
1961 – União Israelita, Belo Horizonte.
1965 – Galeria Tijuco, Belo Horizonte.
1971 – Mini Gallery, Rio de Janeiro.
1972, 75 e 77 – Galeria AMI, Belo Horizonte.
1979 – Galeria Guignard, Belo Horizonte.
1982 – Palácio das Artes, Belo Horizonte.
Participou das seguintes coletivas:
1964 – Artistas Mineiros, Galeria Atrium, São Paulo, SP; e Galeria Guignard, Belo Horizonte.
1967 – Artistas Brasileiros, Ohio, EUA.
1970 – Artistas Mineiros 60/70, V Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais, Ouro Preto.
1981 – Minas Arte Atual, Palácio das Artes, Belo Horizonte; Museu de Arte de São Paulo e Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro.
1996 – Consolidação da Modernidade em Belo Horizonte, Museu de Arte da Pampulha. Belo Horizonte.
Tem obras nos acervos do Museu de Arte da Pampulha, da Universidade Federal de Minas Gerais e da Escola Guignard, todos em Belo Horizonte; e no do Museu de Araxá, MG.
Fontes:
CAVALCANTI e Ayala. Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos. MEC/INL, 1973-77.
LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário Crítico da Pintura no Brasil. p. 120, Artlivre, Rio de Janeiro, 1988.
SAMPAIO, Márcio. Chanina. Suplemento Literário Minas Gerais, nº 1095, 5 mar 1988. 
http://www.chanina.com.br 




      Algumas amostras do talento excepcional do grande artista

 
ccx


  






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