quinta-feira, 7 de maio de 2015

Os melhores diálogos do cinema


Cesar Vanucci 

“Se quiserem que as coisas continuem como estão, coisas têm de ser mudadas.”
(Frase do Príncipe de Salina no filme “O Leopardo”)

A revista “CartaCapital”, na edição de nº 848 (6 de maio de 2015) reproduz algumas passagens do livro “Os melhores diálogos do Cinema”, de autoria de Paulo Fendler, Editora Linear B.

São frases e diálogos que valem tanto (ou mais) quanto as imagens, sublinha a publicação. Pura verdade. As palavras dos personagens dos filmes traduzem emoções e sentimentos brotados das profundezes da alma humana, com as incertezas, incongruências, perplexidades que lhe são inerentes.

Ao trazer para este espaço alguns trechos da matéria mencionada, este desajeitado escriba confessa-se convencido de estar proporcionando aos leitores a grata chance de reviverem lances inesquecíveis de criações artísticas que encheram de encantamento o espírito dos aficcionados de cinema.

“O Leopardo (IIGattopardo)”, de Luchino Visconti (1963, Itália). Roteiro de Suso Cecchi D’Amico, Pasquale Festa Campanile, Enrico Medioli, Massimo Franciosa e Luchino Visconti (sobre romance de Giuseppe Tomasi di Lampedusa).
Dom Fabrizio, príncipe de Salina (Burt Lancaster), sai em caçada nos arredores de Donnafugata, sede de seus domínios, na companhia de Dom Francisco Ciccio Tumeo (Serge Reggiani). Divaga sobre as mudanças que ocorrem (ou não ocorrem) depois da vitória dos revolucionários de Giuseppe Garibaldi:
Dom Fabrizio - Sono, meu caro, sono eterno, isto é o que querem os sicilianos. E eles sempre irão reagir contra quem quer que tente despertá-los, mesmo quando é para lhes trazer as mais maravilhosas dádivas. E, entre nós, duvido fortemente se este novo Reino tem muitos presentes para nós em sua bagagem. Tudo o que o siciliano expressa, mesmo o mais violento, é de fato um desejo de morte. Nossa sensibilidade, desejo de esquecimento (...) Os sicilianos nunca querem progredir. Eles se sentem perfeitos. Sua vaidade é maior do que sua miséria (...) Se quiserem que as coisas continuem como estão, coisas têm de ser mudadas.

“Casablanca”, de Michael Curtiz (1942, EUA). Diálogos de Julius J. Epstein, Philip G. Epstein e Howard Koch.
Rick Blaine (Humphrey Bogart) tenta convencer Ilsa Lund (Ingred Bergman) a fugir de avião com o marido, Victor Laszlo (Paul Henrid), de Casablanca para Lisboa.
Rick – Na noite passada, nós nos dissemos muitas coisas. Eu disse que ia pensar muito sobre nós dois. Bem, fiz bastante disso desde então e tudo leva a uma coisa: você vai entrar naquele avião com Victor, que é a quem você pertence.
Ilsa – Mas, Richard, não... eu... eu...
Rick – Você tem de me ouvir! Você tem ideia o que espera por você se ficasse aqui? Nove chances em dez de que nós dois acabaríamos num campo de concentração. Não é verdade, Louie? (Volta-se para o chefe de polícia francês)
Capitão Louie Renault – Temo que o major Strasser iria insistir nisso.
Ilsa – Você só diz isso para me mandar embora.
Rick – Estou dizendo isso porque é verdade. No fundo de nós sabemos os dois que você pertence a Victor. Você é parte do trabalho dele, o que o faz ir adiante. Se este avião levantar voo e você não estiver nele, vai se lamentar. Talvez não hoje. Talvez não amanhã, mas em breve e pelo resto de sua vida.
Ilsa – E nós?
Rick – Nós sempre teremos Paris.”

“O Poderoso Chefão” (The Godfather), de Francis Ford Coppola (1972); diálogos de Francis Ford Coppola e Mario Puzo.
Em conversa com Michael Corleone (Al Pacino), sua noiva Kay Adams (Diane Keaton) revela seu desconforto com as atividades do pai dele, o chefão Victor Corleone (Marlon Brando):
Michael – Meu pai não é diferente de nenhum homem de poder. Qualquer homem responsável por outros. Como um presidente ou um senador.
Kay – Você não sabe quanto é ingênuo, Michael! Presidentes e senadores não mandam matar ninguém
Michael - Ora, quem está sendo ingênuo, Kay?

“O homem que matou o facínora” de John Ford (1962); Diálogos de James Warner Bellah e Willys Goldbeck.
O senador Ransom Stoddard (James Stewart) volta à cidade natal para prantear um velho amigo, o rancheiro Tom Doniphon (John Wayne). O senador rememora o episódio que o transformou em herói e embalou sua carreira política: a morte do “fora da lei” Liberty Valance. O mérito ficou para ele, mas o real justiceira fora Tom Doniphon, que levou para o tumulo o segredo que o senador decide agora revelar a Maxwell Scott (Carleton Young) dono do jornal local.
Stoddard – Bem, você sabe o resto. Eu fui para Washington, o Estado ganhou uma cadeira no Senado, eu me tornei o primeiro Governador...
Maxwell Scott – Três vezes Governador, dois mandatos no Senado, Embaixador na corte de Saint James, de volta ao Senado... (levanta-se) e o homem que, estalando os dedos, poderia ser o próximo, Vice-Presidente dos Estados Unidos (pega as anotações do repórter, rasga e as queima).
Stoddard – Não vai usar a história, senhor Scott?
Scott – Não. Aqui é o oeste, senhor. Quando a lenda se torna fato, imprima-se a lenda.”



   
Crimes de guerra japoneses

Cesar Vanucci


“Inda que a terra inteira os haja de esconder, os atos vis terão no fim de aparecer.”
(Shakespeare, “Hamlet”, citado por Paulo Rónai)

Tanto quanto se sabe, é a primeira vez que o governo japonês admite publicamente “culpa no cartório” por atrocidades praticadas pelas forças militares do país na Segunda Guerra Mundial. Integrantes, naquela época, do sinistro “Eixo”, juntamente com o nazismo alemão e o fascismo italiano, os nipônicos praticaram barbaridades nas regiões ocupadas. Suas nefandas ações são comparáveis às cometidas pelas tropas alemãs.

Mas, no final da contenda bélica, não se sabe com certeza por quais razões, os dirigentes do chamado “Império do Sol Nascente” foram poupados, pelos aliados, de um acerto de contas rigoroso nos moldes do que foi imposto aos “criminosos de guerra” germânicos. Os “senhores da guerra”, a começar pelo Imperador Hiroito, embora fizessem por merecer, não figuraram na lista de réus em Nuremberg. Historiadores especulam que esse inconcebível procedimento derivou de arranjos geopolíticos considerados relevantes no momento em que se instalou a “guerra fria”, ou decorreu de um certo “sentimento de culpa” dos governantes estadunidenses por causa do lançamento das bombas atômicas que devastaram Hiroshima e Nagazaki. Havia, naqueles tempos, quem defendesse a tese de que os EUA deveriam, antes de usar os artefatos que dizimaram as duas cidades, promover um teste nuclear com a presença de representantes japoneses de modo a que se mostrassem accessíveis à tese da inevitável rendição. Mas caso é que os japoneses sempre se furtaram a admitir os horrores vividos pelos milhares de vítimas chinesas, americanas, vietnamitas, filipinas, coreanas, australianas e de outras nacionalidades em consequência da sanha perversa de seus militares.

Agora, em abril, contudo, a Universidade de Kyushu, patrocinando macabra exposição de experimentos científicos na área médica, quebrou de certo modo a relutância oficial em dar a mão à palmatoria. A exposição franqueada ao público retrata, assustadoramente, casos de vivissecções de soldados estadunidenses prisioneiros. Esses soldados tiveram parte dos órgãos retirados em cirurgias onde não houve o emprego de anestesia. O macabro mostruário é composto de partes de cérebro, de fígado e de outros órgãos, removidos com os pacientes ainda conscientes.  Não fica difícil imaginar a extrema crueldade do processo. Os anônimos e insanos “Josefes Mengeles” japoneses “testaram”, com repulsivos “procedimentos médicos”, a capacidade de resistência humana ao sofrimento.

Planeta de expiações
Mais essa agora! Na esteira das informações divulgadas acerca da recente tragédia aérea do Airbus, pertencente à companhia de aviação alemã, que se espatifou numa montanha dos Alpes, conduzido por um tresloucado copiloto, brotaram aterrorizantes suspeitas. Já por diversas vezes, no passado recente, transportando centenas de passageiros outras aeronaves teriam sido deliberadamente arremessadas contra o solo por pilotos tomados por impulsos suicidas. Quer dizer, de repente, indivíduos transtornados, no limite extremo do desgaste psicológico, de mal com o mundo, aparentemente sem vinculações ideológicas incendiarias que pudessem “explicar” desvairadas ações em nome de sinistras falanges terroristas, resolvem dar cabo da vida e, num surto paranoico irrefreável, arrastando para epílogo de vida tétrico centenas de inocentes. Razões sobejas parecem, a cada momento, reforçar a tese partilhada por expressivo contingente de seres humanos, que sustenta não passar este nosso “vale banhado de lágrimas”, realmente, de um planeta de expiações. Toda hora, nalgum lugar, alguma coisa sinistra acaba pipocando mode ampliar a inquietação e a angústia das pessoas.



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