Mas como se parecem...
Cesar
Vanucci
“Nossos
partidos são verso e reverso de uma mesma moeda.”
(Domingos Justino Pinto, educador)
Observadores
da cena política não contaminados pelas incandescentes paixões partidárias se
divertem à pamparra quando, amiúde, valendo-se sobretudo do noticiário nosso de
cada dia, constatam que as reações dos dirigentes das diferentes legendas são
muitíssimo parecidas, muito embora haja recusa peremptória destes em admiti-lo.
Vejamos,
por exemplo, como se comportam uns e outros diante da revelação de uma
maracutaia qualquer, onde correligionários ou desafetos, por vezes atuando
juntos, o que não é assim tão raro de ocorrer, são pilhados com a “boca na
botija”. Se o personagem incriminado joga no mesmo time, tudo não passa de “um
lamentável equívoco, a ser mais adiante devidamente desfeito”, enquanto se
aguarda o veredicto sereno da Justiça. Mas se o cara denunciado integra outro
elenco, fica “bastante claro” que o “repulsivo ato” vindo a furo é uma prova
eloquente a mais da “irrefreável propensão dos nossos adversários para práticas
deslavadas de corrupção e enriquecimento ilícito”.
Quem
se dá ao trabalho de acompanhar a cobertura midiática dos escândalos do “mensalão
petista”, “Lava Jato” – focalizados com maior intensidade pelos veículos de
comunicação -; dos escândalos dos “zelotes”, do “mensalão tucano”, do “metrô de
São Paulo”, das “contas secretas do HSBC” – focalizados com menor intensidade
pelos mesmos veículos de comunicação –, tem ao dispor material vastíssimo para
avaliar o comportamento de nossos políticos, comumente marcado por rematado e
simplório corporativismo. Os vilões estão sempre “do outro lado”; os mocinhos
vestem sempre “nossa gloriosa e imaculada camisa”...
O
que acontece hoje, nesse capítulo das incongruências políticas, envolvendo, por
exemplo, dirigentes do PT e do PSDB, lembra muito o que acontecia no passado envolvendo,
por exemplo, PSD e UDN. O mesmo se aplica numa e noutra época, aos demais
partidos. O elemento básico na avaliação dos posicionamentos políticos era e
continua sendo regido por um dito famoso. Alguns dizem que a frase teria
sido cunhada por Antônio Carlos, ou por José
Maria Alkmin, ou por um outro frasista político do naipe, ou, ainda, por um
coronel dos cafundós do Judas, cujo nome se perdeu nas brumas do esquecimento. Cá
está o dito: “Amigo meu não tem defeito. Inimigo, se não tem, eu boto!”.
Não
resisto à tentação de contar aqui, não sei se já pela segunda vez ao longo das
várias décadas acumuladas da publicação destas maltraçadas, uma historieta
bastante emblemática relativa a esse assunto da incoerência dos políticos. Dela
fui privilegiado testemunha ocular como repórter, em cidade do interior. Percorrendo
as ladeiras da memória, percebo, esboçando sorriso quase chegado ao zombeteiro,
que as acontecências políticas de então, muitos anos transcorridos, se revelam ainda
incrivelmente familiares para dias de hoje.
Seguinte:
a UDN e o PTB de Uberaba achavam-se empenhados em acirrada disputa eleitoral.
Os udenistas aglutinavam em suas fileiras, predominantemente, pessoas dos
estamentos sociais mais abonados financeiramente. Os petebistas, dotados de
maior poder de fogo nas contendas eleitorais, contavam com apoios respeitáveis
no meio universitário, na classe média e setores operários. Num dado momento,
um dirigente do PTB desentendeu-se com os colegas, transferindo-se “de mala e
cuia”, como era de costume dizer-se em tempos de antanho, para a banda
contrária. Veio a ocupar, de imediato, o posto de presidente do diretório, ora,
veja, pois... Uma semana antes da surpreendente mudança de sigla, o então
petebista havia sido alvejado pelos paredros udenistas com expressões as mais
injuriosas. Entre outras coisas ditas a seu respeito, pelos então impiedosos adversários,
repentinamente transmutados em “leais correligionários”, havia o apelido
pejorativo de “Gregório branco”. Alusão ao guarda-costas de Getúlio Vargas que provocou,
com o atentado a Carlos Lacerda, o acirramento da crise que em 54 levou o
Presidente da República ao suicídio.
Pois
bem, na calorosa recepção ao novo companheiro de lutas e ideais, os lideres
udenistas fizeram questão de apresenta-lo à praça como “um homem público de
pensamento arejado, enorme sensibilidade social e popularidade junto às camadas
humildes”. Largaram mão da injuriosa comparação
com Gregório, exaltando suas virtudes de “cidadão humanitário, possuidor de
peregrinas virtudes, apóstolo das causas sociais”.
Isso
aí, gente boa! Sem recorrer a grande esforço de memória, os leitores se
lembrarão, por certo, de já haverem presenciado a encenação deste mesmo enredo,
com outros protagonistas ligados a outras legendas, noutros lugares e ocasiões.
Falando de samba e de futebol
Cesar
Vanucci
“Quem
não gosta de samba, bom sujeito não é.”
(Dorival
Caymmi, genial compositor)
Calculo
que já na saída do teatro, naquela noite friorenta de sábado, avançando por
muitos dias semana adentro, rendidos ao fascínio do espetáculo, os espectadores
se puseram a cantarolar ou assobiar, com prazerosa obsessão, trechos inteiros
das empolgantes canções. Bem como a compassar com as mãos e pés os ritmos
eletrizantes daquilo que haviam acabado de presenciar. “Sambra”, show sobre os
cem anos do samba, precioso relicário de emoções, representou sob variados
enfoques uma festividade musical de grandeza incomparável na história recente
de nossa ribalda.
Liderada
pelo grande sambista Diogo Nogueira (apresentador do interessante programa
“Samba na Gamboa”, na TV Brasil, retransmitido pela TV Minas), uma equipe de
intérpretes, instrumentistas e bailarinos de coruscante talento, brindou o
público presente ao Palácio das Artes com um desfile musical que se ombreou com
os melhores momentos do teatro-revista. Teatro-revista celebrizado nas atuações
de Bibi Ferreira, Paulo Autran, Renata Fronzi, Virginia Lane, Augusto Cesar
Vanucci, Agildo Ribeiro, Paulo Fortes e outros ícones da arte popular
brasileira. E isso se tornou possível por estarem, todos eles, protagonistas do
“Sambra”, ancorados num esplêndido roteiro concebido por Gustavo Gasparani,
experiente diretor, e no apoio de técnicos de elevado gabarito em montagens
cênicas.
Canções
inolvidáveis dos inigualáveis compositores brasileiros foram mostradas em
interpretações requintadas. Junto com elas o que se viu foram uma coreografia
brejeira, situações bem humoradas, imagens marcantes salpicadas de sátira
inteligente numa crítica social bem posta, onde se louvou a liberdade de criar
e de exprimir ideias. O espetáculo,
falar verdade, só não foi mais completo,
em sua extensa duração, porque foram deixados de fora – como seria de se
imaginar –, depois da criteriosa seleção das canções, centenas e centenas de
músicas eternizadas na memória das ruas. Também, pudera! Do que estamos falando
é de samba, a mais extraordinária manifestação de nossa cultura artística. Do
que estamos mesmo falando é de um repertório inesgotável de canções memoráveis
que, em nenhum lugar do mundo, o talento artístico local, voltado para outras
modalidades de se fazer música, consegue de leve estocar. Pelo que, então,
sobra pra nós a saborosa expectativa de, em futuro que imaginamos próximo, voltar
ao teatro para ver mais versões do “Sambra”, fadadas, certeiramente, a exemplo
da primeira, a retumbante sucesso.
A
fala agora é sobre futebol.
Observadores
do cenário político, com acesso aos bastidores do esporte, sustentam com
ardorosa convicção a tese de que o noticiário sobre os escândalos do futebol,
rendendo por ora manchetes vistosas desde a prisão dos cartolas na Suíça, tende
a médio prazo a definhar aqui por estas abençoadas plagas brasílicas. Adicionam
uma explicação: a grande mídia não irá
mais se sentir muito à vontade na divulgação de fatos ligados às investigações,
quando começarem a pipocar pormenores sobre as operações articuladas pelo
jornalista J. Hawilla, da Traffic, relativas à questão dos direitos de
transmissão das partidas de futebol.
Segundo
esses mesmos observadores, a CPI da CBF, instituída no Senado, vai enfrentar
também adiante resistências poderosas, tanto no parlamento quanto nos meios de
comunicação.
Esperar
pra ver.
E
o rei Pelé, hein? Não se emenda. Nas manifestações extra gramado não consegue,
definitivamente, marcar gol. Chuta sempre a bola pra fora, mesmo sozinho diante
das traves com o goleiro já batido. Seu último “feito” em termos de falação
despropositada aconteceu em Havana. Estando em Cuba como ídolo maior do futebol
para participar de um evento esportivo, não regateou elogios a Josef Blatter
por sua reeleição à presidência da FIFA. A declaração foi feita horas antes da
renúncia do cartola-mor, que abandonou o cargo esmagado pelas denúncias
acumuladas contra a entidade que ajudou a desmoralizar.
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