Situações bem distintas
Cesar Vanucci
“A
Petrobras não vai parar.
Não vai dar
marcha a ré.”
(Aldemir Bendini, presidente da empresa)
É preciso separar bem as coisas. Uma coisa é o
escândalo objeto de investigação. Escândalo este enfrentado com apropriado
rigor institucional, de forma a desestimular eventuais tentativas no sentido de
aliviar as responsabilidades criminais dos autores das malfeitorias praticadas.
Outra coisa é a Petrobras em si mesma. Estamos falando da história legendária
de uma empresa com cintilante trajetória. Uma empresa que soube alcançar
patamares de excelência dentro da importantíssima missão de que se acha
investida de assegurar ao Brasil lugar realçante no mapa das potencias
petrolíferas.
Apesar de todos os pesares, a estatal de energia
– não se pode olvidar o fato – continua sendo a maior empresa do país. Uma das
companhias mais importantes do mundo. Há
que se deplorar, sim, tenha sido alvejada impiedosamente pela corrupção.
Bandalheiras de todo tamanho articuladas por uma máfia voraz, composta de
executivos de 27 empreiteiras, de 4 ex-diretores e de políticos em número ainda
não totalmente definido. Todos
devidamente identificados em processos conduzidos com firmeza nas instancias
competentes.
Observando, agora, por um outro prisma a questão
da Petrobras, dá para perceber, também, sinais promissores de sua tão almejada
recuperação. A empresa vem retomando a caminhada inerente à sua natural vocação.
Ancorada, obviamente, nas potencialidades que ostenta em razão de seus
excelentes recursos técnicos e humanos e das alentadoras perspectivas de
negócios nas áreas onde atua.
“A empresa não vai parar!” Afiança, com fervorosa
convicção, o presidente Aldemir Bendini. “Não dará marcha a ré. Estamos empenhados
em passar a limpo os erros e a recomposição tem mostrado resultados” –
acrescenta. Números e dados animadores dão suporte à fala do dirigente. A
Petrobras foi a única do setor energético a acusar aumento de produção em 2014.
Colocou em oferta mais 230 milhões de barris/dia de petróleo. Enquanto isso,
suas concorrentes de maior porte registraram, em igual período, acentuados
declínios na produção. A Exxonmobil, queda da ordem de 570 milhões de
barris/dia; a British Petroleum, de 548 milhões de barris/dia; a Shell, de 546
milhões de barris/dia; a Chevron, de 50 milhões de barris/dia. Malgrado todos
os percalços conhecidos, acaba de conquistar, graças às tecnologias de ponta
desenvolvidas pelo seu abalizado corpo técnico, o “OTC Award 2015”, o mais
importante prêmio da indústria mundial de óleo e gás.
Empréstimos recentes, como o que foi anunciado
por um banco chinês, o maior do mundo, (3 bilhões e 500 milhões de dólares, na
maior operação do gênero já ocorrida na América Latina), parecem haver
preenchido satisfatoriamente as necessidades do financiamento previsto para o
exercício em curso. De outro lado, os aportes de recursos milionários derivados
de parcerias – com os chineses novamente em cena –, robusteceram
consideravelmente as condições operacionais da organização no esforço
empreendido de recompor-se administrativamente. O ritmo atual de produção, pelo
que tudo indica, vai permitir sejam colhidos a tempo e a hora os frutos dos
enormes investimentos e das fabulosas descobertas de jazidas na chamada
“província do pré-sal” entre 2006 e 2014.
No ver de qualificados especialistas, a empresa
terá que seguir inabalável na sua estratégia de produção, resistindo às
pressões presentemente feitas visando a alteração do modelo vigente de exploração
de petróleo e gás. A sociedade brasileira precisa, nessa linha de raciocínio, manter
ligados seus aparelhos de percepção, atenta à advertência que faz, a propósito
dessas fortes pressões, entre outros, o economista Júlio Miragaya, dirigente do
Conselho Federal de Economia. Diz ele: “Desde que o Brasil adotou o regime de
partilha, as corporações do setor, de forma indireta, mediante analistas do
setor financeiro, agências de risco e aliados locais, fecharam o cerco à
Petrobras. O objetivo imediato é torpedear o modelo de partilha e, no médio
prazo, desidratar a Petrobras, visando posterior
privatização. Algo parecido com o que estão fazendo no México com a Pemex”.
Isso aí. Como dito no começo do comentário,
precisamos separar bem as coisas. Afigura-se claro nesta hora que a indignação
e o desconforto suscitados pelas maracutaias denunciadas não podem se aprestar,
ao contrário do desejo de alguns setores despojados de sentimento nacional e
consciência cívica, a tumultuar a execução plena do projeto de afirmação da
soberania nacional inserido inarredavelmente nos destinos da Petrobras.
Despudorada impertinência
Cesar Vanucci
“Outro dia,
na sala de aula, um aluno fez esta interessante
pergunta: - quem avalia as “avaliações das
agências de risco?"
(Antônio Luiz da Costa, professor)
Deu no jornal. Uma agência estrangeira, com sede
em Manhattan, entendeu de rebaixar os “ratings” da Vale. Passou o “rating” de
crédito corporativo da empresa de BBB+ para BBB, com “perspectiva negativa”,
seja lá o que essa anotação signifique no dialeto dos negócios...
Colho, de quando em vez, com “a pulga atrás da
orelha”, informações assemelhadas. As assim denominadas “agências de
classificação de riscos” - uma delas tem, por sinal, nome parecido com o de uma
conhecida marca de absorvente intimo feminino -, contando sempre com solícita
acolhida na grande mídia, comparecem volta e meia a público para anunciar,
impávidas, colosso, em atitude de desbordante arrogância, “por mais isso ou por
mais aquilo”, rebaixamentos de notas. Alvejam grandes conglomerados industriais
e organizações bancárias, por aí. Esticam de tal jeito a petulância, ao ponto
de incluir, até mesmo, em inimaginável ousadia, nos boletins de notas, países
inteiros. Ou seja, atribuem-se o “direito divino”, como “mestres-escolas da
humanidade”, de emitirem periodicamente “pontuações de mérito” a gigantescas
extensões de terra com gente dentro. Contemplam nas doutas avaliações nações
com colossal dinâmica de vida. Com peculiaridades culturais, patrimônios de
riquezas, grupos sociais diversificados, com poderes constituídos, com complexa
estrutura constitucional, hábitos comportamentais típicos, crenças, esquemas
sociais específicos voltados para o efervescente processo de construção humana.
Tudo, tudo é colocado descerimoniosamente na alça de mira de emproados
analistas, “investidos” por vontade própria da função de integrantes de uma
corte suprema universal encarregada de estabelecer acórdãos inapeláveis sobre a
conduta econômica.
Embora, sob o clarão do bom senso e a partir de
uma percepção humanística da aventura da vida, o procedimento dessas agências
atinja as raias da mais despudorada impertinência, traduza colossal disparate,
há quem se disponha a levá-las a sério. Muito a sério. Exatamente ele, o
“mercado”. Melhor dizendo, esse ser ectoplásmico que ninguém consegue ver ou apalpar,
mas que se arroga o direito de, impelido por conveniências indecifráveis, impingir
regras de como proceder, nem sempre sensatas, à sociedade. Serve-se, ainda, oportunisticamente,
matreiramente, das “abalizadas manifestações” de tais organismos, melhor
explicitando, das agências de risco, para ziguezagueantes manobras
especulativas, ao gosto dos insaciáveis apetites de patotas entrincheiradas nos
bastidores.
Os países de economia emergente são – tá mais que
evidente – o alvo predileto das agências. O jogo dos interesses clandestinos
fica aguçado na hora das pontuações de encomenda. Alguma “torcida organizada”,
nalgum lugar, num dado momento, tal como fazem cruzeirenses, atleticanos,
flamenguistas e corintianos nas arquibancadas na expectativa do gol, acompanha
com emoção os “rebaixamentos” de notas, as alterações do denominado “rating”,
olhos fixos no placar das vantagens que se consiga extrair das “pontuações”
atribuídas aos entes jurídicos tratados pelas agências como meros educandos, aprendizes
de voo à espera do brevê.
Sobre o tremendo absurdo de que se reveste essa
situação, a grande mídia, receptiva a divulgar com destaque as manifestações
das agências, estranhavelmente se cala. Nada de elucidar as pessoas sobre
questões cruciais ligadas a tais órgãos. Há uma pergunta entalada na garganta
de todo mundo que ninguém se dá nunca ao trabalho de responder. A ação
desenvolta dessas agências, assumindo papel de suprema instância judicante na
vida econômica dos países emergentes, é garantida, é regulada, é legitimada
mesmo por qual poder superior? Hein? Outra indagação: Por qual razão ninguém se
anima a explicar, tampouco, a suspeitosíssima condição em que essas mesmas
agências foram surpreendidas quando daquele estouro da bolha imobiliária, que
tanta devastação econômica produziu? Com seu alardeado e festejado aparato
técnico para aviar diagnósticos econômicos, “por qual relevante motivo” nenhuma
delas se deu ao trabalho de emitir a mais leve consideração acerca do
formidando escândalo de 2008? Não se perca, a propósito, de vista o elucidativo
registro de que a localização de todas elas era, a bem dizer, no epicentro do
furacão que, da noite para o dia, revolveu a vida de bilhões de pessoas.
Tem mais pergunta: Quem quiser que responda. Faz
qualquer sentido a valorização, com espalhafato midiático, que alguns setores
costumeiramente conferem a pareceres elaborados por técnicos estrangeiros
plantados em gabinetes distanciados milhares de quilômetros das realidades
comentadas?
Por exemplo, parecer relativo a uma empresa da
magnitude da Vale, de cuja portentosa cadeia produtiva, de dimensão continental,
talvez só conheçam meras ilustrações coloridas constantes de algum portfólio
largado em suas mesas?
Encurtando razões, agência de classificação de
risco é que nem aquele kit de primeiros socorros que o governo brasileiro, anos
atrás, andou forçando os motoristas, sob ameaça de multa, a carregarem nos porta-malas
dos carros. Serve pra nada. É uma coisa tal qual, que sem ela a economia
permanecerá tal qual.
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