Achados arqueológicos fantásticos
Cesar Vanucci
“Um motivo de alegria para toda a
comunidade cientifica!”
(Luiz
Carlos Ribeiro, geólogo, anunciando a implantação
de normas que protejam o patrimônio
arqueológico em Uberaba)
Os
dinossauros povoaram a Terra em tempos imemoriais. Alguns cientistas falam em
dezenas de milhões de anos. Herbívoros ou carnívoros, eram seres de descomunais
proporções. A expressão antediluviana empregada para indicar o período de sua
presença no planeta fortalece a tese de que essa espécie desapareceu por
completo em consequência de alguma alteração geológica radical. Um cataclisma
que, provavelmente, eliminou toda e qualquer manifestação de vida animal.
Escavações
realizadas com variados objetivos em diversos lugares acusam, de quando em vez,
vestígios da existência desses gigantescos sáurios naqueles tempos longínquos da
história desconhecida do mundo. Uberaba, no Triângulo Mineiro, por conta das
sucessivas descobertas de fósseis, tornou-se uma referência mundial em matéria
de pesquisa paleontológica.
Ainda
agora, o noticiário nosso de cada dia reporta-se a sensacionais achados na
região durante trabalhos de terraplenagem (bairro São Bento) destinados à
construção de conjuntos residenciais. Das rochas escavadas aflorou volume
apreciável de esqueletos de dinossauros, datação estimada entre 80 e 90 milhões
de anos. Não é a primeira vez que uma descoberta dessa magnitude é anunciada. O
município e adjacências escondem nas entranhas da terra, a começar pelo
distrito de Peirópolis, estendendo-se à zona urbana, indícios fabulosos da
pré-história. Há décadas isso é constatado. Acostumei-me, na infância e na
adolescência passadas em Uberaba, a anotar ocorrências desse gênero. Naqueles
períodos ainda não havia sido reconhecida a enorme importância científica das
descobertas. Foi entre o finalzinho da década de 40 e o começo da década de 50
que se deu a implantação do sitio arqueológico de Peirópolis, com a chegada do
pesquisador Lewellyn Ivor Price. O aparato técnico então montado derivou de
relatos (circulantes há décadas) feitos por moradores da localidade. De outros
pontos da zona rural e também da zona urbana emergiam, com frequência, “restos
de bichos” com características singulares. A divulgação dos fatos ficava
obviamente restrita. Lembro-me, com clareza, dos vários momentos em que tive em
mãos com tempo para examiná-las peças recolhidas em diferentes sítios. Entre
outros, a serra da Galga, na estrada que liga Uberaba a Uberlândia, e o terreno
bem no centro da cidade onde veio a ser erguido o Uberabão. Da movimentação de
terra nos dois locais, com emprego de máquinas possantes e de dinamite, brotou
enorme quantidade de material pré-histórico. Não foram poucas as pessoas que
recolheram amostras. Possivelmente algumas delas ainda adornem mesas ou
prateleiras em residências e escritórios.
Essas
descobertas mais recentes na parte urbana, segundo técnicos da Universidade
Federal do Triângulo Mineiro, dizem respeito num primeiro momento a vinte fósseis
parcialmente articulados de dinossauros da família dos titanossauros, que teriam
povoado a região entre 80 e 90 milhões de anos. O geólogo Luiz Carlos Ribeiro,
coordenador da pesquisa, tornou conhecida oportuna recomendação do Ministério
Público às autoridades municipais: sejam adotadas, daqui pra frente, normas de
proteção do patrimônio paleontológico em obras ou serviços que impliquem em
movimentação de terra. A partir de agora, por conseguinte, interessados na
execução de obras tanto na zona urbana quanto na zona rural terão que estudar o
solo e aviar diagnóstico das potencialidades geológicas. Pelos laudos ficará ou
não comprovada a existência de matéria de interesse científico nas rochas. A
medida representa ganho nas pesquisas. Uma coisa é certa: novas descobertas fatalmente
ocorrerão.
Peirópolis, Uberabão e Galga
Cesar Vanucci
"Crocodilo pré-histórico
descoberto em Peirópolis."
(Dos jornais)
Retorno ao tema das descobertas pré-históricas em
Uberaba, reproduzindo comentário feito há mais de dez anos.
Fiquei conhecendo o Lewellyn Ivor Price no começo
das escavações. O hoje mundialmente famoso sítio de Peirópolis ainda não fazia
parte da cartografia paleontológica. Em alguns de meus encontros com o
cientista esteve presente o engenheiro José Domício Furtado, então diretor da
Fábrica de Cimento Ponte Alta, pessoa dotada de muita largueza de ideias. O
Domício foi quem primeiro me chamou a atenção para a existência em Peirópolis
dos paredões de arenito recheados de fósseis. Os contatos com Price
revelaram-se sumamente enriquecedores. O brilhante pesquisador resolveu
presentear o repórter com revelações instigantes a propósito do trabalho de
pesquisa processado naquele pedaço de chão da zona rural de Uberaba. Acabei
desfrutando do privilégio de ser o primeiro jornalista a falar dos achados.
Esmerei na preparação de reportagens, estampadas em jornais de vários lugares.
Creio na possibilidade de recolocar as mãos em recortes dessas publicações, por
meio de "escavações" a serem feitas nos guardados profissionais
acumulados de algumas décadas.
Lembro-me bem de minhas tentativas insistentes em
arrancar declaração do entrevistado acerca da viabilidade de aflorar no subsolo
trabalhado, de repente, um esqueleto inteiro de dinossauro. Ele encarou com
sorriso benevolente o açodamento do entrevistador e discorreu, didaticamente,
sobre os aspectos tremendamente complexos de sua empreitada, envolvendo a busca
e seleção paciente do material soterrado, em profundidades variadas, nas
grossas camadas de arenito acumuladas por milhões de anos.
Deixem-me, agora, esclarecer que esses papos
amistosos com o pioneiro das escavações, sem necessidade alguma de recorrer ao
carbono 14, são de datação superior a 50 anos. O sítio arqueológico ostenta
hoje o nome do eminente pesquisador. E, ainda outro dia, arqueólogos que dão
continuidade à obra do patrono fizeram conhecida mais uma importante
descoberta: o fóssil completo de um antepassado do crocodilo, com idade que
remonta à era jurássica. Além de região considerada equiparável em relevância
paleontológica a áreas escavadas dos Estados Unidos, Rússia e Patagônia, na
Argentina, Peirópolis coloca-se também na atualidade sob o foco da atenção de educadores, à vista
de experiências de cunho humanístico-espiritual ali conduzidas num complexo
universitário que confere primazia a conceitos disseminados pelo célebre guru
indiano Sai Baba.
Observo que o abundante noticiário relativo aos
sucessos científicos vividos na localidade nunca faz menção, sabe-se lá por
quais razões, à circunstância de que Uberaba abriga outros pontos expressivos
de potencialidade arqueológica. Um deles, bem no coração da cidade. Local totalmente inesperado: o estádio de
futebol conhecido por "Uberabão" (andei defendendo, à época de sua
inauguração, fosse adotada, por motivos fáceis de serem entendidos por qualquer
uberabense, a denominação de "Berababão"). Quando as motoniveladoras
e as cargas de dinamite iniciaram o desbastamento do terreno, para dar
configuração às arquibancadas e gerais, topou-se, ali, surpreendentemente, com
razoável quantidade de fósseis de animais pertencentes a períodos remotíssimos
da história. O mesmo sucedeu noutra parte do município, por ocasião dos
serviços de terraplenagem para ligação do trecho Uberaba–Uberlândia, na BR 106,
no instante em que as máquinas revolveram as encostas da serra da Galga. Muita
gente andou recolhendo, então, pedaços volumosos de esqueletos dos antiquíssimos
habitantes do lugar. A serra da Galga, na beira do trepidante caminho
asfáltico, ainda conserva, toda ciosa, com seu jeito de esfinge, preciosos
segredos de eras primevas da história deste mundo do bom Deus onde o diabo
costuma fincar também seus perturbadores enclaves.
Cuidado com o efeito manada
Alberto Dines *
A nova prisão de José Dirceu — ex-deputado,
ex-ministro e cérebro da ascensão do PT ao poder — tornou ainda mais tenso o
clima político. O juiz Sérgio Moro, porém, teve o cuidado de advertir que não
se deve esperar para já o exame dos dossiês dos acusados com foro especial
(deputados, senadores ou governadores). Os nomes deste grupo mencionados
recentemente no âmbito da Operação Lava Jato o foram por acaso, resultado das
delações, não valendo como sinal da abertura formal de processos na instância
apropriada – o STF.
Com isso fica evidente que o esperado
confronto com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, dar-se-á em outra fase da
Operação – talvez a 19ª ou 22ª.
Apesar do seu extraordinário significado
simbólico, neste momento José Dirceu é peça secundária no tabuleiro de xadrez.
Sua segunda prisão e a consequente acoplagem entre o Mensalão e o Petrolão
fatalmente pesarão nas eleições de 2016 e 2018, mas a presença de Eduardo Cunha
no poleiro do poder é uma ameaça concreta, imediata, permanente, à melhoria do
cenário institucional, político e econômico. A presença de um caudilho
fanatizado e messiânico no comando da Casa do Povo é apavorante.
Nossa mídia vibrou na manhã da segunda-feira,
03-08, a partir do noticiário televisivo e radiofônico referente ao início da
17ª fase da Lava Jato e a ordem para prender o ex-todo-poderoso dos últimos
três mandatos presidenciais. Prova da cabal evaporação do nosso senso trágico,
esta euforia é um doloroso indicador da intensidade da radicalização ideológica
iniciada há um ano e da irracionalidade das cassandras (de ambos os sexos) que
convertem a mídia no fator exacerbador e, não, moderador.
No fim de 2003, antes mesmo de assumir a
Chefia da Casa Civil da Presidência e diante de uma crise econômica tão
angustiante como a atual, José Dirceu lançou no programa “Roda Viva” da
TV-Cultura, a ideia de uma linha de credito especial através do BNDES para
ajudar as empresas de mídia sufocadas pela falta de crédito.
Convém lembrar que àquela altura havia mais
títulos nas bancas de jornais e mais empresas jornalísticas com a língua de
fora – o JB, “Jornal do Brasil, o mais famoso deles. Nenhum de esquerda ou,
pelo menos, “progressista”.
Nenhuma empresa ou grupo opôs-se ou condenou
a manobra de Dirceu como tentativa de subjugar a imprensa. Alguns encontros
foram celebrados já na esfera do BNDES procurando contornar as naturais
dificuldades sempre num clima de convergência de interesses. O projeto não
avançou. Felizmente para as partes e sem qualquer dissabor ou contrariedade.
Porém, doze anos depois, o político que
tentou oferecer um respiro à imprensa asfixiada, sem fôlego, é linchado com
incrível ferocidade pelos sobreviventes.
Ao relembrar um episódio convenientemente
esquecido não se pretende minimizar os malfeitos posteriores de José Dirceu,
muito menos ignorar a perversa privatização da nossa mais importante estatal.
Numa hora em que cabível seria horror ou
melancolia, vale a pena acautelar-se com os perniciosos efeitos da confusão de
sentimentos. Diante do adversário caído, melhor despachar as fúrias e cuidar
das batalhas seguintes.
*
Escritor e Jornalista
(Extraído da edição 862 do “Observatório da
Imprensa”)
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