Relembrando a tragédia nuclear
Cesar Vanucci
“Meu
Deus! O que foi que nós fizemos!"
(Robert
Lewis, copiloto da fortaleza voadora
que lançou a bomba atômica sobre Hiroshima)
O mundo relembra, agora em agosto, o apavorante episódio
que, há 70 anos, fez de Hiroshima e Nagasaki cidades-símbolos do holocausto. Os
artefatos nucleares despejados sobre os dois populosos centros urbanos mataram
quase 250 mil pessoas de uma só vez. Outras centenas de milhares ficaram para
sempre contaminadas pela mortífera radiação. Só entre agosto e dezembro de 1945
foram registradas 140 mil mortes provocadas pelas reverberações das bombas.
A colossal tragédia tem sido, ao longo dos tempos,
analisada em livros, reportagens, tribunas, atos cívicos, exposições, por
historiadores, dirigentes políticos, militares, educadores, cientistas, gente
do povo, pessoas que apertaram o fatídico botão naquela manhã de agosto de 1945
e, também, como não poderia deixar de ser, pelas vítimas sobreviventes.
São relembranças que carregam no bojo uma profusão de
versões. Há a versão dos vencidos e a versão dos vencedores. A versão dos
estrategistas. A de cientistas, que se ocupam com entusiasmo dos avanços
tecnológicos da física e do ingresso da humanidade na enigmática era nuclear. E
a dos humanistas, preocupados com os enfoques demasiadamente técnicos da
questão. Existem, ainda, versões militar, jurídica, ética e moral. Todas
escoradas numa superabundância de argumentos solidamente plantados nas mentes
de seus porta-vozes.
Alega-se de um lado que, se os Estados Unidos não tivessem
optado pela bomba, a invasão do Japão teria custado o sacrifício de 500 mil
vidas americanas. Reforça-se a alegação com o argumento de que havia uma nova
arma para ser empregada e que o país chegou primeiro que os adversários na
disputa pelo domínio nuclear. Em contraposição, afiança-se que a estimativa de
baixas na provável invasão foi ardilosamente exagerada, de modo a provocar
comoção e justificar o lançamento da carga explosiva que encurtou o conflito.
Os Estados Unidos bem que poderiam ter promovido, com a presença de
observadores neutros e de representantes nipônicos, uma demonstração prévia do
poder catastrófico da arma. O ato valeria como um ultimato e ao adversário,
comprovadamente fragilizado àquela altura, não restaria outra alternativa que
não a capitulação.
No extenso capítulo da condenação à atitude dos vencedores
sustenta-se ainda que a bomba foi lançada menos com o intuito de levar o Japão
à rendição e mais com o sentido de protocolar um recado claro e explícito à
União Soviética. Uma espécie de carta de apresentação, com currículo e
referências à mostra, para o pós-guerra. Para a desgastante “guerra fria” que
se estendeu, com muito sofrimento e crescente angústia, sobretudo depois que a
Rússia passou também a integrar o “clube atômico”, até a perestroika, a
glasnot, a derrubada do famigerado “muro de Berlim” e o consequente
desmoronamento da estrutura comunista. Os anos de chumbo da “guerra fria” foram
marcados, todos sabem, pela ampliação do clube atômico, que absorveu como novos
associados não apenas, como já mencionado, a antiga União Soviética, mas ainda
a Inglaterra, a França, a China, a Índia, o Paquistão, o Israel, a Coréia do
Norte e sabe-se lá mais quem... Só que os arsenais montados fizeram dos modelos
disparados contra os alvos japoneses meras peças de museu.
Um outro argumento contestatório à posição estadunidense
está contido na seguinte indagação: por que o repeteco, dias depois de
Hiroshima, da bomba de Nagasaki? Uma única bomba não teria sido suficiente para
dobrar a arrogância do Império do Sol Nascente?
Nesta hora em que afloram relembranças do histórico
acontecimento, não há como esquecer a atuação dos cientistas engajados no
projeto concebido em Los Alamos. Receosos de que Hitler chegasse primeiro à
construção da bomba - já que vários deles haviam dado os primeiros passos nesse
sentido à época em que colaboraram com o esforço de guerra nazista -, eles
fizeram um apelo a Roosevelt para que apressasse as pesquisas. Depois dos
eventos de Hiroshima e Nagasaki muitos deles, caso de Robert Oppenheimer,
propuseram a abolição das armas atômicas, pagando um preço elevado pela
ousadia. A questão já havia escapulido ao seu controle.
Haja ogiva nuclear!
Cesar Vanucci
“Bella matribus detestata – As guerras detestadas
pelas mães"
(Horácio, 658 a-C)
O
estoque das armas de destruição em massa é cada dia mais volumoso. O tal acordo
de não proliferação de armas nucleares só vale de verdade para os países que
ainda não as possuem. Os integrantes do fechadíssimo “clube atômico” monitoram
com rigor policialesco as ações dos demais países, procurando dificultar-lhes
até mesmo a aquisição de conhecimentos relacionados com o emprego pacífico da
energia nuclear para fins de desenvolvimento econômico e social. O Brasil que o
diga.
Atribuem,
por antecipação, a responsabilidade por suposta tragédia nuclear futura a
terceiros, não detentores da mortífera tecnologia, “esquecidos” de que na única
vez na história humana em que bombas atômicas caíram sobre populações civis,
destruindo cidades e matando centenas de milhares de pessoas, a iniciativa de
lançá-las foi tomada justamente por um dos membros do “clube”, que por sinal,
tal como seus ilustres parceiros, continuou a armazenar febrilmente novos e
mais arrasadores artefatos. Estimativas recentes acusam que os integrantes do
fechadíssimo “clube atômico”, nove
países, mantêm estocadas apenasmente 15
mil ogivas nucleares. Estes os números atribuídos a cada um deles: Rússia, 7.5
mil ogivas; EUA, 7.2 mil; França, 300; China, 250; Inglaterra, 215; Paquistão,
120; Índia, 110; Israel, 80; Coréia do Norte, 10. Como se vê, quantidade mais
que suficiente para devastar não apenas o planeta, mas toda a Via Láctea, minha
Nossa Senhora da Abadia d’Água Suja!
Por
outro lado, analistas em estratégias militares garantem que existem, hoje, em
poder dessas mesmas potências, artefatos químicos tão eficazes quanto as armas
atômicas, para “garantir”, se for da vontade dos “senhores das guerras”, o
extermínio de qualquer vestígio de vida sobre a superfície planetária. Uma
ligeira amostra dos danos de que essa parafernália bélica é capaz de provocar
foi dada – oportuno recordar - nos conflitos do Vietnã e Golfo Pérsico (mais
recentemente na guerra civil síria) e na guerra Irã-Iraque. Aquela mesmo em que
o finado ditador Saddan Hussein pôde contar com copioso fornecimento de armas e
sólido apoio logístico de seus antigos aliados e futuros arqui-inimigos
estadunidenses.
A
bomba de hidrogênio, mais devastadora do que a atômica, ainda não foi testada
em campo de batalha. Existe em quantidade suficiente para também acabar com o
mundo várias vezes. São coisas assim que fazem com que os guerreiros
vocacionados se imaginem sempre, em sua paranoia destrutiva, próximos do
Armagedon. Farejar o Armagedon é postura natural para os espíritos deformados
que fazem das guerras um grande negócio. Não sei se alguém, dentre os eventuais
leitores destas linhas, se recorda de um estapafúrdio lance mostrado anos atrás
nos jornais televisivos, quando do conflito Irã-Iraque. Um empresário paulista,
cheio de empáfia, fornecedor de equipamentos bélicos a um dos litigantes,
envergando uniforme de campanha iraquiano, aprestou-se desajeitadamente, diante
das câmeras de televisão, a fazer o papel de improvisado “comentarista de
guerra”. Empunhando uma vareta sobre imenso mapa, vangloriou-se da eficácia
mortífera dos instrumentos produzidos em suas fábricas. O homem babava de
contentamento, em delirante fantasia, com as revelações sobre os tremendos
estragos que “suas” armas estavam em condições de provocar. Sentia-se um pouco
dono do mundo. Uma cena arrepiante, essa proporcionada pelo mercador de armas.
A história mostra que tem gente poderosa espalhada por esse mundo de Deus, onde
o diabo costuma plantar enclaves, raciocinando e agindo nos mesmos moldes do
babaca supracitado. Nem todos talvez possuídos da ânsia tresloucada de exibir via
televisiva seus pendores belicistas e primitivismo intelectual. Gente de
altíssima periculosidade. Sempre de prontidão para atear fogo em tudo.
Hiroshima
e Nagasaki, alvos civis atingidos em cheio em agosto de 1945 pela insanidade
bélica, legaram-nos uma mensagem. Mensagem contra todas as guerras. Não só
contra a guerra atômica. Um clamor pela paz, originário dos recantos mais
generosos da alma, em todas as latitudes. Bem apreendido, pode levar o ser
humano a refletir melhor sobre suas origens e destino. Permite-lhe até sonhar
com aquele instante ideal na aventura terrena em que toda a dinheirama gasta
para produzir morte possa vir a ser aplicada na celebração da vida. Em favor de
pesquisas e ações que elevem os padrões do bem-estar, promovam a cura de
doenças e a erradicação da miséria. São estas, aliás, as guerras que carecem,
na verdade, ser combatidas com supremo ardor por todos.
Palavra
de Hiroshima e Nagasaki!
Relembrando a segunda guerra
Cesar
Vanucci
“Nunca
houve guerra boa, nem paz ruim.”
(Benjamim
Franklin)
Como o tempo voa! Cidadãos do mundo em todas as partes relembram, nos
dias que correm, os 70 anos já transcorridos do desfecho da segunda guerra
mundial. Evocações de toda sorte, abrangendo versões as mais variadas, são
recolocadas como informações históricas e como temas palpitantes ajustados a
reflexões e debates.
Todos somos levados a comentar alguma coisa a respeito da carnificina
que devastou meio mundo e produziu a aterrorizante estatística de 52 milhões de
túmulos. Mais da metade das baixas humanas ocorreu nas nevadas estepes russas.
As tropas alemãs concentraram ali seu maior poderio de fogo. A heroica
resistência da população, em circunstâncias extremas de sacrifício, estabeleceu
naquela frente de batalha um dos suportes fundamentais para a reviravolta
operada nos rumos do conflito. O estupendo esforço bélico dos Estados Unidos, a
partir, sobretudo, do traiçoeiro ataque nipônico a Pearl Harbour, foi outro
fator de influência decisiva na alteração do destino da guerra. Por conta
dessas e de outras contribuições da comunidade das nações à causa antinazista,
a humanidade conseguiu impedir que a sinistra marca da suástica se estendesse,
como se chegou a temer em certo momento das hostilidades, a todos os
continentes.
A guerra deixou também gravado na memória coletiva símbolo da
perversidade suprema, da ferocidade máxima, do ódio elevado a culminâncias
paroxísticas. Um símbolo conhecido por Adolf Hitler. Ninguém, em toda a vasta
trajetória humana, conseguiu espalhar, por tantos lugares, ao mesmo tempo, tantos
malefícios acumulados. Suas ideias de expansionismo com inspirações racistas,
encontrando desafortunadamente acolhida em amplas parcelas das sociedades alemã
e austríaca de então, geraram o holocausto. Por não serem enfrentadas com o
devido vigor por lideranças mundiais influentes, à época da ascensão nazista ao
centro do poder político germânico, arrastaram o mundo ao monstruoso confronto.
Nas relembranças dos setenta anos do fim da guerra estão sendo feitas
leituras novas e releituras de histórias que focalizam figuras e episódios
relevantes ligados às experiências sofridas daquela quadra da existência
humana. Fala-se muito de Hitler e parceiros. Fala-se, também, dos homens
responsáveis pela valorosa coligação aliada que pôs fim ao desvario das forças
do Eixo. Entre eles, Roosevelt, Churchill, De Gaule, Stalin.
Em buscas que efetuei, compulsando material copioso, não consegui
(ainda) descobrir respostas convincentes para alguns quesitos acerca de fatos
intrigantes relacionados com a segunda guerra. Ao citá-los aqui, hoje,
coloco-me na expectativa de que algum leitor, com maiores conhecimentos sobre o
assunto, possa prestar-me ajuda. O primeiro item diz respeito ao pacto
Hitler-Stalin. Por que foi feito e por que foi repentinamente desfeito? Quais
circunstâncias impeliram a Alemanha a desviar-se de seu propósito de invadir a
Inglaterra, na fase dos bombardeios maciços contra Londres, com a metade da
Europa já ocupada, e partir para a abertura da frente de batalha no terreno dos
antigos aliados, os russos? Qual a razão dos historiadores não se aprofundarem
nas revelações, de Jacques Bergier e Louis Pauwells, pertinentes à presença de
milhares de combatentes tibetanos, envergando uniformes alemães, nos últimos
redutos de defesa da cidadela de Hitler? Isso teria a ver com a suposição de
que nazistas proeminentes fizessem parte de uma sociedade esotérica denominada
Thule, com origens antiquíssimas em Lhasa? Por quais motivos os “criminosos de
guerra” japoneses, tão cruéis quanto os alemães, não tiveram julgamento em
moldes semelhantes aos dos dirigentes nazistas? Cientistas e diplomatas de
países neutros propuseram ao governo dos Estados Unidos que convocasse líderes
militares japoneses, colocando-os a par do poder destrutivo da bomba atômica,
antes de lançá-la sobre alvos civis em
Hiroshima e Nagazaki. Truman não aceitou essa sugestão como meio de se chegar à
rendição japonesa. Por quê?
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