CONVITE ESPECIAL AOS AMIGOS DO BLOG DO VANUCCI
A
participação brasileira no acordo
Cesar
Vanucci
“Brasil e Turquia foram boicotados”
(Celso
Amorim, ex-chanceler brasileiro)
Testemunha
ocular dos fatos que narra, mais do que isso até, protagonista dos
entendimentos processados, o ex-chanceler Celso Amorim, que também ocupou o
cargo de Ministro da Defesa, explica em artigo na “CartaCapital” que o acordo
com o Irã já poderia ter sido fechado cinco anos atrás, se os governos
brasileiro e turco não tivessem sido boicotados.
Destacando
a importância histórica do pacto firmado entre os P5+1, ou seja os integrantes
permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, Rússia, França,
Inglaterra e China, mais a Alemanha) e o Irã, registra que todas essas ações de
distensão são muitíssimo bem-vindas, demonstrando, ao contrário do que querem
alguns, que “nem sempre a marcha da insensatez é inexorável.” “Quanto mais
integração, mais comércio, mais intercâmbio cultural e mais engajamento político e diplomático,
menores as possibilidades de conflito e maiores as oportunidades de cooperação,
inclusive em assuntos relativos à paz regional e mundial”, assegura Amorim, do
alto de sua rica experiência no campo diplomático.
Ele
lamenta o que chama de tempo perdido em relação ao chamado “dossiê iraniano”.
Lembra, com pormenores substanciosos, que juntamente com a Turquia (governo
Erdogan), o Brasil (governo Lula) assumiu a missão de promover negociações com
Teerã num instante em que esse posicionamento reclamava certo desassombro.
Revela, mais uma vez, que a atitude tomada pelos dois governos chegou a receber
incentivos do governo Barack Obama. Reconhecendo que o acordo recentemente
celebrado é mais amplo e complexo do que o entendimento havido em maio de 2010,
faz questão de sublinhar, entretanto, que o enorme mérito das ações
empreendidas pelo Brasil, com apoio turco, foi revelar ao mundo que uma
negociação séria com o governo iraniano era empreitada perfeitamente viável. E
tanto isso é verdade que a assessora de Planejamento da Secretaria de Estado
dos Estados Unidos, Anne-Marie Slaughter, temerosa diante de novo conflito
armado no Oriente, sugeriu enfaticamente no preâmbulo das negociações levadas a
cabo pelas grandes potências que a “Declaração de 2010”, firmada pelo Brasil,
Turquia e Irã, fosse utilizada como ponto de partida para a negociação,
satisfatoriamente conduzida mais tarde entre o Ocidente e Teerã. Negociação
essa que, de conformidade com o nosso ex-Ministro do Exterior, concorreu
esplendidamente para o desanuviamento de fortes tensões no cenário internacional.
Celso
Amorim lamenta, no comentário aludido, que o Brasil, como ocorreu com os países
condutores das negociações de agora, também haja perdido tempo após os sucessos
de 2010, por não haver se empenhado na busca de relacionamento mais profundo
com o Irã. Os países signatários do acordo de agora – acrescenta - já começam a
fazer isso com vistas a estabelecer negócios vantajosos.
Poderíamos
– arremata ele - estar trilhando, como os outros, “a estrada de Teerã”, não só
com nossa mensagem pacifista, mas também com os nossos bens e serviços em
direção aos bazares persas, objeto de tantos olhares cobiçosos”.
Atentar pra isso
Cesar Vanucci
“A
modalidade de corrupção no CARF é muito
mais daninha do que tudo que se viu na Lava
Jato.”
(Élio Gaspari, jornalista)
Puxando pela memória, redescubro esta expressão
soterrada nas lembranças da meninice: “adorei (apreciei) de montão”. Nada sei
sobre sua origem. O que sei dizer é que era empregada com alguma constância
para elevar o tom do entusiasmo face a situações especiais.
Pois bem! A
lengalenga introdutória é pra confessar que “aprecio de montão” pinçar no
noticiário nosso de cada dia revelações substanciosas, feitas por quem entende
direito do riscado, a propósito de temas atuais palpitantes. Temas que, nada
obstante a relevância, costumam no mais das vezes passar ao largo das pautas
jornalísticas direcionadas ao grande público.
Coisas como essa aqui que o sempre bem informado Élio
Gaspari registra em sua coluna do dia 30 de agosto passado, falando da
“letalidade da roubalheira do CARF”. Ou
seja, da estranheza nascida da constatação de que a apuração da bandalheira
arrolada na “Operação Zelotes” caminha na Justiça de forma tão vagarosa. E isso
depois, consoante o articulista, de dois anos de investigações sigilosas, 2.300
horas de escutas autorizadas, 41 mandados de busca e apreensão e 74 processos
“com cheiro de queimado, todos de peixe gordo”. Recordando que a modalidade de
corrupção adotada, há dezenas de anos, nas fraudes do Conselho Administrativo
de Recursos Fiscais, órgão do Ministério da Fazenda, “é muito mais daninha do
que tudo que se viu na Lava Jato”, o jornalista lamenta o fato de que, até
hoje, apesar da dimensão do rombo causado ao Erário, ainda não foram
devidamente fulanizados os nomes dos envolvidos, nem precisadas as astronômicas
cifras das sonegações.
A marcha da carruagem indica uma investigação em
passo de cágado, muito devagar, quase parando. Corre obviamente o risco de
ficar parecida com outros esquemas fraudulentos que, ao contrário do “Mensalão
do PT” e da “Lava Jato”, têm sido suspeitosamente mantidos em estado de
hibernação por artes da mídia. Exemplificando: “Satiagraha”, “Mensalão Tucano”,
“Mensalão do DEM”, “Carlinhos Cachoeira”, “Castelo de Areia”, “Metrô de São
Paulo”, “Furnas”, “Esquema PC Farias”, “contas secretas do HSBC”. O leitor se
recorda de mais algum?
Recolho, igualmente, num elucidativo comentário
de Antônio Delfim Netto, na “CartaCapital” de 2 de setembro, outra revelação
preciosa que deveria estar sendo examinada com intensidade neste momento coalhado de debates fundamentais para a vida
brasileira. Ela se reporta às investigações envolvendo empreiteiras e aos chamados
acordos de leniência que têm sido propostos. O ex-Ministro com a palavra: “Os
inconvenientes, as incertezas e o tempo que envolvem, necessariamente, todo
processo jurídico no Brasil, porque se quer fazer “justiça” e não promover
“vingança”, são mesmo prejudiciais às atividades do setor de infraestrutura. É
inegável, entretanto, que a sua descontinuidade envolveria o abandono de um
valor moral que, a longo prazo, transcende a mera contabilidade do PIB.”
Delfim Netto clama pela aceleração nos processos
judiciais de modo a não afetar a marcha do desenvolvimento nacional. Sugere ao
Executivo a constituição de uma força-tarefa, com a participação do
Legislativo, Judiciário, Tribunal de Contas, Ministério Público, Polícia
Federal, com o objetivo de bolar uma linha de providências capaz de produzir, a
curto prazo, “justiça expedita”. Uma forma de procedimento que, “sem poupar as
pessoas físicas ou jurídicas”, permita arbitrar eventuais indenizações e chegar
ao ajuste de contas definitivo. “Isso permitiria ao País – arremata
magistralmente – conservar a inegável expertise
acumulada nas empresas envolvidas.”
Ficaríamos assim diante da esplêndida chance, sem
detrimento da transparência, de retomar e acelerar o processo do
desenvolvimento com seus benfazejos desdobramentos sociais.
CRISE E OPORTUNIDADES
A Macroeconomia no Brasil de hoje
Maurício Roscoe *
Hoje, mais uma vez, o Brasil passa por
um momento de crise. A economia está freada e a esperança enfraquecida. Nossos
recursos reais (pessoas, equipamentos, fábricas, terras férteis, minerais, etc.)
estão ociosos ou subutilizados. Ao mesmo tempo, lidamos com uma infraestrutura
precária (saturação de hospitais, portos, aeroportos, estradas, ferrovias, etc)
que contribui para o aumento do Custo Brasil e, consequentemente, dificulta o
desenvolvimento do país. Tendemos a colocar a culpa da crise, e a
responsabilidade de solução, nas mãos do governo e dos economistas. Mas a realidade é que temos de buscar juntos
(povo e governo) uma estratégia para reduzir o Custo Brasil, aumentar a
eficiência da indústria nacional e otimizar o PIB brasileiro.
A economia não é uma ciência neutra e
nem puramente lógica.
Muito menos é ciência exata, com leis
aplicáveis universalmente em qualquer país, tempo e circunstância. A
macroeconomia está muito ligada à natureza humana e, assim, envolve interesses,
instintos e competições.
A Teoria Econômica Clássica, muito
baseada em Adam Smith, dizia que, se cada pessoa e cada empresa cuidasse bem e exclusivamente
dos próprios interesses, uma “mão invisível“ cuidaria de coordenar essas ações
em benefício da sociedade como um todo. Mas os fatos mostram que essa “mão
invisível” não aceitou a tarefa que lhe foi delegada. Ao seguir os princípios
do “laissez-faire”, os seres humanos tendem a ser guiados por seus instintos,
tanto individuais quanto de grupo, abusamos do poder, ignoramos princípios da
justiça e o equilíbrio não é alcançado.
A “mão invisível” não é tão eficaz
quanto Adam Smith pensou.
Ainda assim, o Capitalismo tem se
mostrado a metodologia mais eficaz em termos de geração de riqueza, eficiência
das empresas e prosperidade econômica.
O grande desafio, então, é buscarmos
soluções para a evolução do capitalismo, para que haja maior eficácia econômica
e mais produtividade global e sistêmica (inclusive dos órgãos governamentais e
da legislação). O caminho para o desenvolvimento sustentável é a união de
esforços para a criação de uma sociedade mais orgânica, sinérgica e
colaborativa, que busque o crescimento do mercado interno e boas parcerias internacionais,
num jogo de ganha-ganha mais inteligente.
Sob influência dos nossos instintos e de
nossa mentalidade, tendemos a achar que a soma de todos os bens e recursos é
algo estático. Acreditamos que, para melhorarmos nossas condições, é necessário
disputar, competir e tirar bens e recursos de outros. E, de fato, tem sido
assim ao longo da história.
No entanto, os principais recursos reais
não são estáticos, mas dinâmicos e podem desenvolver e evoluir. Os principais
recursos somos nós mesmos, seres humanos, com nossa capacidade de inovar,
desenvolver novas tecnologias e novas percepções. Hoje compreendemos, cada vez
com maior clareza, que, com menos atritos, mais diálogo e melhor gestão, a economia
pode crescer e muito!
A tese de Adam Smith pode ser mais
agradável a quem já alcançou patamares mais elevados de bem-estar e poder,
afinal o “laissez-faire” tende a fazer com que a riqueza se concentre ainda mais.
Ao mesmo tempo, a caridade, por si só,
também não é eficaz como propulsora do desenvolvimento e evolução.
A história mostra que a evolução
cultural e econômica é um fato.
E podemos contribuir para essa evolução.
Em uma negociação o mais forte tende a pegar o máximo para si. Mas, com uma percepção
mais esclarecida, podemos ver que contribuir para que o outro também ganhe,
pode levar a um sistema mais colaborativo e inteligente, com melhor
produtividade global.
No final da década de 20, a grande
recessão americana, que se propagou pelo mundo pelo início da década seguinte,
foi um fenômeno novo e não explicável pela Teoria Clássica. Ao final de uma
década de grande prosperidade econômica, as bolsas de valores americanas
estavam com suas ações supervalorizadas devido ao crescimento da economia e
também à especulação com essas ações. A economia ficou quase paralisada. As
pessoas adiavam suas compras, achando que o dinheiro é que estava valorizando.
O excesso de poupança não resultou em novos investimentos, porque a indústria
não estava vendendo sua produção. Com os estoques altos e baixa demanda, as
fábricas ficaram ociosas e dispensaram grande parte de seus trabalhadores.
Portanto, mesmo havendo poupança, não estavam ocorrendo novos investimentos. A
queda da bolsa de Nova York, em outubro de 1929, pontuou esta crise sem
precedentes. Ao provar que poupança não era necessariamente igual a investimento,
a crise de 1929 quebrou um dos principais dogmas da Teoria Clássica.
Foi então que Keynes afirmou que a
Teoria Clássica era válida somente quando havia pleno emprego dos recursos
reais. Keynes propôs, então que se fizessem maciças emissões de papel-moeda e
que este dinheiro fosse injetado na economia para a realização de grandes
projetos de infraestrutura.
Ao seguir tal proposta, o presidente
Roosevelt salvou a economia americana. O projeto de recuperação do Vale do
Tenessee, por exemplo, foi criado com o objetivo de minimizar problemas de navegação
e enchentes, construir hidrelétricas, e incentivar o desenvolvimento da
agricultura e da indústria. Estes grandes investimentos quebraram o ciclo
vicioso da recessão e impulsionaram a economia americana.
Da mesma forma, a Europa de pós-guerra
teve sua economia reativada através do Plano Marshall, um programa americano
que visava a reconstrução e recuperação dos países europeus. O empréstimo de 13
bilhões de dólares (que equivaleriam aproximadamente a 130 bilhões de dólares
em moeda atual) concedido pelos Estados Unidos a diversos países foi financiado
com emissões de moeda não lastreadas (nem baseadas em poupança prévia). A
recuperação do Japão também se baseou na mesma estratégia.
No Brasil, o governo Juscelino
Kubitschek fez uma gestão altamente favorável ao desenvolvimento econômico, com
crescimento do PIB per capta de 5% ao ano. Para realizar seu Plano de Metas, o
governo JK fez emissões monetárias não baseadas em poupança prévia ou impostos.
O Plano de Metas provocou alguma inflação porque, embora houvesse desemprego de
mão-de-obra não qualificada, havia pleno emprego da mão-de-obra qualificada.
Apesar da inflação, o resultado final
das medidas tomadas por JK foi amplamente favorável ao país.
Na crise de 2007/2008, os Estados Unidos
também se valeram desse recurso. Aliás, sempre que necessário, esse grande
país, com seu inteligente pragmatismo, tem se utilizado largamente do método
keynesiano de emissões, creditícias ou monetárias, em detrimento do equilíbrio
fiscal orçamentário. E a história nos ensina que esta visão tem sido bem-sucedida
ao longo dos anos.
A contabilidade é uma ciência muito
importante, que é extremamente útil e necessária como ferramenta de gestão. No entanto,
não deve, e não pode ser, mandatória do processo decisório de condução da
macroeconomia de um país. Quando existe ociosidade de recursos reais ao lado de
importantes coisas a serem realizadas, torna-se evidente que não podemos ficar engessados
em mecanismos contábeis que perpetuam tal paradoxo.
Sim, o dinheiro é indispensável para
facilitar as trocas e mobilizar recursos. Mas fazemos as coisas é com esses
recursos reais. Estes é que precisam de ser mobilizados e mesmo
otimizados.
Para enfatizar essa verdade, imaginemos
que houvesse uma decisão de se colonizar o planeta Marte. Não adiantaria absolutamente
nada se enviássemos para lá, centenas ou milhares de espaçonaves cheias de
dólares ou de euros. Para iniciarmos a colonização precisaríamos apenas de
recursos reais (pessoas, tecnologias, equipamentos, etc). Somente em um segundo
momento teria sentido introduzirmos o uso de moeda e créditos para facilitar e
estimular as trocas.
Da mesma forma, aqui na Terra e, no
nosso caso específico, aqui no Brasil, o foco da economia deve ser na melhor
utilização dos recursos reais e otimização da produtividade global. Temos conhecimentos
e recursos reais para reativar a economia. A disciplina orçamentária é
importante para podermos realizar mais coisas, sem desperdícios. Mas diante do
pior dos desperdícios, que é o desemprego e ociosidade de outros recursos reais
como fábricas e equipamentos, o governo pode e deve fazer emissões para
reativar áreas estratégicas e com poder multiplicador na economia.
A história, que costuma ser boa mestra,
nos ensina que, em momentos de crise, a emissão de moeda para aplicação em
áreas estratégicas é absolutamente necessária. Tais emissões devem ocorrer
mesmo que não haja poupança prévia disponível. Ao mesmo tempo, a solução de
nossos problemas não está somente nas mãos do governo. Podemos ter um país mais
rico e com melhor distribuição de renda. Tudo depende de percebermos que o jogo
de ganha-ganha é mais inteligente que o jogo de ganha-perde e de evoluirmos da
nossa atual mentalidade competitiva para uma mentalidade de colaboração.
* Empresário da construção civil, presidiu várias organizações: Sinduscon – MG, Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), União Brasileira para a Qualidade (UBQ – MG); foi vice-presidente da Fiemg e pertenceu aos Conselhos da Fundação Christiano Otoni, Escola de Engenharia da UFMG, Sociedade Mineira de Engenheiros, Serviço Nacional da Indústria (Senai), Pontifícia Universidade de Minas Gerais (PUC-MG) e Fundação Dom Cabral. Atualmente, é membro do conselho consultivo da UBQ-MG.
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testando....
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