sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Por falar em salários acima do teto...

Cesar Vanucci

“Dos megassalários ninguém fala bulhufas nas
reuniões referentes aos cortes dos gastos públicos.”
(Domingos Justino Pinto, professor)

São milhares. Várias dezenas de milhares. Nem os órgãos de fiscalização, nem o chamado “jornalismo investigativo”  (tão ciosos de suas prerrogativas, por vezes discutíveis) mostram-se, um tiquinho que seja, encorajados em promover um levantamento minucioso, completo, das práticas irregulares acumuladas ao longo dos anos concernentes aos agentes públicos detentores de remuneração muito acima do teto legal fixado pelos Poderes da República.

Eles compõem a “elite” dos servidores no Judiciário, Legislativo e Executivo da União, Estados e (alguns) municípios. O acesso transparente às informações sobre vencimentos exorbitantes esbarra em obstáculos burocráticos sem conta, de modo a ocultar as aberrações contidas nas folhas de pagamento. Tais privilégios são defendidos por muitos com unhas e dentes afiados. Invoca-se comumente o argumento questionável de que se trata de “direito insofismável”, o que dá vaza à ideia equivocada sustentada por setores interessados de que os megassalários (e põe mega nisso) são, na realidade, “intocáveis”. 

Salta aos olhos, no entanto, que o esquema em questão, pelas suas avantajadas proporções e elevado montante de recursos públicos englobados, clama de há muito por reavaliações e revisões urgentes.  Mas, acontece do pessoal com atribuições gerenciais bem definidas no contexto das responsabilidades administrativas e fiscais não se dispor, hora alguma, a promover os estudos aprofundados reclamados pelo assunto de modo a resolvê-lo. Encaram a questão como tabu, como indescascável “batata quente”. Deixar tudo como está pra ver como é que fica, sem meter a “mão na cumbuca”, torna a situação de um surrealismo sem par. Pela “Lei da Transparência” as informações sobre megassalários não poderiam ser jamais sonegadas ao conhecimento público. A sonegação acontece, todavia, de forma clamorosa. As autoridades competentes desviam o olhar do severo semblante da realidade.

O exército de beneficiários desse incômodo sistema corresponde, em número de integrantes, a grosso modo ao número de habitantes de uma cidade de porte médio. A renda “per capita” por eles auferida atingiria, por hipótese, valores consideravelmente superiores à renda dos moradores de uma cidade com população idêntica localizada, digamos, nas paragens escandinavas.

Cabe ainda assinalar que, em instante algum nos estudos ora processados pelos dirigentes governamentais e pelas lideranças políticas, acerca dos cortes apontados como indispensáveis nos gastos públicos visando o equilíbrio orçamentário, ouviu-se qualquer leve murmúrio, à guisa de mera sugestão, quanto a restrições nessa faixa opulenta dos salários situados bem acima do teto legal. A recusa de enfrentamento dos fatos como são, em debater exaustivamente a momentosa questão, como o bom senso recomenda, apontando definições consentâneas com o interesse superior da coletividade, é mais um registro da ineficiência gerencial detectada não é de hoje na vida brasileira. Ora, veja, pois!


Realismo Fantástico

Cesar Vanucci

“... uma obra que garimpa da memória, do outrora,
do presente, histórias e registros da grande aventura humana.”
(Ana Elizabeth Diniz, jornalista)

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais foi o palco escolhido pela “Impressões de Minas – Produção Editorial” para o lançamento do mais recente livro deste desajeitado escriba. Incontável número de amigos e conhecidos, compondo plateia de alta representatividade intelectual, prestigiou a noitada de autógrafos no último dia 17 de setembro, quinta-feira.

Senti-me deveras recompensado com as cativantes demonstrações de simpatia do público leitor que me honrou com sua participação no ato. Experimentei, por instantes, aquela deleitosa sensação retratada pelo poeta João Cabral de Melo Neto quando anota que “escrever é situar-se no extremo de si mesmo.”

“Realismo Fantástico”, o nome do livro, classificado de “instigante” no prefácio da brilhante jornalista Ana Elizabeth Diniz. Sendo pobre, mas não orgulhoso, não vacilo um tiquinho que seja em reproduzir trecho dos generosos conceitos por ela emitidos: “Há pessoas que passam pela vida perscrutando o insondável, o inusitado, o inominável, o indizível. Vanucci é desses seres que transita com desenvoltura por dimensões paralelas, por frestas existenciais e nos faz ansiar por mais. Por isso esse livro é instigante.”

Quero lembrar que a expressão “Realismo Fantástico” foi cunhada e popularizada por “dois contemporâneos do futuro”. Intérpretes altamente qualificados da fascinante, posto que conturbada, aventura humana, Louis Pauwells e Jacques Bergier, com o seu  “O despertar dos mágicos”, revelando voraz sede de curiosidade e poética capacidade narrativa, ensinam-nos que o fantástico  não pode ser simplesmente definido como uma violação das leis naturais, mas sim como uma manifestação dessas leis, mesmo que elas se vejam salpicadas de enigmáticas cintilações mágicas. Isso remete a um conceito mimoso de Paul Valèry, quando sublinha que, “no conhecimento moderno, o maravilhoso e o positivo contraíram espantosa aliança.”

Tomamos da expressão bolada por Bergier e Pauwells para dar título ao singelo livro lançado. Nele estão enfeixados setenta e seis comentários estampados em periódicos há décadas frequentados por nossas colaborações. O “Diário do Comércio”, de Belo Horizonte, em destaque entre eles.

Trata-se de escritos alinhados com aquilo que imaginamos possa ser rotulado de “temática transcendente”. Ou seja, um encadeamento solto de ideias sobre coisas invulgares, fenômenos insólitos e desconcertantes que emergem de territórios do conhecimento ainda por serem desbravados pela inteligência, percepção e curiosidade.

Por quase uma década, no extinto CBH, de Belo Horizonte, mantive um programa de televisão com esse título. Apresentado semanalmente, o programa permitiu ousados exercícios de imaginação na busca de informações a respeito do sentido oculto da infinidade de questões propostas pelos caprichos da vida como charadas a serem decifradas. Algumas das situações abordadas na televisão foram transpostas para o livro. Outras mais ficarão aguardando publicação vindoura, já antevista nas quiméricas pretensões do autor.

Acerca da expressão “Realismo Fantástico” é interessante frisar ser ela também utilizada por corrente da ficção literária integrada por alguns dos maiores mestres mundiais da arte de contar histórias: Gabriel Garcia Marques, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Jorge Luiz Borges, entre outros. Quem conhece as obras primas intituladas “Cem anos de solidão”, “Dona flor e seus dois maridos”, “Incidente em Antares” e “O Aleph” sabe muito bem do que se está falando. Cabe, a propósito de tudo isso, ressaltar também que, a páginas tantas do livro, é reproduzida empolgante confissão do genial Guimarães Rosa. Registrada  numa crônica de jornal com mais de meio século, o escritor fala de seu entranhado envolvimento com fenômenos ligados à percepção extra-sensorial. Do inusitado texto ressaltam evidências de que a obra do autor de “Grande Sertão Veredas” foi marcada, desde sempre, por intuições e impulsos mágicos, de nítida configuração parapsicológica, inexplicáveis à luz do conhecimento convencional.

E, por último: para quem possa, eventualmente, interessar-se pelo livro deixo a seguir anotados os dados da editora. “Impressões de Minas”, telefone (31)34922383 e site www.impressoesdeminas.com.br.


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