Esses fantásticos para-atletas
Cesar Vanucci
“Conseguem
fazer mais com menos.”
(Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico
Brasileiro)
A opinião pública brasileira acompanha com
visível simpatia e um certo fascínio o desempenho dos atletas paraolímpicos
brasileiros. Identifica em seus semblantes, atitudes e palavras, na resoluta
disposição com que se atiram nos preparativos e nas competições, as melhores
virtudes da gente brasileira. Adversidade alguma abala o entusiasmo das
equipes. O sucesso por elas alcançado, bem analisadas as coisas, é superior em
muito ao dos atletas tradicionais. É só por tento nas posições conquistadas,
por uns e por outros, nos últimos tempos.
No último Parapan-Americano, os brasileiros
subiram mais vezes ao pódio, nas diversas modalidades esportivas disputadas, do
que seus oponentes dos Estados Unidos e Canadá, duas potências esportivas. O
primeiro lugar nos Jogos foi conquistado pela segunda vez. As medalhas de ouro
acumuladas, neste e nos dois Parapans anteriores, somaram praticamente o dobro
das alcançadas pelos nossos representantes nos três últimos Jogos
Pan-Americanos. No de Toronto, como se recorda, o Brasil pegou o 3º lugar na
classificação geral.
Na “IstoÉ”, o repórter Raul Montenegro alinha
interessantes considerações a respeito dos feitos dos atletas paraolímpicos.
Começa por explicar que, nada obstante a diferença de rendimento, o segmento
recebe proporcionalmente bem menos incentivos financeiros do que o atletismo
tradicional. Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB),
sublinha que os para-atletas “conseguem fazer mais com menos”. Destaca também o
fato de que os Estados Unidos e o Canadá canalizam, só para os Jogos
Paralímpicos, valores maiores do que os liberados para o financiamento global,
desde a base até a ponta, dos esportistas brasileiros com necessidades
especiais. Mesmo assim, apesar dos investimentos e das estruturas serem
inferiores aos dos outros países, o trabalho executado no Brasil tem garantido
números excepcionais. A introdução das atividades paralímpicas no sistema
escolar, como conceito de inclusão social, vem permitindo planejamento de longo
prazo. Essa circunstância, acrescida de um esquema de aprimoramento na formação
de técnicos, tem rendido auspiciosos frutos. Contamos hoje com uma plêiade de
atletas talentosos, como é o caso, para ficar na citação de apenas dois nomes,
de André Brasil e Daniel Dias, considerados grandes estrelas da natação
mundial. Paulo Brancatti, professor da Unesp (Universidade Júlio de Mesquita
Filho, de São Paulo) resume nas frases abaixo o desempenho das equipes
vitoriosas do Paraolímpico Brasileiro: “Os atletas assumem o esporte com mais
vontade, determinação e garra. Para muitos é a oportunidade de inserção na vida
social.”
Nesta hora em que, em tantas faixas de atuação da
vida nacional, avistamos algumas reações de pessimismo e de desalento, é
altamente saudável e encorajador perceber nesse time valoroso de compatriotas,
nossos para-atletas, empenho incomum em proclamar as virtualidades da brava
gente brasileira. Em projetar sua crença no futuro do país.
Na Paraolimpíada do ano que vem, no Rio de
Janeiro, podemos apostar, com firmeza, que eles estarão, novamente, enchendo de
alegria e emoção positiva os corações de todos nós.
Mas é muita amolação!
Cesar Vanucci
“A gente
não carecia passar por tanta amolação!”
(Como diria Tio Domingos, o Paim, se ainda entre
nós,
comentando acontecimentos atuais da vida
brasileira)
Tio Domingos, Domingão para os amigos das animadas
rodas de carteado, o Paim no chamamento carinhoso da meninada da casa de vó
Carlota.
Dono de irradiante simpatia conquistava fácil as pessoas
pelo jeito prestativo e demonstrações de generosidade. Todos iam a ele em horas
de precisão. Além de oferecer o ombro amigo para lamúrias, sem cobrar
retribuição, cumulava quem partilhasse de sua convivência de palavras e gestos
de incentivo. Criatura meiga, de sensibilidade aguda e vivacidade intelectual
aflorada, encantava-se com a maneira de ser do brasileiro comum, com suas
crenças e reações comportamentais.
Estimulava-nos a aprofundar no conhecimento das coisas
genuínas do país. Inteirado de meu interesse pessoal pela leitura presenteava-me,
de quando em sempre, com textos extraídos de livros, ou das páginas do “Correio
da Manhã”, fonte de informações preciosas naqueles tempos, embora as edições daquele
jornal do Rio de Janeiro só chegassem às mãos dos leitores do interior com vários
dias de atraso.
Decorei, por conta de empenho seu, muitos versos com
louvação à “terra nova que ao teu olhar fulgura”, conforme o dizer empolgado de
Olavo Bilac. Guardo bem nítida também, na memória velha de guerra, daqueles
tempos saudosos, fala poética danada de sugestiva do Djalma Andrade. Por sua
candente atualidade, animo-me a reproduzi-la: “A gente murmura, fala, / Velhos
defeitos propala / Em linguagem rude e vil: / - É a terra pior do mundo! / Mas
no fundo, bem no fundo, / Quanto amor pelo Brasil!”
Tio Domingos, o Paim, tinha engatilhada na língua
uma expressão com marca registrada para conceituar eventos do cotidiano que não
lhe saíssem ao agrado. Homem sereno e comedido usava a frase para desabafos. Ela
assinalava o ponto culminante, o limite extremo de seus desencantos, indignação
cívica, desilusões. “Essa coiseira toda não tá de bom jeito. A gente não
carecia passar por tanta amolação!”
Repasso bem, ainda hoje, as cenas onde, após a costumeira leitura do “Correio da
Manhã” - porta-voz respeitado das novidades políticas recentes na então capital
da República –, meneando a cabeça nevada em sinal de reprovação a uma questão
qualquer, todo solene, pausadamente, Paim largava no ar a frase que falava de
seu desgosto com os rumos dos acontecimentos.
Uma noite dessas, relembrando com ternura daquele
figuraço austero, que tanta influência exerceu em minha preparação para o jogo
da vida, pus-me a imaginar o Paim entre nós, alojado numa poltrona diante da
telinha, inteirando-se das histórias atuais da vida política, social e
econômica. Histórias como as do resumo abaixo.
A operação Lava-Jato com seus infindáveis
desdobramentos. As manobras de bastidores, pouco éticas, de governistas e
oposicionistas na luta infrene pelo poder. Os apelos golpistas de manjados
inimigos da democracia. A ciranda interminável das maracutaias cometidas por
agentes públicos, afortunadamente combatidas nos dias que correm com severidade
nunca dantes registrada na história brasileira. A ineficiência administrativa
dos administradores públicos em tantas áreas da vida comunitária. O
posicionamento antiético de representante graduado do STF prejulgando a atuação
do Executivo, num momento em que muitos juristas configuram a possibilidade de
os atos governamentais virem a ser, nalgum momento, apreciados pelo Poder Judiciário.
As evidências ruidosas de que o relator do parecer do Tribunal de Contas sobre
as contas governamentais está enredado na chamada “Operação Zelotes”. Os
decretos do governo de São Paulo tornando confidenciais documentos ligados a
negócios do Metrô e ao sistema de abastecimento de água. As suspeitas
fortemente embasadas de envolvimento do presidente da Câmara Federal em grossas
bandalheiras. Os acordos políticos de cunho vergonhosamente fisiológicos para
assegurar a base de sustentação parlamentar. A lista imensa de políticos,
praticamente de todas as legendas, implicados em negócios ilícitos. O ajuste
fiscal mal concebido, claramente prejudicial às camadas dos andares de baixo. E
por aí vai...
Na cena contemplada na imaginação vi, com
absoluta nitidez, o Paim erguer-se contrafeito da poltrona, esmagado pelas
amargas revelações, sacudindo a cabeça em sinal de desaprovação, numa repetição
de gesto característico da distante fase
da meninice, e, pausadamente, ar solene, com seu envolvente vozeirão, sentenciando:
“Sabe duma coisa. Essa coiseira toda não tá de bom jeito. A gente não carecia
passar por tanta amolação!”
“O Tempo” focaliza lançamento
do livro “Realismo Fantástico”
Na edição do dia 13 de outubro, terça-feira, o jornal “O Tempo”, de Belo Horizonte, ressaltou o lançamento do livro “Realismo Fantástico”, em reportagem assinada pela jornalista Ana Elizabeth Diniz, editora da página “Esotérico”.
Na sequência reproduzimos a publicação citada.
Um comentário:
Grande Cesar,
Que coisa boa essa matéria do tempo.
um sucesso!
Grande abraço Fraterno
Wallison Gontijo
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