sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Esses fantásticos para-atletas

Cesar Vanucci

“Conseguem fazer mais com menos.”
(Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro)

A opinião pública brasileira acompanha com visível simpatia e um certo fascínio o desempenho dos atletas paraolímpicos brasileiros. Identifica em seus semblantes, atitudes e palavras, na resoluta disposição com que se atiram nos preparativos e nas competições, as melhores virtudes da gente brasileira. Adversidade alguma abala o entusiasmo das equipes. O sucesso por elas alcançado, bem analisadas as coisas, é superior em muito ao dos atletas tradicionais. É só por tento nas posições conquistadas, por uns e por outros, nos últimos tempos.

No último Parapan-Americano, os brasileiros subiram mais vezes ao pódio, nas diversas modalidades esportivas disputadas, do que seus oponentes dos Estados Unidos e Canadá, duas potências esportivas. O primeiro lugar nos Jogos foi conquistado pela segunda vez. As medalhas de ouro acumuladas, neste e nos dois Parapans anteriores, somaram praticamente o dobro das alcançadas pelos nossos representantes nos três últimos Jogos Pan-Americanos. No de Toronto, como se recorda, o Brasil pegou o 3º lugar na classificação geral.

Na “IstoÉ”, o repórter Raul Montenegro alinha interessantes considerações a respeito dos feitos dos atletas paraolímpicos. Começa por explicar que, nada obstante a diferença de rendimento, o segmento recebe proporcionalmente bem menos incentivos financeiros do que o atletismo tradicional. Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), sublinha que os para-atletas “conseguem fazer mais com menos”. Destaca também o fato de que os Estados Unidos e o Canadá canalizam, só para os Jogos Paralímpicos, valores maiores do que os liberados para o financiamento global, desde a base até a ponta, dos esportistas brasileiros com necessidades especiais. Mesmo assim, apesar dos investimentos e das estruturas serem inferiores aos dos outros países, o trabalho executado no Brasil tem garantido números excepcionais. A introdução das atividades paralímpicas no sistema escolar, como conceito de inclusão social, vem permitindo planejamento de longo prazo. Essa circunstância, acrescida de um esquema de aprimoramento na formação de técnicos, tem rendido auspiciosos frutos. Contamos hoje com uma plêiade de atletas talentosos, como é o caso, para ficar na citação de apenas dois nomes, de André Brasil e Daniel Dias, considerados grandes estrelas da natação mundial. Paulo Brancatti, professor da Unesp (Universidade Júlio de Mesquita Filho, de São Paulo) resume nas frases abaixo o desempenho das equipes vitoriosas do Paraolímpico Brasileiro: “Os atletas assumem o esporte com mais vontade, determinação e garra. Para muitos é a oportunidade de inserção na vida social.”

Nesta hora em que, em tantas faixas de atuação da vida nacional, avistamos algumas reações de pessimismo e de desalento, é altamente saudável e encorajador perceber nesse time valoroso de compatriotas, nossos para-atletas, empenho incomum em proclamar as virtualidades da brava gente brasileira. Em projetar sua crença no futuro do país.

Na Paraolimpíada do ano que vem, no Rio de Janeiro, podemos apostar, com firmeza, que eles estarão, novamente, enchendo de alegria e emoção positiva os corações de todos nós.



Mas é muita amolação!

Cesar Vanucci

“A gente não carecia passar por tanta amolação!”
(Como diria Tio Domingos, o Paim, se ainda entre nós,
comentando acontecimentos atuais da vida brasileira)


Tio Domingos, Domingão para os amigos das animadas rodas de carteado, o Paim no chamamento carinhoso da meninada da casa de vó Carlota.

Dono de irradiante simpatia conquistava fácil as pessoas pelo jeito prestativo e demonstrações de generosidade. Todos iam a ele em horas de precisão. Além de oferecer o ombro amigo para lamúrias, sem cobrar retribuição, cumulava quem partilhasse de sua convivência de palavras e gestos de incentivo. Criatura meiga, de sensibilidade aguda e vivacidade intelectual aflorada, encantava-se com a maneira de ser do brasileiro comum, com suas crenças e reações comportamentais.

Estimulava-nos a aprofundar no conhecimento das coisas genuínas do país. Inteirado de meu interesse pessoal pela leitura presenteava-me, de quando em sempre, com textos extraídos de livros, ou das páginas do “Correio da Manhã”, fonte de informações preciosas naqueles tempos, embora as edições daquele jornal do Rio de Janeiro só chegassem às mãos dos leitores do interior com vários dias de atraso.

Decorei, por conta de empenho seu, muitos versos com louvação à “terra nova que ao teu olhar fulgura”, conforme o dizer empolgado de Olavo Bilac. Guardo bem nítida também, na memória velha de guerra, daqueles tempos saudosos, fala poética danada de sugestiva do Djalma Andrade. Por sua candente atualidade, animo-me a reproduzi-la: “A gente murmura, fala, / Velhos defeitos propala / Em linguagem rude e vil: / - É a terra pior do mundo! / Mas no fundo, bem no fundo, / Quanto amor pelo Brasil!”

Tio Domingos, o Paim, tinha engatilhada na língua uma expressão com marca registrada para conceituar eventos do cotidiano que não lhe saíssem ao agrado. Homem sereno e comedido usava a frase para desabafos. Ela assinalava o ponto culminante, o limite extremo de seus desencantos, indignação cívica, desilusões. “Essa coiseira toda não tá de bom jeito. A gente não carecia passar por tanta amolação!”

Repasso bem, ainda hoje, as cenas onde,  após a costumeira leitura do “Correio da Manhã” - porta-voz respeitado das novidades políticas recentes na então capital da República –, meneando a cabeça nevada em sinal de reprovação a uma questão qualquer, todo solene, pausadamente, Paim largava no ar a frase que falava de seu desgosto com os rumos dos acontecimentos.

Uma noite dessas, relembrando com ternura daquele figuraço austero, que tanta influência exerceu em minha preparação para o jogo da vida, pus-me a imaginar o Paim entre nós, alojado numa poltrona diante da telinha, inteirando-se das histórias atuais da vida política, social e econômica. Histórias como as do resumo abaixo.

A operação Lava-Jato com seus infindáveis desdobramentos. As manobras de bastidores, pouco éticas, de governistas e oposicionistas na luta infrene pelo poder. Os apelos golpistas de manjados inimigos da democracia. A ciranda interminável das maracutaias cometidas por agentes públicos, afortunadamente combatidas nos dias que correm com severidade nunca dantes registrada na história brasileira. A ineficiência administrativa dos administradores públicos em tantas áreas da vida comunitária. O posicionamento antiético de representante graduado do STF prejulgando a atuação do Executivo, num momento em que muitos juristas configuram a possibilidade de os atos governamentais virem a ser, nalgum momento, apreciados pelo Poder Judiciário. As evidências ruidosas de que o relator do parecer do Tribunal de Contas sobre as contas governamentais está enredado na chamada “Operação Zelotes”. Os decretos do governo de São Paulo tornando confidenciais documentos ligados a negócios do Metrô e ao sistema de abastecimento de água. As suspeitas fortemente embasadas de envolvimento do presidente da Câmara Federal em grossas bandalheiras. Os acordos políticos de cunho vergonhosamente fisiológicos para assegurar a base de sustentação parlamentar. A lista imensa de políticos, praticamente de todas as legendas, implicados em negócios ilícitos. O ajuste fiscal mal concebido, claramente prejudicial às camadas dos andares de baixo. E por aí vai...

Na cena contemplada na imaginação vi, com absoluta nitidez, o Paim erguer-se contrafeito da poltrona, esmagado pelas amargas revelações, sacudindo a cabeça em sinal de desaprovação, numa repetição de  gesto característico da distante fase da meninice, e, pausadamente, ar solene, com seu envolvente vozeirão, sentenciando: “Sabe duma coisa. Essa coiseira toda não tá de bom jeito. A gente não carecia passar por tanta amolação!”




 “O Tempo” focaliza lançamento 
do livro “Realismo Fantástico

Na edição do dia 13 de outubro, terça-feira, o jornal “O Tempo”, de Belo Horizonte, ressaltou o lançamento do livro “Realismo Fantástico”, em reportagem assinada pela jornalista Ana Elizabeth Diniz, editora da página “Esotérico”.
Na sequência reproduzimos a publicação citada.


Um comentário:

Wallison Gontijo disse...

Grande Cesar,

Que coisa boa essa matéria do tempo.
um sucesso!


Grande abraço Fraterno
Wallison Gontijo

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