Cadê as
manchetes e chamadas?
Cesar Vanucci
“Fazer o bem é um ótimo investimento!”
(Elie
Horn, empresário)
No noticiário nosso de cada dia aquela
sobrecarga toda de calamidades pessoais e coletivas. Tragédias reais, tragédias
imaginárias. Demonstrações comportamentais opostas às regras civilizadas da boa
convivência. Manifestações furibundas de mau humor, de mau agouro, de
pessimismo dilacerante. Agressões permanentes a valores que conferem dignidade
à aventura da vida. Paixões elevadas a estado de paroxismo intolerável. Um vale
tudo que revira as coisas de cabeça pra baixo.
Culpa de quem mesmo? Bem avaliadas as
circunstâncias, sobra pra todos alguma dose de culpa no cartório. Ser simples
protagonista no enredo encenado pode não nos eximir por inteiro de ônus naquilo
que de errado anda pintando no pedaço. Omissões, comodismo, fuga a deveres
básicos, ignorância, insensibilidade social despontam, às vezes, como fatores
determinantes de procedimentos que alvejam estrepitosamente o interesse
público.
Procurando refletir, a grosso modo,
aquilo que considera o rumo das tendências e preferências populares,
concentrando-se obsessivamente na preocupação de cortejar o público, mas
descuidando-se de seu papel pedagógico de orientar, a mídia apela amiúde para fórmulas
sensacionalistas de comunicação. Enfatiza em demasia, com pouca consciência dos
limites éticos, aspectos sombrios da conduta humana. Usa e abusa da repetição
de dados e imagens que escancaram lances mórbidos do dia-a-dia. Esse enfoque
equivocado na rotina da comunicação acaba obscurecendo um mundão de atos,
gestos, realizações, empreendimentos que, ao contrário das ocorrências
negativas insistentemente divulgadas, projetam animadoras e benfazejas
perspectivas criadas pela cidadania no enfrentamento dos desafios da vida.
Os relatos sobre decisões positivas,
atitudes enriquecedoras revelam-se escassos no noticiário. Há um excesso de
comedimento, digamos assim, na propagação de fatos que tais. Em função disso, a
opinião pública acaba sendo penalizada com desinformação sistemática a respeito
de feitos extraordinários. De situações
merecedoras de aplausos e louvores nascidas de inspirados momentos em
trajetórias pessoais de vida pública um tanto quanto
diferenciadas dos caminhos trilhados por certas celebridades que frequentam
desairosamente as manchetes. Neste preciso instante, marcado por inúmeros casos
de personagens de destaque empresarial comprometidos com malfeitorias, acaba de
ser registrada, por exemplo, uma história edificante, não divulgada com o
realce de que se faz merecedora, envolvendo um cidadão do ramo industrial que
resolveu assumir posicionamento de vida de incomparável magnitude.
Elie Horn, o nome dele. Dono de uma das
maiores construtoras brasileiras, a “Cyrela”, com vários projetos em Minas, alguns
recentes em Uberaba, possui fortuna avaliada em 4 bilhões de reais. Isso o remete
à lista dos cem cidadãos mais ricos do país, segundo a “Forbes”. De
nacionalidade síria, naturalizado brasileiro, avesso à badalação mundana, ele
acaba de tomar memorável decisão, em nome também da esposa, Susy. Irá doar,
ainda em vida, 60 por cento de seus bens para fins sociais, preferencialmente
na área da educação. “Fazer o bem é ótimo investimento. Isso é tão óbvio, não
entendo como as pessoas não compreendem” foi o que disse ao anunciar
oficialmente adesão ao programa internacional “The Giving Pledge” (“Chamada à
doação”). Até aqui é o único brasileiro inserido nesse programa criado em 2010
pelos bilionários Bill Gates e Warner Buffett, com o objetivo de incentivar
homens de boa vontade a doarem parte das fortunas às causas sociais. Horn já é conhecido
como grande filantropo pelas contribuições asseguradas a iniciativas
humanitárias. Aos 71 anos, trabalhando todos os dias (“Aposentadoria é covardia”,
costuma dizer), esse cidadão de dons singulares traduz numa frase seu modo de encarar
a vida: “Como seres humanos, não vamos carregar nada além de nós para outro
mundo. A única coisa que levamos são as boas coisas que nos acompanham em vida.
Nós estamos no mundo para ser testados e cada um de nós deve transferir o que
consegue com suas habilidades.”
Tirar o chapéu pra ele! E, a propósito,
cadê as manchetes, as repetitivas chamadas dos telejornais, que nada dizem a
respeito desse gesto de suprema grandeza de espírito?
Cesar Vanucci
“O Brasil está mostrando que suas
instituições estão funcionando.”
(Ciro
Gomes)
Acúmulo de lances inesperados e
perturbadores, rendendo fervilhantes desdobramentos, bagunçou o coreto pra
valer. Vem dificultando análises atualizadas da conjuntura política.
Integrando o elenco titular do teatro
político, pela condição de ex-Governador, ex-Ministro e candidato potencial à
Presidência, o cearense Ciro Gomes não figura no rol dos personagens sob o foco
central dos holofotes nas azedas contendas da hora presente. Seu relativo
distanciamento do epicentro dos acontecimentos não o impede, entretanto, de
opinar sobre as questões que no momento galvanizam a atenção pública. Ele o faz
com grande fluência verbal, sem papas na língua, como se costuma dizer na
linguagem das ruas, para emitir conceitos que geram controvérsias, arrancando
aplausos e críticas, mas que não deixam de representar, de forma arguta e
lúcida, uma linha de pensamento relevante para o debate democrático.
Em depoimentos recentes a Rodrigo
Martins, na “CartaCapital”, e Felipe Castanheira, em “O Tempo”, Ciro soltou o
verbo. Assestou a metralhadora giratória em próceres da situação e da oposição
que frequentam as manchetes com assiduidade diária. À vista da relevância do
papel que lhe está sendo reservado no enredo político, sua fala é por demais
oportuna.
Ciro Gomes com a palavra.
Sobre o governo de Dilma: “O povo acha o
governo um desastre, com boa dose de razão”. (...) “Dilma é decente,
bem-intencionada, comprometida com o País. Mas o governo precisa mudar. A
gestão da economia é ruinosa. O balé que Dilma faz com chantagistas passa um
sinal contraditório do compromisso real dela com a decência. Durante 12 anos, o
povo viu sua vida melhorar”. (...) “Mas agora vê tudo regredir, o salário, as
políticas de proteção social, os investimentos de infraestrutura, os serviços
públicos.”
Sobre o “impeachment”: “A solução do
problema para um governo que a gente não gosta não é a ruptura com o calendário
democrático, nem com as instituições, porque isso introduz no País uma
instabilidade, um potencial de violência política que demoraríamos muitos anos
para corrigir”. (...) “Em nenhuma hipótese a solução é um golpe”. (...) “Corremos
o risco de colocar no comando do País alguém sem legitimidade, comprometido
medularmente com a corrupção.”
Sobre o PT: “O PT tem que
ceder um pouco o seu protagonismo, porque parte do problema é o PT.”
Sobre o PSDB: “O PSDB está
cometendo equívoco histórico”. (...) “Embora não concorde com os rumos que eles
advogam para o País, não se pode desconhecer que há ali gente muito qualificada
e respeitável e toda essa respeitabilidade está sendo jogada no lixo por esse
caminho golpista”. (...) “Quando o PT cometeu o mesmo desatino de tentar
derrubar o FHC, eu, que tinha acabado de sair da eleição derrotado, tomei a
mesma conduta. Condenei o PT, chamei o PT de golpista, defendi a democracia.”
Sobre o PMDB: “O PMDB é isso
que a gente sempre conheceu”. (...) “Nós vamos contar com uma parte do PMDB que
contaríamos mesmo se não houvesse o vice-presidente (...) e não vamos contar
com o PMDB que sempre foi, como Michel Temer, ligado ao outro lado.”
Sobre Eduardo Cunha e Michel Temer: “Conheço bem
os dois, de longa data. Temer conspira há algum tempo, tenho informações a
respeito.” (...) “O vice é um homem do Cunha, e não o inverso. Está
completamente comprometido.” (...) “Cunha vai para a cadeia”. (...) “O Brasil
está mostrando que suas instituições estão funcionando. Podem ser lentas, podem
ser contraditórias (...), mas estão funcionando”. “Você tem senador preso em
flagrante, banqueiro na cadeia, coisa que nunca aconteceu.”
Sobre a carta de Temer a Dilma: “Nunca vi
coisa tão ridícula, de tão baixo nível (...) cretina e risível”. (...) “Um festival
de vaidades e de mágoas”. (...) “Você não nomeou fulano” (...), “foi ver não
sei quem e não me levou”. (...) “Quem vazou o texto para a mídia foi ele.”
Sobre Aécio Neves: “É um velho e
querido amigo, mas estou chocado como mudou. Um neto de Tancredo Neves jamais
poderia pôr sua biografia em um itinerário golpista comandado por um chefe de
quadrilha como é o caso do Eduardo Cunha.”
As instituições
e o momento político
Cesar Vanucci
imediatos
é um pouco como perder a alma
imaginando que se está ganhando o mundo".
(Ministro Luís Roberto Barroso, do STF)
Tempos danados de confusos. Minorias
ativistas, de diferentes tendências, utilizando aguerridas tropas de choque e
retórica pomposa mode camuflarem seus reais propósitos, parecem firmemente
empenhadas em instituir o caos. O pior, a eles, se lhes afiguram, nesta hora,
como a melhor alternativa.
Tão estrábica concepção da conjuntura
político partidária arrasta tais agrupamentos a ignorarem, tantas as
maquinações urdidas, os sentimentos dos filiados do maior partido nacional. Os
brasileiros desse grande Partido chamado Brasil.
A crise política exige tomada de posição
urgente. Decisões ancoradas no bom senso e no respeito intransigente aos
postulados democráticos. Como, aliás, expresso na poderosa conjugação de
vontades que trouxe a público o ponto de vista sobre a realidade brasileira de
Governadores de Estado, Juristas conceituados, líderes de organizações
representativas dos diversificados segmentos da sociedade, casos da CNBB, CNI,
Fiemg, Associação Comercial Minas e outras entidades classistas, patronais e
laborais, noves fora, como de praxe, para a incorrigível Fiesp.
Os clamores e as expectativas da
comunidade nacional voltam-se para definições políticas relevantes, a serem
logo anunciadas, de maneira a que os desafios de natureza econômica possam ser
enfrentados e equacionados, com a retomada de investimentos e sem mais agravos
às políticas de inclusão social e à empregabilidade.
As adversidades não são poucas, forçoso
admitir. Mas não há como, por outro lado, deixar também de reconhecer, em reta
e lisa verdade, que coisas positivas estão ocorrendo, sob determinados
aspectos. Das próprias vicissitudes estamos conseguindo, como Nação consciente
de sua pujança democrática, extrair resultados de alguma forma bastante
positivos. Ressoam como compensação para as numerosas contrariedades
confrontadas. Nossas instituições vêm funcionando a contento, animamo-nos a
dizer. Os poderes competentes movem, com relativa eficácia, combate sem tréguas
à corrupção sistêmica de décadas.
Se assestarmos o olhar, pra ficar apenas
num exemplo, numa investigação das muitas em curso – a chamada “Lava-Jato” -,
iremos nos deparar com revelações extremamente sugestivas. A operação já
flagrou, em procedimentos condenáveis, um punhado de empresários inidôneos e
agentes públicos infiéis, além de 68 figurões da política, de diferentes
legendas, com destaque para o PP (31 filiados), PT e PMDB (12 cada um). De
outra parte, são em número de 57 os indivíduos já condenados a penas que,
somadas, chegam a 700 anos. Os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado
são alvos de atenção nos inquéritos. À cadeia já se acham recolhidos um
senador, ex-líder do Governo, os donos de algumas das maiores empreiteiras do País,
um banqueiro, ex-diretores de organizações estatais. Gente que, até dia desses,
era vastamente badalada nos círculos mundanos como celebridades com direito ao
desfrute de prerrogativas especiais, entre elas a impunidade, nada obstante os
malfeitos praticados. Esse acerto de contas é conquista de agora, recentíssima.
Revela um despertar de consciência que atende aos superiores interesses da
coletividade.
As considerações acima estavam alinhadas
quando se fez conhecida a decisão do STF de botar ordem no processo referente
ao debate sobre a proposta do impedimento presidencial, conduzida de forma
imprópria e descabida pelo presidente da Câmara dos Deputados, com o apoio de
correntes oposicionistas. O posicionamento da Corte documentou, uma vez mais,
que as instituições estão sabendo responder adequadamente às demandas republicanas
do Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário