sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Cadê as manchetes e chamadas?

Cesar Vanucci

“Fazer o bem é um ótimo investimento!”
(Elie Horn, empresário)

No noticiário nosso de cada dia aquela sobrecarga toda de calamidades pessoais e coletivas. Tragédias reais, tragédias imaginárias. Demonstrações comportamentais opostas às regras civilizadas da boa convivência. Manifestações furibundas de mau humor, de mau agouro, de pessimismo dilacerante. Agressões permanentes a valores que conferem dignidade à aventura da vida. Paixões elevadas a estado de paroxismo intolerável. Um vale tudo que revira as coisas de cabeça pra baixo.

Culpa de quem mesmo? Bem avaliadas as circunstâncias, sobra pra todos alguma dose de culpa no cartório. Ser simples protagonista no enredo encenado pode não nos eximir por inteiro de ônus naquilo que de errado anda pintando no pedaço. Omissões, comodismo, fuga a deveres básicos, ignorância, insensibilidade social despontam, às vezes, como fatores determinantes de procedimentos que alvejam estrepitosamente o interesse público.

Procurando refletir, a grosso modo, aquilo que considera o rumo das tendências e preferências populares, concentrando-se obsessivamente na preocupação de cortejar o público, mas descuidando-se de seu papel pedagógico de orientar, a mídia apela amiúde para fórmulas sensacionalistas de comunicação. Enfatiza em demasia, com pouca consciência dos limites éticos, aspectos sombrios da conduta humana. Usa e abusa da repetição de dados e imagens que escancaram lances mórbidos do dia-a-dia. Esse enfoque equivocado na rotina da comunicação acaba obscurecendo um mundão de atos, gestos, realizações, empreendimentos que, ao contrário das ocorrências negativas insistentemente divulgadas, projetam animadoras e benfazejas perspectivas criadas pela cidadania no enfrentamento dos desafios da vida.

Os relatos sobre decisões positivas, atitudes enriquecedoras revelam-se escassos no noticiário. Há um excesso de comedimento, digamos assim, na propagação de fatos que tais. Em função disso, a opinião pública acaba sendo penalizada com desinformação sistemática a respeito de feitos extraordinários.  De situações merecedoras de aplausos e louvores nascidas de inspirados momentos em trajetórias pessoais de vida pública um tanto quanto diferenciadas dos caminhos trilhados por certas celebridades que frequentam desairosamente as manchetes. Neste preciso instante, marcado por inúmeros casos de personagens de destaque empresarial comprometidos com malfeitorias, acaba de ser registrada, por exemplo, uma história edificante, não divulgada com o realce de que se faz merecedora, envolvendo um cidadão do ramo industrial que resolveu assumir posicionamento de vida de incomparável magnitude.

Elie Horn, o nome dele. Dono de uma das maiores construtoras brasileiras, a “Cyrela”, com vários projetos em Minas, alguns recentes em Uberaba, possui fortuna avaliada em 4 bilhões de reais. Isso o remete à lista dos cem cidadãos mais ricos do país, segundo a “Forbes”. De nacionalidade síria, naturalizado brasileiro, avesso à badalação mundana, ele acaba de tomar memorável decisão, em nome também da esposa, Susy. Irá doar, ainda em vida, 60 por cento de seus bens para fins sociais, preferencialmente na área da educação. “Fazer o bem é ótimo investimento. Isso é tão óbvio, não entendo como as pessoas não compreendem” foi o que disse ao anunciar oficialmente adesão ao programa internacional “The Giving Pledge” (“Chamada à doação”). Até aqui é o único brasileiro inserido nesse programa criado em 2010 pelos bilionários Bill Gates e Warner Buffett, com o objetivo de incentivar homens de boa vontade a doarem parte das fortunas às causas sociais. Horn já é conhecido como grande filantropo pelas contribuições asseguradas a iniciativas humanitárias. Aos 71 anos, trabalhando todos os dias (“Aposentadoria é covardia”, costuma dizer), esse cidadão de dons singulares traduz numa frase seu modo de encarar a vida: “Como seres humanos, não vamos carregar nada além de nós para outro mundo. A única coisa que levamos são as boas coisas que nos acompanham em vida. Nós estamos no mundo para ser testados e cada um de nós deve transferir o que consegue com suas habilidades.”


Tirar o chapéu pra ele! E, a propósito, cadê as manchetes, as repetitivas chamadas dos telejornais, que nada dizem a respeito desse gesto de suprema grandeza de espírito?


Ciro solta o verbo

Cesar Vanucci

“O Brasil está mostrando que suas instituições estão funcionando.”
(Ciro Gomes)


Acúmulo de lances inesperados e perturbadores, rendendo fervilhantes desdobramentos, bagunçou o coreto pra valer. Vem dificultando análises atualizadas da conjuntura política.

Integrando o elenco titular do teatro político, pela condição de ex-Governador, ex-Ministro e candidato potencial à Presidência, o cearense Ciro Gomes não figura no rol dos personagens sob o foco central dos holofotes nas azedas contendas da hora presente. Seu relativo distanciamento do epicentro dos acontecimentos não o impede, entretanto, de opinar sobre as questões que no momento galvanizam a atenção pública. Ele o faz com grande fluência verbal, sem papas na língua, como se costuma dizer na linguagem das ruas, para emitir conceitos que geram controvérsias, arrancando aplausos e críticas, mas que não deixam de representar, de forma arguta e lúcida, uma linha de pensamento relevante para o debate democrático.

Em depoimentos recentes a Rodrigo Martins, na “CartaCapital”, e Felipe Castanheira, em “O Tempo”, Ciro soltou o verbo. Assestou a metralhadora giratória em próceres da situação e da oposição que frequentam as manchetes com assiduidade diária. À vista da relevância do papel que lhe está sendo reservado no enredo político, sua fala é por demais oportuna.

Ciro Gomes com a palavra.

Sobre o governo de Dilma: “O povo acha o governo um desastre, com boa dose de razão”. (...) “Dilma é decente, bem-intencionada, comprometida com o País. Mas o governo precisa mudar. A gestão da economia é ruinosa. O balé que Dilma faz com chantagistas passa um sinal contraditório do compromisso real dela com a decência. Durante 12 anos, o povo viu sua vida melhorar”. (...) “Mas agora vê tudo regredir, o salário, as políticas de proteção social, os investimentos de infraestrutura, os serviços públicos.”

Sobre o “impeachment”: “A solução do problema para um governo que a gente não gosta não é a ruptura com o calendário democrático, nem com as instituições, porque isso introduz no País uma instabilidade, um potencial de violência política que demoraríamos muitos anos para corrigir”. (...) “Em nenhuma hipótese a solução é um golpe”. (...) “Corremos o risco de colocar no comando do País alguém sem legitimidade, comprometido medularmente com a corrupção.”

Sobre o PT: “O PT tem que ceder um pouco o seu protagonismo, porque parte do problema é o PT.”

Sobre o PSDB: “O PSDB está cometendo equívoco histórico”. (...) “Embora não concorde com os rumos que eles advogam para o País, não se pode desconhecer que há ali gente muito qualificada e respeitável e toda essa respeitabilidade está sendo jogada no lixo por esse caminho golpista”. (...) “Quando o PT cometeu o mesmo desatino de tentar derrubar o FHC, eu, que tinha acabado de sair da eleição derrotado, tomei a mesma conduta. Condenei o PT, chamei o PT de golpista, defendi a democracia.”

Sobre o PMDB: “O PMDB é isso que a gente sempre conheceu”. (...) “Nós vamos contar com uma parte do PMDB que contaríamos mesmo se não houvesse o vice-presidente (...) e não vamos contar com o PMDB que sempre foi, como Michel Temer, ligado ao outro lado.”

Sobre Eduardo Cunha e Michel Temer: “Conheço bem os dois, de longa data. Temer conspira há algum tempo, tenho informações a respeito.” (...) “O vice é um homem do Cunha, e não o inverso. Está completamente comprometido.” (...) “Cunha vai para a cadeia”. (...) “O Brasil está mostrando que suas instituições estão funcionando. Podem ser lentas, podem ser contraditórias (...), mas estão funcionando”. “Você tem senador preso em flagrante, banqueiro na cadeia, coisa que nunca aconteceu.”

Sobre a carta de Temer a Dilma: “Nunca vi coisa tão ridícula, de tão baixo nível (...) cretina e risível”. (...) “Um festival de vaidades e de mágoas”. (...) “Você não nomeou fulano” (...), “foi ver não sei quem e não me levou”. (...) “Quem vazou o texto para a mídia foi ele.”

Sobre Aécio Neves: “É um velho e querido amigo, mas estou chocado como mudou. Um neto de Tancredo Neves jamais poderia pôr sua biografia em um itinerário golpista comandado por um chefe de quadrilha como é o caso do Eduardo Cunha.”

As instituições e o momento político

Cesar Vanucci

"Abalar instituições para obter resultados políticos
imediatos é um pouco como perder a alma
 imaginando que se está ganhando o mundo".
(Ministro Luís Roberto Barroso, do STF)

Tempos danados de confusos. Minorias ativistas, de diferentes tendências, utilizando aguerridas tropas de choque e retórica pomposa mode camuflarem seus reais propósitos, parecem firmemente empenhadas em instituir o caos. O pior, a eles, se lhes afiguram, nesta hora, como a melhor alternativa.

Tão estrábica concepção da conjuntura político partidária arrasta tais agrupamentos a ignorarem, tantas as maquinações urdidas, os sentimentos dos filiados do maior partido nacional. Os brasileiros desse grande Partido chamado Brasil.

A crise política exige tomada de posição urgente. Decisões ancoradas no bom senso e no respeito intransigente aos postulados democráticos. Como, aliás, expresso na poderosa conjugação de vontades que trouxe a público o ponto de vista sobre a realidade brasileira de Governadores de Estado, Juristas conceituados, líderes de organizações representativas dos diversificados segmentos da sociedade, casos da CNBB, CNI, Fiemg, Associação Comercial Minas e outras entidades classistas, patronais e laborais, noves fora, como de praxe, para a incorrigível Fiesp.

Os clamores e as expectativas da comunidade nacional voltam-se para definições políticas relevantes, a serem logo anunciadas, de maneira a que os desafios de natureza econômica possam ser enfrentados e equacionados, com a retomada de investimentos e sem mais agravos às políticas de inclusão social e à empregabilidade.

As adversidades não são poucas, forçoso admitir. Mas não há como, por outro lado, deixar também de reconhecer, em reta e lisa verdade, que coisas positivas estão ocorrendo, sob determinados aspectos. Das próprias vicissitudes estamos conseguindo, como Nação consciente de sua pujança democrática, extrair resultados de alguma forma bastante positivos. Ressoam como compensação para as numerosas contrariedades confrontadas. Nossas instituições vêm funcionando a contento, animamo-nos a dizer. Os poderes competentes movem, com relativa eficácia, combate sem tréguas à corrupção sistêmica de décadas.

Se assestarmos o olhar, pra ficar apenas num exemplo, numa investigação das muitas em curso – a chamada “Lava-Jato” -, iremos nos deparar com revelações extremamente sugestivas. A operação já flagrou, em procedimentos condenáveis, um punhado de empresários inidôneos e agentes públicos infiéis, além de 68 figurões da política, de diferentes legendas, com destaque para o PP (31 filiados), PT e PMDB (12 cada um). De outra parte, são em número de 57 os indivíduos já condenados a penas que, somadas, chegam a 700 anos. Os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado são alvos de atenção nos inquéritos. À cadeia já se acham recolhidos um senador, ex-líder do Governo, os donos de algumas das maiores empreiteiras do País, um banqueiro, ex-diretores de organizações estatais. Gente que, até dia desses, era vastamente badalada nos círculos mundanos como celebridades com direito ao desfrute de prerrogativas especiais, entre elas a impunidade, nada obstante os malfeitos praticados. Esse acerto de contas é conquista de agora, recentíssima. Revela um despertar de consciência que atende aos superiores interesses da coletividade.

As considerações acima estavam alinhadas quando se fez conhecida a decisão do STF de botar ordem no processo referente ao debate sobre a proposta do impedimento presidencial, conduzida de forma imprópria e descabida pelo presidente da Câmara dos Deputados, com o apoio de correntes oposicionistas. O posicionamento da Corte documentou, uma vez mais, que as instituições estão sabendo responder adequadamente às demandas republicanas do Brasil.

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