Incrível profecia
Cesar Vanucci
“Está na vida o
mistério.”
(Henriqueta Lisboa)
Amável mensagem do renomado escritor
Carlos Perktold, a proposito do artigo “Espantoso recado”, publicado na edição
de 14 de novembro do DC, animou-nos a trazer outro relato instigante na linha
da chamada “temática transcendente”. Antes, entretanto, de recontar a estranha
história, vejamos o que Perktold falou: “Ave Cesar, Incrível sua coluna de hoje,
da qual acredito de A-Z. São mistérios que vamos demorar milhões de anos para
descobrir.
Maior surpresa ainda foi sabê-lo irmão
do Augusto Cesar Vanucci, que nos deixou cedo e era brilhante diretor de
espetáculos da Globo, ator, participou de vários filmes nacionais. Era meu
admirado à distância. Meu abraço”.
Agora,
sim, vem o relato prometido.
Tanto quanto
a morte, a vida é recheada de mistérios imperscrutáveis. É como, aliás,
sublinha Henriqueta Lisboa, em sugestivo registro poético: “Não na morte. Está
na vida o mistério. Em cada palavra ou abstinência.” Fatos desconcertantes e
enigmáticos, inexplicáveis sob as luzes mais profusas do conhecimento
consolidado, deixam gravada na memória e na emoção da gente, por vezes, uma
interrogação que nos acompanha pela existência inteira. Ao longo de extensa
caminhada como repórter e como estudioso de fenômenos transcendentes, pude
reunir expressivo acervo de casos instigantes que, pelo tradicional enfoque da
lógica racional, não passam de tremendas charadas de interpretação impossível.
Aqui está um
desses casos.
Abril de
1952. Eu deixava a redação do “Diário do Triângulo”, localizada na avenida
Leopoldino de Oliveira, centro da cidade de Uberaba, para uma reportagem. Naquele tempo o córrego das Lajes deslizava,
como sugestivo adorno, por toda a extensão da avenida. Não havia ainda sido
enclausurado nas entranhas da terra em nome de uma questionável modernice
urbanística. O jornal era dirigido por Souza Junior, filho de Nicanor de Souza,
pioneiro no jornalismo diário na região do Triângulo Mineiro.
Procurava um
transporte, quando avistei, estacionando nas imediações, o jipe de um grande
amigo, o então pracista de produtos farmacêuticos José Marcus Cherém. Ele
ofereceu-me carona e, atraído pelo assunto da pauta que iria cumprir, dispôs-se
a acompanhar-me pelo tempo necessário na coleta dos dados.
É hora, a
esta altura, de explicar que o meu deslocamento, naquela manhã, a uma casa
modesta, de cinco cômodos, na região da Abadia, prendia-se à intrigante
revelação de que no local estava ocorrendo uma sucessão de fenômenos
sobrenaturais que mantinham moradores e vizinhos em verdadeiro sobressalto.
Objetos se movimentavam de um lugar pra outro como se mãos invisíveis os
empurrassem. Escritos a carvão eram impressos, de repente, nas paredes, ao
mesmo tempo que pequenos focos de incêndio irrompiam, brusca e
assustadoramente, num ou noutro ponto do lugar. Tinha-se ali bem configurado o
que especialistas em parapsicologia costumam denominar de “polstergeist”,
expressão vinda do alemão. Cabe, agora, esclarecer que muitos especialistas na
matéria costumam estabelecer uma estranha conexão entre o fenômeno e a
presença, nas moradias em que ocorre esse tipo de manifestação, de adolescente
em fase inicial de menstruação. Para o pessoal da redondeza a casa era mal
assombrada e regida por forças demoníacas.
Seguindo com
máxima atenção o que vinha rolando, depois de providenciar a limpeza das
paredes da sala onde a escrita a carvão era misteriosamente produzida, trancamos
a porta que dava acesso à dependência por uns poucos minutos. Ao reabri-la, o
inacreditável explodiu diante dos olhos. Paredes, teto e piso estavam coalhados
de dizeres. A frase mais saliente, espalhada por tudo quanto é canto,
anunciava: “Cherém, futuro deputado!” Tomados de assombro, pudemos testemunhar
que os registros caligráficos, nos termos descritos, se repetiram por mais de
uma vez, até o fenômeno, passados alguns dias, se extinguir tão subitamente
quanto começou.
Os dizeres a
carvão tiveram força de presságio. Anos mais tarde, José Marcus Cherém, optando
de repente pela carreira política, foi eleito, sucessivamente, vereador,
presidente da Câmara de Uberaba, vice-prefeito, deputado estadual, vindo a
exercer o cargo de Secretário de Estado. Bem provavelmente, teria chegado, por
força de talento, simpatia e méritos, ao Congresso Nacional, caso não houvesse
sido arrebatado prematuramente de nosso convívio por uma enfermidade cardíaca.
Lembro-me bem: na semana que antecedeu sua partida, visitando-o no hospital,
consagramos, os dois, um bom pedaço do papo fraternal entre amigos de longos
anos à rememoração daquela incrível profecia, expressa de modo tão perturbador
e enigmático numa manhã de abril do ano de 1952, no bairro da Abadia, em
Uberaba.
Interrogações inquietantes
Cesar Vanucci
“Pergunta, em tom entre intrigado e
irônico: mas quem será
que vende as armas ao Estado Islâmico e
seus terroristas?”
(Mino Carta, jornalista)
A
trajetória do “Califado Islâmico”, com sua apavorante visão do mundo, é repleta
de inquietadoras interrogações. A crueldade dos atos praticados pela falange
fundamentalista deixa um rastro de aturdimento e indignação no espírito
popular. Leva as pessoas a matutarem sobre quais poderiam vir a ser mesmo as
causas mais remotas de tão incontrolável fúria.
Fica
inadmissível supor que a intolerância religiosa, mesmo no grau de exacerbação
mais elevado, seja capaz de desencadear tantas manifestações hostis aos que
professem ideias diferentes das expressas nos “dogmas de fé” do EI. “Dogmas”
esses criados nas cacholas enfermas desses falsos arautos do Islã. Aliás,
porta-vozes credenciados do Islã, uma corrente espiritual de nobres inspirações
humanísticas, ocupam as fileiras da frente na condenação pública veemente às execráveis
interpretações dos textos sagrados feitas por esses fanáticos engajados em “guerra
santa” contra a civilização. O Papa Francisco classificou, recentemente, de
“blasfema” a alegação de que as calamidades produzidas por obra do Califado
atendem à vontade divina. Mas, olhando bem por dentro a questão, é possível
chegar-se também à conclusão de que a busca de justificativa para a maldade constitui,
desde sempre, um esforço totalmente inócuo.
A
expansão crescente do Califado gera um punhado de desassossegantes
interrogações. As explicações fornecidas a respeito das situações cabulosas
detectadas deixam muito a desejar.
De
onde procede essa dinheirama toda aplicada pelo EI? Ainda agora, depois do
“massacre de inocentes” em Paris, repetiu-se que os recursos do movimento
terrorista advêm da venda de produtos extraídos dos poços de petróleo sob seu
controle. Mas, “pera aí”. Tal explicação chega a ser simplória. É lógico supor
que um bombardeio aéreo bem articulado, dos numerosos feitos pelas aviações
mais bem equipadas do planeta, possa desmantelar em poucos momentos qualquer
estrutura de produção, refino e armazenamento de combustível. Existiriam, por
acaso, razões supervenientes, bastante poderosas, acima da compreensão comum,
que desaconselhassem reação armada nesses termos?
Avancemos
um pouco mais. A comercialização de combustível pressupõe montagem de esquemas
logísticos eficazes para que o produto seja levado do ponto de partida ao
destino. Estamos falando de oleodutos, frota de caminhões, transportes marítimo
e ferroviário. Desnecessário sublinhar que tudo isso também pode ser
neutralizado em curta fração de tempo com ataques aéreos.
Outro
lance intrigante. Venda e compra de óleo não são feitas, obviamente, sem intercessão
bancária. Qual é o sistema bancário que dá sustentação às transações? Seria impraticável para órgãos de
segurança dos governos interessados averiguarem como se operam as negociações?
Há
outros aspectos nebulosos (ou serão tenebrosos?) a comentar. As tropas do EI, a
televisão não cansa de mostrar, dispõem de considerável equipamento bélico. São
tanques, mísseis, carros de assalto, artilharia pesada, por aí. Aceitando, para
fins de argumentação, a discutível tese de que esse arsenal tenha sido formado
com exclusivo material capturado aos adversários, deparamo-nos com um
probleminha logístico de solução complicada. Como é que os terroristas se
arranjam com a reposição de peças? E com a renovação dos estoques de munição?
Como tudo chega até eles? As fontes fornecedoras das mercadorias essenciais ficam
localizadas onde mesmo? E, de novo, quais são as conexões bancárias utilizadas?
Já
se aventou a hipótese de que o Califado seja financiado, nos bastidores, por
forças ocultas. Fundamentalistas encastelados em centros decisórios do poder
político de outro país. Talvez até de algum país integrante da coalizão montada
para combate a aguerrida facção. Caso de relembrar aqui desnorteante revelação
há tempos trazida a público pelo jornalista e cineasta Michael Moore. Conta ele
que nas mesquitas de Riad, capital da Arábia Saudita, ocorreram efusivas
celebrações por ocasião da derrubada das Torres Gêmeas em Nova Iorque.
São
numerosas, visto está, as charadas que clamam por decifração. A começar pela
tremenda dificuldade que os observadores encontram, em não raros momentos, para
definir com precisão quem está inteiramente contra ou inteiramente a favor de
quem. Confusão das arábias. O caótico
cenário está tomado por movediços interesses e conveniências geopolíticos, econômicos,
militares.
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