A carta dos
advogados
Cesar Vanucci
“Para que esse movimento seja de fato
transformador é essencial que não
existam falhas processuais.”
(Editorial
do DC de 20.01.2016)
Advogados renomados tornaram pública, em
manifesto à Nação, frontal discordância quanto à condução dos processos
investigatórios relacionados com a chamada operação “Lava-Jato”. Entre as
situações merecedoras de crítica, segundo eles, são apontados o desvirtuamento
do uso da prisão provisória, o vazamento seletivo de documentos e informações
sigilosas, levando os indiciados à execração pública antes de estabelecida a
certeza de sua culpabilidade.
O pronunciamento dos juristas, que faz
menção também ao que é definido como desrespeito flagrante às prerrogativas
constitucionais da advocacia, com efeitos contraproducentes à desejável isenção
dos julgamentos, provocou inflamadas controvérsias.
Entidades representativas dos
magistrados e dos promotores saíram de pronto a campo para contestar com
veemência a manifestação. Taxaram-na de agressão descabida à Justiça, que vem
se comportando no desdobramento do caso perfilado, segundo elas, com exemplar
correção. Sustentaram também que todos os procedimentos na esfera judicial
timbram-se por rigorosa fidelidade aos termos estritos da lei e que as decisões
tomadas estão amparadas em elementos probatórios convincentes. A acesa
discussão alcançou, obviamente, outros segmentos da comunidade, ganhando realce
nos meios de comunicação.
De quantos – e foram muitos – se
ocuparam da palpitante questão, consideradas aí as leituras a que teve acesso
este escriba, o editorialista do artigo de fundo (como era de bom tom dizer-se
em tempos antigos) do “Diário do Comércio”, edição de quarta-feira, 20 de
janeiro, foi quem, a meu ver, melhor e com mais perfeita exatidão soube resumir
as colocações jurídico-legais evocadas na contenda, extraindo com lucidez as
conclusões adequadas.
Vale a pena repetir o que foi sublinhado
no editorial citado. Veja trecho na sequência: “Os processos em curso, e não
exclusivamente aqueles que envolvem a Petrobras e suas subsidiárias, podem
fazer mais que desmontar redes de corrupção, expondo relações impróprias entre
o público e o privado. Estão sendo desnudados os aspectos mais sombrios da
política, primeiro passo para o resgate de valores que foram sendo apagados ao
longo do tempo. Para que esse movimento seja de fato transformador é também
essencial que não existam desvios, falhas processuais ou mesmo abusos que
adiante possam abrir espaços para recuos. Defender o interesse público e
recolocar a ética em primeiro plano, demanda que seja resguardada a absoluta
correção processual, sem qualquer injunção que se afaste desse patamar. Nesse
sentido, e até independentemente da apreciação mais ampla de seu conteúdo, cabe
tomar a carta dos advogados como um alerta. Para que nenhum direito, seja de
quem for, seja suprimido ou agredido, para que os processos em curso sejam de
fato saneadores e, sobretudo, transformadores.”
As lágrimas de
Obama
Cesar Vanucci
“O lobby das armas não pode fazer a
América de refém.”
(Barack
Obama)
Alguns insinuam que tudo não passou de
estudada encenação mode sensibilizar desprevenidas arquibancadas. Aprontação
marqueteira lambuzada de demagogia populista.
Mas não foi bem assim que o desajeitado
escriba amigo de vocês viu o choro de Barack Obama ao vivo e em cores. A emoção
na fala pareceu bastante sincera. Razões poderosas não faltam, por certo, para
que ele e muitos de seus compatriotas externem publicamente pesar dolorido
diante da calamidade confrontada pela sociedade estadunidense com a paranoica
politica vigente no país, que garante a qualquer um, menores inclusive, o livre
acesso a armas de qualquer calibre para usos ajustados a toda sorte de
conveniências nocivas.
Soa incompreensível nos ouvidos dos autênticos
humanistas e democratas, gerando infinita perplexidade e justificados temores,
os argumentos levantados por adversários do Presidente dos Estados Unidos
quando se contrapõem, com furor, reconhecer-se-á talebanista, aos bem
intencionados planos governamentais referentes ao fortalecimento dos esquemas
de controle das armas de fogo. À luz do senso comum, o pacote de medidas
restritivas anunciado chega a ser incrivelmente tímido. Fica bem aquém das
expectativas legítimas que possam ser geradas, em qualquer ambiente civilizado,
pelo cidadão do povo, com vistas a garantir a paz e a tranquilidade à sua
volta.
O que Obama quer, nas ordens executivas
divulgadas debaixo do fogo cerrado de desvairados oposicionistas, é
simplesmente dificultar a venda a rodo de armas. É estabelecer um ordenamento
mínimo na comercialização desenfreada. O que propõe montar é um sistema
razoavelmente confiável de controle dos antecedentes dos compradores e
vendedores. A quase totalidade deles age com plena liberdade em atividades
comerciais – pasmo dos pasmos – online e em “feiras e eventos de produtos” onde
não se exige dos fornecedores dos mortíferos artigos licenciamento legal para o
trabalho. O que Obama pede é maior rigor na liberação de autorizações de porte
de armas e proibição taxativa na aquisição por pessoas não devidamente
identificadas. O rastreamento do perfil dos compradores, entende ele
sensatamente, concorrerá para reduzir as possibilidades de que as armas caiam
nas mãos de elementos perniciosos à convivência humana.
Circulam hoje nos Estados Unidos em
poder de civis mais de trezentos milhões de armas, quantidade superior aos
estoques de muitos exércitos. A indústria armamentista, responsável maior por
essa pandemia, recusa-se a submeter-se a qualquer legislação que lhe retire o
“direito” de comerciar livremente suas mercadorias. Isso fere, esbraveja
farisaicamente, o “direito de liberdade pessoal”. Para a poderosa Associação
Nacional do Rifle, uma excrecência associativa que se pretende ser levada
realmente muito a sério, o que entra em jogo são “prerrogativas constitucionais
legítimas”, escoradas na necessidade social - vejam só o tamanho do absurdo! –
de se ter uma milícia bem ordenada para segurança do Estado. Em assim sendo, o
“direito” do cidadão possuir e portar armas carece ser garantido a qualquer
custo. Melhor dizendo, a qualquer preço...
Trata-se, visto está, de assustadora
“aberração jurídica”. Sobretudo quando se tem presente o macabro registro das
milhares de pessoas vitimadas por armas de fogo. E o que não dizer dos
massacres de inocentes periodicamente promovidos por atiradores solitários que
priorizam escolas – sabe-se lá por quais demenciais propósitos – como alvos dos
atentados?
Obama falou desses atentados enquanto as
lágrimas escorriam. Usou palavras candentes para lamentar o que vem ocorrendo
frequentemente “nas ruas de Chicago”. Estranhavelmente, nada li ou ouvi, em
nenhum órgão de divulgação explicações complementares a respeito de qual
problema grave de violência sistemática a que o Presidente dos EUA estaria se
reportando nesse trecho específico de sua alocução.
Em cenas mostradas na televisão,
colhidas em diferentes cidades dos Estados Unidos, aparecem cidadãos comuns
circulando pelas ruas carregando “normalmente” cinturões com pistolas automáticas
e pentes de balas no mais rematado estilo faroeste. As imagens fornecem-nos
aterrorizante exemplo daquilo que, bem provavelmente, fez Obama verter
lágrimas.
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