Crise
econômica mundial
Cesar Vanucci
“Fatores domésticos manjados e
deplorados concorrem para a crise econômica brasileira. Mas não se pode
ignorar, também, a circunstância de que a crise mundial afeta a vida nacional.”
(Antônio
Luiz da Costa, educador)
Ao
nos louvarmos no que as manchetes e as colunas econômicas habitualmente
propalam, o Brasil anda mal o tempo todo em matéria econômica. Em contraste,
por sinal, com a relativamente bem sucedida performance econômica dos países
desenvolvidos ou em desenvolvimento. Não existiriam lá fora, ao contrário do
que estaria acontecendo aqui dentro, sinais tão pronunciados de fragilidade
econômico-financeira com riscos de impacto negativo na economia geral.
As
revelações de que nas primeiras seis semanas do ano em curso, em tudo quanto é
canto do planeta, as bolsas despencaram, acusando o pior desempenho de um
inicio de ano de todos os tempos (incluído aí o próprio período da chamada
“grande depressão”) não são de molde a alterar em nada as doutas avaliações
circulantes na mídia. A crise brasileira seria um fenômeno quase que isolado no
contexto mundial. Não estaria sujeita a qualquer fator de influência externa...
A
circunstância de que, inesperadamente, da noite pro dia, como resultado do frenético e enigmático jogo das bolsas,
evaporou-se soma equivalente a 24 trilhões de reais, praticamente duas vezes a
riqueza bruta nacional, não estimulou analistas conceituados a reverem os
conceitos. A admitirem ligeiríssima
possibilidade de que a conjuntura internacional possa estar, de alguma maneira,
acrescida das manjadíssimas distorções comportamentais domésticas, afetando as
atividades econômicas brasileiras neste momento. Difícil supor que um esquema
desses, com tais características de informação incompleta ou de desinformação,
não decorra de uma disposição clara, sabe-se lá com que propósitos, de má
vontade rematada com relação às coisas nossas.
Há
no ar indícios sólidos de enfraquecimento das estruturas financeiras
internacionais. Inevitável associar alguns perturbadores dados da atualidade a
situações vividas na crise de 2008 que tantos estragos deixou. Naquela ocasião,
como se recorda, os governos estadunidense e europeu viram-se obrigados a
injetar recursos astronômicos nas instituições financeiras envolvidas nas ações
fraudulentas detectadas, impedindo com essa emergencial ajuda que a debacle
econômica se tornasse ainda mais contundente.
Alguns
dos indícios das fragilidades presentes do sistema econômico podem ser colhidos
nos números constantes de estudos divulgados por organismos internacionais que
acompanham a atuação das instituições bancárias. Num quadro demonstrativo do
comportamento recente das 21 maiores organizações bancárias norte-americanas e
europeias é assinalado que todas essas organizações, sem exceção alguma,
sofreram quedas acionárias vertiginosas nas bolsas de todo o mundo em apenas um
mês. Ativos fabulosos foram reduzidos quase à metade, em curtíssimo período,.
Alinhamos
na sequência alguns exemplos. O Unicredit da Itália sofreu desvalorização
assustadora: 41.6%. A desvalorização das ações do Deutsche Bank, da Alemanha, o
maior banco da Europa, foi de 39.1%. A do Credit Suisse foi de 37.4%. No
tocante aos demais bancos listados as quedas de ativos andaram bem próximas dos
índices acima apontados.
Alguma
coisa bastante grave anda, na verdade, rolando no cenário econômico mundial.
Nem tudo que acontece vem sendo, entretanto, trazido ao conhecimento da opinião
pública brasileira pelos órgãos de comunicação social.
Uma
tragédia sem fim
Cesar
Vanucci
“Triste sinal dos tempos: milhares de
pessoas protestaram nas ruas e nas redes sociais contra estupro que não houve.
Esse foi mais um lance dramático contra a acolhida aos refugiados no território
europeu”
(Antônio
Luiz da Costa, educador)
Organizações
humanitárias engajadas em operações de socorro, tomadas de estupefação e
angústia, constatam que o sofrimento e as provações dos refugiados não cessam
nunca. Nem quando nos casos em que o
almejado asilo se lhes é concedido.
Já
somam mais de dois milhões as indefesas criaturas imersas nessa “via crucis”
sem desfecho à vista. Elas foram expulsas pelos horrores das guerras e da
miséria dilacerante que tomou conta de seus territórios e reduziu a escombros
seus lares. Sobreviveram a travessias marítimas traiçoeiras. Fatais, como
documentado, para muitos de seus companheiros de desdita. Recebidas de forma
quase sempre inamistosa, ou até mesmo francamente hostil, tornaram-se alvo
prioritário nas discriminações, intolerâncias e desconfianças cultivadas desde
sempre em muitas das regiões aportadas.
Nalguns
lugares ditos civilizados houve até quem lhes confiscasse pequenos pertences,
de valor financeiro relativo como simples alianças, à guisa de compensação pela
“generosa ajuda”... Fazem-lhes ver, não poucas vezes, que não são nem um
tiquinho bem-vindas. Tratados como párias, os refugiados colocam-se sob o fogo
cerrado de acusações torpes e mesquinhas, produzidas por discursos xenófobos e
racistas, frequentes em tempos de agora
no cenário político europeu.
Não
bastasse tudo isso, já não se mostrasse insuportável a carga volumosa de
infortúnios carregada sobre os ombros arqueados, os refugiados estão sendo
compelidos a confrontar ainda, consoante denúncias das organizações
humanitárias, inesperado e atordoante problema que representa libelo arrasador
aos padrões civilizatórios de que o mundo contemporâneo tanto se jacta.
A
revelação estarrecedora transmitida diz o seguinte: mais de dez mil menores
encontram-se, no presente momento, em locais incertos e não sabidos,
desapartados por inteiro do convívio dos pais ou responsáveis. Muitas as
hipóteses levantadas a respeito dos extravios. Terão sido sequestradas? Estarão
em poder de pessoas que não sabem lidar com a questão de seu reencaminhamento a
quem de direito? A terrível situação é consequência direta da desorganização,
dos embaraços burocráticos e de outros fatores adversos eclodidos em meio ao
turbilhão do processo das adaptações migratórias que ocorrem na Europa. Existe
fundado temor de que parte dos inocentes seres humanos, perdidos em ambientes
onde prevalecem hábitos e idiomas diferentes dos seus, possa ter sido capturada
por máfias que exploram o lenocínio e outras atividades ao arrepio da lei. Essa
história dolorosa, com divulgação de certo modo comedida na mídia
internacional, configura um drama asfixiante inserido numa tragédia que enche o
mundo de aturdimento, comoção e pavor, qual seja o êxodo dos milhões de
cidadãos escorraçados pela insanidade humana.
E
por falar em insanidade humana, vejam só o que aconteceu recentemente na
Alemanha num movimento amplo de repulsa a imigrantes muçulmanos articulado por
partidos radicais, de tendência nazista. Falso lance de estupro inspirou uma
manifestação hostil aos refugiados. Garota de 13 anos desapareceu de casa por
quase dois dias. Ao ser localizada, contou ter sido violentada por dois homens
de aparência norte-africana. As redes sociais fervilharam de indignação e
milhares de cidadãos inconformados com a política de acolhida aos imigrantes
resolveram sair às ruas em sinal de protesto. Descobriu-se, mais tarde, que a
história do estupro era improcedente. A menor havia apenas resolvido não voltar
pra casa devido à circunstância de haver sido repreendida por comportamento
inadequado na escola que frequentava.
Isso aí!
Os lucros do petróleo
Cesar
Vanucci
“Existe uma perigosa relação nossa com a família
real saudita.”
(Roberto
Bowman, diretor do programa “Guerra nas
Estrelas” em duas administrações estadunidenses)
Há alguns
dias andei utilizando este “minifúndio de papel” (tomando emprestada a
expressão empregada com constância pelo saudoso Roberto Drumond) para
reproduzir texto escrito sobre momentosa questão de anos atrás que conservou
frescor de atualidade. Repito agora a dose.
O artigo que
submeto na sequência à clarividente apreciação dos leitores diz respeito a uma
situação considerada, não é de hoje, por experimentados analistas da conjuntura
geopolítica, o “x” da questão nessa baita confusão das arábias reinante no
Oriente Médio, onde a Arábia Saudita desponta como protagonista rodeado de
suspeições. Foi publicado em fevereiro de 2002. Dizeres abaixo.
Em recente depoimento, um personagem acima de qualquer suspeita fornece
novos e preciosos subsídios à avaliação do perigo representado pelo
fundamentalismo saudita, beneficiado pela conivente cobertura dos Estados
Unidos. Trata-se de Roberto Bowman, frequentador há dezenas de anos dos
bastidores da política externa em seu país. Ele tem estado em constante contato
com os segredos e estratégias do Pentágono e Casa Branca. Foi diretor do
“Guerra nas Estrelas”, nas administrações Ford (74-77) e Carter (77-81). PHD em
engenharia aeronáutica e nuclear, dirigiu o ultrassecreto Departamento Nacional
de Reconhecimento de Satélites e Espionagem. Presidiu, ainda, até 1999, o
Instituto de Estudos para o Espaço e Segurança. Não bastasse tudo isso,
acumulou um estoque de medalhas, por haver participado de 101 missões de
combate no Vietnã.
O que disse à revista “IstoÉ”, oferecendo análise panorâmica da
política externa estadunidense, é impressionante. Vamos reproduzir a parte em
que fala do estranho e dúbio comportamento da Arábia Saudita.
Roberto Bowman com a palavra: “Dentro da perspectiva atual dessa guerra
(Afeganistão), nós, americanos, deveríamos tratar esses terroristas como
criminosos comuns e trazê-los para serem julgados aqui nos EUA ou em uma corte
internacional. Entrar numa guerra como essa é desaconselhável, porque eleva os
terroristas ao status de
guerreiros, o que eles não são. (...) O que não está sendo feito são as medidas
de longo prazo que envolvem acabar com as razões pelas quais somos odiados.
Isso significa resolver nossa dependência do petróleo do Oriente Médio, além de
promover alternativas energéticas nos EUA. Feito isso, poderíamos mudar nossa
política externa na região para não ter que apoiar ditaduras como a da Arábia
Saudita. Não teríamos que apoiar nenhum governo de Israel que violasse os
direitos dos palestinos. E seríamos capazes de ter uma política externa em que
não tivéssemos que colocar os direitos humanos dos árabes, especialmente das
mulheres, abaixo dos lucros das companhias de petróleo.”
E mais adiante: “As tropas americanas na Arábia Saudita são uma ofensa
ao povo muçulmano. (...) A guerra contra o Iraque foi fabricada. (...) Levamos
Saddam Hussein a invadir o Kuait. Fizemos uma armadilha para que ele caísse e
depois, quando ele concordou em sair, nós não o deixamos. (...) Existe uma
perigosa relação entre os EUA e a família real saudita. Nossas tropas não estão
ali para defender os interesses das populações dos países na região, mas
preocupadas com os lucros do petróleo.”
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