Situação danada de confusa
Cesar Vanucci
“Mesmo sem chance
de retornar ao cargo que o consagrou,
Cunha esforça-se
para manter o protagonismo.”
(José Roberto Toledo, jornalista)
A coisa anda ruça, meus caros. O
surrealismo ocupou pra valer os arraiais políticos, com tricas e futricas
inesperadas. A incompetência das lideranças de diferentes matizes, de todos os
lados, gerou confusão dos diabos. À hora fatal da mudança temporária (com visos
definitivos) do comando presidencial, os horizontes se revelam ainda toldados
com mais de 50 tons de cinza. Labora em ledo engano quem alimente a suposição
de que as nuvens espessas possam vir a ser rapidamente dissipadas. Queira Deus
que sim. Que os prognósticos sombrios desta hora sejam fragorosamente
desmentidos!
Afigura-se difícil pacas, para parcelas
ponderáveis da opinião pública, admitir sem questionamentos como
transformadoras, indicativas verdadeiramente de um marco histórico, as propostas
até aqui anunciadas pelos que entram no poder sem nunca dele ter saído. Como
olvidar sejam eles corresponsáveis, no duro da batatolina como se costumava
dizer em tempos de antanho, pela acumulação do tantão de desacertos e malfeitos
que desembocaram nas reações inconformadas das ruas? Poucas vezes a expressão
“troca de seis por meia dúzia” soou tão vigorosa quanto agora. Os comentários
dos que acompanham os desdobramentos da crise traduzem apreensão diante dos
sinais até aqui emitidos. Os nomes e os métodos lembram demais da conta filme
já assistido. Não há como deixar de classificar de psicodélico o enredo dessas
confabulações, arranjos, composições de bastidores concertadas no palco
político, tendo por fundo musical o emblemático samba do crioulo doido, do
saudoso Stanislau Ponte Preta, autor igualmente de outro símbolo muito adequado
para tempos estapafúrdios, o Febeapá (Festival de besteiras que assola o país).
O Ministério a ser constituído, não se
sabe dizer ainda se com o mesmo número exagerado de pastas, parece que não vai
abrigar, ao contrário do que se propalou, um “escrete de notáveis”. Muito
antes, pelo contrário. Por conta de negociações nadica de nada republicanas. O
“dá lá, toma cá” de sempre preside a escolha. Entre os indicados figuram cidadãos
que, até recentemente, desempenharam funções relevantes, com poder de caneta na
mão, no governo apeado e que, agora, renegam de forma inconvincente suas
vinculações com as irregularidades cometidas no passado. Outro item merecedor
de preocupação diz respeito a futuros ministros emaranhados nas teias das
investigações da Lava Jato. Faz jus, também, a avaliações críticas uma atitude
dúbia da oposição. Aceita, por um lado, funções ministeriais, enquanto, por
outro lado, contesta no Tribunal Superior Eleitoral a legitimidade da chapa do
PT/PMDB (Dilma – Temer) eleita em 2014.
Não passa desapercebido, de outra parte,
aos que acompanham os desconcertantes desdobramentos da crise, o silêncio de
conveniência dos integrantes do grupo prestes a assumir o governo quanto ao
rumoroso caso do afastamento do Presidente da Câmara dos Deputados por decisão
do Supremo Tribunal Federal. É de molde a causar compreensível estranheza a
circunstância de o grupo por inteiro, maciçamente, conservar-se mudo e quedo
que nem penedo com relação ao impactante assunto. Situação mais sem sentido: o
Judiciário desaloja de suas funções, em ato sem precedentes, o dirigente de uma
das Casas do Legislativo, imputando-lhe gravíssimas acusações. Como é que
nenhum líder de expressão entre seus correligionários, incluindo o futuro
presidente Michel Temer, bem como elementos de proa nas correntes
oposicionistas animam-se a emitir parecer sobre questão de repercussão e
implicações desse tamanhão? Segundo o jornalista José Roberto Toledo, “mesmo
sem chance de retornar ao cargo que o consagrou, Eduardo Cunha esforça-se para
manter o protagonismo”. Isso quer dizer mesmo o quê? Danada de instigante toda
essa história.
FIB quer dizer
busca da felicidade
Cesar Vanucci
“O conceito de
Felicidade Interna Bruta nasceu em 1972, no
Butão...”
(Revelação do jornalista Guilherme Mazui,
estudioso do tema)
Vários leitores confessaram-se entre
intrigados e entusiasmados com a história a respeito da decisão tomada, no
distante reino do Butão, encrustado na Cordilheira do Himalaia, de se adotar o
inovador índice da FIB (Felicidade
Interna Bruta) em lugar do PIB (Produto Interno Bruto), para se mensurar a
prosperidade comunitária. “Achei o maior barato”, acentuou a pedagoga Tania
Ribeiro Freitas. “Depois de localizar no mapa o Butão e colher na enciclopédia
dados sobre o país, pedi na agência de turismo que me dessem informações sobre
como chegar lá”, contou Ascânio Fontoura, comerciante.
Com o intuito de atender solicitações
para uma espichada de papo sobre essa novidade chamada FIB, este desajeitado
escriba, incorrigível caçador de quimeras, considerou mais prático reproduzir,
em complemento às informações transmitidas, estas outras revelações aqui,
extraídas de um trabalho assinado pelo
jornalista Guilherme Mazui.
O conceito de Felicidade Interna Bruta
(FIB) nasceu em 1972, no Butão, inspirado pelo rei Jigme Singye Wangchuck, com
ajuda do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). A FIB
proclama que o objetivo de uma sociedade não pode ficar restrito ao crescimento
econômico, mas deve refletir a integração das finanças com a qualidade de vida.
A avaliação da prosperidade social passaria, assim, a ser feita em cima de nove
dimensões.
Bem-estar psicológico - Avalia o grau de
satisfação e de otimismo que as pessoas nutrem em relação a própria vida. Os
indicadores incluem taxas de emoções positivas e negativas, analisam a
autoestima, sensação de competência, estresse e atividades espirituais.
Saúde - Mede a eficácia das políticas de
saúde. Usa critérios como auto avaliação dos serviços oferecidos, problemas de
invalidez, padrões de comportamento arriscados, exercícios físicos, qualidade
do sono, nutrição etc.
Resiliência ecológica - Mede a percepção dos
cidadãos quanto à qualidade da água, do ar, do solo e da biodiversidade. Os
indicadores contemplam as circunstâncias do acesso a áreas verdes, do sistema
de coleta de lixo etc.
Governança - Avalia como a população enxerga o
Governo, a mídia, o Judiciário, o sistema eleitoral e a segurança pública em
termos de responsabilidade, honestidade e transparência. Também mede o grau de
consciência cidadã, o envolvimento das pessoas com as decisões e processos
políticos.
Padrão de vida - Avalia as rendas individual e
familiar, a segurança financeira, a qualidade das habitações e por aí vai.
Uso do tempo - Apura como as pessoas dividem o
tempo. Leva em conta as horas dedicadas ao lazer e socialização com amigos e
família, além do tempo empregado no trânsito, no trabalho, nas atividades
educacionais, assim por diante.
Vitalidade comunitária - Foca nos
relacionamentos das criaturas dentro das respectivas comunidades. Examina o
nível de confiança, a sensação de pertencimento, a vitalidade dos
relacionamentos afetivos, a segurança em casa e na comunidade, além das
práticas pessoais de doação e de ações ligadas ao voluntariado.
Educação - Leva em conta fatores como
participação na educação formal e informal, envolvimento na educação dos
filhos, valores culturais e educativos, as condições do ambiente em que se
processam as atividades pedagógicas.
Cultura - Avalia as tradições locais, os
festivais promovidos pela comunidade, a participação em eventos culturais, as
oportunidades das pessoas para desenvolver capacidades artísticas, além de
incentivar análises críticas referentes a eventuais problemas originários de
discriminação por religião, raça ou gênero.
Chama-se isso, em linguagem clara, de
busca da felicidade.
E por falar em FIB e PIB...
Cesar
Vanucci
“O
PIB mede tudo, menos aquilo
que torna a vida digna de ser vivida.”
(Robert
Kennedy)
Os comentários aqui
lançados sobre a FIB (Felicidade Interna Bruta), adotada como medidor da
prosperidade social no distante Butão, motivaram algumas manifestações
interessantes de componentes do reduzido, posto que leal, grupo de leitores
deste desenxabido escriba.
Antônio Manoel
Almeida mandou dizer que, dia desses, na televisão a cabo, assistiu a um
intrigante filme turco em que a heroína, “cansada de guerra” nos atropelos
urbanos, resolve chutar tudo pra escanteio na cata do sossego acenado nas
convidativas propostas de convivência social anunciadas naquele reino
himalaiano. Isaura Marcondes valeu-se da deixa sobre a tal FIB para falar do
PIB (Produto Interno Bruto). Encaminhou-nos texto extraído do excelente livro
“O Futuro Chegou” (já comentado neste espaço), do sociólogo italiano Domenico
de Masi. Trata-se da reprodução de
memorável pronunciamento de Robert Kennedy, assim como seu irmão John Kennedy,
ex-presidente dos Estados Unidos, vítima de assassinato cercado de
circunstâncias intrigantes no auge da carreira política. Nessa fala, de
conteúdo social emocionante, é dito com todas as letras, pontos e vírgulas, que
o modelo do PIB, empregado no mundo inteiro como confiável instrumento de
aferição do desenvolvimento econômico, “mede tudo, menos aquilo que torna a
vida digna de ser vivida”. Os conceitos expendidos no aludido pronunciamento,
repetidos abaixo, antecipam, de alguma maneira – é lembrado pela atenta leitora
–, ideias anos mais tarde adotadas na concepção da FIB (Felicidade Interna
Bruta).
Tratemos de conferir.
Robert Kennedy com a palavra: “Não encontraremos nem um fim para a Nação nem a
nossa satisfação pessoal na mera busca pelo progresso econômico, na destruição
sem limites dos bens da Terra. Não podemos medir o espírito nacional com base
no índice Down Jones nem nos sucessos nacionais pelo Produto Interno Bruto.
Porque o nosso PIB implica a poluição do ar, a publicidade de cigarros e as
ambulâncias para limpar as ruas das carnificinas. Leva em conta as fechaduras
especiais com que fechamos nossas portas e as prisões para aqueles que as
arrombam. Nosso PIB implica a destruição das sequoias e a morte do Lago
Superior. Cresce com a produção de napalm, de misseis e testes nucleares e
compreende também a pesquisa para melhorar a disseminação da peste bubônica.
Nosso PIB se infla com os equipamentos que a policia usa para conter as
revoltas em nossas cidades; e apesar de não diminuir por causa dos danos que as
revoltas provocam, aumentam quando as favelas se reconstroem de suas cinzas.
Implica o fuzil de Whitman (responsável por massacre urbano) e a faca de Speck (serial killer) e a
transmissão de programas televisivos que celebram a violência para vender
mercadorias às nossas crianças.(...)
E se, de um lado, o
nosso PIB compreende tudo isso, por outro não leva em consideração muitas
coisas. Não leva em consideração o estado de saúde de nossas famílias, a
qualidade de sua educação, ou alegria de suas brincadeiras. É indiferente à
decência de nossas fabricas assim como a segurança de nossas estradas. Não
compreende a beleza de nossa poesia ou a solidez de nossos matrimônios, a
inteligência de nossas discussões ou a honestidade de nossos funcionários
públicos. Não considera nem a justiça de nossos Tribunais nem a retidão das
relações entre nós. Nosso PIB não mede nem nossa inteligência, nem nossa
coragem, nem nossa sagacidade, nem nossos conhecimentos, nem nossa compaixão,
nem nossa devoção ao nosso País. Em poucas palavras, mede tudo, menos aquilo
que torna a vida digna de ser vivida; e pode nos dizer tudo sobre os Estados
Unidos, exceto se estamos orgulhosos de ser americanos.”
2 comentários:
Esses índices econômicos, não levam em consideração o bem estar da maior riqueza de um país, seu povo e seus recursos naturais.
Esses índices econômicos, não levam em consideração o bem estar da maior riqueza de um país, seu povo e seus recursos naturais.
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