segunda-feira, 30 de maio de 2016



Um cara pra lá de perigoso

Cesar Vanucci

“Muitos americanos têm a chance de afastar o
perigoso Trump votando em massa em Hillary Clinton.”
(Milton Gomez, jornalista)


A crônica jocosa do jornalismo relata que, nos idos de 1939, ao rebentar a Segunda Guerra Mundial, um vibrante hebdomadário do Campo das Vertentes deplorou, em grandiloquente editorial, não tivessem as grandes lideranças mundiais ouvido com a devida atenção suas sucessivas advertências relativas aos riscos representados pelas ações de Adolf Hitler e famigerados prosélitos.

Este desajeitado escriba confessa, em lisa verdade, sentir-se um tanto quanto possuído do mesmo tipo de preocupação que assaltou o espirito daquele inflamado articulista, à hora em que faz uso de seu verbo, de alcance curto, para falar dos temores que o afligem, como mero e despretensioso figurante no descomunal palco da existência, diante de uma eventual ascensão à Casa Branca, em Washington, do tal Donald Trump. A resoluta disposição desse cara em torrar parte da colossal fortuna pessoal na pré-campanha pela legenda republicana foi recebida, a princípio, com descrédito e até zombaria. Mas não é que, a partir de um dado momento, sua arenga populista rasteira, impregnada de preconceitos racistas, machistas, xenófobos, começou a sensibilizar - a ponto de causar apreensão a lúcidos setores do pensamento político estadunidense - segmentos do eleitorado identificados com causas radicais e interpretações mórbidas da aventura da vida! Ei-lo, agora, triunfante, a um passo de fazer-se candidato na disputa com o candidato que emergirá das primárias democratas, provavelmente Hillary Clinton.

As pesquisas acusam que Trump não vai reunir condições para superar a poderosa competidora. Mas, pesquisa é pesquisa e eleição é eleição. Até que a vontade das urnas, traduzindo um anseio mundial, escorrace a ambição do trilionário candidato é preciso que alertas sejam feitos, em alta escala, sobre os riscos representados pela eventual presença à testa da maior potência mundial de elemento com o perfil de Trump. Defendendo sem disfarces a atuação dos EUA como nação patrulheira do mundo, a supremacia da gente de epiderme branca em relação aos outros, a expulsão de imigrantes, a proibição de cultos religiosos e a construção de um “muro da vergonha” na fronteira com o México, Trump é um perigo ambulante para os compatriotas e, também, para os viventes do resto do mundo. Não custa nada advertir, não é mesmo?


Não estamos sós,
pode apostar

Cesar Vanucci

“Universo, irmão mal conhecido.”
(Jean Wahl, poeta, citado por Paulo Rónai)

A peregrinação terrena é tecida de infindáveis interrogações. As perguntas espocam em número infinitamente superior às respostas. Num contexto desses, de proporções inimagináveis, a ciência é gota. Os fenômenos investigados, na longa espera da decifração, são um oceano.

No instante em que um telescópio super poderoso em matéria de propriedades tecnológicas apropriadas pelo homem dá-nos conta da existência provável, num ponto distante de outra galáxia, de um corpo celeste que ostenta características atmosféricas assemelhadas às desta nossa ilhota solta no oceano cósmico, é perfeitamente natural se reacenda a sempre momentosa discussão em torno da existência de vida inteligente nas demais paragens do universo. Embora intuída pela grande maioria das pessoas, a tese da pluralidade de mundos habitados não é oficialmente admitida pela ciência ortodoxa.

Hoje já não seria bem assim. Mesmo levando em conta o patrulhamento ostensivo no campo das ideias praticado por certas correntes fundamentalistas radicais. Mas tempo houve em que as pessoas de mente aberta, resguardando-se de ameaças, trancavam a sete cadeados suas crenças em tão “sacrílega” hipótese. Protegiam-se, com justificáveis temores, das consequências práticas de situações em que ideias “tão extravagantes” pudessem vir a cair nos ouvidos de zelosos guardiães dos conhecimentos científicos e religiosos dogmaticamente enfeixados.

A ortodoxia científica, mesclada de fanatice religiosa, fixava conceitos inamovíveis. Contestá-los representava risco a que ninguém queria, obviamente, se expor. As proclamações de um luminar qualquer, revestido de pompa e autoridade, tinham força de mandamento divino. Ái de quem ousasse contradizer, por exemplo, a afirmação de que lá no inatingível ponto em que as águas do mar (povoadas de terríveis monstros) e o horizonte se fundem ficava a borda de um precipício aterrorizante! Ou a assertiva de que o sol e os demais corpos celestiais do firmamento giravam em torno da Terra!

Retomemos o papo sobre a descoberta nos confins galácticos do astro de configuração parecida com a Terra. Muitas especulações começam, agora, a ser feitas a respeito da possibilidade de se abrigarem ali espécies de vida como as que conhecemos aqui. A inviabilidade da coleta de respostas a curto ou a médio prazo,  considerados sobretudo os milhares de anos-luz que separam um planeta do outro, gera logicamente outras elucubrações. Vamos supor que o local favoreça o desenvolvimento de uma civilização com as mesmas peculiaridades. A evolução tecnológica alcançada se situaria num estágio superior ou inferior ao nosso? Adiante.

Mantenhamos sob mira a transformação assombrosa que este nosso mundo velho de guerra experimentou nos últimos 50 anos. Avaliação do que poderia vir a acontecer, em matéria de mudanças, num ciclo evolutivo de mil ou 2 mil anos a mais, remete-nos, naturalmente, a projeções e perspectivas fantásticas. Não apenas tão fantásticas quanto a gente consiga imaginar. Mas muito mais fantásticas do que a gente jamais conseguirá imaginar.

A ciência alega não dispor ainda de elementos para proclamar a existência de vida inteligente fora do orbe terráqueo. Sob esse aspecto, os estrondosos avanços tecnológicos espaciais valeram pouco. Continuamos, praticamente, a propósito, no mesmo patamar informativo científico dos remotos momentos da censura ameaçadora que impedia a discussão aberta, transparente, do apaixonante tema. Isso, todavia, não impede que muita gente, consciente de sua cidadania cósmica, em diferentes cantos desta imensa pátria terrena, vagando solta em mares intermináveis pontilhados por sextilhões ou mais até de astros - entre eles o tal planeta que guarda similitude com o nosso -, aceite pacificamente a ideia de que não estamos sós no universo.


Enfrentar a crise 
e achar soluções


Cesar Vanucci

Não se espantar com nada talvez seja o único meio.”
(Horácio)

As estarrecedoras revelações contidas nas gravações reservosas, feitas com próceres influentes pelo “muy amigo” Sérgio Machado – outro ativo protagonista do festival de bandalheiras que assola o país – não deixam margem a dúvidas. Quem tem olhos pra enxergar e ouvidos pra escutar pode abrir mão, tranquilamente, das bolas de cristal, tarôs, búzios, ou quaisquer outros instrumentos utilizados pelos ocultistas em exercícios adivinhatórios, e antever com fervorosa convicção que a intrigante novela política brasileira reserva, prafrentemente, nova sequência de emocionantes capítulos. Com informações tão ou mais perturbadoras do que as até agora disseminadas.

“Não se espantar com nada talvez seja o único e melhor meio”, como aconselharia Horácio, de se conservar a serenidade nesta baita confusão das arábias. Confusão, como sabido, produzida por devastador conluio de corrupção montado com implacável desfaçatez por um bando bem identificado de políticos, empresários e agentes públicos despreparados e arrogantes. Apoderada de animadora expectativa, muita gente acreditava que os timoneiros da nau em movimento estivessem suficientemente aptos a conduzi-la pelas rotas de navegação traçadas rumo a porto seguro. Mas, falar verdade, a sensação que se tem, neste preciso momento, é de que um nevoeiro espesso lançou-a num verdadeiro “mar de sargaços”, de transposição pra lá de dificultosa. A impressão deixada até aqui é de que os navegantes não se mostram a altura da importante missão que se lhes foi atribuída. É preciso rever as cartas de navegação, fazer uma releitura atenta e esmiuçada dos mapas. Olhar as estrelas de modo a reencontrar o caminho a ser singrado é dever indeclinável do comandante do navio.

As revelações vindas a lume, com seu inocultável teor conspiratório, indicativas de uma disposição nefanda de tentar abafar as investigações, levantam justificado clamor. Afinal, são apurações respaldadas na consciência cívica da Nação. A opinião pública repele com indignação as manobras urdidas nos ambientes penumbrosos frequentados pela politicagem miúda, confiante em que as instituições saberão reagir com rigor a tão sórdidas provocações.

Faz todo sentido, para analistas políticos dos acontecimentos, imaginar que outras situações extremamente desagradáveis estejam prestes a ser deflagradas. A sinalização de que isso possa ocorrer é abundante. Do Ministério recentemente constituído fazem parte, já desconsiderada a figura do defenestrado Romero Jucá, sete outros elementos na alça de mira da Lava Jato. O substituto do ex-ministro compõe a lista dos investigados da Operação Zelotes. Tem mais: é de molde a produzir desconforto, mesmo admitindo que os cidadãos escolhidos desfrutam de conceito profissional, a circunstância de que ex-patronos de causas do célebre deputado Eduardo Cunha estejam a ocupar funções relevantes no corpo ministerial. E o que não dizer da presença danada de incômoda, claramente evidenciada, do supracitado parlamentar na linha de frente do esquema político dominante, a gozar de prerrogativas de mando e intervenções totalmente inaceitáveis? A ponto até de impor um nome de integrante de seu grupo, pessoa com prontuário desabonador e desqualificante, como líder parlamentar do governo recém-formado.

Um outro dado que confunde bastante o espírito popular diz respeito aos repentinos e estratégicos vazamentos de matérias confidenciais extraídas de processos que correm sob sigilo judicial. Salta aos olhos que os vazamentos obedecem a um método. Quem os promove? Com quais intuitos? Por qual razão os setores competentes se trancam em copas com relação a tão estranho e sistemático procedimento? Afigura-se indispensável que o Poder Judiciário ofereça à Nação uma palavra esclarecedora sobre essa sucessão de desconcertantes ocorrências.

A conjuntura política reclama das lideranças mais lúcidas, em todos os setores – é o próprio óbvio ululante - uma reflexão aprofundada. Reflexão essa que deve vir rapidamente acompanhada de ações capazes de caracterizar uma conjugação de vontades poderosa na busca de saídas justas, equilibradas, acordes com os generosos anseios coletivos e com o sentimento democrático, para as situações momentaneamente adversas que nos afligem.

A crise é de enorme dimensão. Nada, contudo, que um país como o Brasil, com suas invejáveis virtualidades, com sua concepção de vida calcada em utopias positivas e impressionante capacidade, historicamente comprovada, de resolver pacificamente conflitos agudos, não possa, respeitando valores e crenças inalienáveis, solucionar a tempo e a hora.




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