Um pacto de suma importância
Cesar
Vanucci
econômico
e social precisam caminhar juntos.”
(Antônio
Luiz da Costa, professor)
Fatos
são fatos. A situação está posta. O bom senso recomenda que a questão,
obviamente complexa e delicada, seja trazida a um exame lúcido e objetivo no
sentido de se poder encontrar solução adequada, consentânea com o sagrado
interesse público, com a atenção voltada para os gravames sociais e econômicos
dela decorrentes.
Levantou-se,
em certo instante, nos debates a respeito dos “acordos de leniência”, a
hipótese de que as empreiteiras nacionais flagradas em delitos fossem
substituídas por organizações estrangeiras, ou por companhias brasileiras de
porte médio. Conceituados analistas nas áreas negociais sustentam opinião de que
não é assim que as coisas funcionam. Apontam como obstáculo, em primeiro lugar,
a inexistência de esquemas empresários aptos a atuarem com a urgência requerida
nos frontes das obras. Citam também o receio,
bastante compreensível, de participação em licitações numa hora de
desconfianças jurídicas afloradas. O ambiente não se mostraria, por tudo isso, estimulante
ao ingresso em cena de novos protagonistas investidores.
De
tudo quanto posto sobra como conclusão importantíssima e definitiva o seguinte:
o combate à corrupção e a retomada do desenvolvimento são essenciais. A Nação
tem os olhos fixados nos dois palpitantes temas. É mais do que razoável esperar
das melhores cabeças pensantes do País capacidade e engenho para formular
normas de atuação ideais de modo a que tudo possa se encaixar nos devidos
eixos. Aos executores das tarefas pertinentes a cada uma dessas empreitadas,
almejadas ardentemente na vontade popular, cabe assegurar todas as condições
exigidas, em termos práticos e legais, para que consigam levar a termo satisfatóriamente
os objetivos colimados.
Muitas preocupações
Cesar
Vanucci
de vice dá calafrios na espinha.”
(Antônio Luiz da Costa, professor)
Vem
crescendo a olhos vistos, por ululante obviedade, o contingente dos cidadãos
que se confessam intrigados, quando não perplexos, com os rumos de certos
acontecimentos na seara política. O foco das atenções se concentra na sessão da
Câmara em que foi aprovado o encaminhamento ao Senado, para julgamento, do
processo de impedimento de Dilma Rousseff. Pipocam controvérsias. A primeira delas provém
da estarrecedora constatação de que quase uma centena dos votantes acham-se
emaranhados nas teias da lei, boa parte figurando no desconfortável rol dos
investigados pela Lava Jato.
Para
um mundão de gente afigura-se, de outra parte, bastante difícil absorver a
ideia de que a palpitante questão do impeachment, rendendo repercussão intensa
dentro e fora do país, haja sido conduzida na tramitação parlamentar – digamos
assim, para facilitar o entendimento – de “primeira instância” por indigitado
réu em processos sob exame no STF. Só nos últimos cinco meses, a Alta Corte
acumulou onze denúncias da Procuradoria Geral da República alusivas a atos de
corrupção e abuso de poder contra o deputado Eduardo Cunha, Presidente da
Câmara. Cinco delas desembocaram em investigações avalizadas pelo ministro
relator Teori Zavascki. Compreende-se, perfeitamente, à vista disso, esteja
sendo veementemente contestada a legitimidade do papel assumido pela figura
referida no impeachment. A hipótese de que, com o eventual afastamento da Chefe
de Governo, Cunha ascenda constitucionalmente à condição de “novo” Vice-presidente
da República é de molde a provocar calafrios na espinha das pessoas bem intencionadas
sinceramente engajadas no esforço de construção nacional, independentemente das
ligações que mantenham com as diferentes correntes ideológicas ocupantes do
palco central nos debates políticos. Cabe anotar ainda que o parlamentar é alvo
de acusações no Conselho de Ética da Câmara. Usa e abusa de suas prerrogativas
e com ajuda de aguerridos partidários promove acintosas e sucessivas manobras
protelatórias, de maneira a impedir até mesmo as oitivas das testemunhas
arroladas, em mais um flagrante abuso de poder.
Outro
item preocupante nessa baita enrascada em que a incompetência política nos
meteu diz respeito a sérias denúncias, que carecem ser apuradas, de conceituados
jornalistas. Essas denúncias, envolvendo lances que alvejam valores éticos que
a opinião pública está fazendo questão de preservar, não encontraram,
estranhavelmente, ao contrário do que sempre ocorre, eco na grande mídia, em
que pese seu explosivo teor. Jânio de Freitas, na “Folha de São Paulo”, jornal
que defendeu abertamente o afastamento de Dilma, registrou em sua coluna, dia
21 de abril, segunda-feira, o seguinte: “O governo operava no balcão de cargos
e verbas orçamentárias. O balcão de seus adversários não operava menos, embora,
à falta de cargos, por outros meios. E também em outras horas: reuniões, de
preferência, nas madrugadas em casas de parlamentares e lobistas, inclusive a
residência oficial da presidência da Câmara. No dia seguinte à votação o
jornalista José Casado (“O Globo”) escrevia: “Deputados comentavam as
“cotações” do relativismo ético – R$ um milhão por ausência, R$ dois milhões
pelo voto no plenário.” De cotações nada ouvi, como não ouvi resposta para a
questão de maior importância: quem forneceu o dinheiro?”
Já
André Barrocal, na “CartaCapital”, revista que, a seu turno, posicionou-se
oficialmente contra o impedimento, informou na edição de 27 de abril que os
céus de Brasília registraram tráfego aéreo inusual por ocasião da votação na
Câmara. A explicação viria da evidência de que verdadeiros “mecenas da aviação
civil” andaram financiando à pamparra o transporte de deputados a pedido do
núcleo político ligado a Temer e Cunha. Uma grana preta rolou na cobertura
desses voos especiais, segundo o jornalista, que menciona, como aliás faz
também Jânio de Freitas, os patrocinadores do esquema. Não há resistir à
tentação de um registro revestido de desconcertante sabor irônico. Conforme as
denúncias de Barrocal, entre os principais financiadores dos fretes de
aeronaves estaria uma grande empresa vinculada ao setor da alimentação que, a
basear em profusa divulgação ainda recente nas redes sociais, “pertenceria” a
um dos filhos do ex-presidente Lula.
As diferentes faces da crise
“Boa
parte da sociedade teme Temer”
(Eliane Catanhede, jornalista)
A
crise política sintetizada em meia dúzia de frases proferidas por personagens
de presença na mídia.
Joaquim
Barbosa, ex-Presidente do Supremo, sobre a sessão na Câmara dos Deputados: “É de chorar de vergonha!”
Ministro
Luís Roberto Barroso, do Supremo, diante de uma imagem em que conhecidos
próceres políticos aparecem em clima de comemoração: “Vejam só o que vai sobrar
pra todos nós.”
Celso
Amorim, ex-Chanceler brasileiro: “São manobras de cúpula conduzidas por
personagens sobre as quais (mesmo mantida a indispensável presunção de
inocência) pesam acusações muito mais graves do que as chamadas pedaladas
fiscais.”
James
Naylon Green, líder do grupo de “brasilianistas” norte-americanos: “Muda-se
para ficar como sempre foi.”
Vittorio
Medioli, jornalista e ex-deputado federal: “O balde da paciência entornou pela
catástrofe econômica, mais que por pedaladas, mero pretexto. (...) Foi
especialmente pelos erros não perdoados de Dilma e pela inconteste atuação de
Eduardo Cunha na condução do impeachment que Temer estará com as rédeas do
governo.”
Mino
Carta, jornalista: “A solução recomendável a esta altura estaria na convocação
de eleições gerais o mais breve possível (...) com a possibilidade de reformar
um Parlamento hoje inconfiável.”
Rodrigo
Martins, jornalista: “A anistia ao presidente da Câmara não é mais de forma
sorrateira. Tudo corre às claras.”
João
Gualberto Júnior, jornalista: “O pior ainda nem começou.”
Deputado
Tiririca, num pronunciamento irônico sobre a sessão da Câmara: “Pela Florentina
de Jesus, pela minha irmã Cuculina, pela minha esposa, pela minha amante, pelo
meu filho que vai nascer em 2020, voto Sim.”
Mauricio
Dias, jornalista: “Os eleitores querem votar. E apontam a direção: renúncia da Presidenta
e do Vice.”
Senador
Romero Jucá: “O impeachment é uma crônica anunciada. Não caiu de paraquedas.
Esse desastre do governo foi construído meticulosamente. Uma posição ideológica
equivocada desaguou no intervencionismo econômico, no corporativismo e numa
visão autoritária da Presidente.”
Eliane
Catanhede, jornalista: “Boa parte da sociedade (...) teme Temer. Ou melhor,
teme o que o PMDB significa e o que Temer carrega com ele para o centro do
poder.”
· Falar verdade, o posicionamento
ideológico, de insofismável teor jihadista, do deputado Jair Bolsonaro, com
suas vociferações contínuas contra a democracia e os direitos humanos, preocupa
bem menos que as ações praticadas por uma minoria barulhenta de radicais que
começa a pintar no pedaço. Vimo-los em ação, carregando faixas, aplaudindo e
uivando apoio ao parlamentar à hora de seu voto na Câmara, na concentração na
avenida Paulista. Nas intenções de voto para a Presidência eles têm, também,
garantido os índices reduzidos, mas superiores aos de outros prováveis
candidatos, obtidos pelo citado personagem. São indícios perturbadores de
arregimentação extremista. Não deixa de ser tranquilizador saber que a
consciência cívica da Nação repele as propostas incendiárias provindas das
lateralidades ideológicas.
Mesmo
assim, aconselha-se aos democratas que conservem os aparelhos de percepção permanentemente
ligados. Como se recomenda na famosa cartilha do escotismo é prudente manter-se
sempre alerta.
Rita do Val *
A crise
político-econômica do País pode ter consequências ainda mais profundas, devido
ao acirramento dos discursos dos governistas e da oposição, que têm revelado um
lado violento nos embates e discussões. Observamos assustadora mudança cultural
dos brasileiros, cuja índole solidária, pluralista e serena, presente inclusive
em numerosas eleições e momentos de intenso debate partidário-ideológico, está
sendo substituída rapidamente pela intolerância e truculência.
O direito de opinar está sendo patrulhado e se convertendo em objeto de intimidação das pessoas. No Congresso Nacional, nas empresas e nas redes sociais, não faltam histórias e casos de agressão verbais e até físicas, envolvendo indivíduos que se dizem comprometidos com a ética e a democracia.
De um lado, vemos uma minguada base aliada do governo, que defende ferrenhamente o mandato da presidente Dilma Rousseff. De outro, uma oposição renovada, que ganha forças com o impeachment. Porém, o debate político, de ambos as partes, transcende ao espírito republicano, revestindo-se de exagerada agressividade e agressões morais e físicas. Muito preocupante é como a população está cada vez mais contaminada por esse embate truculento, que não interessa à democracia e muito menos à sociedade.
A política pode até mesmo ser paixão, pois isso é inerente ao ser humano. Porém, não pode fomentar o ódio. Na fronteira entre os dois sentimentos, nota-se preocupante mudança de um paradigma cultural dos brasileiros. As sessões do Legislativo lembram as brigas de torcidas organizadas. Nas redes sociais, o debate democrático deu lugar à barbárie, com trocas de ofensas pessoais, insultos e ameaças. Veem-se pessoas que justificam o emprego da tortura (um crime no Brasil!), pedem a volta da ditadura militar, fazem apologia ao estupro como prática educativa e defendem que o adversário deveria ser exterminado (genocídio?).
Segundo pesquisa da VitaSmart, uma em cada cinco pessoas diminui seu contato com amigos na vida real devido a brigas nas redes sociais. E 19% dos 2.698 entrevistados admitiram ter bloqueado ou cancelado amizades por causa de discussões virtuais. É triste constatar que a violência tomou o lugar do uso da razão e que a intolerância com quem pensa diferente transforma amigos e parentes em inimigos e colegas de trabalho em adversários.
Estamos na contramão da história, já que, desde o final da Segunda Guerra Mundial, o mundo organiza-se para a construção da paz. O Brasil sempre teve papel importante na mediação de acordos multilaterais, exatamente devido à vocação de nosso povo e governantes para o diálogo. Talvez tenhamos esquecido de que fazemos parte de uma nação e queremos que ela supere suas dificuldades, para que todos nós, brasileiros e estrangeiros que aqui vivemos, tenhamos vida digna e progresso social e harmonia.
O debate político e o contraste das ideias e ideologias são enriquecedores e contribuem para o fortalecimento da democracia. Porém, digladiando-se com crescente agressividade, os políticos têm dado um mau exemplo. Eles deveriam cumprir melhor o papel de mediadores das relações entre o Estado e a sociedade e guardiões dos princípios republicanos, postura básica de quem recebe um mandato público.
É premente pacificar os ânimos. O PIB, os empregos e os investimentos voltarão a crescer, pois toda crise tem fim. No entanto, será muito difícil reverter a ruptura em curso no grau de tolerância dos brasileiros. Precisamos reaprender a conviver com as diferenças.
O direito de opinar está sendo patrulhado e se convertendo em objeto de intimidação das pessoas. No Congresso Nacional, nas empresas e nas redes sociais, não faltam histórias e casos de agressão verbais e até físicas, envolvendo indivíduos que se dizem comprometidos com a ética e a democracia.
De um lado, vemos uma minguada base aliada do governo, que defende ferrenhamente o mandato da presidente Dilma Rousseff. De outro, uma oposição renovada, que ganha forças com o impeachment. Porém, o debate político, de ambos as partes, transcende ao espírito republicano, revestindo-se de exagerada agressividade e agressões morais e físicas. Muito preocupante é como a população está cada vez mais contaminada por esse embate truculento, que não interessa à democracia e muito menos à sociedade.
A política pode até mesmo ser paixão, pois isso é inerente ao ser humano. Porém, não pode fomentar o ódio. Na fronteira entre os dois sentimentos, nota-se preocupante mudança de um paradigma cultural dos brasileiros. As sessões do Legislativo lembram as brigas de torcidas organizadas. Nas redes sociais, o debate democrático deu lugar à barbárie, com trocas de ofensas pessoais, insultos e ameaças. Veem-se pessoas que justificam o emprego da tortura (um crime no Brasil!), pedem a volta da ditadura militar, fazem apologia ao estupro como prática educativa e defendem que o adversário deveria ser exterminado (genocídio?).
Segundo pesquisa da VitaSmart, uma em cada cinco pessoas diminui seu contato com amigos na vida real devido a brigas nas redes sociais. E 19% dos 2.698 entrevistados admitiram ter bloqueado ou cancelado amizades por causa de discussões virtuais. É triste constatar que a violência tomou o lugar do uso da razão e que a intolerância com quem pensa diferente transforma amigos e parentes em inimigos e colegas de trabalho em adversários.
Estamos na contramão da história, já que, desde o final da Segunda Guerra Mundial, o mundo organiza-se para a construção da paz. O Brasil sempre teve papel importante na mediação de acordos multilaterais, exatamente devido à vocação de nosso povo e governantes para o diálogo. Talvez tenhamos esquecido de que fazemos parte de uma nação e queremos que ela supere suas dificuldades, para que todos nós, brasileiros e estrangeiros que aqui vivemos, tenhamos vida digna e progresso social e harmonia.
O debate político e o contraste das ideias e ideologias são enriquecedores e contribuem para o fortalecimento da democracia. Porém, digladiando-se com crescente agressividade, os políticos têm dado um mau exemplo. Eles deveriam cumprir melhor o papel de mediadores das relações entre o Estado e a sociedade e guardiões dos princípios republicanos, postura básica de quem recebe um mandato público.
É premente pacificar os ânimos. O PIB, os empregos e os investimentos voltarão a crescer, pois toda crise tem fim. No entanto, será muito difícil reverter a ruptura em curso no grau de tolerância dos brasileiros. Precisamos reaprender a conviver com as diferenças.
* Rita do Val é coordenadora do curso de
Relações Internacionais na Faculdade Santa Marcelina (FASM)
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