sexta-feira, 24 de junho de 2016

Consulta popular 
na pauta


Cesar Vanucci


“ O ideal é partir para novas eleições e
o plebiscito é uma saída para viabilizá-las.”
(Senador Cristovam Buarque)


A tremenda encrenca armada pela incompetência, inabilidade, arrogância, improbidade de paredros políticos das diferentes tendências fez irromper no espírito popular a tese de que a “solucionática” – como diria nosso Dario -, para toda essa “problemática” vai acabar sendo um plebiscito. Noutras palavras: uma consulta popular que contemple a possibilidade de os eleitores retornarem às urnas mais cedo do que o previsto.

Seja para opinar sobre momentosos itens concernentes às indispensáveis e continuamente postergadas reformas, seja para apontar futuros governantes. Tem-se a esta altura como certo que um grupo representativo de parlamentares, com articulações centradas no Senado, agregando apoio de lideranças influentes noutros segmentos da vida nacional, vem consagrando atenção especial ao assunto. O debate a respeito está colocado na mesa.  E muitos adeptos da ideia não se furtam a fazer públicas suas opiniões.  O senador Cristovam Buarque, ex-Ministro da Educação, é um deles.  Sustenta que, na atual conjuntura, “o ideal é partir para novas eleições e o plebiscito é uma saída para viabilizá-las, pois está previsto na Constituição.” Acrescenta que “ao povo caberá decidir sobre o mandato que ele mesmo outorgou.”

João Capiberibe, Senador pelo Amapá, é outro defensor da proposta de antecipação eleitoral. Criticando o governo interino de Temer pela sucessão de equívocos e pela dubiedade das decisões, sugere que “o plebiscito seja realizado em 2 de outubro, concomitantemente com as eleições municipais.” Diz ainda que “falta aprofundar o debate sobre o modelo das novas eleições, se serão para um mandato-tampão de dois anos ou para um período maior.”

Não carece de dúvida mínima que Dilma Rousseff, mesmo na remota hipótese de vir a ser-lhe favorável a votação plenária sobre o impeachment no Senado, não disporá de condições de governabilidade, por ausência de apoio popular e político. Por outro lado, a administração Michel Temer não tem como, obviamente, garantir-se no comando administrativo por período mais dilargado. Revela-se igualmente desprovida de respaldo popular, maculada por gritantes contradições entre o que é anunciado e o que vem sendo efetivamente executado. Seus arranjos partidários em nada diferem dos esquemas fisiológicos condenados nas manifestações de rua ansiosas por transformações.

O plebiscito afigura-se, à vista dessas sonoras constatações, meio razoável de se desfazer o nó da crise política. Uma eventual eleição a médio prazo, com aval popular, poderá ser o caminho constitucional adequado para a dissolução de impasses daninhos que, neste preciso instante, comprometem barbaridade a atuação produtiva da Nação. O desencanto popular com a conduta de políticos é enorme, sabemo-lo. A consciência cívica e o sentimento democrático repelem “acordões” que possam abrandar as ações da Justiça contra corruptos e corruptores. Mas não desprezam a possibilidade de um acordo político estribado no bom-senso para a encrenca em que nos achamos mergulhados. A consulta plebiscitária é o caminho apontado. A decisão sobre os rumos a seguir fica com o povo, melhor dizendo com o poder supremo do País.


Mexer no time 
que está perdendo


Cesar Vanucci


“Para o diabo vá a razão 
quando o futebol invade o coração.”
(Carlos Drummond de Andrade)


O novo e retumbante fracasso da “legião estrangeira” convocada para representar a seleção canarinho na Copa América fez reacender os temores de que o Brasil venha a ser defenestrado nas eliminatórias para o mundial da Rússia. Em razão da tunda de 7 a 1 aplicada ao Haiti - um escrete de nível comparável aos aspirantes do Boa Esporte -, os “craques” incompetentemente comandados por Dunga, coadjuvado por Gilmar Rinaldi, conhecido agenciador de jogadores, sentiram-se os “maiorais”. Levaram a sério o “oba-oba” da cartolagem deslumbrada e de influentes segmentos da crônica esportiva, “empolgada” com a súbita “recuperação” do prestigio do “melhor futebol do mundo”... O triunfo contra o fraco Peru, “freguês de caderno”, afigurava-se “favas contadas”. A realidade revelou-se cruel. O sofrível desempenho na cancha escancarou, de vez, a indigência atlética do amontoado de jogadores “selecionados”.

Salta aos olhos, a esta altura do campeonato, que uma sequência amarga de fiascos coloca-se à espreita da seleção nos compromissos restantes pela conquista de lugar na representação americana do próximo torneio mundial. A não ser que seja processada urgentemente uma completa reformulação no sistema gestor de nosso futebol. Começando pela substituição do comitê técnico, por sinal já ocorrida, as impostergáveis mudanças precisam contemplar, sem delongas, entre outros tópicos, a escolha criteriosa e a metodologia adequada de preparação dos atletas.

A presença de Tite no comando técnico é, sem dúvida, um avanço. Ele é detentor de qualificações profissionais infinitamente superiores às de seus predecessores. Mas tal alteração não é por si só suficiente para afugentar a possibilidade do temido desastre. Partilhamos, convictamente, do ponto de vista expressado por observadores qualificados do “esporte das multidões” de que, antes de tudo mais, na sequência de medidas a serem adotadas, faz-se recomendável definir seja a base da seleção constituída, daqui pra frente, de elementos projetados nos torneios brasileiros.

O esquema de preparação do time para as competições carece de muita modificação. É essencial que o grupo se reúna com frequência. Nada de intervalos espichados de inatividade.

De outra parte, não há como deixar de classificar de suspeitosa essa desordenada chamada periódica dos “legionários” que militam no futebol europeu. Seja anotado, de passagem, que outros valores individuais também em ação em plagas estrangeiras, áreas geográficas diferentes, mesmo vivendo momentos reluzentes em suas carreiras, têm sido costumeiramente ignorados nas convocações. O foco dos “olheiros” fica fixado apenas no “mercado” europeu, sabe-se lá porque cargas d’água. As consequências desastrosas dessa orientação pouco inspirada estão traduzidas em frustrações contínuas, sobretudo a partir da vergonhosa sova de 7 a 1 diante da Alemanha. Dá pra perceber com nitidez, face aos revezes acumulados, que os “legionários”, despreparados e desmotivados, atenções centradas noutros aspectos de suas badaladas carreiras, não se aplicam nas intervenções em campo com o afinco desejável de alguém que esteja carregando nos ombros a invejável, posto que pesada, responsabilidade de envergar a camisa amarela nas competições internacionais.

Descortina-se, assim, com as experiências francamente adversas já colocadas em prática, a conveniência de se alterar o sistema das convocações. O ideal é que sejam, preferencialmente, abertas a jogadores que participem dos campeonatos nacionais. Assim era nos tempos vitoriosos de antigamente, quando os torcedores, ao contrario do que hoje acontece, sabiam declinar de cor e salteado os nomes dos integrantes da seleção. É óbvio que as escolhas desses atletas, ao lado de outras providências relevantes a serem adotadas, além das já citadas, obedeçam rigorosa e exclusivamente a critérios técnicos.  Fundamental que os gestores do trabalho de preparação do escrete saibam reagir com firmeza às pressões e intromissões provindas do jogo interesseiro de patrocinadores, agenciadores e outros que tais.


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