Consulta popular
na pauta
Cesar
Vanucci
“
O ideal é partir para novas eleições e
o
plebiscito é uma saída para viabilizá-las.”
(Senador Cristovam Buarque)
A
tremenda encrenca armada pela incompetência, inabilidade, arrogância,
improbidade de paredros políticos das diferentes tendências fez irromper no
espírito popular a tese de que a “solucionática” – como diria nosso Dario -,
para toda essa “problemática” vai acabar sendo um plebiscito. Noutras palavras:
uma consulta popular que contemple a possibilidade de os eleitores retornarem
às urnas mais cedo do que o previsto.
Seja
para opinar sobre momentosos itens concernentes às indispensáveis e
continuamente postergadas reformas, seja para apontar futuros governantes.
Tem-se a esta altura como certo que um grupo representativo de parlamentares,
com articulações centradas no Senado, agregando apoio de lideranças influentes
noutros segmentos da vida nacional, vem consagrando atenção especial ao
assunto. O debate a respeito está colocado na mesa. E muitos adeptos da ideia não se furtam a
fazer públicas suas opiniões. O senador
Cristovam Buarque, ex-Ministro da Educação, é um deles. Sustenta que, na atual conjuntura, “o ideal é
partir para novas eleições e o plebiscito é uma saída para viabilizá-las, pois
está previsto na Constituição.” Acrescenta que “ao povo caberá decidir sobre o
mandato que ele mesmo outorgou.”
João
Capiberibe, Senador pelo Amapá, é outro defensor da proposta de antecipação
eleitoral. Criticando o governo interino de Temer pela sucessão de equívocos e
pela dubiedade das decisões, sugere que “o plebiscito seja realizado em 2 de
outubro, concomitantemente com as eleições municipais.” Diz ainda que “falta
aprofundar o debate sobre o modelo das novas eleições, se serão para um
mandato-tampão de dois anos ou para um período maior.”
Não
carece de dúvida mínima que Dilma Rousseff, mesmo na remota hipótese de vir a
ser-lhe favorável a votação plenária sobre o impeachment no Senado, não disporá
de condições de governabilidade, por ausência de apoio popular e político. Por
outro lado, a administração Michel Temer não tem como, obviamente, garantir-se
no comando administrativo por período mais dilargado. Revela-se igualmente
desprovida de respaldo popular, maculada por gritantes contradições entre o que
é anunciado e o que vem sendo efetivamente executado. Seus arranjos partidários
em nada diferem dos esquemas fisiológicos condenados nas manifestações de rua
ansiosas por transformações.
O
plebiscito afigura-se, à vista dessas sonoras constatações, meio razoável de se
desfazer o nó da crise política. Uma eventual eleição a médio prazo, com aval
popular, poderá ser o caminho constitucional adequado para a dissolução de
impasses daninhos que, neste preciso instante, comprometem barbaridade a
atuação produtiva da Nação. O desencanto popular com a conduta de políticos é
enorme, sabemo-lo. A consciência cívica e o sentimento democrático repelem
“acordões” que possam abrandar as ações da Justiça contra corruptos e
corruptores. Mas não desprezam a possibilidade de um acordo político estribado
no bom-senso para a encrenca em que nos achamos mergulhados. A consulta
plebiscitária é o caminho apontado. A decisão sobre os rumos a seguir fica com
o povo, melhor dizendo com o poder supremo do País.
Mexer no time
que está perdendo
Cesar
Vanucci
“Para
o diabo vá a razão
quando o futebol invade o coração.”
(Carlos Drummond de Andrade)
O
novo e retumbante fracasso da “legião estrangeira” convocada para representar a
seleção canarinho na Copa América fez reacender os temores de que o Brasil venha
a ser defenestrado nas eliminatórias para o mundial da Rússia. Em razão da tunda
de 7 a 1 aplicada ao Haiti - um escrete de nível comparável aos aspirantes do
Boa Esporte -, os “craques” incompetentemente comandados por Dunga, coadjuvado
por Gilmar Rinaldi, conhecido agenciador de jogadores, sentiram-se os “maiorais”.
Levaram a sério o “oba-oba” da cartolagem deslumbrada e de influentes segmentos
da crônica esportiva, “empolgada” com a súbita “recuperação” do prestigio do
“melhor futebol do mundo”... O triunfo contra o fraco Peru, “freguês de
caderno”, afigurava-se “favas contadas”. A realidade revelou-se cruel. O
sofrível desempenho na cancha escancarou, de vez, a indigência atlética do
amontoado de jogadores “selecionados”.
Salta
aos olhos, a esta altura do campeonato, que uma sequência amarga de fiascos coloca-se
à espreita da seleção nos compromissos restantes pela conquista de lugar na representação
americana do próximo torneio mundial. A não ser que seja processada
urgentemente uma completa reformulação no sistema gestor de nosso futebol.
Começando pela substituição do comitê técnico, por sinal já ocorrida, as
impostergáveis mudanças precisam contemplar, sem delongas, entre outros
tópicos, a escolha criteriosa e a metodologia adequada de preparação dos
atletas.
A
presença de Tite no comando técnico é, sem dúvida, um avanço. Ele é detentor de
qualificações profissionais infinitamente superiores às de seus predecessores.
Mas tal alteração não é por si só suficiente para afugentar a possibilidade do
temido desastre. Partilhamos, convictamente, do ponto de vista expressado por
observadores qualificados do “esporte das multidões” de que, antes de tudo mais,
na sequência de medidas a serem adotadas, faz-se recomendável definir seja a
base da seleção constituída, daqui pra frente, de elementos projetados nos torneios
brasileiros.
O
esquema de preparação do time para as competições carece de muita modificação.
É essencial que o grupo se reúna com frequência. Nada de intervalos espichados
de inatividade.
De
outra parte, não há como deixar de classificar de suspeitosa essa desordenada chamada
periódica dos “legionários” que militam no futebol europeu. Seja anotado, de
passagem, que outros valores individuais também em ação em plagas estrangeiras,
áreas geográficas diferentes, mesmo vivendo momentos reluzentes em suas
carreiras, têm sido costumeiramente ignorados nas convocações. O foco dos
“olheiros” fica fixado apenas no “mercado” europeu, sabe-se lá porque cargas
d’água. As consequências desastrosas dessa orientação pouco inspirada estão
traduzidas em frustrações contínuas, sobretudo a partir da vergonhosa sova de 7
a 1 diante da Alemanha. Dá pra perceber com nitidez, face aos revezes
acumulados, que os “legionários”, despreparados e desmotivados, atenções
centradas noutros aspectos de suas badaladas carreiras, não se aplicam nas
intervenções em campo com o afinco desejável de alguém que esteja carregando
nos ombros a invejável, posto que pesada, responsabilidade de envergar a camisa
amarela nas competições internacionais.
Descortina-se,
assim, com as experiências francamente adversas já colocadas em prática, a conveniência
de se alterar o sistema das convocações. O ideal é que sejam, preferencialmente,
abertas a jogadores que participem dos campeonatos nacionais. Assim era nos
tempos vitoriosos de antigamente, quando os torcedores, ao contrario do que
hoje acontece, sabiam declinar de cor e salteado os nomes dos integrantes da
seleção. É óbvio que as escolhas desses atletas, ao lado de outras providências
relevantes a serem adotadas, além das já citadas, obedeçam rigorosa e
exclusivamente a critérios técnicos. Fundamental
que os gestores do trabalho de preparação do escrete saibam reagir com firmeza
às pressões e intromissões provindas do jogo interesseiro de patrocinadores,
agenciadores e outros que tais.
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