Deus
salve a América!
Cesar
Vanucci
“Um radical é um homem com os
dois pés firmemente plantados no ar.”
(Franklin
Delano Roosevelt, compatriota de Donald Trump, num discurso pronunciado há 80
anos)
A
exclamação “Deus Salve a América!”, da canção famosa, perde bruscamente seu
suave e lírico timbre original, verdadeiro cântico de esperança, para uma
entonação grave e sombria, sob forma de dramático apelo à misericórdia divina,
no momento em que, tomada de estupefação, a Humanidade se dá conta do indigesto
placar eleitoral na corrida pela Casa Branca.
A
delegação de poderes que correntes integristas, xenófobas, racistas, machistas,
impelidas por ódio e ressentimento, resolveram conferir a Donald Trump para que
ele possa exercer, pelos próximos anos, as ilimitadas prerrogativas inerentes
ao cargo de maior expressão política, militar, econômica, estratégica da
história contemporânea, é algo que injeta mastodônticas doses de pânico no
sentimento da sociedade, em tudo quanto é canto do mundo.
As
cautelosas e bem comportadas reações diplomáticas dos diferentes governos e a
euforia desbordante dos agrupamentos extremistas, ligados ao
ultraconservadorismo, fornecem uma medida assaz preocupante dos fortes impactos
ocasionados pela vitória do homem que na campanha prometeu e, depois de
vitorioso nas urnas, reitera a disposição de construir muros. Muitos muros,
como tradução prática das políticas repressivas que cogita implantar no
enfrentamento de questões nascidas das diversidades que a vida oferece e da
pluralidade de ideias e crenças que compõem o efervescente mosaico humano.
Abra-se parêntese para um registro histórico danado de intrigante: a data das
recentes eleições transcorridas nos Estados Unidos coincidiu com mais um
aniversário da derrubada do famigerado “muro da vergonha”, implantado em Berlim
no período da chamada “guerra fria”.
Os
radicais de todos os matizes vêm saudando com incontível regozijo a chegada à
rampa do poder do “líder mundial” de suas ardentes aspirações. Dirigentes da
extrema direita europeia, engajados em combate acirrado e permanente às
propostas de globalização social e às politicas de fortalecimento dos direitos
humanos fundamentais, mostram-se exultantes com o revigorante apoio trazido
pela eleição de Trump aos seus retrógrados projetos políticos. Projetos esses
sabidamente calcados na intolerância, no fundamentalismo religioso, em
idiossincrasias insanáveis com relação às minorias e aos setores de opinião
livre que cometam a “heresia” de divergir de suas rançosas doutrinas medievais
estribadas no “crê ou morre”.
Marine
Le Pen, na França, candidata à presidência da república, célebre pelas posições
radicais assumidas na negação das conquistas humanísticas que conferem
dignidade à vida, é uma, entre outros numerosos dirigentes de tendência
fascista, que trouxe a público júbilo arrebatado pelo triunfo do magnata. A Ku
Klux Klan retirou do baú os bolorentos estandartes, convocando seus aguerridos
adeptos a saírem às ruas em passeatas cívicas mode que comemorar o estrondoso feito do republicano. Trump é
apontado pela organização como um paradigma da “supremacia racial branca”, que
constitui a essência de sua indormida cruzada racista em prol dos “sagrados
postulados cristãos”, dos quais se confessa, minha Nossa Senhora d’Abadia,
“zelosa guardiã”. Espera-se que saiba, pelo menos, refrear o ímpeto por
linchamentos de seus leais seguidores, pessoal notabilizado em malvadezas
equivalentes às cometidas pelos talebãs de outras tendências.
“Trump
oferece o fim da ideia de um Estado Palestino”: foi o que bradou, num arroubo
insano, triunfalmente, o Ministro da Educação de Israel, Naftali Bennett,
figura exponencial do radicalismo no Oriente Médio. Sua manifestação foi
acompanhada, imediatamente, de um apelo do colega, Ministro da Justiça, Aylet
Shaked, para que os Estados Unidos, no futuro governo, reconheçam oficialmente
a anexação de Jerusalém, deslocando a sede de sua Embaixada para a cidade
sagrada, como ato indicativo de não reconhecimento da existência da nação
palestina.
Os
de boa memória haverão de se recordar da impetuosa onda de radicalismo, de
feição bem atemorizante, irrompida mundo afora após a tragédia de Dallas, em
1963. Uma tragédia que deixou sinais traumáticos, até hoje não dissipados na
consciência cívica da mais poderosa nação do mundo. Uma tragédia que estimulou
polarizações extremadas, desestabilizando a ordem constituída vigente em muitos
lugares.
A
eleição de Donald Trump levanta, de repente – informados que todos estamos do
poder contaminante exercidos pelos fatos relevantes da história estadunidense
sobre o resto do mundo -, receios de consequências muito desagradáveis, numa
reação em cadeia. O que se fica a esperar, agora, por conseguinte, das legiões
majoritárias de homens e mulheres de boa-vontade, em todas as partes do
planeta, e das lideranças mais lúcidas do pensamento democrático, humanístico e
espiritual, é que saibam conjugar vontade política poderosa e energia criativa
suficientes para oferecer, a tempo e a hora, tenaz e forte resistência à
encapelada onda de temores, incertezas e desvarios antevista nos horizonte da
civilização com o mal-estar e desconforto produzidos pela eleição.
O
verdadeiro sentimento universal e a consciência democrática humana constituem
generosos mananciais em que a sociedade saberá por certo recolher inspirações
para o bom combate a ser travado no sentido de impedir que a retórica belicosa
da campanha do presidente eleito acarrete, no plano das materializações
governamentais, danos insanáveis à convivência internacional e conquistas
civilizatórias. Deus salve a América!
Festa uberabense na
Amulmig
Cesar Vanucci
“Mário
Palmério foi o maior benfeitor
de
Uberaba em todos os tempos!”
(Luiz Gonzaga de Oliveira, jornalista,
novo integrante dos quadros da Amulmig)
Sessão solene memorável! Esta a forma
de classificar o evento de saboroso recheio cultural e artístico promovido no
último dia 8 de novembro, terça-feira, pela Academia Municipalista de Letras de
Minas Gerais.
Quatro novos acadêmicos, figuras
exponenciais na criação literária e jornalismo do Triângulo Mineiro, foram
emplacados na oportunidade. Procedentes de Uberaba, três deles já integrantes
dos quadros da valorosa Academia de Letras do Triângulo Mineiro, tiveram
calorosa recepção por parte de público de expressiva representatividade
intelectual. A Secretária Estadual de Educação, professora Macaé Evaristo,
compareceu ao encontro, prestigiado também por outras autoridades, dirigentes
de entidades culturais, acadêmicos, jornalistas e educadores.
A programação cumprida abrangeu
aplaudidas palestras sobre a vida e obra de dois célebres escritores, os
uberabenses Mário Palmério e Campos de Carvalho, cujo centenário de nascimento
está sendo comemorado pelos círculos literários. José Humberto Silva Henriques,
um dos acadêmicos empossados, romancista e poeta laureado com incontáveis
prêmios literários, considerado o mais prolífico escritor brasileiro da
atualidade com perto de 300 títulos publicados, focalizou a vida e a obra do
autor de “Vila dos Confins” e “Chapadão do Bugre”. Relatou passagens
interessantíssimas de sua convivência com o criador da Universidade de Uberaba,
ex-Deputado Federal, ex-Ministro de Estado e antigo Embaixador brasileiro no
Paraguai. Da exposição relativa a Campos de Carvalho, autor entre outros livros
acolhidos pela crítica e público de “A lua vem da Ásia”, ficou incumbida a
escritora Ilcea Borba Marquez, também empossada, renomada psicóloga, presidente
da Academia de Letras do Triângulo Mineiro. Ela apontou Campos como figura de
proa da literatura surrealista.
Os dois outros escritores que passaram
a compor o quadro de sócios da Amulmig foram os jornalistas Luiz Gonzaga de
Oliveira e João Eurípedes Sabino. Gonzaga, respeitado comentarista de rádio e
televisão, transpôs para o papel, numa sequência de títulos e artigos, perfis e
cenas significativas da vida de Uberaba. Sabino, outro talentoso memorialista,
vem acumulando na trajetória literária
palpitantes relatos sobre sua terra natal.
A saudação aos novos acadêmicos foi
feita pelo Presidente Emérito da Amulmig, Luiz Carlos Abritta. Destacando os
predicados intelectuais de cada um deles, o orador louvou a pujança cultural
que torna Uberaba uma cidade tão fascinante. A manifestação de agradecimento
dos empossados ficou a cargo do Acadêmico Luiz Gonzaga de Oliveira. Referiu-se
à figura inolvidável de Mário Palmério como o maior benfeitor de Uberaba de
todos os tempos. Fez conhecida revelação
histórica inédita: como Embaixador brasileiro em Assunção, Mário Palmério foi
quem conseguiu vencer a obstinada resistência do ditador Alfredo Stroessner à
ideia de colaboração oficial paraguaia à construção da Usina de Itaipu. Esse
fato ficou obscurecido por motivações políticas, à vista da circunstância de a
atuação de Palmério como nosso representante diplomático haver ocorrido no período
do governo deposto de João Goulart.
Nesta verdadeira “festa uberabense” em
que se transformou a solenidade na Amulmig, o tenor Marzo Sette Torres,
encarregado da parte musical, interpretou, com a ajuda de coral improvisado na
hora, a guarânia “Saudade”, melodia célebre do tradicional repertório musical
paraguaio, composta por Palmério aos tempos de sua passagem por aquele país
irmão.
Como é próprio do ritual acadêmico,
cada empossado anunciou no curso da sessão, o patrono de sua cadeira: Ilcea
Borba Marquez - escritor e advogado Edson Gonçalves Prata, um dos fundadores da
Academia de Letras do Triângulo Mineiro; José Humberto Silva Henriques -
historiador Hildebrando Pontes; João Eurípedes Sabino - jornalista Quintiliano Jardim, pioneiro da
imprensa e rádio da região triangulina; Luiz Gonzaga de Oliveira - Juvenal
Arduini, sacerdote, sociólogo e professor, também um dos fundadores da ALTM.
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